“O amor (depois) da minha vida”
Kirsty Greenwood
Tradução: Lígia Azevedo
Paralela – 2024 – 336 páginas
Delphie Bookham está morta de vergonha. Na verdade, ela está morta mesmo. Como se não bastasse ter acabado de morrer engasgada com um hambúrguer de micro-ondas, Delphie ainda está usando sua pior camisola, um trapo velho com a frase “Chegou a hora de brilhar, querida!”, na frente do homem mais gato que já viu. E ele está sorrindo para ela.
Quando começam a conversar, ela esquece tudo ao seu redor. Quer dizer, até alguém gritar que houve um grande erro e enviar o desconhecido bonitão de volta para a terra. A jovem estava até pensando que sua sorte seria diferente no além-vida, mas era bom demais para ser verdade.
No entanto, para a surpresa de Delphie, a morte lhe faz uma proposta: ela pode voltar à vida e tentar se reconectar com um homem misterioso de quem só sabe o primeiro nome, mas tem certeza de que é sua alma gêmea. Caso não consiga, morrerá de forma definitiva. O desafio é que ela só tem dez dias para encontrá-lo e fazê-lo se apaixonar por ela ― e ele não tem nenhuma lembrança de tê-la conhecido.
Tenho a comédia romântica favorita do ano e ainda faltam 5 meses completos até o fim de 2024, mas duvido muito mesmo algum conseguir fazer comigo o que “O amor (depois) da minha vida” fez. Ri alto, me emocionei com a historia da nossa mocinha e shippei o casal com uma força que me surpreendi, sem contar que li toda trama em menos de 13 horas – sim, virei a noite lendo. Sabe aquele livro que te deixa com o coração quentinho na medida certa pra te fazer desejar um amor fofo assim? Pois é o que temos aqui.
Já falei tanto que nem tem mais graça: não sou fã de romances mas sim de comédias românticas, então era óbvio que iria querer ler o novo lançamento da Editora Paralela e o primeiro livro publicado aqui no Brasil da autora Kirsty Greenwood, que foi publicado em inglês dia 02 de julho. Aqui no Brasil, o livro tem uma edição especial: terá pintura trilateral e um marcador especial somente na primeira edição e confesso que quero, quero muito. E agora vem comigo porque prometo que não vou dar nenhum spoiler e vou tentar escrever pouco mesmo querendo escrever páginas e páginas sobre essa trama – e a Delphie.
Não pode ser assim que eu morro.
Sério, não pode ser.
Sei que nem todo mundo vai ser abençoado que nem a velhinha de Titanic, que empacota durante um sono gostoso, relembrando as memórias de quando transava com um Leonardo DiCaprio ainda na fase gostoso para dar uma animada no trauma que deve ser falecer. Mas morrer engasgada aos vinte e sete? Não, Delphie.
Como explicar Delphine Bookham? Não sei ao certo porque me identifiquei com ela em muitos níveis, então vou dizer só o ponto de partida da personagem: Profundamente traumatizada depois de sua melhor amiga se virar contra ela ao arrumar um namorado e passar a fazer bullying, Delphie se fechou para a vida em todos aspectos. Ela não fez amizades, não namorou, não se permitiu sentir nada por ninguém e nem se apegar – a única exceção é o senhor Yoon, um senhorzinho que vive sozinho em um apartamento do prédio de Delphie, que também mora só.
A mulher de 27 anos mora sozinha em Londres depois que sua mãe se casou novamente e se mudou para o Texas, nos Estados Unidos, a deixando sozinha e ainda adolescente no apartamento que as duas moravam depois que o pai de Delphie se divorciou da mãe – e sumiu da vida dela. Acho que já ficou claro que o abandono e a decepção são sentimentos comuns na vida de nossa heroína, certo? Então quando morre, Delphie se pega desapontada por ter morrido sem praticamente viver, sendo telespectadora de sua vida e não correndo riscos. E vou deixar bem claro: a cena da morte da protagonista é uma das cenas mais engraçadas que li nos últimos tempos. Sem brincadeiras.
“Tá, talvez eu tenha uma ideia, mas…” Ela baixa a voz para continuar. “Mas os outros terapeutas não vão gostar…”
“Achei que tivesse dito que faria todo mundo comer poeira.”
Merritt assente enfaticamente, o que faz seus cachos balançarem. Então crava os dentes no lábio inferior. “Eu falei, mesmo. É verdade. E faria mesmo. A Eternidade é bem parecida com a Terra: quem manda aqui é um bando de homens velhos que fazem tudo do jeito deles. Deus me livre alguém aparecer com inovações, tentando modernizar um pouco este lugar.”
Acredito que a escolha do tom da cena da morte de Delphie foi perfeito: ela pensa sobre como não viveu e como está morrendo com uma camisa ridícula, sendo que não tem ninguém para realmente sentir sua falta, só o senhor Yoon e que provavelmente seu irritante vizinho Cooper que descobrirá seu corpo depois de morrer engasgada em sua cozinha. Logo ela se vê em uma… lavanderia Sim, ela é recebida no pós-morte em uma lavanderia e por uma psicóloga chamada Merritt – e aqui estamos só no segundo capítulo!
Merritt é, definitivamente, uma personagem que merece um livro. Engraçadíssima e com todas as boas intenções do mundo, leva Delphien para seu consultório e simplesmente apavora a recém-morta, que tenta fugir correndo de volta para a lavanderia e dá com a cara no tórax no homem mais lindo e gentil que já conheceu na vida. A química entre Delphie e Jonah é instantânea e ela se sente tão confortável que até mesmo segura a mão dele. Você, que me lê, acredite, a cena é fofíssima e parece que a nossa garota tão fechada enfim vai conhecer o amor no além – mas como sabemos pela sinopse, Jonah não deveria ter morrido e é mandado de volta pra Terra por Merritt.
O sr. Yoon não fala. Começou a me escrever bilhetinhos de vez em quando nos últimos tempos — foi assim que descobri que teve um problema nas cordas vocais quando era bebê e nunca falou —, mas na maior parte do nosso tempo juntos, só ficamos sentados, em silêncio. Acho que esse é um dos motivos que me faz gostar tanto da companhia dele. Além do fato de ele não ser falso. Não finge que gosta nem finge que não gosta de mim. O problema de muitas pessoas que passam por nossa vida é que estão tentando ser a versão de si mesmas que acham que deveriam ser, em vez de simplesmente ser quem são. Quase sempre julgam demais, consideram-se superiores e estão dispostas a partir seu coração sem pensar duas vezes se forem tirar alguma vantagem nisso. Se tem uma coisa de que tenho certeza é que a maioria das pessoas é meio merda. Mas o sr. Yoon não é. Ele é uma pessoa boa e sincera, sem segundas intenções.
Mas Delphie não está disposta a perder sua chance e consegue convencer Merrit a voltar para o plano terreno e assim consegue, só que com um porém: ela tem que fazer Jonah se apaixonar por ela em 10 dias, se não, voltará para o além e ajudará Merritt em um aplicativo que está sendo testado lá – e não vou nem explicar para quem ler, ri como eu ri. Mas há um pequeno detalhe: não sabemos o sobrenome de Jonah. Nem onde ele mora. Nem qualquer outra coisa além do reconhecível sotaque britânico. Merritt encara aquilo como assistir um verdadeiro filme de romance e embarca. E a gente vai junto, já torcendo pra Delphie achar Jonah.
Acordando com seu insuportável vizinho Cooper a encontrando no chão desmontada, Delphie logo começa a sua caça por Jonah, recebendo mensagens do além de Merritt (que rouba toda cena que aparece, não vou me cansar de falar isso) e conhecendo pessoas em sua procura. Sim, Delphie morreu e sua vida mudou completamente – ela está se abrindo para as pessoas e começando a se permitir. É muito envolvente ler tudo isso acontecendo enquanto claro que muitos erros vão acontecendo e até mesmo em um namoro de mentira nossa protagonista se mete, com direito a famosa cena de “só uma cama!” em uma hospedaria. Parece que estou falando demais, mas esse livro tem uma reviravolta muito, muito deliciosa, e sobre isso não posso falar nada para não entregar a surpresa porque vale a pena. O amor está lá, esperando, e nós vamos descobrir junto com a Delphie.
“Vai ser no sábado.”
Meu último dia na Terra.
Cooper ri, sem conseguir acreditar. “Você vai dar uma festa para o nosso vizinho de oitenta e seis anos depois de amanhã? Por que a pressa?”
Respiro fundo. “Porque a vida é curta demais pra gente demorar a executar uma boa ideia.”
O que parece uma história engraçadinha se torna em uma história sobre autodescobrimento, mas sem perder sua graça. Tudo fica ainda mais forte quando nossa protagonista reencontra Gen, aquela sua velha ex-melhor amiga que terminou destruindo sua já pouca confiança. Lidar com traumas do passado é algo que caminha em um limite tênue muito perigoso: pode e vai te libertar, mas também reviver dores antigas pode trazer mais dores, e dependendo do momento, não estamos prontos para isso, mas Delphie está no momento certo de sua vida e ir com ela por essa jornada realmente vale a pena.
Alguns livros podem ser só uma comédia romântica fofa e não precisam mudar sua vida em nada, só precisam esquentar seu coração e te fazer acreditar no destino e no amor, e isso“O amor (depois) da minha vida” consegue com maestria. Não faça como Delphie e não espere demais, só se jogue na leitura e não se arrependa de viver essa história fofa e te faz rir – assim como Delphie, você merece um final feliz.
O livro ainda está em pré-venda para o dia 13/08 com a edição especial disponível. Para comprar “O amor (depois) da minha vida”, basta clicar no nome da loja: