04.01

Sinopse: August é considerado um desajustado piromaníaco, enquanto Jack é a estrela do time de rúgbi do colégio. A amizade dos dois nasceu ainda na infância, e a força dela é algo que eles mantêm em segredo.

Ninguém sabe, mas Jack e August contam com o apoio um do outro para sobreviver – o apoio que suas famílias não oferecem.

Quando Jack passa a ter alucinações cada vez mais vívidas, August decide ajudá-lo da única forma que sabe: saltando com Jack em seu reino fantástico que beira o mundo real.

Então, Jack guia August por uma jornada sombria, acreditando que assim suas alucinações terão fim. Enquanto lutam pela própria sanidade, eles seguem em queda livre por um mundo surreal. Mas, ao final, cada um deverá escolher a própria verdade.

Com capítulos intercalados por documentos, recortes, bilhetes, fotografias e outras memórias, O Rei de Palha é uma ficção contemporânea carregada de tensão, loucura e amor.

“Esse livro é dedicado a todos os jovens cujos braços carregam coisas demais, mas que se esforçam ao máximo para não derrubar nada. Eu vejo vocês e tenho orgulho por tentarem.”

Eu achei por bem começar essa resenha com a dedicatória do livro, porque além da sinopse, ela foi o que me pegou assim de cara nessa história. “O Rei de Palha” fala sobre Jack e August, dois amigos bem improváveis se você parar para pensar: August é um garoto que não é muito sociável, não anda em um grupo grande de amigos no colégio, apesar de não ter nada aparentemente errado com ele: ele se veste bem e tudo o mais, e além de vender drogas ocasionalmente para ter dinheiro, ninguém diria que ele passa o que passa dentro de casa.

E então temos Jack, que é o garoto de ouro do colégio, estrela do time de rúgbi, com uma namorada super popular assim como ele. E ninguém nem sequer imagina que eles são o porto seguro um do outro e se conhecem mais do que qualquer outra pessoa conhece eles. Os pais de Jack são ausentes, sempre o deixam sozinho em casa e August, que vive com a mãe que batalha com a depressão e por isso é ausente também, é quem ajuda ele a se cuidar na maior parte do tempo: dá a ele o que comer, faz companhia e todo o mais.

“ – Para de fazer cara feia.
Você nem tá vendo minha cara.
Mas eu sei que tá fazendo mesmo assim – Jack retrucou. – Consigo sentir você olhando feio para minha nuca.

Um dia, aparentemente sem se lembrar – ou ligar – para o acordo que eles têm, ainda que silencioso, de não explanarem a amizade deles, Jack vai até a mesa de August falar pra ele sobre Rina (a garota que Jack a todo custo quer que August comece a sair) e isso chama a atenção dos gêmeos, duas das únicas pessoas “conhecidas” de August e que falam com ele sobre como tem algo errado com Jack e que ele devia fazer algo para tentar ajudar. A mãe dos gêmeos, Peter e Roger, é psicóloga e eles falam que August deveria conversar com ela e tentar buscar ajuda para Jack, coisa que August refuta com bastante força, dizendo que não tem nada, absolutamente nada errado com Jack e que ele sempre foi “meio esquisito” assim.

Pois bem, aí as coisas começam a piorar e Jack começa a ter visões: pessoas, animais, coisas, toda uma história de coisas que não existem ali e que August não pode ver ou ter contato com esse “outro mundo” que existe apenas na cabeça de Jack. E August tenta fazer o melhor possível para ajudar o amigo, seguindo ele por todo esse caminho cheio de alucinações que ele cria, achando que fazendo o que precisa ser feito, como se fosse apenas uma missão de vídeo game, aonde aquilo acabaria e Jack ficaria melhor. O problema é que nem tudo acontece como a gente quer…

“Não é só você, Jack. Somos nós dois. Você é meu melhor amigo. E o que você disse. Foi loucura. Mas não é idiotice nem uma mantinha nem nenhuma dessas merdas. É real e significa alguma coisa. Pelo menos pra mim.”

Eu queria dizer em primeiro lugar que eu me encantei com a forma como o livro foi escrito. Eu gosto bastante dessas coisas cheias de detalhes, como no livro mesmo tem vários “bilhetes” e coisinhas assim que vão aparecendo conforme a historia vai progredindo. Os capítulos em si são bem curtinhos também, o que faz a leitura ser bem rápida e dinâmica, não ficando uma coisa completamente massiva.

E eu gostaria de falar também sobre os personagens. August e Jack, obviamente, são os personagens principais da historia e tudo mesmo gira em torno deles, incluindo as vidas deles mesmo. Quando eu comecei a ler, eu pensei “poxa, esse relacionamento é meio abusivo”, mas conforme o livro foi passando e passando, eu entendi melhor e abusivo não seria a palavra exata, mas sim “obsessivo”. August vive para Jack, sem a menor sombra de duvidas. Inúmeras vezes no livro ele relata como precisa de Jack ao lado dele para dizer a ele o que fazer, para ser o líder que ele precisa seguir.

“- Você não pode morrer de um jeito tão idiota – ele sussurrou com raiva. – Preciso de você. Você é meu.

E Jack também não fica muito atrás. Ele não chega a ser obsessivo com August, mas ele é completamente possessivo. E assim como August fala que precisa de Jack para ordenar que ele faça as coisas, Jack fala mais de uma vez que August pertence a ele. No começo isso me incomodou um pouco, mas conforme o livro foi seguindo e eu fui vendo melhor a dinâmica deles, foi ficando mais fácil de entender.

Tudo que eles têm é um ao outro. No mundo do colégio eles agem como duas pessoas que não tem absolutamente nada em comum. Em casa eles não têm ninguém mais para contar e eles só podem ser eles mesmos um com o outro. Claro que isso não torna menos ferrado, nem é algo muito saudável, mas é algo que eu achei “compreensível”.

”August?
Ele tinha visto Jack cair e correr em direção ao abismo; August tinha saltado da beirada e mergulhado de cabeça nas trevas atrás do amigo. Tiraria os dois das profundezas com as próprias mãos.”

É muito interessante ver que August e Jack não são perfeitos, o relacionamento deles não é perfeito e as decisões que eles tomam estão longe de serem perfeitas. Eles fazem o melhor com aquilo que eles têm em mãos naquele momento e no final das contas, é assim que as coisas acontecem durante grande parte da adolescência: nós fazemos o melhor com o que nos foi dado para fazer, mas nós aprendemos e amadurecemos e faz parte da vida, assim como o desenvolvimento deles conforme eles vão aprendendo as coisas.

O que eu mais gostei nesse livro é a forma como tudo foi abordado ali: desde o relacionamento complicado deles, até o relacionamento com os pais e também a doença mental. Não foi algo feito para ser “bonitinho”. Foi feito para ser real, porque doenças assim não são bonitas ou deviam ser romantizadas e finalmente nós estamos tendo livros que nos mostram a realidade como ela é: ás vezes ela é cruel, ás vezes as coisas dão errado, mas também existe uma luz no fim do túnel, mesmo quando a gente ache que não e as coisas podem se resolver.

“- Deus, você está completamente doido.
– Não ligo. Você é a coisa mais preciosa no mundo pra mim. Eles estão tentando fazer você esquecer isso. Não deixe que eles façam você esquecer.”

“O Rei de Palha” certamente é um livro que eu vou levar comigo durante muito tempo. É aquele tipo de livro que te marca e te faz pensar nas coisas e eu acho esses livros geralmente os melhores. O ano mal começou (e esse livro é do ano passado), mas eu definitivamente já encaixo esse livro em um dos meus favoritos.

Pra encerrar, eu queria colocar aqui um trecho da nota da autora:

“Se você leu esse livro e viu muito da própria vida na interdependência e negligencia em que se encontravam August e Jack, por favor, saiba que não é culpa sua.
Se você está lidando com algum tipo de doença mental e está cansado, por favor, saiba que não é culpa sua.
Se você está se sentindo sozinho e sobrecarregado, por favor, saiba que não é culpa sua.
(…)
Você merece cura e crescimento também. Você merece alguém que converse com você sobre seu problema, você merece apoio incondicional, você merece cuidado e segurança e todas as coisas que ajudem você a prosperar. Só porque você talvez não as tenha não significa que você não as mereça. Se alguém lhe disser que você não merece tudo isso, está mentindo.
Continue tentando fazer o seu melhor.
(…)
Se você soltar um pouco desse peso que está carregando, não tem problema. Você é totalmente capaz de se reinventar, mesmo que pareçam faltar algumas peças.
Se sua mente parar de te ouvir, não é culpa sua. Existem bilhões de nós, você não está só.”

E também, se você leu até aqui, não pense que você está sozinho. Se você precisa de ajuda, não hesite em procurar:

  • Centro de Valorização da Vida [x]
  • Voluntários pela Prevenção do Suicídio [x]

Para comprar “O Rei de Palha“:

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