Uma Canção de Natal Lightwood, parte 2 (Conteúdo Extra)

Cassie irá publicar um pequeno pedaço de conteúdo extra de “The Last Hours” por mês até um mês antes do lançamento do livro. Esse é do mês de dezembro de 2019.

Se você precisa refrescar sua mente com a parte 1, clique AQUI

Então”, Gideon disse a Will na noite seguinte, enquanto patrulhavam juntos em Mayfair, “a coisa toda foi uma perda de tempo. Não vou matar o cachorro de um pobre coitado.

Patrulhar com Will normalmente era uma experiência relaxante para Gideon. Eles gostavam da companhia um do outro, e os demônios haviam se tornado tão escassos em Londres que quase o tempo todo era apenas um passeio noturno com um amigo. Will até recomendava periodicamente que investigassem qualquer atividade suspeita em alguma boate local conhecida por ele.

Hoje à noite, é claro, não haveria uma invenção de desculpa para interrogar, ou seja, estavam alegremente conversando com os funcionários do bar; Will estava repleto de espírito natalino. Ele insistiu em levá-los pela Trafalgar Square e passou muitos minutos admirando sua árvore gigante temporária, e parou – duas vezes! – para admirar grupos de cantores e aplaudi-los. Gideon estava se saindo bem, ele pensou, considerando. Ele até absorveu um pouquinho desse espírito, o que significa que estava disposto a comer algumas castanhas assadas que Will comprou.

Agora Tatiana (e as notícias sobre o cão) haviam acabado com o humor de Will, e Gideon se sentiu um pouco mal com isso. Will estava franzindo a testa, pensativo. “Por que não apenas oferecer dinheiro a ela?”, ele perguntou.

Gideon suspirou. “Porque Tatiana tem muito dinheiro, todo o dinheiro da nossa família. E Gabriel e eu temos apenas nossos salários como Caçadores de Sombras. Ela não precisa de dinheiro.

Will parecia desdenhoso. “Todo mundo gosta de mais dinheiro.

Normalmente eu concordaria com você”, disse Gideon, balançando a cabeça, “mas você não viu o estado de Tatiana. Ela não pode ser abordada da maneira que você abordaria uma pessoa racional. Eu devo fazer essa tarefa por ela, mas é claro que não consigo. Machucar um cachorro, de todas as coisas. Eu nunca… É repugnante.

Will ficou encarando ele por um longo momento e, eventualmente, Gideon disse: “Will?

Nós cuidaremos disso”, Will disse de repente. Seu olhar voltou ao rosto de Gideon e ele estava sorrindo. “Vamos dar a Tatiana o que ela quer, e não feriremos nenhum animal no processo.

Nós?” perguntou Gideon, erguendo as sobrancelhas.

Bem, o plano é meu”, disse Will razoavelmente. “Então, obviamente, eu estarei junto.

Apesar de tudo, um sorriso brincou nas bordas da boca de Gideon. Essa era a única coisa em que era melhor que Tatiana, afinal. Ele não estava sozinho.

##

A porta da frente da Chiswick House se abriu com um pouco mais de velocidade do que havia dois dias antes, e o rosto desconfiado de Tatiana apareceu. Ela estava usando o mesmo vestido que usava antes, para consternação de Gideon. Na mão esquerda, ela carregava o crânio limpo de um pequeno mamífero não identificável; Gideon não quis saber o porquê.

O olhar de Tatiana rapidamente se moveu de Gideon para Will, que estava se sacudindo nervosamente atrás dele. Will insistiu em comparecer, contrariando a opinião de Gideon, e só agora ele percebeu a possibilidade de Tatiana nem sequer querer ver ele se Will estivesse junto.

Will, por sua vez, fez o seu melhor. “Olá, Tatiana, meu amor”, disse ele. “Boas festas! Quão bem você melhorou o ambiente.

Tatiana piscou para ele, emudecida com seja lá o que estivesse prestes a falar. Gideon sabia que Will tinha tomado uns bons três goles de conhaque e achou que essa era provavelmente a melhor maneira de lidar com a situação. Encontre o inesperado com o inesperado.

Por que você trouxe meu inimigo para minha casa?” Tatiana perguntou, no mesmo tom que ela poderia ter usado se estivesse perguntando por que Gideon não conseguiu devolver um livro que ele havia pego emprestado.

Oh?”, disse Will em surpresa. “Inimigo? Tatiana, não tenho nenhuma má vontade com você. Já alguma vez interferi em sua vida? Com o que tem feito no seu negócio?

Sim”, disse Tatiana. “Duas vezes. Uma vez quando você matou meu marido, e outra vez quando você matou meu pai.

Will fez um ruído sufocado. “Eu matei seu pai porque ele matou seu marido! E eu não o matei, ele se transformou em algum tipo de grande serpente.

Um verme, Will”, disse Gideon calmamente. “Ele era um verme gigante. Não uma serpente.

Pelo que me lembro”, disse Will, “foi uma grande serpente, das profundezas do abismo, que despachamos.

Não foi”, disse Gideon.

Era meu pai”, exclamou Tatiana, “e eu gostaria de saber, Gideon, por que você o trouxe aqui? Pedi para você executar uma tarefa para mim.

E eu já a realizei”, disse Gideon rapidamente. “O sr. Herondale foi bom o suficiente para comparecer, para ajudar a me proteger deste cruel cão que você descreveu.

É realmente muito cruel”, Will concordou.

Se você apenas nos deixar entrar”, disse Gideon.

Tatiana olhou de soslaio para os dois como se tentasse ver através de um possível encantamento. “Bem, entre então. Mas você não vai tomar chá.

Tatiana”, Will disse com uma risada compreensiva. “Eu obviamente não consumiria nenhuma comida ou bebida na sua casa.

Isso estava indo muito bem, pensou Gideon.

De volta no escritório de seu pai, sem chá oferecido nem tomado, Tatiana disse: “E então?

Gideon enfiou a mão na jaqueta e colocou uma coleira de cachorro, um pedaço de cordão de couro desgastado, na mesa com um floreio.

Tatiana olhou para ele e depois para ele. “O que é isso?

É a coleira do cachorro”, disse Gideon. “Um troféu de nossa expedição.

Ela olhou novamente. “Isso não me diz nada. Você poderia simplesmente ter tirado a coleira daquele cachorro.

Madame”, disse Will, “me permite? Nenhum homem poderia ter tirado a coleira daquele cachorro. Não aconselharia ninguém a colocar a mão próxima do pescoço daquele cachorro, salvo se quisessem perder a mão. Agora que foi retirada, nenhum homem jamais poderia colocá-la novamente”, ele falou em tom sério.

Eu preciso de algo mais”, disse Tatiana. “Se você matou o cachorro, deve saber onde ele está. Volte e traga-me o rabo do cachorro, ou algo assim.

Tatiana”, começou Gideon, mas Will interrompeu.

Se me permite novamente”, ele disse, “o cachorro reside do outro lado de uma cerca de ferro muito alta e pontuda que fica entre a propriedade do cachorro e a estrada. Subir pela cerca é um feito que eu aconselharia apenas os Caçadores de Sombras mais bem treinados a tentarem uma vez, e eu recomendaria que eles o fizessem de mãos vazias, em vez de carregar um pedaço de algum cachorro aleatório. Receio que a coleira vai ter que ser suficiente.

Tatiana recostou-se e balançou a cabeça, a insatisfação franzindo a boca. “Prove que você despachou o cachorro”, disse ela, “e não apenas que você o encontrou.

Gideon esperou que Will se adiantasse novamente, mas Will ficou em silêncio. Ele parecia inseguro sobre como proceder. Finalmente, ele disse: “Tatiana, dê a ele os papéis. Porque é Natal.

O quê?, perguntou Gideon, incrédulo.

Tatiana olhou para Will com ódio. “Feriados mundanos não têm sentido para mim.

Eu deveria ter adivinhado, sim”, murmurou Will.

Por favor”, disse Gideon, com um fio de voz. “Meu filho, ele é… ele é como seu filho.” Tatiana olhou para ele em silêncio por um momento, então ele continuou. “Ele é… ele é muito pequeno e muitas vezes fica doente, e nós nos preocupamos com a sobrevivência dele. Nos preocupamos quando vamos marcá-lo. Como você faz, com seu filho.

Tatiana continuou assistindo Gideon em silêncio com os olhos semicerrados.
Eu sei que não vemos temos uma convivência próxima na história da família”, disse ele, obstinado, e ignorou o hmph silencioso de Will do lado dele. “Mas somos uma família, ainda assim, e nós dois podemos ter herdado algo. Do nosso pai. Algo que agora passamos para nossos filhos. Preciso examinar os papéis para ver se há alguma pista lá.

Ela o encarou por um momento longo e angustiante e depois disse: “Saia da minha casa.

Tatiana”, ele começou.

Como você ousa comparar seu filho e o meu!” Ela disse, sua voz aumentando em volume. “Qualquer um poderia adivinhar de onde a fraqueza do seu filho se origina, e é obviamente na sua decisão de misturar seu sangue com o mais mundano que você poderia encontrar!” A voz dela se elevou a um grito.

Sophie é uma Caçadora de Sombras Ascendida!” Will gritou de volta, firmemente, e Gideon percebeu que estava feliz por Will estar lá.

Eu não me importo!” Tatiana gritou. “Meu filho é do sangue de duas das mais antigas famílias de Caçadores de Sombras. Ele não é fraco como seu filho. Volte para a sua fraqueza, Gideon. Saia da minha frente, saia da minha casa e não faça sombra na minha porta novamente. Não senti falta da sua companhia, nem da do seu irmão, e estou aliviada por meu filho não crescer sob a influência corrupta de nenhum de vocês.

Gideon fez menção de se levantar, mas Will disse: “Tatiana, se me permite mais uma vez”, e ele se sentou novamente. Tatiana olhou furiosa para ele. “Eu acho”, continuou Will, em um tom de repente sério, “que se você e eu pudéssemos sair para o corredor por um momento e conversar em particular – apenas por um momento. Me dê três minutos, só isso. E depois disso, partiremos e prometemos nunca mais voltar. Certo, Gideon?

Gideon não queria prometer nunca voltar para a casa em que havia crescido, então apenas disse “O que você quiser.

Tatiana examinou cuidadosamente o rosto de Will e disse “Você tem dois minutos, a partir deste momento.” Ela levantou-se da cadeira e foi até a porta.

Will, o que você está-” Gideon começou.

Will colocou a ponta do dedo nos lábios para acalmar Gideon. “Confie em mim”, disse ele. “Acredito que posso conseguir um milagre de Natal.

Desamparado, Gideon observou sua irmã e seu amigo saírem e fecharem a porta atrás deles. Os segundos se passaram. Dois minutos se passaram, depois outros dois e mais três.

Então Tatiana voltou para a sala, seguida por Will. Gideon tentou ler a expressão de Will, mas era neutra, indiferente.

Nas mãos de Tatiana havia dois cadernos, embalados com papéis soltos complementando seu próprio conteúdo. Suas capas e as páginas soltas estavam densamente manchadas de fuligem. “Os papéis de Benedict Lightwood”, disse ela. “Você não os merece. E não estou presenteando-os a você. Eles fazem parte da casa, e a casa é minha, e eles também são meus. Você poderá tê-los para ler ou copiar por um período de uma semana e, se não forem devolvidos até essa data, em sua condição original, que o Anjo tenha piedade de suas almas. De vocês dois.” Acrescentou ela na direção de Will.

Will levantou as mãos em sinal de rendição. “Eu vim realmente para a luta de cães.

Pensativo, Gideon pegou os papéis dela. Ele se virou para encarar Will, que murmurou para ele “Um milagre de Natal”, com um pequeno sorriso.

##

Desembucha”, disse Gideon na carruagem, no caminho de volta de Chiswick. “O que você disse a Tatiana para fazê-la conceder?

Estava nevando, aquela pouca neve com pouco vento, assim os flocos caiam de um jeito pitoresco em vez de bater contra a carruagem como poderia ser enquanto eles passavam pela Hammersmith, na direção central de Londres. Will se recostou em seu assento e olhou pela janela.

Bem, se você insiste em saber”, ele disse, “proferi um discurso extremamente bem elaborado, abordando os tópicos da importância da família, a virtude do perdão, a necessidade de todos os Caçadores de Sombras serem aliados na luta contra os demônios, a pequenez do sacrifício que lhe é pedido, a inutilidade da vingança e, é claro, a natureza generosa da estação.

Oh?

Sim”, disse Will divertidamente. “E então, contei notas totalizando duzentas libras esterlinas diretamente na mão dela.

Will!” Disse Gideon, chocado.

Eu te disse”, Will disse alegremente. “Todo mundo gosta de dinheiro. Até as irmãs loucas em busca de vingança, com o sangue seco de seus maridos nos vestidos.

Gideon ficou confuso. Foi uma quantia enorme. “Você não precisava fazer isso, Will”, disse ele. “Ela não merece o dinheiro.

O que ela não merece”, disse Will calorosamente, “é a vitória moral. Foi dinheiro bem gasto para sair daquela casa.

Gideon abriu os diários, maravilhado com Will Herondale. Sua situação financeira era melhor que a de Gideon, com certeza, mas duzentas libras eram uma quantia enorme de dinheiro, bem mais do que Will poderia jogar fora de uma vez. E, no entanto, ele não hesitou em usar esse dinheiro por causa de Gideon. De fato, agora Gideon percebeu, trouxe o dinheiro com ele de propósito.

Tão estranho, Gideon pensou olhando de soslaio para Will, que continuou a murmurar para si mesmo em silêncio na vitória. Nesse momento, esse garoto que ele desprezava quando criança era mais sua família do que sua própria irmã. E ele descobriu que era capaz de aceitar isso. Um milagre de Natal, de fato.

É melhor eu devolvê-los para Tatiana em uma semana”, disse ele, examinando os jornais novamente antes de começar a ler. “Ou ela pode enviar um demônio atrás de mim.

Will riu. “Ha. Talvez ela fizesse isso.

Gideon fez uma pausa. “Ela poderia, você sabe. Brincadeiras à parte. É uma possibilidade real.

É”, concordou Will, um pouco mais sombrio.

Minutos se passaram, durante os quais Gideon vasculhou os papéis, concentrado. Depois de um tempo, ele voltou ao início e franziu a testa, confuso.

Will deixou de olhar a Bath Road passar. “O que houve?”, ele perguntou.

Não há nada aqui”, disse Gideon, frustrado. “Muitas coisas terríveis, é claro. Meu pai era um… um…” Ele lutou pela palavra certa.

Monstro?” Sugeriu Will.

Pervertido”, disse Gideon cuidadosamente. Ele vasculhou as páginas até encontrar uma que era apenas um diagrama elaborado que seu pai inventara a lápis e o mostrou a Will.

Will piscou para ele. “Gracioso”, ele disse.

Mas não há nada aqui que possa causar fraqueza ou fragilidade em seus descendentes”, continuou Gideon. “Sem maldições, sem azarações, sem venenos para demônios…

Somente a varíola, então”, Will disse secamente.

Sim, mas isso não é hereditário”, disse Gideon. “Verificamos isso há alguns anos pelo nosso próprio bem.” Ele embaralhou os papéis. “Todo esse problema, e por nada. Thomas continua frágil e eu continuo incapaz de fazer qualquer coisa por ele.

Houve um silêncio e, em seguida, Will disse “Gideon, é Natal e Natal é uma hora de dizer a verdade. Você não concorda?

Se você diz”, disse Gideon, acenando com a mão. Por sua experiência no Natal, era época de cantar na rua e comer um peru, mas quem sabia que tradições estranhas Will tinha desde sua infância mundana. “De qualquer forma, concordo que você deva dizer a verdade em qualquer época do ano.

Gideon”, disse Will, colocando a mão no ombro de Gideon. “Não há nada errado com Thomas.

Gideon suspirou. “É muito gentil da sua parte dizer Will, mas…

Mas nada. Thomas é apenas pequeno. Às vezes as crianças são pequenas. Ele não é amaldiçoado ou azarado.

Ele está sempre doente”, pressionou Gideon. “O tempo todo.

Will riu. “Você tem alguma ideia de como Cecily ficava doente quando criança? Ela sentia cólica e depois tinha febre… chorou mais do que dormiu naqueles primeiros anos.

E então o que?

Will levantou as mãos. “E então nada! Ela cresceu! Ela adoeceu cada vez menos. Esse é o caminho das crianças. E nós não tínhamos médicos telepáticos mudos e aterrorizantes para cuidar de nós. Thomas come? Ele se anima quando se sente bem?

Sim”, admitiu Gideon.

Bom, então”, disse Will, inclinando-se para trás como se seu argumento tivesse sido feito. “Esqueça de sua família supostamente amaldiçoada. O filho de Tatiana está doente – isso surpreende você, agora que você viu a casa? Agora você viu Tatiana? Não, claro que não.” Ele olhou para Gideon atentamente. “O único problema de Thomas”, disse ele com firmeza, “é que ele é uma coisa adorável e pequenina.

Gideon encarou Will. Então ele riu. Will riu também, sua risada calorosa habitual, e Gideon se sentiu melhor. Ele ainda estava preocupado com Thomas – ele ficaria por alguns anos, ele sabia, até que o menino passasse pela fase de doenças infantis e pudesse ser protegido com runas – no entanto, se sentia melhor. Ele havia imaginado várias maneiras de se sentir ao voltar da casa de sua irmã, mas “melhor” não era uma delas.

Milagre de Natal”, Will sussurrou alegremente.

Bem, pensou Gideon. Algum tipo de milagre, pelo menos.

[Traduzido por Equipe IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]

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