30.03

“Um corpo na biblioteca”
Agatha Christie
Nova Fronteira – 2014 – 184 páginas

O corpo de uma jovem é encontrado no tapete da biblioteca dos Bantry, às sete da manhã. A vítima é uma completa desconhecida e o casal Bantry decide chamar as autoridades para investigar o caso — e também, é claro, Miss Marple, detetive amadora e amiga da sra. Bantry.

Tudo se complica ainda mais quando chega até eles a notícia de outra adolescente morta, carbonizada dentro de um carro incendiado em uma pedreira. Qual será a possível conexão entre os dois incidentes?

Não é à toa que Agatha Christie, conhecida mundialmente como a Rainha do Crime, seja a romancista mais vendida de todos os tempos. Somente se tratando de romances e coletâneas de contos, ela escreveu 80 (isso sem mencionar suas peças de teatro). Sua grande habilidade em criar personagens e tramas surpreendentes e engenhosos também lhe renderam inúmeras adaptações de suas obras para o cinema e a TV. A mais recente delas é o filme Assassinato no Expresso do Oriente (2017), com direção de Kenneth Branagh, e com atuação de grandes nomes como Michelle Pfeiffer, Josh Gad, Judi Dench e Johnny Depp.

Neste caso policial investigado por Miss Marple, Um corpo na biblioteca, Agatha se propõe a tomar um tema comum deste gênero literário e escrever uma abordagem que fugisse dos clichês usados até então.

Há certos chavões que pertencem a determinados tipos de ficção. O “mau e ousado baronete” no melodrama, “o corpo na biblioteca” na ficção policial. Durante muitos anos, estudei a possibilidade de uma adequada “Variação do conhecido tema”. Propus-me certas condições. A biblioteca em questão deveria ser uma biblioteca bastante ortodoxa e convencional. O cadáver, de outro lado, deveria ser um corpo extravagantemente inusitado e extremamente sensacional […]. – Agatha Christie.

Depois de ter lido algumas obras de Agatha sob a investigação do célebre Hercule Poirot, devo confessar que o fato de Miss Marple ser uma detetive “amadora” e não se envolver diretamente no centro do processo de investigação, como faz Poirot, me incomodou um pouco. Porém devemos levar em consideração a época em que a história se passa, e o respectivo lugar de pouca participação dado às mulheres neste tipo de espaço até então, (principalmente mulheres já não tão jovens como no caso de Miss Marple).
Em várias ocasiões o inspetor Slack (chamado para cuidar do caso auxiliando o coronel Melchett), faz pouco caso das habilidades de investigação de Miss Marple, mesmo quando lembrado por Melchett de que ela já se provou mais eficiente do que eles em outra ocasião.

O coronel Melchett disse com um certo sorriso de mofa.
— […] Miss Marple é o tipo da investigadora de província. Ela já nos passou a perna, uma vez, não foi Slack?
— Aquilo foi diferente — disse o inspetor Slack.
— Diferente de quê?
— Daquela vez era um caso local, Sir. A velha sabe de tudo o que se passa na aldeia, isso é verdade. Mas o que temos aqui está fora da alçada dela.
— Você também sabe pouco a respeito desse caso, Slack — disse Melchett secamente.

Miss Marple mostra aos policiais, tidos como os grandes profissionais locais, que há muito mais a se levar em conta na investigação de um crime. Os fatos não se resumem apenas aos acontecimentos em si, mas envolvem as suas circunstâncias, os sentimentos das pessoas envolvidas, as crises, e os mínimos e aparentemente insignificantes hábitos da vida privada também são mostrados por Miss Marple como peças-chave neste caso, afinal, pessoas são pessoas, sejam elas moradoras de pequenas aldeias ou de grandes cidades.

— Lamento que os senhores considerem meus “métodos”, como Sir Henry os chama, como amadores. A verdade é que a maioria das pessoas… e não excluo os policiais… confia demais neste mundo mau. Acredita no que lhe dizem. Eu não. Sinto muito, mas gosto sempre de provar as coisas por mim mesma.

No decorrer do livro, Agatha nos oferece (em doses muito bem pensadas) pistas que parecem incriminar todos os personagens, tornando-os todos suspeitos de alguma maneira. E, o incrível disso tudo é que, ao revelar a identidade do verdadeiro assassino, as pistas usadas para despertar a desconfiança do leitor, não ficam simplesmente pairando, soltas na história, mas são engenhosamente amarradas por Miss Marple em sua trajetória para a solução do caso.

Sem dúvidas, Um corpo na biblioteca foi um dos livros de Agatha cujo final mais me surpreendeu e cujo enredo mais prendeu meu interesse em descobrir o que realmente tinha acontecido. Isso sem mencionar que foi o livro dela que, até então, mais me fez pensar em diferentes teorias. É aquele tipo de história que te faz duvidar de tudo e de todos.

Não sou uma leitora assídua de Agatha Christie, tive contato com apenas outras duas obras dela, Assassinato no Expresso do Oriente e Morte no Nilo (ambos casos de Hercule Poirot) e, sendo este meu primeiro contato com Miss Marple, devo dizer que seu método de investigação me surpreendeu (talvez não tanto quanto o de Poirot) e definitivamente me despertou a curiosidade de ler mais sobre seus casos. Com certeza o ponto alto deste livro fica por conta da incrível reviravolta, uma das melhores que vi até então nas obras de Agatha.

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