Queen of Air and Darkness – Melancholy Waters (Águas Melancólicas)

Cristina parou desesperada na cozinha extremamente limpa da casa na rua Princewater e desejou ter algo que ela pudesse arrumar.

Ela tinha lavado louças que nem precisavam ser lavadas. Ela enxugou o chão e arrumou e organizou a mesa. Ela colocou flores em um vaso e então jogou elas fora, e então pegou elas do lixo e as arrumou de novo. Ela queria deixar a cozinha boa, a casa bonita, mas alguém iria dar bola se a cozinha tivesse boa e a casa bonita?

Ela sabia que não. Mas ela tinha que fazer algo. Ela queria estar com Emma e confortar ela, mas Emma estava com Drusilla, que tinha chorado até dormir, segurando as mãos de Emma. Ela queria estar com Mark, e confortar ele, mas ele tinha saído com Helen, e ela dificilmente podia ser algo além de grata porque ele ao menos estava passando tempo com a irmã que ele sentiu falta por tanto tempo.

A porta da frente se abriu, fazendo Cristina derrubar um prato da mesa. Caiu no chão e quebrou. Ela estava prestes a juntar quando viu Julian entrando, fechando a porta atrás dele – runas de trancas eram mais comuns em Idris do que chaves, mas ele não tentou pegar a stele, apenas olhou sem parar da entrada para as escadas.

Cristina ficou parada. Julian parecia um fantasma de uma peça de Shakespeare. Ele claramente não tinha se trocado desde o encontro no Council Hall; sua camiseta e jaqueta estavam duras com sangue seco.

Ela nunca soube como falar com Julian de todo jeito; ela sabia mas sobre ele do que era confortável saber, graças a Emma. Ela sabia que ele estava desesperadamente apaixonado pela melhor amiga dela; era obvio na forma com a qual ele olhava para Emma, falava com ela, em gestos tão pequenos quanto entregar pra ela uma louça por cima da mesa. Ela não sabia como os outros não conseguiam ver isso também. Ela conhecia outros parabatai e eles não olhavam um para o outro daquele jeito.

Ter esse tanto de informação pessoal sobre alguém era estranho até nos melhores momentos. Esse não era um dos melhores momentos. A expressão de Julian era vazia; ele se moveu para o corredor, e enquanto ele caminhava, o sangue de sua irmã pingava da jaqueta e caia no chão.

Se ela ficasse parada, Cristina pensou, ele poderia nem ver ela, e ele poderia subir as escadas e eles dois seriam poupados de um momento esquisito. Mas até mesmo quando ela pensou isso, o vazio na expressão dele, apertou o peito dela. Ela estava na porta antes de perceber que se moveu.

Julian”, ela falou em um tom baixo.

Ele não pareceu assustado. Ele virou para olhar ela tão lentamente quanto um autômato. “Como eles estão?

Como se respondia isso? “Estão cuidando deles”, ela disse finalmente. “Helen esteve aqui, e Diana, e Mark.

Ty…

Ainda está dormindo.” Ela segurou nervosamente a camiseta dela. Ela tinha mudado de roupas desde o Salão do Conselho, apenas para se sentir limpa.

Pela primeira vez, ele olhou nos olhos dela. Os olhos dele estavam avermelhados, mesmo que ela não se lembrasse de ter visto ele chorando. Ou talvez ele tivesse chorado enquanto segurava Livvy – ela não queria lembrar-se disso. “Emma”, ele falou. “Ela está bem? Você saberia. Ela teria – ela falaria para você.

Ela está com Drusilla. Mas eu tenho certeza que ela gostaria de te ver.

Mas ela está bem?

Não”, Cristina falou. “Como ela poderia estar bem?

Ele olhou na direção das escadas, como se ele mal conseguisse aguentar o esforço que seria subir elas. “Robert ia nos ajudar”, ele disse. “Emma e eu. Você sabe sobre nós, eu sei que sabe, que sabe como nos sentimos.

Cristina hesitou, surpresa. Ela nunca pensou que Julian mencionaria isso para ela. “Talvez o próximo Inquisidor –

Eu passei pelo Gard no caminho de volta”, Julian falou. “Eles já estão em um encontro. A maior parte da Tropa e metade do Conselho. Falando sobre quem vai ser o próximo Inquisidor. Eu duvido que seja alguém que vá nos ajudar. Não depois de hoje. Eu devia me importar”, ele disse. “Mas agora eu não me importo.

Uma porta se abriu no topo das escadas e luz se espalhou pelo lugar escuro. “Julian?” Emma chamou. “Julian, é você?

Ele se endireitou um pouco, inconscientemente, ao som da voz dela. “Eu já estou indo.” Ele não olhou para Cristina enquanto subia as escadas, mas acenou para ela, um gesto rápido de reconhecimento.

Ela escutou os sons dos passos dele se afastando, a voz dele se misturando a voz de Emma. Ela olhou de volta para a cozinha. A louça quebrada ainda estava caída no chão. Ela poderia varrer ela. Seria a coisa mais prática a se fazer, e Cristina sempre pensou nela mesma como prática. Um momento depois, ela colocou a jaqueta do uniforme por cima das roupas. Pegando algumas laminas serafim e colocando em seu cinto, ela saiu pela porta para as ruas de Alicante.

***

Emma escutou o som familiar de Julian subindo as escadas. O som de seus passos era como musica que ela sempre conheceu, tão familiar que quase parou de ser uma musica.

Emma resistiu chamar ele de novo – ela estava no quarto de Dru, e Dru tinha acabado de dormir, apagada, ainda nas roupas que ela usou no encontro do Conselho. Emma ouviu os passos de Julian pelo corredor e então o som de uma porta abrindo e fechando.

Com cuidado para não acordar Dru, ela saiu do quarto. Ela sabia onde Julian estava sem ter que se perguntar: no fim do corredor, algumas portas distante, era o quarto emprestado de Ty.

Dentro, a luz estava fraca. Diana estava em uma cadeira próxima da cabeceira da cama de Ty, seu rosto caído com tristeza e cansaço. Kit estava dormindo, encostado contra a parede, suas mãos em seu colo.

Julian estava de pé na frente da cama de Ty, olhando para baixo, suas mãos dos lados do corpo. Ty estava dormindo sem inquietação, um sono entorpecido, seu cabelo escuro contra os travesseiros brancos. Ainda, mesmo em seu sono, ele se mantinha do lado esquerdo da cama, como se deixasse espaço aberto do lado dele para Livvy.

… as bochechas dele estão coradas”, Julian estava falando. “Como se ele estivesse com febre.

Ele não está”, Diana falou bem firme. “Ele precisa disso, Jules. Dormir cura.” Emma viu a duvida no rosto de Julian. Ela podia ver o que ele estava pensando: Dormir não me curou quando minha mãe morreu, ou meu pai, e não vai curra isso também. Sempre vai ser uma ferida.

Diana olhou na direção de Emma. “Dru?” ela perguntou.

Julian olhou pra ela com isso e seus olhos encontraram os de Emma. Ela sentiu a dor no olhar dele como uma ferida em seu peito. De repente ficou difícil respirar. “Dormindo”, ela disse quase em um sussurro. “Levou um tempo, mas ela finalmente apagou.

Eu estava na Cidade do Silencio”, ele falou. “Nós levamos Livvy para lá. Eu ajudei eles a colocar o corpo dela lá.

Diana colocou a mão no braço dele. “Jules”, ela disse bem baixo. “Você precisa ir e se limpar e então descansar um pouco.

Eu devia ficar aqui”, Julian falou em uma voz bem baixa. “Se Ty acordar e eu não estiver aqui –

Ele não vai”, Diana disse. “Os Irmãos do Silencio são bem precisos com as doses deles.

Se ele acordar e você estiver parado aqui, coberto com o sangue de Livvy, Julian, não vai ajudar nada”, Emma falou. Diana olhou para ela, como se estivesse surpresa com a dureza nas palavras dela, mas Julian piscou como se tivesse acordado de um sonho.

Emma esticou uma mão para ele. “Vamos lá”, ela disse.

***

O céu era uma mistura de azul escuro e preto, onde as nuvens de tempestade estavam juntas acima das montanhas na distancia. Felizmente, o caminho para o Gard estava iluminado por tochas de luzes enfeitiçadas. Cristina escorregou para o lado do caminho, se mantendo nas sombras. O ar continha um cheiro de ozônio de uma tempestade que se aproximava, fazendo-a pensar no cheiro amargo de sangue.

Enquanto ela chegava nas portas frontais do Gard, elas se abriram e um grupo de Irmãos do Silencio saíram dali. Suas vestes de marfim pareciam brilhar com o que pareciam gotas de chuva.

Cristina se encostou na parede. Ela não estava fazendo nada de errado – qualquer Shadowhunter poderia ir para o Gard quando quisesse – mas ela instintivamente não queria ser vista. Conforme os Irmãos passavam por ela, ela viu que não eram gotas de chuva que brilhavam em suas roupas, mas uma fina poeira de vidro.

Eles deviam ter estado no Salão do Conselho. Ela se lembrava da janela se quebrando enquanto Annabel desaparecia. Tinha sido um borrão de barulho, uma luz estilhaçada: Cristina estava focada nos Blackthorns. Em Emma, no olhar de devastação no rosto dela. Em Mark, seu corpo se curvando para dentro como se estivesse absorvendo a força de um ataque físico.

O interior do Gard estava quieto. Com a cabeça baixa, ela andou rapidamente pelos corredores, seguindo os sons das vozes em torno do Salão. Ela se virou para subir as escadas para os assentos do segundo andar, que se projetava sob o resto da sala como balcões em um teatro. Tinha uma multidão de Nephilins ao redor do estrado abaixo. Alguém (os Irmãos do Silencio?) tinham limpado os vidros quebrados e o sangue. A janela tinha voltado ao normal.

Limpe a evidencia o quanto quiserem, Cristina pensou enquanto ela se ajoelhava para espiar sobre o corrimão do balcão. Ainda assim aconteceu.

Ela podia ver Horace Dearborn, sentado em um banco alto. Ele era um grande e ossudo, não musculoso, embora seus braços e pescoço fossem grossos com tendões. Sua filha, Zara Dearborn – o cabelo dela em uma trança em torno da cabeça, seu uniforme completamente limpo – estava atrás dele. Ela não lembrava muito seu pai, exceto talvez na fúria de suas expressões e na paixão deles pela Tropa, uma facção dentro da Clave que acreditava na supremacia dos Shadowhunters em cima dos Membros do Submundo, mesmo no que dizia respeito a quebrar a Lei.

Em torno deles tinham outros Shadowhunters, jovens e velhos. Cristina reconheceu alguns centuriões – Manuel Casales Villalobos, Jessica Beausejours e Samantha Larkspear entre eles – assim como muitos outros Shadowhunters que estavam carregando cartazes da Tropa no encontro. Tinham alguns, entretanto, que até onde ela sabia não eram membros da Tropa. Como Lazlo Balogh, o cabeça rochosa do Instituto de Budapeste, que tinha sido um dos muitos arquitetos da Paz Fria e suas medidas punitivas contra os membros do Submundo. Josiane Pontmercy ela conhecia do Instituto de Marseilles. Delaney Scarsbury ensinava na Academia. Outros ela reconheceu como amigos de sua mãe – Trini Castel do Conclave de Barcelona, e Luana Carvalho, que cuidava do Instituto de São Paulo, a conheciam desde quando ela era uma garotinha.

Eles eram todos membros do Conselho. Cristina fez uma prece silenciosa de agradecimento por sua mãe não estar ali, por estar ocupada demais para participar lidando com um surto de demônios Halphas na Alameda Central, confiando que Diego representasse seus interesses.

Não há tempo a perder”, disse Horace. Ele exalava uma sensação de intensidade sem humor, assim como sua filha. “Estamos sem um inquisidor, agora, em um momento crítico, quando estamos sob a ameaça de fora e de dentro da Clave.” Ele olhou ao redor da sala. “Esperamos que depois dos acontecimentos de hoje, aqueles de vocês que duvidaram da nossa causa se tornem crentes.

Cristina sentiu um frio por dentro. Isso foi mais do que apenas uma reunião da Tropa. Isso foi o recrutamento da Tropa. Dentro do Salão do Conselho vazio, onde Livvy morreu. Ela se sentiu mal.

O que você acha que aprendeu exatamente, Horace?”, disse uma mulher com um sotaque australiano. “Seja claro com a gente para todos nós entendermos a mesma coisa.

Ele sorriu um pouco. “Andrea Sedgewick”, ele disse. “Você foi a favor da Paz Fria, se bem me lembro.

Ela pareceu tensa. “Eu não penso muito dos Seres do Submundo. Mas o que aconteceu aqui hoje…

Fomos atacados“, disse Dearborn. “Traídos, atacados, de dentro e de fora. Tenho certeza de que todos vocês viram o que eu vi – o símbolo da Corte Unseelie?

Cristina lembrou. Quando Annabel desapareceu, levada através da janela quebrada do salão como se por mãos invisíveis, uma única imagem brilhou no ar: uma coroa quebrada.

A multidão murmurou seu consentimento. O medo pairava no ar como um miasma. Dearborn claramente adorou, quase lambendo seus lábios enquanto olhava ao redor da sala. “O Rei Unseelie atingiu o coração da nossa pátria. Ele zomba da paz fria. Ele sabe que somos fracos. Ele ri de nossa incapacidade de aprovar leis mais rigorosas, de fazer qualquer coisa que realmente controlasse as fadas –…

Ninguém pode controlar as fadas”, disse Scarsbury.

Essa é exatamente a atitude que enfraqueceu a Clave durante todos esses anos”, retrucou Zara. Seu pai sorriu para ela indulgentemente.

Minha filha está certa”, ele disse. “As fadas têm suas fraquezas, como todos os Seres do Submundo. Eles não foram criados por Deus ou pelo nosso Anjo. Eles têm falhas e nunca as exploramos, mas eles exploram nossa misericórdia e riem de nós por trás de suas mãos.

O que você está sugerindo?”, disse Trini. “Um muro ao redor das Fadas?

Houve um pequeno riso irônico. As fadas existiam em toda parte e em nenhum lugar: era outro plano de existência. Ninguém poderia murar.

Horace estreitou os olhos. “Você ri”, disse ele, “mas as portas de ferro em todas as entradas e saídas das cortes das Fadas fariam muito para impedir suas incursões em nosso mundo.

Esse é o objetivo?” Manuel falou preguiçosamente, como se ele não tivesse muito interesse na resposta. “Fechar as fadas?

Não há apenas um objetivo, como você bem sabe, garoto”, disse Dearborn. De repente, ele sorriu, como se algo tivesse acabado de lhe ocorrer. “Você sabe da praga, Manuel. Talvez você deva compartilhar seu conhecimento, já que a Consulesa não compartilhou. Talvez essas boas pessoas devam estar cientes do que acontece quando as portas entre as fadas e o mundo são largas.

Segurando seu colar, Cristina ficou agitada silenciosamente enquanto Manuel descrevia os trechos de terra morta na Floresta Brocelind: a maneira como resistiam à magia dos Caçadores de Sombras, o fato de que a mesma praga parecer existir nas Terras da Corte Useelie das Fadas. Como ele sabia disso? Cristina agonizou em silêncio. Tinha sido o que Kieran iria dizer ao Conselho, mas ele não teve a chance. Como Manuel sabia?

Ela só estava agradecida por Diego ter feito o que lhe pedira e levado Kieran para a Scholomance. Estava claro que não haveria segurança para uma fada de sangue puro ali.

O Rei Unseelie está criando um veneno e começando a espalhá-lo para o nosso mundo – um que fará os Caçadores de Sombras serem impotentes contra ele. Precisamos agir agora para mostrar nossa força”, disse Zara, cortando Manuel antes dele terminar.

Como você agiu contra Malcolm?”, disse Lazlo. Houve risadas, e Zara corou – ela orgulhosamente alegara ter matado Malcolm Fade, um poderoso feiticeiro, embora mais tarde tivessem descoberto que ela havia mentido. Cristina e os outros esperavam que o fato desacreditasse Zara – mas agora, depois do que aconteceu com Annabel, a mentira de Zara se tornou pouco mais que uma piada.

Dearborn se levantou. “Esse não é o problema agora, Balogh. Os Blackthorns têm sangue de fada em sua família. Eles trouxeram uma criatura – uma coisa necromântica meio morta que matou nosso Inquisidor e encheu o Salão de sangue e terror – dentro de Alicante.

A irmã deles também foi morta”, disse Luana. “Nós vimos a dor deles. Eles não planejaram o que aconteceu.

Cristina podia ver os cálculos acontecendo dentro da cabeça de Dearborn – ele teria gostado muito de culpar os Blackthorns e ver todos eles jogados nas prisões da Cidade do Silêncio, mas a cena de Julian segurando o corpo de Livvy enquanto ela morria era crua e visceral demais mesmo para a Tropa ignorar. “Eles também são vítimas”, disse ele, “do príncipe das Fadas que confiaram, possivelmente, de seus próprios parentes fadas. Talvez eles possam ser trazidos para ver um ponto de vista razoável. Afinal, eles são Caçadores de Sombras, e é sobre isso que a Tropa se refere – proteger os Caçadores de Sombras. Proteger os nossos.” Ele colocou a mão no ombro de Zara. “Quando a Espada Mortal for restaurada, tenho certeza de que Zara ficará feliz em acabar com qualquer dúvida sobre suas conquistas.

Zara corou e consentiu. Cristina achou que ela parecia muito culpada, mas o resto da multidão se distraiu com a menção da Espada.

A Espada Mortal restaurada?”, Disse Trini. Ela acreditava profundamente no Anjo e no seu poder, como a família de Cristina também. Ela parecia ansiosa agora, suas mãos magras juntas em seu colo. “Nosso link insubstituível para o Anjo Raziel – você acredita que será devolvido para nós?

Será restaurada”, disse Dearborn suavemente. “Jia se reunirá com as Irmãs de Ferro amanhã. Como foi forjada, também pode ser reforjada.

Mas foi forjada no céu”, protestou Trini. “Não na Citadela Adamant.

E o céu permitiu quebrar”, disse Dearborn, e Cristina reprimiu um suspiro. Como ele poderia reivindicar uma coisa tão descarada? No entanto, os outros claramente confiavam nele. “Nada pode destruir a Espada Mortal, exceto a vontade de Raziel. Ele olhou para nós e viu que éramos indignos. Ele viu que nos afastamos de sua mensagem, de nosso serviço para os anjos, e estávamos servindo ao Seres do Submundo no lugar. Ele quebrou a espada para nos avisar.” Seus olhos brilhavam com uma luz fanática. “Se nos provarmos dignos novamente, Raziel permitirá que a Espada seja reforjada. Eu não tenho dúvidas.

Como ele ousa falar por Raziel? Como ousa falar como se fosse Deus? Cristina tremeu de fúria, mas os outros pareciam estar olhando para ele como se lhes oferecesse uma luz na escuridão. Como se ele fosse sua única esperança.

E como podemos nos provar dignos?”, Disse Balogh em uma voz mais sombria.

Devemos nos lembrar que os Caçadores de Sombras foram escolhidos”, disse Horace. “Devemos lembrar que temos um mandato. Nós confrontamos em primeiro lugar o mal e, portanto, nós viemos primeiro. Deixem os Seres do Submundo olhar por si mesmo. Se trabalharmos juntos com uma liderança forte –

Mas nós não temos uma liderança forte”, disse Jessica Beausejours, uma das amigas Centuriões de Zara. “Nós temos Jia Penhallow, e ela é contaminada pela associação de sua filha com fadas e meio-sangues.

Houve um suspiro e uma risada curta. Todos os olhos se voltaram para Horace, mas ele apenas balançou a cabeça. “Eu não vou pronunciar uma palavra contra a nossa Consulesa”, disse ele primorosamente.

Mais murmúrios. Claramente a pretensa lealdade de Horace lhe rendera algum apoio. Cristina tentou não apertar os dentes.

A lealdade dela à família é compreensível, mesmo que possa tê-la cegado”, disse Horace. “O que importa agora são as leis que a Clave passa. Precisamos impor regulamentos estritos aos Seres do Submundo, os mais estritos de todos com o povo das Fadas – embora não haja nada justo sobre eles.

Isso não parará o Rei Unseelie”, disse Jessica, embora Cristina teve a sensação de que ela não duvidava muito de Horace como o desejo de incentivá-lo a ir mais longe.

A questão é impedir que as fadas e outros seres do submundo se juntem à causa do Rei”, disse Horace. “É por isso que eles precisam ser observados e, se necessário, encarcerados antes que tenham a chance de nos trair.

Encarcerados?” Trini ecoou. “Mas como–?

Oh, existem várias maneiras“, disse Horace. “A Ilha Wrangel, por exemplo, poderia conter uma série de seres do submundo. O importante é que começamos com controle. Aplicação dos Acordos. Registro de cada ser do submundo, seu nome e localização. Nós começaríamos com as fadas, é claro.

Houve um barulho de aprovação.

Nós, é claro, precisaremos de um inquisidor forte para aprovar e fazer cumprir essas leis”, Horace disse.

Então que seja você!”, gritou Trini. “Nós perdemos uma Espada Mortal e um Inquisidor esta noite; vamos pelo menos substituir um. Nós temos quórum – há Caçadores de Sombras suficientes para colocar Horace na posição de Inquisidor. Podemos realizar a votação amanhã de manhã. Quem está comigo?

Um coro de “Dearborn! Dearborn!” preencheu a sala. Cristina segurou o corrimão da sacada, com os ouvidos zumbindo. Isso não poderia acontecer. Não poderia. Trini não era assim. Os amigos de sua mãe dela não eram assim. Esta não poderia ser a verdadeira face do Conselho.

Ela ficou de pé, incapaz de suportar outro segundo, e correu da galeria.

[Traduzido por Equipe IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]

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