Resenha: Tudo que nunca dissemos – Sloan Harlow
“Tudo que nunca dissemos”
Sloan Harlow
Tradução: Lígia Azevedo
Seguinte – 2024 – 328 páginas
Ella não consegue parar de se culpar pelo acidente que matou sua melhor amiga, Hayley, meses atrás. Agora, ela precisa seguir em frente e voltar à escola, mas parece impossível superar tudo o que aconteceu ― principalmente porque Sawyer, namorado de Hayley, está sempre por perto.
Aos poucos, o luto os aproxima, e Ella se dá conta do inimaginável ― ela está apaixonada pelo namorado da melhor amiga morta. Sem saber como lidar com o sentimento, a garota busca refúgio no diário de Hayley, mas ali descobre que Sawyer tem os próprios segredos, e que a relação dos dois não era tão perfeita como parecia.
Ella sabe que deve manter distância de Sawyer, mas se sente inexplicavelmente atraída pelo garoto ― e aterrorizada por tudo o que ele parece esconder. Com um ritmo eletrizante e um enredo repleto de surpresas, Tudo que nunca dissemos nos faz questionar até que ponto conhecemos aqueles que amamos.
O subgênero de suspense para jovens adultos é algo real e veio pra ficar. Por mais que algumas autoras tenham se consagrado escrevendo somente neste nicho no qual a policia e os órgãos que cuidam de adolescentes parecem terem sumido da face da terra – e não falo isso reclamando porque adoro, há aquelas que se atentam em escrever algo crivado na realidade por mais assustador que seja, e é o que “Tudo que nunca dissemos” nos entrega, mesmo que com algumas ressalvas. Vamos por partes que falarei sobre, sem spoilers, claro.
Primeiro livro da autora Sloan Harlow, o que posso afirmar é que a escrita é muito, muito fluida e rápida. Com capítulos curtos, vamos acompanhando a trama pelos olhos de Ella e Saywer, dois dos três personagens principais da trama. Como a sinopse diz, Ella se sente culpada pela morte da melhor amiga, Hayley, já como era ela que dirigia o carro depois de uma festa e acabou batendo. Ella não tem memórias diretas da festa que estavam e nem do acidente em si porque perdeu todas memórias das últimas 24 horas antes do acidente, mas o que ela sabe muito bem é que sua vida mudou pra sempre quando acordou daquele acidente com costelas quebradas, um vazio na memória e sem Hayley, que teve o corpo levado pelo Rio.
— Amar não é como entrar num rio, em que ou você se molha ou não. Amar é o próprio rio. Às vezes, é tranquilo e constante, como o meu amor por você. — Ela me deu um beijo. — Outras vezes, tem pedras cortantes e uma correnteza violenta. As quedas e as curvas repentinas são confusas e dolorosas, mas ainda é o mesmo rio. Ainda é amor.
Esse acidente aconteceu semanas antes das férias de verão do penúltimo ano do ensino médio das garotas, que no hemisfério norte acontecem no nosso inverno. Agora Ella está voltando pra escola para cursar o último ano e tudo que consegue fazer é tentar se manter em pé. O grupo de amigos que tinha não era dela e sim de Hayley, então os afastou todos sem responder ligações e afins durante aqueles 4 meses. Até que encontra Sawyer, o namorado maravilhoso de Hayley da qual era super amiga, mas que também não falou desde o acidente. Claro que o luto e trauma vão começar a aproximar os dois, mas o trunfo dessa narrativa não está aí – e não pense que o que temos aqui é um romance de cura entre Ella e Sawyer se apoiando e superando a morte de Hayley porque temos 3 grandes reviravoltas nessa trama.
Voltando ainda a Ella, um ponto que achei incrivelmente bom no livro foi a quebra do relacionamento dela com a mãe, Michelle. Mulher de personalidade forte, Ella sente que decepcionou a mãe, saindo da filha perfeita, com notas A+ em todas matérias, para alguém que dirigiu um carro e causou a morte da melhor amiga e sequer quer voltar pra equipe de natação da qual fazia parte. O relacionamento com Jess, sua irmã mais nova, também foi afetado porque claro que o luto e a culpa de Ella a está engolindo viva. E provavelmente continuaria assim se Phoebe, a mãe de Hayley, não pedisse para Michelle mandar a filha limpar o quarto de Hayley, que está intocado desde o acidente. E é assim, indo lá limpar o quarto da melhor amiga morta, que Ella encontra seu diário super mega secreto.
Eu ficava ocupada com a natação e as provas finais das turmas avançadas. Hayley era capitã da equipe de atletismo, o que a estava deixando muito estressada. O treinador pressionava demais.
— Quase não é mais divertido — ela me disse, parecendo derrotada como nunca.
Faço careta, alisando o canto de uma foto. Pensando bem, Hayley estava tensa o tempo todo. Na escola, no atletismo, em casa com Phoebe… O último mês foi bem pesado. Eu estava torcendo para que ela relaxasse nas férias, ficando feliz como antigamente.
Porém Hayley nunca teve a chance.
E é aí que o leitor começa a entender que a trama não vai mesmo pro romance e sim pro suspense porque Hayley tinha muitos, muitos segredos – principalmente o relacionamento tóxico e abusivo que tinha com S. Parece óbvio que Hayley falava de Saywer só o chamando pela inicial em toda a história contada em seu diário, mas para o leitor mais atento fica claro que pode não ser, e aí a narrativa começa a brincar com todos que acompanharam Ella se apaixonando por Sawyer e não aceita sentir o medo que Ella está sentindo dele porque tudo que vimos sobre é um jovem perdido que não quer seguir os passos de um pai violento que saiu da vida da mãe e de seu irmãozinho, mas, ao tempo que vamos lendo o diário de Hayley também, vemos que aquele S. do diário é alguém para realmente se temer. Só precisamos ter certeza de quem essa pessoa é.
Temos 3 pontos de vistas na narrativa: Ella, Sawyer e o diário de Hayley, quando Ella o lê. Narrado pela voz de Hayley, vamos vendo como a garota realmente tinha uma família complicada, formada por sua mãe, Phoebe, e seu padrasto Sean. Toda essa trama e o relacionamento de Hayley com a mãe é realmente um ponto muito bom da trama pra mim porque nem toda pessoa que gera e dá a luz a uma criança se torna uma mãe – e daí temos o inverso entre Ella e Michelle, a mãe que quer ajudar e não sabe como. E não espere que as mães não apareçam na trama aqui, ao contrário de outros livros do subgênero, mas claro que o foco fica mesmo em Ella e Sawyer.
Aconteceu de novo na entrada de casa, logo depois de Sawyer ter me dado carona. Os médicos disseram que qualquer coisa poderia servir de gatilho para as lembranças. Talvez tenha sido o meu estado, tremendo por conta da noite úmida, ainda à flor da pele depois do que havia rolado, no limite entre o prazer e o medo. Ou a luz gelada e cortante da lua cheia. Talvez só estivesse mais do que na hora de ter algum flashback.
Quem sabe? Tanto faz.
O que importa é que eu estava vendo os faróis traseiros do carro de Sawyer se afastando e em seguida mergulhei numa lembrança. Tão vívida quanto da última vez. De repente, eu me vi no banco do motorista, na noite do acidente.
Ella está começando a surtar porque não sabe se pode confiar em Sawyer, já como acredita piamente que é sobre ele que Hayley fala em seu diário e a única pessoa que realmente confia é no psicólogo da escola, o professor Sr. Wilkens, já como o Scott, que também faz parte do grupo de amigos que Ella deixou pra trás, parece estar criando uma espécie de rancor bizarro contra ela pelo acidente que matou a vida de Hayley.
Lembre-se que falei que o livro tem 3 grandes reviravoltas (talvez até 4, se você contar mais um detalhe), mas o que quero deixar claro é o cuidado que a autora teve ao falar sobre o relacionamento abusivo de Hayley. No começo até tenta encontrar desculpas para o que estava acontecendo, mas não espere a jovem romantizar o que estava acometendo com ela: entendendo que estava presa em algo que não conseguia resolver, Hayley foi muito, muito corajosa e deixou uma lição para os leitores: quase sempre amar não é suficiente, principalmente contra homens violentos como o dessa trama. Não posso falar mais pois não quero entregar nada e nem dar pistas das reviravoltas, mas queria deixar claro que a autora me ganhou com esse cuidado e calma ao mostrar uma adolescente lidando com algo impossivelmente pesado.
Tenho que fechar o diário para as minhas lágrimas não mancharem as palavras de Hayley. Estou sentada na cama, de pernas cruzadas, olhando horrorizada para a escuridão. Quero atirar o caderno no guarda-roupa, como Hayley fez com o celular. O relato é terrível demais, a culpa é imensa. Mas como posso fazer qualquer coisa além de agarrar esse diário junto ao peito?
— Hayley. — Os cantos pressionam a pele macia do meu umbigo. — Sinto muito. Sinto muito mesmo.
Hayley estava assustada, perdida, e se sentia muito, muito, muito sozinha. Como não percebi? No dia seguinte na escola, provavelmente ficou me ouvindo reclamar do trabalho de sete páginas que precisava entregar na mesma semana de uma competição importante de natação. Nem acredito no tipo de coisa que me deixava acordada à noite
“Tudo que nunca dissemos” é uma trama que ganha o leitor pelo desenvolvimento e forma como lida com temas como luto, relacionamentos abusivos e culpa, mas claro que há um toque irreal em um determino ponto da conclusão, que é corajosa (muito mesmo, principalmente para quem a executa) mas foge um tanto da realidade.
Li o livro todo de uma vez só porque na metade já tinha minhas teorias (e acertei duas das reviravoltas, mas não imaginei a terceira) e me peguei pensando muito sobre o que escondemos das pessoas que amamos e o quanto queremos ter uma vida que muitas vezes não nos cabe. Ella é uma personagem boa e forte, Sawyer é um personagem complexo e Hayley uma guerreira e sonhadora. Quanto a trama terminou, me peguei pensando no que aconteceria no futuro de quem ainda estava ali nas páginas finais e me questionei se enfim diriam tudo que precisavam dizer. Eu espero que sim. Mas o que posso afirmar é que essa trama contou tudo que precisava da melhor forma possível.
O livro ainda está em pré-venda e será publicado dia 06 de agosto próximo. Se você comprar um na pré-venda, ganha um segundo exemplar para dar de presente a quem quiser.
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