BlogLivros

Resenha: Complicado e perfeitinho – Renan Bittencourt

Sinopse: Existem pessoas que, sem nenhuma dificuldade, sabem quem são e o que querem bem cedo na vida. O protagonista dessa história não é uma delas.
Como qualquer criança no começo dos anos 2000, ele vive a confusão de começar a se entender enquanto o mundo ao seu redor não para de mudar. Mas para ele as coisas são mais difíceis ― porque, ainda muito novo, descobriu que existe uma cartilha de regras silenciosas que todo garoto deveria seguir. Uma cartilha que ele desrespeitava sem nem se esforçar.
Só que existem consequências quando você quebra as regras. Andar do jeito errado, gostar das músicas erradas, assistir aos programas de TV errados ― cada desvio tem seu preço. E se apaixonar pelo melhor amigo hétero com certeza é um dos mais caros.
Mas, no meio de tanta confusão, de uma coisa nosso protagonista tem certeza: algumas regras precisam ser quebradas.

Quando “Complicado e perfeitinho” começa, nós somos transportados para a vida do personagem principal. No ensino médio, com a mesma melhor amiga e os mesmos amigos de sempre, se tem uma coisa que ele tem certeza é que a vida está boa. E aí ele conhece Theo. Theo é um garoto que mudou para o colégio onde o protagonista e seus amigos estudam e não demora muito pra ele se integrar com aquele grupinho que adora tirar noites de sábado para fazer karaokê.

O que claro que nosso protagonista não esperava, é que ele ia se apaixonar por Theo. E pior ainda, Theo é aparentemente hetero. Quanto mais tempo os dois passam juntos, mais ele sente que está sim rolando um clima entre eles e que não é só imaginação da cabeça dele, mas que Theo também está gostando dele. Até que chega o dia fatídico que ele decide contar a Theo como se sente, mas Theo joga uma bomba nele: ele mudará de escola no ano seguinte. Não só de escola, mas de cidade também. E com isso nosso protagonista deixa pra lá a ideia de se declarar, apenas quer curtir os últimos dias que terá seu amigo presente.


“Eu me considero um cara fatalista. Se deixar meu cérebro desocupado por mais de uma hora, com certeza ele vai fabricar uma ansiedade com a qual se preocupar.”

Eles combinam de manter contato, trocar mensagens e tudo mais e até irem visitar um ao outro em suas cidades, mas, como todos nós que já passamos por essa fase podemos imaginar, as coisas não acontecem bem assim. Não demora muito para os dois perderem contato e nunca sequer se verem de novo até anos depois, quando a melhor amiga do protagonista decide viajar até a cidade onde Theo está e eles acabam se encontrando lá.

O tempo passa e os anos também e, se eu não estou enganada, o livro cobre cinco anos da vida do protagonista, desde o momento que ele conheceu Theo, até o momento mais “atual” da vida dele. E é sempre assim, cheio de idas e vindas entre personagens, encontros e desencontros, bem como a vida é.


“Como homem, eu já devia ter meio que me acostumado a silenciar minhas emoções verdadeiras naquela altura do campeonato – mas nunca fui lá um bom exemplo de masculinidade, né.”

O protagonista é um personagem muito bom. Cheio de camadas e de coisas que passam pela cabeça dele, ele é apenas um jovem adulto como a maioria dos jovens adultos que está tentando não só descobrir quem é, mas também aceitar quem é: seus erros, suas virtudes, o pacote inteiro. E, como o livro se passa alguns anos atrás, então é mais séria a questão de ele não querer contar para as pessoas que ele gosta de homens também, por medo de ser rejeitado pela família, o tempo todo ele fica citando um “manual de como ser macho”, porque ele tenta absolutamente de todas as maneiras não derrapar nisso.

Os dois interesses amorosos (na verdade são 3 ou 4, dependendo do ponto de vista), mas os mais importantes para a história dele são Theo e Lucas – um garoto que estudou com ele no ensino médio, de quem ele foi amigo durante o ensino fundamental, mas no ensino médio, diferente dele, foi aceito no “clube de machos” e por isso fazia da vida do protagonista um verdadeiro inferno.

E Theo. O que eu posso dizer sobre Theo? Eu arrisco dizer que, quando você chega em uma certa idade igual a minha, você percebe que já teve um Theo na sua vida algum dia. Aquele amor que você daria tudo pra viver, mesmo não sendo o mais saudável pra você.


“E esse medo não era de fato do teatro. Era que o teatro fosse só a confirmação de que seu filho era mesmo gay – já que, todos sabemos, teatro é coisa de viado. Dança é coisa de viado. Cozinha é coisa de viado. Existem mais coisas que fazem um homem ser viado do que coisas que o fazem ser macho.”

Eu gostei muito como a maioria dos assuntos no livro foram abordados, porque a escrita de Renan é muito fluida e muito rica. Todos os assuntos foram muito bem manuseados, desde relacionamentos entre amigos (isso vocês vão ter que ler pra descobrir de quem estou falando), primeiras vezes, ex-amizades, novas amizades, homofobia, machismo e romance. É tudo muito bem escrito de verdade.

Ainda que o livro tenha sido muito bom, eu confesso que o final não foi pra mim. Eu entendo muito o ponto de o final ter sido como foi sim, mas acho que talvez por eu já ser mais velha do que só jovem adulta, eu preferiria que fosse de outra forma. Mas, como sempre, nem tudo que funciona para uma pessoa funciona para outra. Então eu super indico esse livro, porque ele num todo vale muito a pena ser lido.

Aliás, eu evitei falar o nome do protagonista até aqui, porque nós enquanto lemos também só descobrimos no final, mas o nome dele é Bruno. E eu adorei o tempo que passei com ele.

Para comprar “Complicado e perfeitinho” basta clicar no nome da livraria:

Amazon.
Magalu.