26.02

“Um de nós está mentindo” (One of us is lying)
Karen M. McManus
Galera Record – 2018 – 384 páginas

Cinco alunos entram em detenção na escola e apenas quatro saem com vida. Todos são suspeitos e cada um tem algo a esconder.

Numa tarde de segunda-feira, cinco estudantes do colégio Bayview entram na sala de detenção: Bronwyn, a gênia, comprometida a estudar em Yale, nunca quebra as regras.

Addy, a bela, a perfeita definição da princesa do baile de primavera.

Nate, o criminoso, já em liberdade condicional por tráfico de drogas.

Cooper, o atleta, astro do time de beisebol.

E Simon, o pária, criador do mais famoso app de fofocas da escola.

Só que Simon não consegue ir embora. Antes do fim da detenção, ele está morto. E, de acordo com os investigadores, a sua morte não foi acidental. Na segunda, ele morreu. Mas na terça, planejava postar fofocas bem quentes sobre os companheiros de detenção. O que faz os quatro serem suspeitos do seu assassinato. Ou são eles as vítimas perfeitas de um assassino que continua à solta?

Todo mundo tem segredos, certo? O que realmente importa é até onde você iria para proteger os seus.

Resenha sem spoilers, então pode ler sem medo de saber algo a mais sobre o livro. As quotes presentes nessa resenha foram levemente alteradas para retirar qualquer pista sobre quem a falou e somente isso.

Por ser uma resenha sem spoilers em um livro de mistério, vai ser a resenha mais difícil que já escrevi na vida, já como qualquer informação a mais que eu possa dar nesse texto, poderá dar alguma pista (verdadeira ou falsa!) sobre quem cometeu o assassinato que é o pontapé inicial da historia.

Mas, como dizem, vamos do começo: o assassinato inicial. Uma das grandes sacadas de “Um de nós está mentindo” é não transformar o assassinato em o motivo para a historia acontecer: na verdade, é o inverso, já como o assassinato acontece porque a história individual dos personagens está acontecendo ANTES do livro começar. Ok, vamos começar de novo pra tentar explicar melhor.

Mas estou começando a me dar conta de que há coisas que são impossíveis de serem desfeitas, não importa o tamanho das boas intenções.

Todos os personagens principais estão em detenção logo que o livro começa por um motivo bem estranho: eles sabem que não podem usar o celular no colégio, mas celulares apareceram misteriosamente em suas mochilas, o que acaba juntando o pequeno grupo em uma sala, depois das aulas. Temos aqui 5 personagens que são o foco da história: Bronwyn, a estudiosa inteligente que tem o futuro brilhante já praticamente garantido; Addy, a garota linda da vez, que namora um dos garotos mais populares do colégio; Cooper, um jogador que desponta no beisebol, que pode ganhar uma bolsa de estudos ou já entrar em uma liga para jogar profissionalmente; Nate, que é o deslocado do grupo, já tem problemas com policia e, por fim, Simon, que a principio você conhece como sendo a vitima, um perdedor que criou um aplicativo para postar todas as fofocas do colégio.

Parecem todos clichês na mais pura descrição, e é aqui que o livro tem seu segundo maior forte (calma que já falo o primeiro e o terceiro): nenhum deles é um clichê realmente. Todos mentem pelos mais diversos motivos, todos querem mais do que estão tendo e todos, absolutamente todos, não são quem parecem ser, até mesmo Simon, a quem você logo descobre não ser a melhor pessoa do mundo, já como o aplicativo de fofocas dele tinha o poder de destruir vidas.

Como você logo descobre que Simon não é lá a melhor pessoal do mundo, o desafio da autora é fazer você se importar com os suspeitos de terem matado Simon, e sim, ela consegue. Os personagens são tão reais que não existe pelo menos um traço deles que você não se identifique, seja pela pressão que você sente para fazer tudo certo ou a pressão para simplesmente existir em um mundo difícil. A medida que você vai lendo o livro, você vai descobrindo que existem muitos outros mistérios além do assassinato que aconteceu lá no 1º capitulo e você começa a juntar todos os pontos, desde as postagens do aplicativo de fofocas do Simon até coisas que são mencionadas somente uma vez na narrativa. Você também se dá conta que, por não ser uma pessoa tão boa assim (e que precisava de ajuda, já como é claro que o personagem passava por problemas psicológicos), são várias as pessoas que tem motivos para quererem Simon morto.

Mas o Pai vai ficar feliz de conversar com ele. Voltamos a ter uma hesitante relação desde que as boas notícias começaram a surgir. Ele ainda não fala comigo sobre e fica calado quando outra pessoa menciona. Porém, não sai mais correndo do ambiente. E voltou a me olhar nos olhos.


É um começo.

Existem pontos de vista em primeira pessoa dos 4 protagonistas sobreviventes e mesmo quando você está no ponto de vista da Addy, por exemplo, você não sabe tudo sobre ela porque todos estão escondendo coisas que fizeram e fazem, até mesmo de si mesmos – aquela coisa que fazemos de “se não pensamos sobre, talvez não tenha acontecido”, e aqui é o terceiro grande ponto positivo do livro: a forma como a leitura flui. Fazia bastante tempo que não lia um livro aonde a leitura era praticamente cadenciada, indo com facilidade e também te prendendo pra tentar pegar as pistas. Fiquei surpresa com a Karen M. McManus, a autora, por conseguir construir um livro que te faz ler com certa rapidez e ainda querer sair juntando os pequenos pontinhos pra tentar descobrir o que aconteceu com esses personagens e como eles chegaram aqui. Acho que começar o livro de um ponto aonde cada um já vinha com sua bagagem e pronto para se desenvolverem foi uma outra grande sacada da autora.

Por fim, o grande ponto positivo do livro pra mim está no fato dos personagens ficarem na tênue linha do moral/imoral porque, como o segundo ponto forte ali em cima bem diz, eles não são clichês e sim completamente humanos, seja do tipo mais ingênuo ao tipo mais conturbado, o que te dá a liberdade de entender os motivos pelos quais eles agem como agem e se identificar. Não há uma falha de caráter que faça os personagens principais serem tido como um louco que você deseja que arda no inferno, mas há falhas no caráter em cada um que eles precisam lidar e se tornarem pessoas melhores, e é justamente isso que te faz se IMPORTAR com eles e torcer por cada um, a seu modo. Não quero nem entrar em detalhes sobre eles, mas existe um determinado plot desse livro que é maravilhosamente retratado: quando você ama alguém, você consegue enxergar que está em um relacionamento abusivo? Não, você não consegue, e sair disso é muito, muito doloroso. Por mais que eu queira falar mais sobre esse enredo, e eu quero, não vou para não entregar mais, mas leiam que vocês logo entenderão sobre o que falei aqui rapidamente.

Minha voz começou a tremer naquele momento, e não consegui conter mais as lágrimas.


— Se eu soubesse… se tivesse imaginado… nunca vou deixar de me sentir arrependida pelo que fiz. Nunca farei algo assim novamente. É tudo que eu queria dizer.

Mas, não vou mentir: “Um de nós está Mentindo” me incomodou em seu final e não digo nem porque eu descobri 50% da grande trama final logo bem no começo (ainda bem que a Julia tá ai de prova que eu fico falando pra ela minhas apostas e ela sabe que eu acertei), mas sim a falta de consequências que parece permear o final do livro para uma personagem central. Existem as consequências do que os personagens fizeram antes do livro começar, as mudanças em suas vidas e nos relacionamentos com as pessoas que eles amam, mas parece que algumas coisas ficarem ainda não completamente “pagas”. Não, não é spoiler, acreditem em mim, porque como vocês podem imaginar, existem reviravoltas e reviravoltas. Gostaria que o livro tivesse parado um pouquinho antes, mas tudo bem, nem tudo precisa ser perfeito para ser um bom livro, certo?

Então, levando por esse lado, eu definitivamente indico “Um de nós está mentindo”. Pra ser sincera, eu indicaria até mesmo só por causa dos enredos individuais dos personagens principais porque acho que cada um tem algo bastante interessante de se ler e se identificar, como já falei; e entre esses enredos, existem relacionamentos abusivos, relacionamento problemáticos com os pais, bullying, abandono. Embarque nessa história e tente descobrir quem está mentindo mais, quem está sofrendo mais, quem tem mais a consciência pesada, quem tem mais medo e quem quer atenção acima de tudo – e depois volta aqui pra comentar o que você achou. Vale a pena.

O problema é que… nunca tive alguém de fato, sabe? Não estou dizendo isso para você sentir pena de mim. Só para tentar explicar. Eu não sei… não sabia… como essas coisas funcionam. Que não dá para fingir que não dá a mínima e acabou.

Ah, uma última informação: O Canal E! comprou os direitos do livro e está adaptando para uma série de TV. Comecemos a rezar de agora.

Um de nós está mentindo” chega as livrarias em sua versão física HOJE. Para comprar na Amazon, basta clicar AQUI. Para comprar na Magalu, basta clicar AQUI. Para comprar no Submarino, basta clicar AQUI. Para comprar na Livraria Travessa, basta clicar AQUI.

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