Diário de Emma

Décima nona postagem oficial
Diário de Emma, página 4

Querido Bruce,

Nós voltamos hoje a Taverna do Diabo com as dicas de Jem (levar os anéis de família, mostrar ao bartender, ganhar acesso a sala secreta). Eu não sei, a Taverna do Diabo parece ter formas elaboradas de entrar em lugares? Então nós fomos e teve um tipo de confusão porque quando estivemos lá antes eu ouvi um dos clientes chamar o bartender de “Ernie”, então nós perguntamos para uma das garçonetes e ela disse que não tinha nenhum Ernie. Então, porque somos Shadowhunters, ela pensou que estávamos lá para questionar Ernie sobre algo, então eu pensei que ela estava apenas tentando acobertar Ernie e disse “Não, está tudo bem, pode dizer a Ernie que ele não está com problemas”, e a garçonete pareceu mais surpresa e disse que não tinha nenhum Ernie… Nós demos voltas nisso por algum tempo.

Enfim, eventualmente, o bartender apareceu vindo do porão ou de onde quer que ele estivesse, e explicou que se chama Fred, não Ernie, mas por muitos anos o bartender se chamava de Ernie, seu avô e seu bisavô se chamavam Ernie. Então a maior parte dos vampiros e das fadas que iam ali desde o Tempo dos Ernies, apenas teimosamente se recusam a aprender os nomes dos novos bartenders. Ele tentou, quando era mais novo, mas eles apenas riram e disseram “Essa é boa, Ernie”. Ele parecia meio triste quando contou. Acho que todo mundo tem coisas estranhas com as quais têm que lidar.

Nós explicamos para o não-Ernie sobre o que Jem nos disse e mostramos nossos anéis. Ele disse que sim, tinha uma sala antiga que era usada para encontros clandestinos de Shadowhunters no andar de cima. Tinham instruções deixadas a muitos anos atrás que a sala deveria ser mantida para uso de Shadowhunters, mesmo que nenhum tivesse aparecido durante um bom tempo. Eles levaram bem a sério.

Ele nos trouxe uma chave de algum lugar — uma dessas chaves de esqueleto que você não vê em nenhum lugar mais — e nós subimos as escadas e entramos. Me deixe te falar, Bruce, eles não sentem na obrigação de “manter” a sala que eles deveriam “limpar” ela. Um pesadelo para um asmatico.

Apesar disso a sala ainda está intacta — na verdade parece mais um pequeno apartamento (uma “kitnet”*, Julian chamou adoravelmente), com um minúsculo quarto em uma área de estar com uma mesa no meio e um sofá um tanto surrado. Não é como o resto da Taverna de forma nenhuma, parece como você imaginaria a sala de estudo da livraria mais antiga do colégio mais antigo de Oxford. Livros por todo canto, muitos pedaços de madeira entalhada, as iniciais de pessoas entalhadas na mesa (nota para as pessoas que gostam de rabiscar suas iniciais em mesas: coloque as iniciais dos sobrenomes! Fica muito mais fácil para seus descendentes descobrirem quem você é! Deve existir um milhão de pessoas que começam com “J!”)

Não tinha nada obviamente fantasmagórico, então Julian usou o sensor que nós recebemos de Ty. Não encontrou muito, mas eventualmente reagiu perto de um livro em particular em uma das estantes presas na parede. Nós o pegamos e era um livro escrito a mão, com uma capa costurada realmente elaborada. Se chamava “A Bela Cordelia” e foi escrito por “L.H.” Eu apostaria qualquer dinheiro que “H” significa Herondale. Mas não tinha nada de mágico sobre o livro. Quer dizer, eu não li ainda; talvez conte uma história realmente mágica. Mas o sensor não reagiu muito ao livro em si, não tinha nada entre as páginas, a tinta não era brilhante, etc.

Eventualmente nós pensamos em nos abaixar e olhar no espaço da estante onde o livro estava, e é claro, tinha um pequeno espaço aberto na parede. Julian e eu concordamos que naquele buraco devia ter muitas aranhas. Então nós jogamos pedra-papel-tesoura para ver quem enfiaria a mão, eu perdi, e enfiei minha mão lá. Felizmente não tinha aranhas. Ao invés disso, uma surpresa: um cantil de metal antigo! Daqueles que os rapazes colocavam em seus bolsos de casaco. É prateado — bom, pelo menos a cor é prateada. Pode ser chumbo. E definitivamente não é um “laço”.

MAS. O sensor enlouqueceu. Nós colocamos o cantil na mesa e o sensor ao lado dele começou a apitar como louco. Parecia um cantil normal pra mim, meio escurecido com o tempo e não é como se tivesse escapado algum fantasma quando nós o abrimos. Não sei. Estava vazio e o sensor não apitou para mais nada na sala. Nós ficamos por lá cerca de uma hora mesmo quando terminamos. O lugar parecia bem confortável, devia ser ótimo no passado. Pensei em voltar algumas vezes e pagar a Fred para ele manter sem poeira e limpo. Provavelmente tem coisas que o Instituto de Londres deve querer também. Mas isso é pra quando terminarmos com a Mansão Blackthorn (e com seu fantasma).

Nós não sabíamos mais o que fazer com o cantil na Taverna, então nós saímos, trancamos e devolvemos a chave. Levamos o cantil para a casa e Julian foi pegar o polidor de prata. Quando limpamos o cantil, vimos um desenho bem elaborado de folhas e flores nele e tinha iniciais. Não um Herondale dessa vez. Não um Blackthorn também. As iniciais eram “M.F.”


(Clique aqui para ver a imagem em tamanho maior)

Julian está se remexendo desconfortável com a luz enfeitiçada que eu estou segurando para escrever aqui. Acho que está bem tarde. Boa noite, Bruce. Boa noite, quarto descolado. Boa noite, fantasma. Boa noite, cantil misterioso.

Boa noite, Julian, meu amor.

— Emma.

* Nota da tradução: O termo em inglês que Emma usa é “bedsit”, que não tem uma tradução oficial para o português, mas pesquisando sobre o que seria realmente é como seria uma kitnet aqui no Brasil, então decidimos por “abrasileirar” um pouco a frase.

[Traduzido por Equipe IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]

Fonte

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