16.09

“A Guardiã de Histórias” (A Guardiã de Histórias #1)
Victoria Schwab
Bertrand Brasil – 2016 – 322 páginas

Imagine um lugar onde, como livros, os mortos repousam em prateleiras Cada corpo tem uma história para contar, uma vida disposta em imagens que apenas os Bibliotecários podem ler. Aqui, os mortos são chamados de Histórias, e o vasto domínio em que eles descansam é o Arquivo. Mackenzie Bishop é uma implacável Guardiã, cuja tarefa é impedir Histórias – geralmente violentas – de acordar e fugir do Arquivo. Naqueles domínios, os mortos jamais devem ser perturbados, mas alguém parece estar, deliberadamente, alterando Histórias e apagando seus trechos essenciais. A menos que Mac consiga juntar as peças restantes, o próprio Arquivo sofrerá as consequências.

“A Guardiã dos Vazios” (A Guardiã de Histórias #2)
Victoria Schwab
Bertrand Brasil – 2018 – 322 páginas

Mackenzie Bishop é uma das Guardiãs do Arquivo, um domínio secreto onde descansam as Histórias dos mortos ― registros de sua vida armazenados em corpos. Se uma História desperta, ela pode enlouquecer e tentar fugir ― e cabe a Mac garantir que cada uma seja devolvida à sua prateleira. No entanto, Mackenzie não se sente mais tão apta para o trabalho. Os acontecimentos do verão passado a assombram, e, quando os pesadelos que a perseguem começam a se insinuar mesmo durante o dia, ela sabe que algo está errado. Estaria lentamente perdendo a sanidade ou será que algo ainda mais sinistro a está perseguindo? Enquanto isso, pessoas começam a desaparecer sem deixar vestígios, e, quando Mackenzie acaba tornando-se a principal suspeita, ela se vê na obrigação de descobrir o verdadeiro culpado. Caso contrário, ela corre o risco de perder tudo ― seu papel de Guardiã, suas memórias… e até sua vida.

Lá vou eu resenhar mais uma série da Victoria Schwab, tarefa nada difícil pra mim. Pra quem já leu ou conversou comigo pelas redes sociais, sabe que eu sou fã de carteirinha da autora e depois de ler “Vicious” (que está pra sair aqui no Brasil nesse semestre pela Record), eu li tudo dela. Não foi diferente com os dois livros (até aqui!) dessa série: “A Guardiã de Histórias” (nome do primeiro livro e também da série de livros) e “A Guardiã dos Vazios”, sendo que o 1º já tinha sido publicado aqui em 2016, com sua continuação sendo publicada agora. Acho válido mencionar que falei ali que “até aqui” são dois livros nessa série porque é isso mesmo: a autora somente publicou dois livros nesse universo, mas obviamente mais virão e ela mesma já falou isso, apesar de nunca ter dado qualquer data sobre quando o terceiro livro será publicado. Outro fato pequeno para vocês poderem entender melhor: Victoria Schwab assina assim seus livros infanto-juvenis, enquanto assina VE Schwab os seus títulos adultos. Agora vamos ao que interessa!

A Guardiã de Histórias” é uma garota chamada Mackenzie “Mac” Bishop, que exerce o cargo sendo a “herdeira” do seu avô já falecido, Da. E o que vem a ser essas “Histórias” que precisam ser guardadas? No universo da série de livros, quando morremos, uma espécie de “duplicata” nossa, um corpo com as nossas histórias de vida, é arquivado em um lugar chamado O Arquivo, e é lá que ficamos o resto de nossas vidas: um arquivo em uma imensa prateleira, com nossas formas e nossas lembranças. Um guardião tem a missão de transitar entre o nosso mundo e o mundo onde O Arquivo fica e de caçar Histórias que se desgarram – aquelas Histórias que, por algum motivo, “se rebelam” e tentam voltar para o nosso mundo, o mundo dos vivos, que aqui é chamado de “Exterior”, através dos “Estreitos”, como são chamados os corredores que ligam os dois mundos. Quanto mais jovem a pessoa morre, maiores as chances de se desgarrarem, mas o perigo está quando os mais velhos se desgarram: Eles podem até se tornarem caçadores de Guardiões, anos de sentimentos acumulados fora de controle, normalmente alimentados por ressentimentos, dor e perda.

O Exterior, com o qual você não gasta muito fôlego porque é tudo que está ao nosso redor, o mundo normal, o único que a maioria das pessoas vai conhecer a vida toda.
Os Estreitos, um lugar de pesadelo, uma porção de corredores manchados, com sussurros distantes, portas e uma escuridão densa como camadas de poeira engordurada.
E o Arquivo, uma biblioteca dos mortos, vasta e acolhedora, madeira, pedra e vidro colorido e, por todo o lugar, uma sensação de paz.

Mac foi escolhida pelo avô por ter uma maturidade que é revelada por flashbacks, já como o livro se altera entre o presente o passado, enquanto o avô da protagonista ainda estava vivo e lhe explicando sobre o seu futuro trabalho. Pra mim, um dos pontos mais altos dos livros são justamente as lembranças dela com o avô, um tipo de relacionamento que faz paralelo com a vida: quando você mente tanto sobre si mesmo e o que faz, você se torna sozinho, mas, no caso dos dois, eles tinham um ao outro.

Mas a tragédia não está só no “trabalho” de Mac e sim também em sua vida pessoal. Tentando se reerguer, sua família se muda para um antigo hotel, transformado em um edifício residencial aonde sua mãe irá cuidar de um café local. Como um lugar antigo, existem bastante Histórias que terminam desgarrando e indo parar pelos corredores antigos – pelo menos é o que ela pensa a principio, mas depois a intensidade de seu trabalho aumenta tanto que ela começa a se questionar o que está acontecendo ali. Assim que chega no prédio, ela dá de cara com Wes, um certo garoto meio emo que também guarda um segredo (vocês podem imaginar qual, vai!). Só que não para ai: Ela conhece outro garoto bastante diferente: Owen. Não quero dar spoilers, então vou deixar vocês imaginarem o caminho que a história vai.

Os mortos são silenciosos, e os objetos, quando guardam impressões, nada dizem até que os toquemos. Mas o toque dos vivos é ruidoso. Pessoas vivas não foram compiladas, organizadas — o que significa que são um amontoado de lembranças, pensamentos e emoções, tudo misturado e mantido a distância apenas pelo anel de prata no meu dedo.

O problema desse livro, pra mim (e eu sinto uma dor em falar isso) é que a história demorou pra engrenar. São muitos detalhes, característica da autora que sempre gosta de explicar bastante o plano de fundo de suas tramas, mas que aqui parecem mais maçantes do que esperado. E o romance, ah, o romance é fraco. Bem fraco. Eu sou chata com romance, mas o romance previsível é o se enquadra em último lugar, pra mim. A trama que acontece dentro do Arquivo é, definitivamente bem explicada e bastante densa, enquanto o romance deveria se interligar a essa trama – mas eu só conseguia pensar que a VE Schwab conseguiria mais do que aquele romance ali. O que eu quero dizer é que o mundo construído é incrível, os personagens são bons (você se importa com a maior parte deles) e a trama que está acontecendo é muito maior do que você pensa a principio, mas grande parte disso parece burocrático. Obviamente isso não me impediu de querer a continuação porque bem, é a VE Schwab, eu leio sem dó qualquer coisa dela.

Pode ser duro, estarmos tão longes dos vivos e tão perto dos mortos.

Terminando o 1º livro de um jeito que parece bastante sombrio, de certa forma, o 2º começa com Mac enfim começando as aulas em sua nova escola, lidando com problemas que parecem mais de adolescentes e como ela pode conciliar sua vida de Guardiã em meio a tantas mentiras contadas a seus pais. Ainda lidando com a dor da perda que é uma tragédia em sua família e também a falta que Da faz pra ela, Mac está mais cínica nesse livro, mais desconfiada e até mesmo insegura: depois de ter sido enganada, ela se questiona o tempo inteiro se ela merece ser realmente uma Guardiã.

Claro que tudo isso leva a continuação do enredo que começou no primeiro livro: a volta de conhecidos que ainda tem negócios para resolver com a protagonista, além da introdução de diversos outros personagens ligados a escola. Existem algumas saídas de enredo nesse livro que eu não consegui embarcar, além de que Mac regride bastante em termos de personalidade. Consigo entender que ela está questionando tudo ao seu redor – principalmente ela mesma – mas continuar tentando esconder as coisas das pessoas que ela se importa não deu certo no 1º livro, obviamente não daria nesse também. Não existe nenhuma personagem nova que eu destacaria, mas deixo aqui uma menção a Jill, a prima de Wesley, que eu acredito que ainda tem muito a render em um futuro 3º livro.

Existe algo que é necessário assinalar: se você já perdeu alguém, você se questiona bastante as escolhas de Mac e de alguns personagens dos livros. Acho que o maior mérito desses livros são te fazer pensar sobre todas as pessoas que você já perdeu pra morte e o que você faria para tê-los de volta, mesmo que por alguns segundos. Vale a pena? Foram os momentos mais duros e cheios de sentimentos pra mim, porque cada História é uma pessoa, mesmo que desgarrada, mesmo que tomada pelo desespero: é o filho, irmão, pai, marido, é o “alguém” de alguém. Não sei, é meio filosófico, mas fiquei pensando em todas as memorias das pessoas que já morreram que você, como guardiã, poderia ter acesso. Seria difícil ou seria bom? No final, não sei responder essa pergunta.

— Não mais, talvez, agora que você sabe o que é uma História. E sabe que jamais se perdoaria se tentasse acordar uma delas. Mas, se você não fosse uma Guardiã… se tivesse perdido alguém e achasse que a pessoa tinha partido para sempre e então soubesse que poderia trazê-la de volta, você estaria lá com os outros, escavando as paredes com as unhas para chegar ao outro lado.

No geral, o que eu tenho pra falar sobre esses dois livros é que a VE continua sendo uma das maiores arquitetas de universo da atualidade: a riqueza dos detalhes, o enredo, a construção dos personagens e como eles são inseridos nesses mundos, tudo isso faz a série digna de uma olhada sim. Mas não posso mentir e dizer que terminei a ultima pagina com a mesma sensação que eu tive lendo outras coisas da mesma VE, e, digo com dor no coração, que essa série é a mais fraca dela pra mim. Provavelmente por estar acostumada com o poder da escrita dela, eu simplesmente sei que ela é capaz de arrancar muito mais sentimentos dos seus leitores do que consegue com essa série. Não digo que não vale a pena: se você é fã do oculto e gosta da ideia de “fantasmas” andando entre nós, você definitivamente precisa ler e chegar a sua própria conclusão sobre o livro, sem contar que muitas pessoas que leem se apaixonam pelo Wesley (meu gostar por ele cresceu bastante no 2º livro, mas nada igual a August Flynn ou Victor Valle, outros personagens da autora). Seja como for, eu fico no aguardo do 3º livro e que a autora jogue a média da série lá pra cima, exatamente como todas as suas outras séries.

— Toda revolta começa com uma faísca. Às vezes essa faísca é apenas um momento, desequilibrando a balança. E, às vezes, essa faísca é uma decisão. No segundo caso, não há dúvida de que é preciso certa dose de loucura para derrubar o dominó, mas também exige coragem, visão e uma crença absoluta, mesmo equivocada, na missão…

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