24.09

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Essa resenha pode conter spoilers do primeiro livro da série, “O Ceifador”
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A NUVEM (Scythe #2)
Neal Shusterman

Páginas: 464
Tradução: Guilherme Miranda
Editora Seguinte

SKOOB

No segundo volume da série Scythe, a Ceifa está mais corrompida do que nunca, e cabe a Citra e Rowan descobrir como impedir que os ceifadores que não seguem os mandamentos da instituição acabem com o futuro da humanidade.

Em um mundo perfeito em que a humanidade venceu a morte, tudo é regulado pela incorruptível Nimbo Cúmulo, uma evolução da nuvem de dados. Mas a perfeição não se aplica aos ceifadores, os humanos responsáveis por controlar o crescimento populacional. Quem é morto por eles não pode ser revivido, e seus critérios para matar parecem cada vez mais imorais. Até a chegada do ceifador Lúcifer, que promete eliminar todos os que não seguem os mandamentos da Ceifa. E como a Nimbo Cúmulo não pode interferir nas questões dos ceifadores, resta a ela observar.

Enquanto isso, Citra e Rowan também estão preocupados com o destino da Ceifa. Um ano depois de terem sido escolhidos como aprendizes, os dois acreditam que podem melhorar a instituição de maneiras diferentes. Citra pretende inspirar jovens ceifadores ao matar com compaixão e piedade, enquanto Rowan assume uma nova identidade e passa a investigar ceifadores corruptos. Mas talvez as mudanças da Ceifa dependam mais da Nimbo Cúmulo do que deles. Será que a nuvem irá quebrar suas regras e intervir, ou apenas verá seu mundo perfeito desmoronar?

A Nuvem é o segundo livro da série Scythe, que se inicia com o livro O Ceifador. No primeiro livro conhecemos Citra e Rowan e somos transportados à sua história e ao seu mundo utópico. Nessa série, o mundo chegou a uma evolução na qual ninguém morre e todos vivem civilizadamente, cuidados aos olhos da Nimbo-Cúmulo, uma inteligência artificial e virtual perfeita, com suas regras e ações todas baseadas em algoritmos feitos a partir da história da humanidade.

“Apesar de todo o meu intelecto, de todo o poder investido a mim pela humanidade, há coisas que sou incapaz de mudar.” Nimbo-Cúmulo

Não se trata de uma distopia, e sim uma utopia. É um mundo perfeito, onde a morte e as doenças foram vencidas e todos vivem cordialmente. Então Citra e Rowan são escolhidos para serem treinados para se tornarem Ceifadores. Os Ceifadores/A Ceifa são uma sociedade a parte da Nimbo-Cúmulo, são as únicas pessoas autorizadas a coletar vidas, a fim de controlar o crescimento populacional. Essas vidas são escolhidas aleatoriamente pelos ceifadores, através de regras e cotas. Tudo é perfeito… Ou não?

“Toda vez que testemunho um ato cruel de um ceifador corrupto, semeio nuvens em alguma parte do mundo e lamento em forma de chuva. É o mais próximo que consigo chegar de lágrimas.” Nimbo-Cúmulo

A Nuvem começa a história cerca de 10 meses após o final de O Ceifador, que termina com Citra escolhida como Ceifadora e Rowan “foragido” da Ceifa. Depois desses meses, encontramos uma Citra que agora se chama Ceifadora Anastássia, uma Ceifadora justa e empática, que acaba incomodando muita gente de dentro da Ceifa que não aceita seus métodos de coleta, ao mesmo tempo em que conquista outros. E temos Rowan, que assume uma nova identidade e toma para si uma missão violenta para lidar com a corrupção e crueldade da Ceifa, o que o torna um procurado perigoso.

“Concluí que existem apenas dois atos perfeitos. São os atos mais importantes que conheço, mas me proíbo de realizá-los e os deixo a cargo da humanidade. São o ato de criar a vida… e o de tirá-la.” Nimbo-Cúmulo

Citra e Rowan se tornam as figuras que desafiam a Ceifa, cada um ao seu modo, o que desperta ira de muitos Ceifadores, fazendo os dois correrem perigos na sociedade que vivem. Eles são personagens muito interessantes desde o primeiro livro: inteligentes, que acabaram caindo sem querer numa sociedade prestes a se corromper. A dinâmica entre os dois é muito boa. Mesmo separados, eles mantém uma preocupação um com o outro. Há romance aqui, mas tão sutil que é quase inexistente, porém não se deve negar todo carinho que os une. Eles acabam se tornando duas faces da justiça: um uma espécie de justiceiro e o outro tentando combater a corrupção de dentro, através da lei. É interessante observar isso e como os corruptos reagem a cada um.

“Ele não podia culpar ninguém além de si mesmo por ter depositado sua confiança em um garoto que o ceifador Faraday escolhera por sua compaixão.”

Os livros são narrados em terceira pessoa, em sua maioria nos pontos de vista de Citra e Rowan. Porém, nesse segundo, temos uma novidade, outro narrador bastante presente: um novo personagem que se mostrou bem importante (e acredito que ainda se mostrará mais no próximo livro), o Greyson. Um cidadão comum, adorador da Nimbo-Cúmulo, na qual ela o usa para conseguir interferir em coisas na qual ela é proibida. É muito interessante ver toda a metáfora que encontramos nessa “relação”, toda a crítica e similaridade com Deus e o homem, com a fé e a perda dela. Não quero me aprofundar muito, para evitar spoilers, mas assim como entendemos mais a Ceifa através de Citra, Rowan e seus mestres Ceifadores, é através de Greyson que temos uma visão melhor de como funciona a sociedade “de fora”.

“— Por favor, me avise se ainda está aí. Preciso saber que não me esqueceu. Por favor, Nimbo-Cúmulo… (…)

Mas Greyson Tolliver não sabe. Não vê… porque seus olhos estão fechados com força demais para notar qualquer coisa além de sua própria angústia.”

“Que irônico e poético que a humanidade possa ter criado o Criador com o desejo de ter um. O homem cria Deus, que então cria o homem. Não é esse o ciclo perfeito da vida? Mas, se for esse o caso, quem é criado à semelhança de quem?” Nimbo-Cúmulo

Agora, a personagem mais interessante do livro todo (e talvez da série até aqui): Nimbo-Cúmulo, a inteligência artificial que administra esse mundo, “A Nuvem” que dá o título ao livro. Se em “O Ceifador”, tivemos trechos entre os capítulos onde víamos fragmentos de diários dos Ceifadores, para entender melhor o que eles pensavam, em “A Nuvem” temos reflexões da Nimbo-Cúmulo sobre as coisas que ela observa os humanos fazendo e na qual ela não pode interferir. É maravilhoso ler sobre as angustias e visões sobre todas as coisas que estão indo errado. Ela é como se fosse um Deus, que vê tudo, sabe tudo, tem as soluções, porém não pode interferir do jeito que gostaria. Nem interferir na Ceifa, a sociedade que está desmoronando. Nesse livro vemos a Nimbo-Cúmulo como uma observadora ativa, uma estrategista, e passamos a “entendê-la” melhor.

“E a dor… a dor na minha consciência é insuportável. Porque meus olhos não se fecham. Jamais. E só me resta assistir ininterruptamente enquanto minha querida humanidade trama devagar as cordas que usará para se enforcar.” Nimbo-Cúmulo

A Nuvem é um livro maravilhoso, onde podemos tirar várias reflexões sobre a vida e a sociedade. Utopia bem feita, personagens interessantes, reviravoltas emocionantes. Me atrevo a dizer que gostei mais desse que o primeiro livro. E o final… Ah o final! É para deixar qualquer um pensativo e LOUCO para a sequencia! Acredito que se você gostou de O Ceifador, vai amar A Nuvem!

“(…) não serei eu mensuravelmente mais benévola do que as diversas versões divinas? Nunca provoquei qualquer dilúvio, tampouco destruí cidades inteiras como punição por sua iniquidade. Nunca enviei nenhum exército para conquistar em meu nome. E nunca matei ou feri um ser humano.
Portanto, embora não a peça, não sou merecedora de devoção?” Nimbo-Cúmulo

Só tenho uma crítica bem pessoal sobre essa série: a falta de violência. Sim, é uma história Jovem Adulto, na qual costuma ter certas censuras. E sim, mesmo assim tem cenas mais violentas. Mas, para um livro com um enredo e história focada em grupos de pessoas selecionadas para coletar/matar humanos para equilibrar a população, eu sempre esperava que fosse mais violenta do que é. E não, essa crítica não tira o mérito da história criativa e bem feita, é mais uma observação pessoal das minhas expectativas.

A sequencia de A Nuvem já tem nome, se chamará The Toll e tem previsão de lançamento para o ano que vem. Recomendo muito essa série a todos que gostam de livros diferentes, que retratem algum tipo de sociedade e que não façam questão de romance. É muito interessante ler sobre uma sociedade “perfeita” para os humanos, que pode ser destruída pelos próprios.

“No entanto, existem momentos em que não consigo encontrar palavras em nenhuma língua, viva ou morta.
Nesses momentos, se eu tivesse boca, ia abri-la para gritar.” Nimbo-Cúmulo

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