Diário de Tessa

Vigésima oitava postagem oficial
Diário de Tessa

Querida Sophie,

Minha amada Sophie, você nunca lerá isso. No topo da minha estante de livros construída na parede distante do meu quarto aqui em Cirenworth — Cirenworth!, você diria, mas ah, eu explicarei — estão meus diários, de todas as formas e tamanhos, desde cadernos de tamanho quarto com páginas de marfim e encadernados em couro até cadernos espirais para crianças usarem em escolas. Tem lacunas, às vezes de anos, e alguns deles se perderam ou estragaram, ou o papel não foi feito para durar tanto tempo quanto eu vivo. Mas todos eles são escritos para alguém — eu nunca entendi o “querido diário”, como se o diário fosse uma pessoa que eu queira que saiba meus pensamentos. Mas você, é claro, eu quero que saiba. E faz tantas décadas, Sophie, desde que eu comecei um diário que foi dirigido a você. Mas hoje começa um novo volume, um livro pequeno com papel florentino de redemoinhos, então eu escrevo para você:

Olá, Sophie Lightwood, nascida Collins, minha primeira verdadeira amiga em Londres. Faz tanto tempo que você se foi. E ainda assim parece que passou apenas um momento; eu viro e vejo sua figura graciosa enquanto você anda apressadamente pelo corredor com um cesto em seus braços, ou do jeito que você sorria quando você falou que podia falar com Will o quão rudemente você quisesse (e ele merecia naquele tempo!) ou a forma que você ria com Gideon por causa de bolinhos.

Então: Cirenworth. Eu vivo aqui com o Jem agora, você sabe. Ele não é mais um Irmão do Silêncio — bom, isso não é relevante para essa conversa de hoje, então sugiro que você consulte um dos diários antigos para se atualizar e volte aqui quando terminar. E nós fomos visitados pela prima dele, Emma Carstairs, e seu namorado, Julian Blackthorn. (Não se preocupe; os Blackthorns da geração dele são doces e amigáveis!) Ela tem mantido um diário ela mesma, para gravar a restauração da Mansão Blackthorn em Chiswick, que ficou praticamente desocupada todo esse tempo e entrou em ruínas. (Bom, mais ainda em ruína, eu imagino). E, é claro, aquela velha pilha de tijolos tem todos os tipos de problemas mágicos que eles estão tendo que solucionar, mesmo que, é claro, eles estavam animados para nos ver — Jem e eu, Mina e Kit.

Sim, eu sou mãe novamente, Sophie, e isso me faz sentir sua falta. Como era bom ter você do meu lado naqueles primeiros dias. Eu lembro de uma tarde, quando teve um encontro no Instituto — algum tipo de festa, não importa, mas James era um bebê e Thomas era um bebê. Alguém, talvez o velho Lysander Gladstone, estava tentando conversar conosco e eu lembro que nós adormecemos uma contra a outra ali mesmo no banco e os bebês também. Quando nós acordamos, Lysander tinha ficado bem ofendido e Will teve que explicar a ele sobre bebês e mães de primeira viagem. Nós ficamos agitadas porque as crianças tinham sumido, mas é claro que Will e Gideon tinham os levado para o berçário e nos deixaram cochilar juntas ali.

Sinto falta desses momentos com você.

Mina é apenas uma criança e filha de Jem, e graças ao Anjo ela tem o temperamento dele. Tem muito tempo desde que eu tive que perseguir uma criança pela sala de jantar, mas ela é doce e descontraída a maior parte do tempo. E nós temos um filho mais velho, Kit, que veio viver conosco depois que o pai dele foi morto. Ele é um parente distante da linhagem Herondale, mas ele não parece nada distante. Ele completa nossa família de um modo que eu não poderia ter imaginado e de um modo que, eu tenho certeza, nem ele poderia ter imaginado. Ele também é um adolescente, e ele teve sua própria vida antes de ficar com a gente, então tem muitas coisas que ele guarda para si. E é claro — como se é com adolescentes — eu me preocupo com ele. Ele tem amigos — até uma namorada, se eu estou observando corretamente — e ele ama Mina com uma força que surpreende até ele mesmo às vezes. Mas tem um peso na forma que ele se comporta, às vezes, uma tristeza que ele não quer ou não pode falar sobre. E talvez seja porque ele já passou por muitas perdas tão novo, mas eu não consigo afastar a sensação de que tem algo mais.

Eu quero te contar mais sobre Kit, e sobre de onde ele veio — é muito mais dramático do que você está provavelmente imaginando —, mas está tarde e eu posso falar sobre Kit qualquer hora. Eu prefiro, no momento, falar sobre a visita de Julian e Emma.

Eles estão desfazendo os nós de alguns mistérios sobre a Mansão Blackthorn — uma maldição na casa que vem desde os tempos de adivinhe quem: Benedict Lightwood (eu sei, Sophie, quem teria imaginado). E um fantasma benigno, mas enfraquecido e não identificado, provavelmente preso pela maldição. Tem todo um conjunto de objetos, ao que parece, conectados pela maldição, e o fantasma disse a eles para trazer um deles aqui para Cirenworth — por isso a visita, mas como eu disse, eu não acho que eles odiaram ter uma desculpa para ver Kit ou Mina.

Nós estávamos lavando a louça depois do jantar e Jem — você sabe como Jem é — disse diretamente para eles bom, vamos ver esses objetos que vocês encontraram.

Julian pegou eles em sua mochila e colocou no balcão: um frasco de whisky prateado, meio manchado, e uma adaga, também batida pelo tempo. Nenhum deles importou muito pra mim primeiramente — já, como você sabe, frascos e adagas são bem comuns em casas Shadowhunters em Londres, mesmo hoje em dia —, mas Jem reconheceu a adaga imediatamente.

Ele apontou para a inscrição e leu: “Eu tanto quis uma adaga reluzente que todas as minhas costelas se transformaram em adaga.

Julian e Emma razoavelmente arregalaram os olhos para ele. (Eu acho que eles não percebem que Jem faz coisas assim justamente para as pessoas ficarem abismadas com ele; ele apenas finge ser perfeitamente dramático por natureza). “Você conhece?” disse Julian, ao mesmo tempo em que Emma disse “Você lê em Farsi?

Eu reconheceria em qualquer lugar”, disse Jem. “Pertencia a meu primo, Alastair Carstairs, mesmo que tenha chegado pra ele pela família de sua mãe.

O fantasma disse para trazer para cá”, Emma falou. “Para trazer para casa.

Jem pegou o frasco, que tinha um monograma nele. “Oh, meu Deus.” ele disse num tom baixo e me mostrou as iniciais.

Meu pobre querido Matthew. Ele imediatamente apareceu na minha mente, com seus olhos risonhos e seu sorriso brilhante. Julian disse que já sabia que esse frasco era dele. Mas isso era muito estranho, eu apontei, porque se Benedict foi o responsável pela maldição, ele já tinha morrido quase dez anos antes de Matthew ter nascido. Julian começou a falar que não fazia sentido pra eles também, e era parte do mistério ainda. Mas então teve um som alto de um clique, que era o sensor que eles tinham que o irmão dele, Ty, modificou para fantasmas. (Ty é um outro tópico fascinante, Sophie, mas terá que esperar outro dia). Eles — eu digo Shadowhunters num geral, não só Julian e Emma — ainda usam o sensor de demônios que Henry inventou tantos anos atrás!

O sensor nos levou até a biblioteca. Emma parecia em dúvida.

Vamos lá”, ela disse para o Sensor. “Eu tenho certeza que a biblioteca de Cirenworth tem sido assombrada por anos.

Não que eu saiba”, Jem falou. “Mesmo que eu ache que tem casas de campo na Inglaterra que, se você levar esse negócio para dentro, vai apitar como uma sirene de policia. Cirenworth vem sendo cuidada continuamente e os donos sempre foram bem minuciosos sobre fantasmas.

Usar o Sensor para encontrar um fantasma não é como usar para encontrar um demônio. Você pode dizer que encontrou um demônio porque, você sabe — o demônio está parado lá. Com fantasmas é muito mais um jogo de “quente” ou “frio”, e eventualmente nós concordamos que o som ficava mais alto na frente de uma prateleira em particular. Nós tiramos os livros daquela prateleira e colocamos na mesa e checamos eles com o Sensor, e o vencedor foi um livro em tamanho quarto, encapado com couro. Nada na lateral, mas um lindo desenho de uma rosa dos ventos na frente.

Nós o abrimos e quando vi o interior, eu ofeguei. E eu sabia que estaria escrevendo esse meu novo diário para você. Você reconheceria — caligrafia apertada e elegante, com uma forte inclinação para a esquerda e completamente em espanhol. Era o diário de seu filho, é claro. De Thomas. Meu coração! Minhas memórias voltaram no tempo para você o segurando, uma criança tão pequena (que cresceu e se tornou um homem alto e com peito largo!)

Emma estava folheando ele. Essa era a primeira vez que ela ouvia falar sobre Thomas, eu imagino (não se preocupe, existem Lightwoods ainda, mas eles moram em Nova York), então é claro que ela não teve a reação sentimental que Jem e eu tivemos. “O problema, é claro”, ela disse “é que meu espanhol é terrível.

Então é claro que Julian provocou ela um pouco, porque a melhor amiga de Emma, Cristina, é da Cidade do México. Emma disse que o problema é que quando ela precisava de algo dito ou traduzido de espanhol, Cristina a ajudava.

Nós precisamos traduzir?” Julian perguntou. “Nós não sabemos se tem algo a ver com a maldição ou o fantasma. O frasco era apenas um frasco até onde sabemos, não?

Entretanto, Jem estava movendo sua cabeça. Ele colocou o frasco e a adaga próximos do livro e olhou todos eles. “Não sei se vocês notaram, mas todos esses objetos vieram da mesma época. Os donos desses três eram da mesma geração e tinham quase a mesma idade. Eles eram amigos.

E eu pude ver todos eles em minha mente — Thomas, Matthew, Alastair, mas também Christopher e Cordelia e meus próprios James e Lucie. Foi há tanto tempo atrás, mas eu consigo lembrar de seus rostos como se tivesse sido ontem. Assim como me lembro do seu, Sophie. Eu olhei para Jem e pude ver que ele estava pensando a mesma coisa, mas tudo que ele disse para Julian e Emma foi “Não pode ser uma coincidência. Mas Benedict Lightwood nunca conheceu nenhum deles, e ele já tinha morrido fazia anos naquela época. Vocês tem certeza que ele é o responsável pela maldição?

Emma disse que eles estavam quase certos — eles estavam lendo o diário que encontraram na casa que falava sobre isso. De quem? Oh, Sophie, você já deve ter imaginado. Tatiana Blackthorn.

Ela tinha nossa idade mais ou menos, eu acho”, Julian falou. “Talvez um pouco mais nova. Ele falou para ela sobre a maldição e sobre os objetos.

Eu acho que Emma viu a expressão no rosto meu e de Jem. “Eles…”, ela tocou no frasco, na adaga e no livro, um de cada vez. “Matthew, Alastair, Thomas. Eles conheciam Tatiana Blackthorn?

Ela os conhecia”, Jem falou sombriamente.

Ela os odiava”, eu expliquei. “Ela odiava todas nossas famílias — os Herondale, os Carstairs, os Fairchilds. E os outros Lightwoods. Ela se tornou mais… desagradável conforme o tempo foi passando. Mais e mais obcecada, eu diria, com nos machucar.

Julian estava olhando adiante. Agora, ele praticamente virou para olhar os objetos na mesa. “Ela mudou o encantamento”, ele falou. “Ela trocou alguns dos objetos. Talvez todos eles.

Julian inteligente! Nós todos soubemos na hora que era a resposta mais provável.

Mas porque?”, Emma perguntou. “Talvez alguns dos objetos que Benedict usou se perderam?

Quando Jem falou, sua voz estava mais dura do que eu estou acostumada a ouvir. “Eu não sei como ela soa em seu diário. Quando era mais nova, ela era mais contida. Mas no coração de Tatiana existia um terrível e enorme desejo por poder. Por controle. Não precisava ter algo de errado com a maldição de Benedict para Tatiana querer pegar para ela.

Ele está certo, minha querida Sophie, e as palavras dele encheram meu coração de temor. Tatiana não pode machucar Julian e Emma. Já faz muito tempo que ela se foi. Mas ela vem de anos do passado para trazer sua maldade para os dias de hoje. Quem quer que seja esse fantasma na mansão Blackthorn, eu rezo para que, ao menos, não seja ninguém que nós amamos.


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[Traduzido por Equipe IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]

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