Diário de Emma Carstairs

Trigésima postagem oficial
Diário de Emma – parte do diário de Tatiana, 8ª postagem no diário

Querido Bruce,

Ah, como é bom voltar para a ruína úmida e sombria que é a amaldiçoada Mansão Blackthorn. Você sabe, eu quase sentirei falta da maldição, quando ela for quebrada. Eu estou brincando! Cirenworth prova que você pode ter uma antiga mansão com centenas de anos de história e pode ser calorosa, acolhedora e amigável.

Nós voltamos ontem à noite, e esta manhã Hypatia veio com mais alguns trechos traduzidos do diário de Tatiana (Não se preocupe, Bruce: você é meu Diário Verdadeiro. O diário de Tatiana não significa nada para mim, juro, nada!). Ela era uma grande de uma esquisita, como sempre, é claro; as traduções estão todas nessas grandes páginas de pergaminho que parecem adereços de filme, mas não, Hypatia só gosta de usar pergaminhos amarelados antigos para seu trabalho normal aqui no século XXI. Feiticeiros! Ela disse algo sobre páginas tratadas, linguagem demoníaca e assim por diante. E ela estava usando um vestido bordô dos anos 40 com um chapéu combinando e Bruce, a aba desse chapéu era tão larga que pensei que o vento a levaria embora (Ah, eu deveria ter dito, estávamos do lado de fora. Julian estava no telhado com os construtores, não é minha coisa favorita, então eu estava assistindo dos portões da frente enquanto tentava cortar as sarças*, que crescem aqui umas dez vezes mais do qualquer coisa na Califórnia, apesar do clima ser muito pior. Eu falei isso para uma das fadas e ele olhou para mim e disse: “Black. Thorn“.* E então se afastou enquanto pensava que tinha dado uma ótima razão. Mas foi a Mansão Lightwood primeiro!, eu gritei de volta, e ele me ignorou. O que foi melhor, realmente.)

Eu tenho certeza de que as sarças cresceram mais alguns centímetros enquanto conversávamos, mas teriam que esperar. Tirei Julian do telhado e entramos para ler.

Parece que Hypatia começou realmente a pensar no que está traduzindo; em vez de fazer cada entrada, desta vez ela tinha trechos de um monte de entradas juntas (ela colocou data cada uma). O que é uma pena, porque eu meio que gostava de ver Tatiana falando sobre suas roupas ou seus irmãos ou qualquer outra coisa entre todas as, você sabe, coisas de demônios malignos. Mas eu admito que é para isso que estamos aqui. Como diz o velho lema dos Caçadores de Sombras: “Caçadores de Sombras: Essa coisa de demônios malignos é para o que estamos aqui”. Mas provavelmente em latim.

Alguns destaques traduzidos para você, Bruce. Eu não vou incluir as datas, mas elas se estendem por questões de anos. A primeira é de 1878 e a maioria é da década de 1880, mas depois há um salto e a última é de 1903 (Algum tempo antes, ela parece ter encontrado um “benfeitor” de algum tipo, mas ela não diz quem é. Ou por que alguém iria querer ser o benfeitor de uma pessoa tão desagradável…).

O pai está morto e Rupert está morto. Eu não posso falar do que aconteceu; quando eu tento, as palavras não vêm. A culpa é do Enclave de Londres, muitos dos quais estiveram presentes em suas mortes. Não só eles não salvaram nenhum dos homens que eu mais amo, mas ouso dizer que eles aceleraram o desastre. Eu estarei, pelo menos, registrando uma queixa formal na Clave, mas tenho pouca esperança de justiça, é claro. A corrupção entre os Nephilim aqui em Londres vai até as raízes.

Eu não posso acreditar que fui deixada sozinha. Minha mãe, se foi. Meus irmãos, se foram. As paredes da Mansão Lightwood são minhas únicas companheiras, seu silêncio é uma terrível lembrança de quanto perdi, em tão pouco tempo. Hoje fui de quarto em quarto, e onde quer que encontrasse um espelho, eu o esmaguei. O vidro eu deixei onde ele caiu, um lembrete de que tudo que era bom e brilhante foi destruído.

Eu tenho o anel de Rupert. É tudo o que resta dele. Eu sei que devo me sentir feliz por ter estado ao lado dele e recitado os votos de casamento. Eu não consigo trazer à tona a memória desse sentimento. Há sangue no anel. O sangue dele. Eu nunca vou limpá-lo.

Para honrar a memória de meu pai, comecei a folhear os livros de sua biblioteca. Não a biblioteca que a Clave conhece, é claro, aquela que eles pilharam após o incidente envolvendo sua morte, mas a outra, o santuário do Pai, que o encantamento esconde. Eu gostaria de saber o que ele sabia. Para buscar o poder que irá me ajudar, o qual agora está sem nada. Eu encontrei apenas uma coisa que faz meu coração bater no peito: por causa de seu fim violento, longe de sua própria casa, não é improvável que o espírito de meu Rupert ainda esteja presente aqui na casa. Se ele está aqui, eu vou encontrá-lo. Eu o verei e saberei que nosso amor é mais poderoso que a morte.

Eu procurei e procurei, realizei feitiço após feitiço. Eu não vi nenhum fantasma, nem de Rupert, nem do pai. Nem mesmo de algum parente Lightwood morto há muito tempo que poderia estar antes assombrando o lugar. É o encantamento de meu pai que mantém os mortos longe deste lugar? Ou isso só impede que eu os encontre? Mas eu sou a mestre desse encantamento agora, pois sou a verdadeira herdeira da casa (Se G e G tentarem tirá-la de mim, eles descobrirão que há mais do que um encantamento que funcionará contra eles).

A proteção do pai está desaparecendo. Eu posso sentir isso, enquanto permaneço aqui na casa, e isso se torna parte de mim, enquanto eu me torno parte dela. Algum dia meu filho herdará a casa — o último presente que Rupert me deu — e não deixarei a Mansão Blackthorn insegura para mim e minha família. Eu tenho lido extensivamente sobre o tema de encantamentos e coloco a culpa na urna contendo as cinzas da mãe, a qual caiu do seu lugar nas tumbas Lightwood no campo e se partiu terrivelmente. Não quebrou, mas desde então eu tenho sentido mais os olhos do mundo sobre mim. Mas eu acredito que os próprios objetos podem ser substituídos, desde que a magia seja renovada, e assim, em vez da urna, o encantamento agora habita o broche de luto do Pai, com suas mechas de cabelo da Mãe, e eu o coloquei no lugar do urna. O feitiço foi refeito e renovado. O Pai ficaria orgulhoso de mim. Ele estava certo em fazer de mim a herdeira de todas as suas obras.

Rupert está aqui, eu sei, embora eu não possa vê-lo ou ouvi-lo. Onde mais, de fato, ele poderia estar além de perto de mim, onde ele pertencia, onde ele deveria morar antes de sua vida ser interrompida pelas maquinações do Enclave. Às vezes, à noite, eu sinto que quase posso vê-lo, como se ele estivesse escondido atrás de uma cortina fina que divide o reino dos vivos dos mortos. E agora eu tenho certeza que ele ficará comigo.

Eu percebi que os objetos do feitiço protetor na casa são coisas que seriam importantes para o Pai, quando ele era mestre aqui. Mas agora eu sou a mestre aqui, e tendo estudado mais detalhadamente a pesquisa do Pai, foi uma questão simples colocar o anel dele em um local de poder. Será parte do feitiço daqui em diante, proteger a casa como Rupert teria me protegido.

Você vê, Bruce, como a última entrada parece… diferente?

Vingança. Reinvidicação. Elas estão perto.
Mas o poder da casa está desaparecendo. Na pior hora.
Eu apelei ao meu benfeitor. Ele disse que a magia era de minha autoria e que só eu poderia repará-la. Mas — pois ele é mais perceptivo do que qualquer outro — ele viu que eu já a havia reparado antes. Ele me perguntou quais objetos continham o encantamento e eu disse a ele: o broche, a pele de cobra e assim por diante.

E enquanto eu falava, ele só precisava olhar para mim com seu jeito de quem sabe para que eu o entendesse. Os objetos eram do tempo de meu pai e, embora a memória e honra dele nunca se desvaneçam de minha mente, mais de vinte anos se passaram.

Eu compreendi imediatamente meu benfeitor: era hora de substituir os focos do encantamento pelos meus próprios. Não apenas o anel de Rupert, mas coisas novas.

O que eu poderia usar? Eu estou sozinha há tanto tempo. Eu perdi um filho e não houve ajuda para mim. Só me resta uma coisa: minha vingança. E assim tomarei as coisas dos meus inimigos. Eu vou tirar tudo debaixo de seus narizes, de suas próprias casas. A tristeza deles é a minha satisfação, será a força que manterá a Mansão Blackthorn a salvo — a salvo deles! É o tipo de astúcia pela qual meu benfeitor é conhecido e que ele mais ama.

E uma vez que minhas proteções tenham voltado a força máxima, eles finalmente pagarão por seus pecados. Eles pagarão em seu sangue.

Ixa. Me dá arrepios só de ler. Eu acho que ela não os fez pagar realmente com sangue, ou Tessa e Jem provavelmente teriam mencionado isso (Eles teriam sido alguns dos que teriam pagado com sangue, eu tenho certeza). Então vamos resumir, Bruce: o fantasma é Rupert Blackthorn, marido de Tatiana. Ele morreu em algum tipo de tragédia e ela culpou as famílias sobre as quais Tessa e Jem falaram – os Herondale, os Carstairs, os Lightwoods… Então ela roubou coisas deles.

Então eu acho que sabemos o que precisamos fazer a seguir.




Notas de tradução:
Sarças*: é uma planta da família das rosáceas; também conhecida por silva. Você pode ler mais sobre ela clicando AQUI.
Black. Thorn.*: Essa piada se perde na tradução, já como o homem fada estava fazendo um pequeno trocadilho com a árvore repleta de espinhos pretos, que é literalmente a tradução do sobrenome de Julian.

[Traduzido por Equipe IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]

Fonte

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