Se passa durante o final de “Dama da Meia Noite”.
Divulgado por Cassandra Clare em Dezembro de 2020 no compilado de extras Clace chamado “We Jace you a Clary Christmas”. Originalmente está tanto na versão norte americana quanto na nacional de “Dama da Meia Noite”
Clary olhou ao redor da Sala de Música do Instituto com um sorriso cansado, mas agradecido. Era uma noite quente de verão em Nova Iorque, as janelas estavam abertas e Magnus havia conjurado flocos de neve que caiam do teto e esfriavam o lugar. O lugar estava cheio de pessoas que Clary conhecia e com quem se importava, e em sua opinião pessoal parecia estar muito bonito, considerando que ela teve que correr para encontrar um lugar no Instituto onde eles pudessem dar uma festa com um aviso de apenas 24 horas.
Não havia, de verdade, nenhuma razão para não sorrir.
Dois dias atrás, Simon havia aparecido no Instituto, sem ar e com os olhos arregalados. Jace e Clary estavam na sala de treinamento, recebendo a nova tutora do Instituto, Beatriz Mendoza, e alguns dos estudantes da Conclave.
“Simon!” Clary exclamou. “Eu não sabia que você estava na cidade.”
Simon era um graduando da academia de Caçadores de Sombras, parabatai de Clary e um Recruta, um trabalho criado pela Cônsul para ajudar a repor a diminuição dos ranques de Caçadores de Sombras. Quando candidatos favoráveis para a Ascenção eram encontrados, Simon explicava para eles o que significava se tornar um Caçador de Sombras depois de uma vida Mundana. Era um trabalho que o afastava de New York com frequência, esse era o lado negativo. Do lado positivo, Simon parecia estar gostando de ajudar mundanos assustados que possuíam a visão a sentir que não estavam sozinhos.
Não que Simon parecesse uma voz confiável de segurança no momento. Parecia que um tornado havia o atingido.
“Eu acabei de pedir Isabelle em casamento.” ele anunciou.
Beatriz gritou de alegria. Alguns estudantes, temendo um ataque demoníaco, também gritaram. Um deles caiu de uma viga e tombou em um tatame. Clary explodiu em lágrimas de felicidade e jogou os braços ao redor de Simon.
Jace deitou-se no chão, com os braços abertos. “Nós vamos nos tornar família,” Ele disse taciturno. “Eu e você, Simon, nós vamos nos tornar irmãos. As pessoas vão pensar que somos parentes.”
“Ninguém vai pensar isso.” Simon disse, sua voz abafada contra o cabelo de Clary.
“Eu estou tão contente por você, Simon,” Clary disse. “Você e Izzy vão ser tão, tão felizes.” Ela se virou e olhou para Jace. “E quanto a você, levante-se e parabenize Simon ou eu vou derramar todo o seu shampoo caro pelo ralo.”
Jace levantou-se, e ele e Simon trocaram tapas nas costas de maneira masculina, o que deixou Clary contente, sentindo que ela havia arquitetado isso. Jace e Simon eram amigos há anos agora, mas Jace ainda parecia pensar que ele precisava de desculpas para mostrar sua afeição. Clary estava contente de provê-las.
“O pedido foi bem? Foi romântico? Você a surpreendeu? Eu não acredito que você não me disse que ia fazer isso.” Clary bateu no braço de Simon. “Você usou rosas? Izzy ama rosas.”
“Foi em um impulso,” Simon disse. “Um pedido impulsivo. Nós estávamos na ponte do Brooklyn. Izzy havia acabado de cortar cabeça de um demônio Shax.”
“Coberta de icor, ela nunca havia parecido mais graciosa para você?” disse Jace.
“Algo assim.” Disse Simon.
“Essa é coisa mais Caçadora de Sombras que eu já ouvi,” Clary disse. “Então, detalhes? Você se ajoelhou?”
“Caçadores de Sombras não fazem isso.” disse Jace.
“É uma pena,” disse Clary. “Eu amo essa parte nos filmes.”
“Então porque você parece tão assustado?” Jace perguntou. “Ela disse sim, não disse?”
Simon passou os dedos pelos cabelos. “Ela quer uma festa de noivado.”
“Open bar,” disse Jace, que havia desenvolvido um interesse em mixologia que divertia Clary. “Definitivamente open bar.”
“Não, você não entende,” disse Simon. “Ela quer em dois dias.”
“Hum.” disse Clary. “Eu consigo entender o porque de ela estar ansiosa para compartilhar isso com os amigos e a família, mas com certeza pode esperar um pouco mais…?”
Quando Jace falou, sua voz soou insípida. “Ela quer fazer isso no aniversário do Max.”
“Oh!” Clary disse suavemente. Max, o caçula, o mais doce dos Lightwoods, irmão de Izzy e Alec. Ele teria quinze anos agora, a mesma idade de Tiberius e Livvy Blackthorn. Ela podia entender completamente porque Isabelle gostaria de dar sua festa de noivado num momento em que teria um sentimento genuíno de que Max estaria presente. “Bem, você pensou em pedir ao Magnus?”
“Claro que sim,” disse Simon. “E ele disse que ajudaria se pudesse, mas eles tem toda a situação com o Rafael…”
“Certo,” disse Clary. “Então você quer nossa ajuda?”
“Eu estava esperando que pudesse fazer aqui,” Simon disse. “No Instituto. E você poderia me ajudar com algumas coisas que eu realmente não entendo?”
Clary sentiu um pavor crescendo. O Instituto havia passado por uma imensa reforma recentemente; algumas partes ainda estavam acontecendo. O salão de baile que quase nunca era usado estava sendo transformado em uma segunda sala de treinamento, e vários andares estavam cheios de pilhas de ladrilhos e madeira. Havia a sala de musica, que era enorme, mas cheia de violoncelos e pianos velhos e até um órgão. “Que tipo de coisas?”
Simon olhou para ela com grandes olhos marrons pedintes. “Flores, buffet, decoração…”
Clary gemeu. Jace passou a mão no cabelo dela. “Você pode fazer isso.” ele disse, e ela podia dizer somente pelo tom de voz dele que ele estava sorrindo. “Vamos lá, você salvou o mundo uma vez, lembra? Eu acredito em você.”
E foi assim que Clary veio parar no meio da sala de música do Instituto, com os flocos de gelo de Magnus caindo em seu vestido verde. De vez em quando Magnus mudava um pouco, e pétalas de rosa ilusórias sopravam pelo salão. Alguns dos lobisomens de Maia haviam ajudado a mover a harpa, o órgão, e os outros instrumentos para a sala adjunta (suas portas estavam fechadas firmemente agora, parcialmente escondida por glamour com uma glamorosa cachoeira de borboletas).
Isso lembrou Clary um pouco da Corte da Rainha Seelie, que estava diferente a cada vez que ela a visitava anos atrás: gelo brilhante em algumas vezes, vermelho aveludado em outras. Ela sentiu uma pequena pontada. Não pela Rainha em si, que havia sido cruel e traidora, mas pela magia das fadas. Desde que a Paz Fria fora instaurada, ela não havia visitado mais a Corte das Fadas. O central Park não estava mais cheio de danças nas noites de lua cheia. Você não podia mais ver pixies e sereias nas águas do Hudson. Às vezes, tarde da noite, ela conseguia ouvir o som solitário do berrante da Caçada Selvagem conforme eles passavam pelo céu, e pensava em Mark Blackthorn com pesar. Mas Gwyn e seu povo nunca haviam se sujeitado a nenhuma lei, e o som da Caçada não era páreo para a música das festas das fadas que outrora vinha da Harlet Island.
Ela havia conversado com Jace sobre isso, e ele havia concordado com ela, como namorado e como segundo chefe do Instituto: o Mundo das Sombras, sem as Fadas, não tinha equilíbrio. Os Caçadores de Sombras precisavam dos Seres do Submundo. Eles sempre precisaram. Tentar fingir que as Fadas não existiam apenas levaria ao desastre. Mas eles não eram o Conselho – eles eram apenas líderes muito novos de um único Instituto. Então eles esperaram e tentaram se preparar.
Certamente, Clary pensou, não havia outro Instituto no qual ela conseguia pensar para dar uma festa como essa. Os alunos de Beatriz estavam servindo como garçons, carregando bandejas de canapés pelo salão – os canapés haviam sido providenciados pela irmã de Simon, que havia trabalhado em um restaurante no Brooklyn, as bandejas e talheres eram feitos de estanho, não prata, diferentes por causa da presença dos lobisomens.
Falando em Seres do Submundo, Maia estava rindo em um canto com a mão de Bat na sua. Ela usava um vestido solto laranja, seus cabelos em um coque na cabeça e seu medalhão do Praetor Lupus brilhando ao redor de seu pescoço marrom.
Ela estava falando com o padrasto de Clary, Luke, cujos óculos estavam levantados na cabeça. Havia mais cabelos brancos em Luke ultimamente, mas seus olhos estavam tão brilhantes como sempre. Jocelyn havia ido para um dos escritórios para ter uma longa conversa com Maryse Lightwood, a provável sogra de Simon. Clary não conseguia deixar de imaginar se ela estaria dando o discurso maternal sobre como os Lightwoods tinham sorte de ter Simon na família e era melhor que não esquecessem disso.
Julie Beauvale, a parabatai de Beatriz, passou por eles, carregando uma bandeja de pequenos folhados. Enquanto Clary observava, Lily, a chefe do clã de vampiros de New York, pegou um canapé da bandeja, piscou para Bat e Maia e correu para o piano, passando por Simon – que estava conversando com o pai de Isabelle, Robert Lightwood – pelo caminho. Simon estava usado um terno cinza e parecia pronto para pular de sua própria pele.
Jace estava tocando, seu blazer de veludo jogado na cadeira, suas mãos esguias dançado entre as teclas do piano. Clary não conseguiu evitar de lembrar da primeira vez em que ela o havia visto no Instituto, tocando o piano, de costas para ela. Alec? Ele havia dito. É você?
A expressão de Jace estava focada e determinada, da maneira que só ficava quando ele estava fazendo algo considerável de todo seu foco – lutando, ou tocando, ou beijando. Ele olhou para cima como se conseguisse sentir o olhar de Clary nele, e sorriu para ela. Mesmo depois de todo esse tempo, ele ainda causava arrepios em sua espinha.
Ela estava incrivelmente orgulhosa dele. Eles haviam ficados tão surpresos quanto qualquer um quando a Conclave votou neles para chefes do Instituto quando Maryse partiu. Eles tinham apenas 19 anos, e ela pressupôs que Alec ou Isabelle assumiriam, mas nenhum deles quis. Isabelle queria viajar, e Alec estava envolvido com a aliança entre Seres do Submundo e Caçadores de Sombras que ele estava criando.
Eles poderiam recusar, Clary havia dito para Jace na época. Ninguém poderia forçá-los a assumir o Instituto, e eles haviam planejado viajar o mundo juntos, enquanto Clary pintava e Jace lutava contra demônios em lugares exóticos. Mas ele quis fazer isso. Ela sabia que no coração dele isso era uma forma de pagar pelas pessoas que eles haviam perdido na guerra, as pessoas que eles não haviam sido capazes de salvar. Pela boa sorte que eles tiveram de quase todos que amavam terem sobrevivido. Pelo fato de que o universo havia dado a ele Alec, Isabelle e Clary, quando houve um tempo em que ele achou que nunca teria um melhor amigo ou uma irmã, e que nunca iria se apaixonar.
Dirigir o Instituo era um trabalho difícil. Requeria toda a habilidade de Jace de encantar, e o instinto de Clary de construir alianças e manter a paz. Sozinhos, nenhum dos dois seria capaz de fazer isso, mas juntos, a determinação de Clary equilibrava a ambição dele, seu conhecimento do mundo mundano e suas particularidades, o treinamento e sangue antigo de Caçador de Sombras. Jace sempre fora o líder natural do pequeno grupo deles, um estrategista nato, excelente em ser capaz de julgar quem seria melhor no quê. Clary era aquela que conseguia acalmar os assustados, e também aquela que finalmente conseguiu ter um computador proibido na sala de estratégias.
Lily disse algo no ouvido de Jace, provavelmente o pedido de uma música – ela havia morrido durante os anos 20 e estava sempre exigindo jazz – antes de se virar em seus saltos vermelhos e sair em direção a um cobertor que havia sido estendido em um canto da sala. Magnus estava sentado nele, com seu filho Max, um feiticeiro de três anos com pele azul marinho, embolado ao seu lado. Também no cobertor estava um menino de cinco anos, esse um Caçador de Sombras, com cabelos pretos, que esticou-se em direção a um livro que Magnus oferecia para ele, e deu um sorriso tímido para o feiticeiro.
Beatriz apareceu do lado de Clary de repente. “Onde está Isabelle?” ela sussurrou.
“Ela quer fazer uma entrada,” Clary sussurrou de volta. “Ela estava esperando todos chegarem aqui. Por quê?”
Beatriz deu a ela um olhar cheio de significado e apontou a cabeça em direção a porta. Segundos depois, Clary a estava seguindo, a saia de seu vestido erguida para que ela não tropeçasse na barra. Ela conseguia se ver no espelho ao longo da parede do corredor, seu vestido verde da cor do caule de uma flor.
Jace gostava dela usando verde, e combinava com seus olhos, mas houve um tempo em que a cor a incomodava. Ela era incapaz de olhar para a cor sem lembrar de seu irmão, Jonathan, cujos olhos se tornaram verdes quando ele morreu.
Enquanto fora Sebastian, seus olhos haviam sido pretos. Mas isso fora anos atrás.
Beatriz a guiou até a sala de jantar, que estava cheia de flores. Tulipas Holandesas, Clary tinha certeza. Elas estavam empilhadas nas cadeiras, na mesa, no aparador.
“Elas acabaram de ser entregues.” Beatriz disse em um tom terrível, como se elas fossem um cadáver e não flores locais.
“Okay, e qual o problema?” Clary disse.
“Isabelle é alérgica a tulipas.” disse uma voz vinda das sombras. Clary saltou. Alec Lightwood estava sentado em uma cadeira na ponta da mesa, vestido uma blusa branca sob calças pretas e segurando uma tulipa amarela em uma mão. Ele estava ocupado arrancando as pétalas com seus longos dedos. “Beatriz, posso falar com Clary por um segundo?”
Beatriz assentiu, parecendo aliviada de passar o problema para outra pessoa, e saiu do cômodo.
“O que há de errado, Alec?” Clary perguntou, dando um passo em direção a ele. “Porque você está aqui e não na festa?”
“Minha mãe me disse que a Cônsul pode aparecer.” ele disse sombriamente.
Clary encarou. “E?” ela disse. Não era como se Alec fosse um criminoso procurado.
“Você sabe sobre Rafe, certo?” ele disse. “Quero dizer, todos os detalhes.”
Clary hesitou. Alguns meses antes, Alec havia sido enviado para Buenos Aires para seguir um rastro de ataques de vampiros. Enquanto estava lá, ele havia encontrado um Caçador de Sombras de cinco anos, sobrevivente da destruição do Instituto de Buenos Aires durante a Guerra Sombria. Ele e Magnus haviam indo e vindo através de um portal para a Argentina sem parar, sem dizer a ninguém o que estavam fazendo, até que um dia eles surgiram em New York com um garotinho magro, de olhos arregalados, e anunciaram que eles o haviam adotado. Ele seria filho deles, e irmão de Max.
Eles o chamaram de Rafael Santiago Lightwood.
“Quando encontrei Rafe, ele estava vivendo nas ruas, morrendo de fome,” Alec disse. “Roubando comida de mundanos, tendo pesadelos porque ele possuía a Visão e podia ver monstros.” Ele mordeu os lábios. “O problema é que eles nos deixaram adotar Max porque Max é um ser do Submundo. Ninguém o queria. Ninguém se importava. Mas Rafe é um Caçador de Sombras. Magnus – não é. Eu não sei como o Conselho irá se sentir sobre um ser do Submundo criando uma criança Nephilim, especialmente quando eles estão desesperados por novos Caçadores de Sombras.”
“Alec,” Clary disse firmemente. “Eles não vão tirar Rafe de você. Nós não vamos deixar.”
“Eu não vou deixar,” disse Alec. “Eu mataria todos eles primeiro. Mas isso seria ruim e estragaria a festa.”
Clary teve uma breve mas vivida imagem de Alec atirando nos convidados da festa com seu arco e flecha enquanto Magnus os abatia com fogo mágico. Ela suspirou. “Você tem alguma razão para acreditar que eles vão levar Rafe? Houve algum sinal, alguma reclamação do Conselho?”
Alec sacudiu a cabeça. “Não. É só que – você conhece esse Conselho. A Paz Fria significa que eles estão nervosos o tempo todo. E mesmo que agora hajam seres do Submundo no Conselho, eles não confiam neles. Às vezes eu acho que eles são piores do que antes da Guerra Mortal.”
“Eu não vou dizer que você está errado,” Clary disse. “Mas posso sugerir algo?”
“Envenenar o ponche?” Alec perguntou com preocupação.
“Não,” Clary disse. “Eu só ia dizer que acho que você pode estar direcionando mal sua ansiedade.”
Alec parecia intrigado. Termos psicológicos mundanos eram muito usados ou errados com Caçadores de Sombras.
“Você está na verdade preocupado porque ter um filho é uma grande responsabilidade, e isso foi de repente,” Clary disse. “Mas Max também foi. E você e Magnus são pais incríveis. Vocês se amam tanto, e isso cria apenas mais amor para vocês darem. Você não deve se preocupar que você não possua amor o suficiente para quantos filhos quiser ter.”
Os olhos de Alec brilharam por um instante, azuis por baixo dos cílios pretos. Ele se levantou e veio para onde Clary estava, próxima da porta. “Garota sábia.” ele disse.
“Você nem sempre achou que eu fosse sábia.”
“Não. Eu achei que fosse uma peste, mas eu entendo melhor agora.” Ele deu um beijo no topo de sua cabeça e saiu pela porta, ainda carregando sua tulipa.
“Jogue fora antes de voltar para a sala de música!” Clary gritou para ele, imaginando Isabelle no chão coberta de urticárias.
Ela suspirou e encarou as tulipas. Ela supôs que eles poderiam ter uma festa sem flores. Ainda assim –
Houve uma batida na porta. Uma garota em um vestido de seda com longas tranças marrons espiou dentro. Rebecca, irmã de Simon. “Posso entrar?” ela perguntou, abrindo a porta. “Uau, tulipas!”
“Isabelle é alérgica a tupilas,” Clary disse sombriamente. “Aparentemente.”
“Que droga.” disse Rebecca. “Você pode conversar por um segundo?”
Clary assentiu. “Claro, porque não?”
Rebecca entrou e parou na ponta da mesa. “Eu queria te agradecer.” ela disse.
“Pelo o que?”
“Por tudo.” Rebecca olhou pela sala, vendo os retratos dos Caçadores de Sombras ancestrais, os anjos e as espadas cruzadas. “Eu ainda não sei muito sobre esse assunto de Caçadores de Sombras. Simon pode apenas me contar um pouco sem despertar um tipo de alarme. Eu não sei de fato qual o trabalho dele –”
“Ele é um recrutador.” disse Clary, sabendo que isso não teria nenhum significado para Rebecca, mas ela estava orgulhosa de Simon. Tudo que acontecera com ele que havia sido difícil, dolorido, desafiador – se tornar um vampiro, perder suas memórias, se tornar um Caçador de Sombras, perder George – ele havia se transformado em uma maneira de ajudar as pessoas. “Nós perdemos muitos Caçadores de Sombras na guerra, há cinco anos atrás. E desde então tentamos criar mais. Os melhores candidatos são mundanos com algum sangue de Caçador de Sombras, o que significa frequentemente que eles não sabem que são Caçadores de Sombras, mas eles possuem a Visão. Eles podem ver vampiros, lobisomens, magia – coisas que podem fazer você pensar que está enlouquecendo. Simon fala com eles sobre tornar-se um Caçador de Sombras, porque é difícil – e porque é importante.”
Clary sabia que provavelmente não devia estar dizendo nada disso a uma mundana. Por outro lado, ela não deveria permitir a presença de Rebecca no Instituto de maneira alguma, muito menos para cuidar da comida. Mas quando Clary e Jace assumiram o Instituto, eles juraram um para o outro que seriam um tipo diferente de guardiões.
Afinal de contas, Clary e Simon haviam sido mundanos que não deveriam estar no Instituto também.
Rebecca estava sacudindo a cabeça. “Okay, eu não entendo nada disso. Mas meu irmãozinho é importante, certo?”
Clary sorriu. “Ele sempre foi importante para mim.”
“Ele está realmente feliz,” Rebecca disse. “Com a vida dele, com Isabelle. E isso é tudo graças a você.” Ela se inclinou para frente e falou em um sussurro conspirador. “Quando você e Simon se tornaram amigos e ele trouxe você em casa, minha mãe disse para mim: ‘Essa garota vai trazer magia para a vida dele’ e você trouxe.”
“Literalmente.” Clary disse. Rebecca apenas a encarou sem entender. Oh, céus. Jace teria rido. “Quero dizer, isso é adorável e eu fico muito feliz – você sabe que eu amo Simon como um irmão –”
“Clary!” Clary olhou para cima alarmada, temendo que fosse Isabelle, mas não era. Era Lily Chen com Maia Roberts. As chefes dos clãs de vampiros e lobisomens de New York, juntas.
Não que fosse tão incomum vê-las juntas. Elas eram amigas. Mas elas também eram aliadas políticas que ocasionalmente encontravam-se em lados opostos em uma discussão.
“Oi, Rebecca.” Maia disse. Ela acenou, a simples aliança de bronze em seu dedo brilhou. Ela e Bat haviam trocado alianças de compromisso há algum tempo, mas nada era oficial. Maia era líder dos Lobisomens de New York, líder da recriação do Praetor Lupus e estudante para conseguir um diploma em gestão de negócios. Ela era terrivelmente competente.
Lily olhou para Rebecca sem interesse. “Clary, nós precisamos falar com você.” ela disse. “Eu tentei falar com Jace, mas ele está tocando piano e Magnus e Alec estão ocupados com aquelas pequenas criaturas.”
“Crianças,” Clary disse. “Eles são crianças.”
“Eu informei Alec que precisamos de ajuda. Mas ele me disse para procurar você.” disse Lily, soando sufocada. Ela gostava de Alec, a sua maneira. Ele havia sido o primeiro Caçador de Sombras a realmente se empenhar e trabalhar com Maia e Lily, unindo seu conhecimento de Caçador de Sombras com as habilidades do Submundo delas. Quando Jace e Clary assumiram o Instituto, eles haviam assumido a singular aliança também. E Isabelle e Simon se juntaram quando puderam. Clary havia criado uma sala de estratégia para eles, cheia de mapas e contatos importantes em caso de emergência.
E havia muitas emergências. A Paz Fria significava que partes de Manhattan que pertenciam ao Povo das Fadas foram tomadas deles, e outros grupos do Submundo lutavam pelos restos. Muitas foram as noites em que Clary e Jace, com Alec, Lily e Maia, se sentaram tentando acertar algum detalhe da trégua entre vampiros e lobisomens ou parar algum plano de vingança antes mesmo que pudesse começar. Magnus tinha até criado feitiços especiais para que Lily pudesse entrar no Instituto apesar de ser terreno sagrado, coisa que Jace disse que, até onde sabia, jamais tinha sido feita para qualquer outro vampiro.
“É sobre o High Line.” Contou Maia. High Line era um parque público construído no alto de uma linha de trem descontinuada no centro, que recentemente tinha sido aberta ao público.
“O High Line?” Repetiu Clary. “Como assim, você está de repente interessada em projetos urbanos?”
Rebecca acenou para Lily.
“Oi, eu sou Rebecca. Seu delineador é incrível.”
Lily ignorou.
“Por causa da sua altura, é um novo território de Manhattan.” Ela explicou ela. “Portanto, não pertence aos vampiros nem aos lobisomens. Ambos os clãs estão tentando tomar para si.”
“Realmente precisamos discutir isso agora?” Perguntou Clary. “É a festa de noivado de Isabelle e Simon.”
“Ah, Meu Deus!” Rebecca se levantou de um pulo. “Eu esqueci! A apresentação de slides!”
Ela saiu correndo, e Clary ficou observando. “Apresentação de slides?”
“Entendo que em eventos como este é tradicional humilhar os noivos com fotos de suas infâncias.” Explicou Lily. e Clary e Maia a encararam. Ela deu de ombros. “O que foi? Eu assisto televisão.”
“Veja, eu sei que não é um bom momento para incomodá-la com isso.” Disse Maia. “Mas a questão é a seguinte: aparentemente tem um grupo de lobisomens e outro de vampiros se enfrentando lá agora. Precisamos de ajuda do Instituto.”
Clary franziu o cenho. “Como você sabe o que está acontecendo?”
Maia levantou o telefone. “Mensagens de texto.” Ela falou sucintamente.
“Me dê aqui.” Falou Clary, sombriamente. “Tudo bem, com quem estou falando?”
“Leila Haryana.” Disse Maia. “Ela é do meu bando.”
Clary pegou o telefone, apertou o botão de rediscagem e esperou até a voz da menina atender do outro lado. “Leila,” Ela disse. “Aqui quem fala é Clarissa Fairchild, do Instituto.” Ela fez uma pausa. “Sim, a chefe do Instituto. Sou eu. Olha, sei que está no High Line. Eu sei que você está prestes a lutar contra um clã de vampiros. Eu preciso que você pare.”
Gritos indignados se seguiram. Clary suspirou.
“Os Acórdãos ainda são os Acórdãos.” Ela disse. “E isso os quebra. Segundo, hum, a seção sete, parágrafo 42, vocês devem levar disputas territoriais ao Instituto mais próximo antes começarem a brigar.”
Mais argumentos vencidos.
Clary interrompeu. “Diga aos vampiros o que eu falei. E estejam aqui no Santuário cedo.” Ela pensou no champanhe na sala de música. “Talvez não tão cedo. Cheguem às onze, dois vampiros e dois licantropes, e vamos resolver isso. Se não o fizerem, serão considerados inimigos do Instituto.”
Mais argumentos resmungados.
Clary pausou. “Certo.” Ela falou. “Tchau, então. Tenha um bom dia.”
Ela desligou.
“Tenha um bom dia?” Disse Lily, levantando as sobrancelhas.
Clary resmungou, devolvendo o telefone a Maia. “Eu sou péssima em me despedir.”
“Qual é a seção sete, parágrafo 42?” Perguntou Maia.
“Eu não faço ideia.” Respondeu Clary. “Eu inventei.”
“Nada mal.” Admitiu Lily. “Agora vou voltar para a sala de música e avisar Alec que na próxima vez que precisarmos dele, é bom que ele atenda ou posso acabar mordendo alguma daquelas crianças dele.”
Ela saiu em uma confusão de saias.
“Eu vou impedir que esse desastre aconteça.” Falou Maia apressadamente. “Até mais tarde, Clary!”
Ela partiu, deixando Clary apoiada contra a grande mesa no meio do recinto e respirando fundo, se acalmando. Ela tentou se imaginar em um local plácido, talvez na praia, mas isso só a fez pensar no Instituto de Los Angeles.
Ela e Jace foram para lá um ano após a Guerra Maligna para ajudar a restabelecer o local — foi o Instituto que mais sofreu com os ataques de Sebastian. Emma Carstairs os ajudou em Idris, e Clary sentiu protetiva em relação à menina pequena loura. Eles passaram um dia organizando livros na nova biblioteca, e depois Clary levou Emma para a praia, para procurarem conchas e vidro marinho. Ela se recusou a entrar na água e, até mesmo, a passar muito tempo olhando para ela.
Clary havia perguntando se estava tudo bem.
“Não é comigo que me preocupo.” Respondeu Emma. “É Jules. Eu faria qualquer coisa para ele ficar bem.”
Clary a olhou longamente, mas Emma, observando o pôr do sol ardente vermelho e laranja, não viu.
“Clary!” A porta se abriu explosivamente outra vez. Finalmente era Isabelle, radiante com um vestido de seda lilás e sandálias brilhantes. Assim que entrou, começou a espirrar.
Clary ficou ereta. “Pelo Anjo —” A expressão dos caçadores de sombras agora vinha sem pensar, quando outrora parecia uma frase estranha. “Qual é!”.
“Tulipas.” Disse Isabelle com a voz engasgada enquanto Clary a levava para o corredor.
“Eu sei.” Retrucou Clary, abanando a outra e pensando se um símbolo de cura ajudava com alergias. Isabelle espirrou de novo, os olhos se enchendo de lágrimas. “Eu sinto tanto…”
“Dão é zua gulpa.” Disse Isabelle, o que Clary traduziu do alergiês como: “Não é sua culpa”.
“Mas é, apesar de tudo!”
“Pffbt,” Disse Isabelle sem elegância, e acenou com a mão. “Dão zi breogubi. Já vai melhorar em um segundo.”
“Eu encomendei rosas,” Explicou Clary. “Eu juro que encomendei. Não sei o que aconteceu. Eu vou até a floricultura e vou matá-los amanhã. Ou talvez Alec faça isso. Ele está com um instinto assassino hoje.”
“Nada está arruinado.” Falou Isabelle com a voz mais normal. “E ninguém precisa ser morto. Clary, eu vou me casar! Com Simon! Eu estou feliz!” Ela irradiava alegria. “Eu achava que havia fraqueza em entregar seu coração a alguém. Achava que poderiam partir meu coração. Mas agora sei mais. E é graças a Simon, mas também a você.”
“Como assim, graças a mim?”
Isabelle deu de ombros, um pouco tímida. “É que você ama muito. Com tanta vontade. Você dá tanto. E isso sempre a deixou mais forte.”
Clary percebeu que estava com lágrimas nos olhos. “Você sabe, casar com Simon significa que vamos basicamente ser irmãs, certo? A pessoa que se casa com seu parabatai não é como se fosse sua irmã?”
Isabelle a abraçou. Por um instante ficaram abraçadas na penumbra do corredor. Clary não pôde deixar de se lembrar dos primeiros gestos amistosos que ela e Isabelle realmente tiveram uma com a outra, agora há tanto tempo, ali nos corredores do Instituto. Eu não estava apenas preocupada com Alec. Mas com você também.
“Por falar em amor e em coisas relacionadas ao amor,” Disse Isabelle com um sorriso travesso, se afastando de Clary, “Que tal um casamento duplo? Você e Jace –”
O coração de Clary pulou um batimento. Ela nunca teve talento para esconder suas expressões ou sentimentos. Isabelle olhou para ela, confusa, prestes a perguntar alguma coisa — provavelmente se havia algo errado — quando a porta da sala de música se abriu e luz e música transbordaram para o corredor. A mãe de Isabelle, Maryse, se inclinou para fora.
Ela estava sorrindo, claramente feliz. Clary ficou contente em ver isso. Maryse se e Robert finalizaram o divórcio deles depois da Guerra Maligna. Robert se mudou para a Casa do Inquisidor em Idris. Maryse continuou em New York para dirigir o Instituto, mas ficou feliz em entregá-lo a Clary e Jace alguns anos depois. Continuou em New York, supostamente para os ajudar caso não dessem conta, mas Clary desconfiou que era para ficar mais perto dos filhos dela — e do neto, Max. Havia mais branco em seu cabelo agora do que o que Clary se lembrava quando a conheceu, mas tinha a coluna dela era ereta; a postura ainda era de uma Caçadora de Sombras. “Isabelle!” Ela disse. “Estão todos esperando.”
“Ótimo.” Disse Isabelle “Assim posso fazer uma senhora entrada.” E ela passou seu braço pelo de Clary antes de seguir pelo corredor. As luzes brilhantes da sala de música de repente estavam diante delas, e a sala cheia de pessoas se virando, sorrindo ao vê-las na entrada.
Clary viu Jace, como ela sempre via: o rosto dele era sempre o primeiro que ela via quando entrava em uma sala. Ele continuava tocando uma melodia leve, discreta, mas ele levantou o olhar quando ela entrou, e deu uma piscadela.
O anel Herondale brilhou no dedo dele com a iluminação de dezenas de globos de luz em forma de estrela que pairavam pelo recinto: sem dúvida, obra de Magnus. Clary pensou em Tessa, que tinha lhe dado aquele anel para entregar a Jace, e desejou que ela estivesse ali. Ela sempre adorou ver Jace tocando piano.
Palmas eclodiram quando Isabelle entrou. Ela olhou em volta, sorrindo, claramente em seu lugar. Soprou um beijo para Magnus e Alec onde estavam sentados com Max e Rafe, que assistia com seus olhos escuros confusos. Maia e Bat assobiaram, Lily ergueu seu copo, Luke e Rebecca sorriram, e Maryse e Robert observaram orgulhosos enquanto Isabelle avançava e pegava a mão de Simon.
O rosto de Simon ardeu de felicidade. Na parede atrás dele, a apresentação de slides que Rebecca havia mencionado continuava. Uma citação piscava na parede: Casamento é como uma longa conversa que termina cedo demais.
Eca!, pensou Clary. Mórbido. Ela observou Magnus colocando a mão sobre a de Alec, que assistia à apresentação com Rafael no colo. Fotos de Simon — e bem menos fotos de Isabelle; Caçadores de Sombras não ligavam muito para fotos — piscavam, aparecendo e desaparecendo na parede branca atrás da harpa.
Lá estava Simon, bebê, nos braços da mãe — Clary desejou que ela pudesse estar ali, mas o conhecimento de Elaine sobre os Caçadores de Sombras era nulo. Até onde sabia, Isabelle era uma boa menina que trabalhava em um estúdio de tatuagem. E Simon, aos 6 anos, sorrindo com dois dentes faltando. Simon, agora adolescente, com seu violão. Simon e Clary, aos 10 anos, no parque, sob um banho de folhas caídas no outono.
Simon olhou para a foto e sorriu para Clary, os olhos formando ruguinhas nos cantos. Clary tocou seu antebraço direito com seus dedos, onde estava sua marca parabatai. Ela torceu para que ele conseguisse enxergar nos olhos dela tudo que ela estava sentindo: que ele era sua âncora, a base da sua infância e o farol de sua vida adulta.
Através de um borrão de lágrimas, ela percebeu que a música tinha parado. Jace estava do outro lado da sala, sussurrando para Alec, as cabeças clara e a escura próximas. A mão de Alec tocava o ombro de Jace, e ele fazia um sinal afirmativo de cabeça.
Há muito tempo ela olhava para Jace e Alec, e via melhores amigos. Ela sabia o quanto Jace amava Alec, desde a primeira vez em que viu Alec ferido, e Jace — cujo autocontrole era quase assustador — desmoronara. Ela via como ele encarava qualquer um que dissesse alguma coisa ruim sobre Alec, os olhos cerrados, mortalmente dourados. E ela achava que entendia, pensava: “melhores amigos”, como ela e Simon eram.
Agora que Simon era seu parabatai, ela entendia muito mais. A forma como você ficava mais forte quando seu parabatai estava lá. A forma como eram um espelho que mostrava sua melhor forma. Ela não conseguia imaginar perder seu parabatai, não podia imaginar o inferno que seria.
O mantenha seguro, Isabelle Lightwood, ela pensou, olhando para Isabelle e Simon, de mãos dadas. Por favor, o mantenha seguro.
“Clary.” Ela estava tão perdida em pensamentos que não viu Jace se afastar de Alec e vir em sua direção. Ele estava atrás dela agora; ela podia sentir o cheiro da colônia com a qual o presenteara no Natal, o cheiro fraco do sabão e do xampu dele, sentiu a suavidade do blazer dele quando tocou o braço no dela. “Vamos –”
“Nós não podemos escapar, a festa é nossa –”
“Só um segundo.” Disse ele, com aquela voz baixa que fazia com que suas más ideias parecessem boas. Ela o sentiu dar um passo para trás e seguiu; eles estavam perto da porta da sala de estratégia, e entraram sem que ninguém notasse.
Bem, sem que quase ninguém notasse. Alec os observava e, quando Jace fechou — e trancou — a porta atrás de si, ele mandou pra Jace um gesto positivo com os polegares. O que deixou Clary bastante confusa, mas ela não pensou muito a respeito, basicamente porque Jace atravessou a sala com um olhar determinado, a pegou em seus braços e a beijou.
O corpo dela todo respondeu, como sempre fazia quando se beijavam. Ela jamais ficava entediada, cansada ou acostumada, não mais do que se imaginava cansando de belos sóis poentes, de músicas perfeitas ou de seu livro preferido no mundo todo.
Ela não achava que Jace tinha se cansado também. Pelo menos não pelo jeito como a segurava, como se cada vez fosse a última. Normalmente era assim com ele. Ela sabia que ele tivera uma infância que o deixou inseguro em relação ao amor, e, de certa forma, frágil como vidro, e ela tentava levar isso em conta. Ela estava preocupada com a festa e os convidados lá fora, mas se sentiu relaxando no beijo, apoiando a mão na bochecha dele até se afastarem para respirar.
“Uau,” Ela disse, passando o dedo na bainha do colarinho dele. “Acho que todo esse romance e pétalas de flores caindo do céu tiveram um efeito e tanto em você, huh?”
“Shh.” Ele sorriu. Seus cabelos louros estavam bagunçados, os olhos, sonolentos. “Me deixe viver este momento.”
“Que momento é esse?” Ela olhou em volta, divertida. A sala estava pouco iluminada, quase toda a luz vinha das janelas e da luminosidade por baixo da porta. Ela podia ver os formatos dos instrumentos musicais, fantasmas pálidos cobertos por lençóis brancos. Um piano meia cauda se encontrava contra a parede atrás deles. “O momento que nos escondermos no armário durante a festa de noivado dos nossos amigos que acontecia?”
Jace não respondeu. Em vez disso, ele a pegou pela cintura e a levantou, a sentando sobre a tampa fechada do piano. Os rostos deles estavam na mesma altura; Clary o olhou, surpresa. Ele tinha uma expressão séria. Ele se inclinou para a beijar, as mãos na cintura dela, os dedos agarrando o tecido do vestido.
“Jace,” Ela sussurrou. O coração dela estava acelerado. Ele inclinou o corpo sobre dela, a pressionando as costas dela contra o piano. Os sons de risos e música do lado de fora estavam ficando confusos; ela conseguia ouvir a respiração rápida de Jace e se lembrou do menino que ele foi um dia, na grama com ela, diante da Mansão Wayland em Idris, quando eles se beijaram e se beijaram, e ela percebeu que o amor pode te cortar como uma lâmina afiada.
Ela podia sentir a pulsação dele. A mão dele deslizou para cima, acariciando a alça do seu vestido. Os olhos semicerrados brilhavam no escuro. “Verde para curar nossos corações partidos.” Citou ele. Era parte de uma rima infantil dos Nephilim, uma que Clary conhecia bem. Os cílios dele tocaram a face de Clary, a voz quente em seu ouvido. “Você colou meu coração,” Sussurrou. “Juntou os cacos de um menino quebrado e com raiva, e o transformou em um homem feliz, Clary.”
“Não,” Disse ela, com a voz trêmula. “Você fez isso. Eu só – torci por você da arquibancada.”
“Eu não estaria aqui sem você,” Ele disse, suave como música contra os lábios dela. “Não só você – Alec, Isabelle, até Simon – Mas você é o meu coração.”
“E você o meu.” Ela retrucou. “Você sabe disso.”
Ele ergueu os olhos para os dela. Os dele eram dourados, firmes e lindos. Ela o amava tanto que suas costelas doíam quando respirava.
“Então você aceita?” Ele perguntou.
“Aceitar o quê?”
“Se casar comigo.” Ele disse. “Se case comigo, Clary.”
O chão pareceu sumir. Ela hesitou, só por um segundo, mas pareceu uma eternidade; ela podia jurar que uma mão espremia seu coração. E viu o princípio da confusão no rosto dele, então veio uma explosão e a porta explodiu em uma chuva de farpas.
Magnus entrou, parecendo perturbado, seus cabelos negros arrepiados, e as roupas amarrotadas.
Jace se inclinou para longe de Clary, mas só um pouco. Estava com os olhos cerrados. “Eu perguntaria ‘Você não bate não?’, mas é evidente que você não fez isso,” Ele falou. “Nós estamos, entretanto, ocupados.”
Magnus acenou com uma mão, descartando o que Jace dissera. “Já entrei no meio de coisa pior que seus ancestrais faziam.” Ele disse ele. “Além do mais, é uma emergência.”
“Magnus,” Disse Clary. “É bom que não seja sobre as flores. Ou o bolo.”
Magnus desdenhou. “Eu falei uma emergência. Isso é uma festa de noivado e não a Batalha da Normandia.”
“A batalha do quê?” Disse Jace, que não era muito bom em história mundana.
“O alarme conectado ao mapa disparou.” Disse Magnus. “O que marca a magia necromante. Houve uma explosão agora em Los Angeles.”
“Mas eu ia fazer o brinde.” Disse Jace. “O apocalipse não pode esperar?”
Magnus lhe lançou um olhar atravessado. “O mapa não é tão exato, mas a explosão foi perto do Instituto.”
Clary se endireitou, alarmada. “Emma,” Ela disse. “E Julian. As crianças –”
“Se lembra que na última vez em que aconteceu, não foi nada.”. Disse Magnus. “Mas há algumas coisas que me preocupam.” Ele hesitou. “Existe uma convergência de Linhas Ley não muito longe deles. Eu chequei e parece que algo aconteceu ali. A área foi devastada.”
“Você tentou falar com Malcon Fade?” Perguntou Jace.
Magnus consentiu sombriamente. “Sem resposta.”
Clary desceu do piano. “Você contou para alguém?” Ela perguntou para Magnus. “Além da gente, quero dizer.”
“Não quis arruinar a festa por um alarme falso.” Disse Magnus. “Então só contei –”
Um Caçador de Sombras alto apareceu na entrada. Robert Lightwood, com uma bolsa no ombro: Clary viu os cabos de várias lâminas serafim no alto. Ele parou ao ver as roupas amarrotadas e as faces ruborizadas de Clary e Jace.
“– pra ele.” Magnus terminou.
“Com licença.” Robert falou.
Jace parecia desconfortável. Robert também. Magnus estava impaciente. Clary sabia que ele não morria de amores por Robert, apesar das relações terem melhorado depois que ele e Alec adotaram Max. Robert era um bom avô do jeito que nunca foi um bom pai: disposto a sentar no chão e rolar com Max, e agora com Rafe também.
“Será que podemos parar de ficar sem jeito com a vida sexual de Clary e Jace e ir?” Perguntou Magnus.
“Isso meio que depende de você.” disse Clary. “Eu não posso fazer o Portal – eu não vi o mapa. É você que sabe para onde vamos.”
“Detesto quando tem razão, docinho.” Disse Magnus em tom resignado, e abriu bastante os dedos. Faíscas azuis iluminaram o recinto como vagalumes, um efeito estranhamente lindo que se abriu em um grande retângulo, um Portal brilhante através do qual Clary podia ver o contorno do Instituto de Los Angeles, o desenho de distantes montanhas, as ondas e o balanço do mar.
Ela pode sentir cheiro de água do mar e sálvia. Jace foi para o lado dela, pegando a mão dela com a sua. Ela sentiu a leve pressão dos dedos dele.
Case comigo, Clary.
Quando eles voltassem, ela teria que dar a ele uma resposta. Ela teve medo. Mas, por enquanto, eram Caçadores de Sombras antes de tudo. Com a coluna reta, a cabeça erguida, Clary atravessou o Portal.
[Traduzido por IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]