Quadragésima nona postagem oficial
Carta de Magnus para Alec
Caro delicioso muffin de amor,
Espero que essa carta perfumada te encontre bem, e que você, R e M estejam tendo um momento excelente em sua jornada exótica para… bom, acredito que o termo que você usou foi “norte do estado”. Eu ouvi lendas sobre esse “norte do estado”*¹, mas eu nunca pensei que minha família veria por si própria suas montanhas, seus mercados agrícolas e seu Rio do Filho de Hud*².
Indo ao ponto, eu espero que as crianças estejam aproveitando a visita a vovó, e espero que você esteja se referindo a Maryse como “vovó” todas as vezes possíveis, porque eu adoro a cara que ela faz quando fazemos isso. Em uma nota menos agradável, mas mais urgente, eu espero que tenha conseguido falar com Luke sobre as coisas da Cohort e de Idris.
Mas não canse suas lindas mãos escrevendo uma resposta. Eu irei para esse “norte do estado” para me juntar a você logo no final dessa tarde e eu estou aliviado de avisar que o problema com a Mansão amaldiçoada das crianças Blackthorn está mais ou menos resolvido. Embora tenha sido em dois toques, deixe que eu te conte.
Acho que nunca lhe mostrei a nota que Jem me mandou, que dizia “Emma e Julian estão tentando não te incomodar sobre a casa deles, e isso é bem legal da parte deles, mas ao contrário dos dois, eu não tenho nenhum problema em te incomodar, então esse sou eu, agora, nessa nota, te incomodando. Nós precisamos de um feiticeiro e você é o melhor que eu conheço para isso. Nós realmente apreciaríamos sua ajuda.”
Como geralmente é o caso, eu estava levemente aborrecido e levemente impressionado com Jem, que conseguiu ser bem legal e me lembrar que eu sou um trouxa quando se trata dele e de Tessa e irei correr para ajudar quando eu puder. Porque eu sou mesmo um trouxa quando se trata dele e de Tessa, eu respondi rapidamente dizendo que iria até lá.
Eu sei o que você está pensando: “porque Tessa precisa de um feiticeiro quando ela é uma feiticeira?”, mas feiticeiros diferentes cuidam de diferentes áreas, como você sabe, e enquanto Jem estava me elogiando falando que eu era a melhor escolha, a realidade é que eu já lidei com mais maldições do que Tessa. É isso que acontece quando você passa as últimas décadas vendendo seu serviço para qualquer miserável que aparece ao invés de inteligentemente viver uma vida mais calma como pesquisadora no Labirinto Espiral. Tessa sempre foi a mais inteligente de nós.
Enfim, eu tenho que dar algum crédito para Emma e Julian: eu esperei chegar lá e encontrar eles batendo os objetos amaldiçoados um contra o outro ou algo assim, mas eles tinham arrumado um círculo protetor meio que decente e até encontraram um feitiço. Era velho, meio que genérico, que não tem muito efeito nos feitiços atuais, mas ainda assim.
Estupidamente, eu arrumei um círculo básico de quebra de maldição feito por mim e tentei. “Estupidamente” porque eu esqueci quem fez a maldição em primeiro lugar. Seu pior ancestral, Benedict Lightwood, entusiasta de demônios e necromante amador. Quão aprofundado Benedict era com demônios? Ele morreu de varíola demoníaca – o que você não sabe, porque você é lindamente puro, meu Alec – que é transmitido sexualmente por demônios.
Mas eu tinha esquecido isso momentaneamente, então eu fiquei surpreso quando a maldição foi um pouco resistente. Ela se contorceu, se debateu e atacou, como Max ao ser colocado na banheira. Os objetos amaldiçoados estavam todos brilhando, meio que em um verde neon, onde eles estavam unidos pela magia e eventualmente eu percebi que teria que desatar cada objeto individualmente, um por vez.
Eu consegui o cantil, a adaga, um dos candelabros (não me peça para explicar como ISSO aconteceu), mas depois disso fiquei preso.
Não é um visual legal para um feiticeiro lançar uma grande pose magica e então nada acontece. Eu tenho certeza de que fiquei parecendo ridículo, como um mágico mundano que não entende por que o coelho não está saindo do chapéu. Julian e Emma foram muito educados e apenas esperaram pacientemente, mas eu me senti idiota.
Então eu perdi todo meu foco momentaneamente porque a porta se abriu e Kit entrou. Ele meio que olhou em volta e disse “Professor Plum, na livraria, com o candelabro, pelo que eu vejo”
“Lilás é sempre uma cor apropriada para um feiticeiro”*³, eu falei. “É a cor da decoração da magia”
Emma, é claro, falou, “Sua magia é azul”, porque ela é uma espertinha inveterada.
“Talvez ele esteja falando de mim”, Julian falou. “Estou usando um moletom lilás. Também porque é a cor decorativa da magia”, ele acrescentou, com um aceno em minha direção, o que eu apreciei.
“Talvez você devesse colocar os objetos em uma toalha de mesa lilás ao invés de uma branca”, Kit falou e enquanto ele falava, ele se aproximou para olhar mais de perto.
E quando ele chegou perto do círculo, Alec, eu tive uma sensação estranha. Uma sensação de… poder, eu imagino, meio que sussurrando em Kit. Sabe da forma que seu corpo meio que vibra quando tem um som muito, muito baixo? Aquela sensação do som? Foi tipo assim, mas silencioso. Eu nunca senti algo assim nas vezes em que vi Kit antes. Eu podia ver que Kit não estava sentindo nada diferente. Ou, se ele estava, ele estava sendo bem casual sobre isso.
Então eu sugeri que ele se juntasse ao círculo e adicionasse o foco dele na magia. “Principalmente porque Jem e Tessa fugiram para algum lugar ao invés de nos ajudar.”
“Eles estão no jardim com Mina”, Kit falou, meio na defensiva.
Eu redirecionei a atenção de todos para os objetos e estabeleci um tipo de versão mais rápida do meu feitiço de quebra de maldição. Eu peguei no outro candelabro e BANG. Nada de resistência! Teve uma grande explosão de azul e todos os nós de magia unindo os objetos a maldição quebraram em pedaços.
Todo mundo piscou bastante. Eventualmente eu disse “Bom, isso foi mais do que eu estava esperando. Acho que quatro pessoas fazem a diferença.”
Eu chequei. A maldição parecia ter… ido. Eu estava meio abalado. Eu não mencionei nada para Tessa e Jem porque não quero fazer isso ser mais do que é, mas eu acho que funcionou por causa de Kit. Não porque nós precisávamos de uma quarta pessoa. Algo está acontecendo com ele, alguma magia que ele nem nota. Eu imagino que tenha algo a ver com ele ser descendente da Primeira Herdeira, mas eu nunca fui um expert em magia de fadas. (E queime essa carta depois que a receber – poucos de nós sabem sobre Kit ser o Primeiro Herdeiro, e é melhor que continue assim).
Me deixa triste pensar nisso. Kit é um bom garoto que merece uma boa e ordinária vida. Eu sei que é o que Jem e Tessa querem para ele, mais do que qualquer coisa, depois do caos que ele passou enquanto crescia. Mas eu não tenho certeza de que ele terá uma escolha no assunto. As fadas podem não deixar escolha.
Julian ergueu a mão e pegou o cantil. Ele segurou por um tempo, franzindo a testa.
“O que?”, Emma perguntou.
“Nada”, Julian respondeu. Ele me olhou. “É isso? Acabou a maldição?”
“Acabou a maldição”, eu disse. “Eu espero.”
E então, do teto, desceu o fantasma Rupert. Eu nunca conheci Rupert Blackthorn quando ele estava vivo. Eu não sei o que acho dele. De um lado, ele parece ter sido um inocente que estava no lugar errado, na hora errada, um espírito preso numa casa que ele nunca viveu por causa de uma maldade que ele nunca soube enquanto estava vivo. Por outro lado, ele conheceu Tatiana Lightwood e pensou essa moça parece alguém para se casar, então talvez tenha algo esquisito nele.
Rupert estava bem acima da mesa e desceu até ficar próximo dela. Ele estava encarando algo na mesa.
“O que foi, Rupert?”, Emma perguntou. “O que você está olhando?”
Kit seguiu o olhar dele e começou a afastar os objetos. “É o anel”, ele falou.
Emma perguntou “Que anel?”
De fato, que anel? Não tinha um anel entre os objetos amaldiçoados. Mas tinha um anel na mesa agora. Kit o pegou. Era um anel de prata, com uma pedra negra cravejada e gravado com desenhos de espinhos.
“Um anel da família Blackthorn?” Kit perguntou.
“Não é como os anéis da família se parecem.”, Emma falou.
“Um anel de casamento?”, perguntou Kit.
“Shadowhunters não usam anéis de casamento”, Emma falou, mas Julian estava com aquele olhar pensativo que ele fica.
“Eu estou preso aqui por um laço de prata”, ele falou suavemente.
“Shadowhunters podem trocar anéis de casamento”, eu falei. “Eles apenas não têm o costume. Mas eles podem, se quiserem.”
Fosse o que fosse, era de Rupert. Ele seguiu a mão de Kit enquanto o outro o pegava, e agora ele estava tentando pegar com sua mão magra e fantasmagórica. Ele a fechou em torno do anel, que não aconteceu absolutamente nada, já como ele é um fantasma – Kit apenas segurou ali para ele. Então os olhos dele se fecharam (os de Rupert) e ele ficou com uma expressão de alívio, gratidão e paz, e ele apenas… desapareceu, ali. Começou lentamente e então sumiu. Nada mais de Rupert. Esperamos que para não se encontrar com sua esposa, já como ela o manteve preso por centenas de anos.
“Ele nem disse tchau”, Emma falou baixo.
“É o melhor”, eu falei. “Ele nem devia estar aqui pra começo.”
“Bom, Rupert, se pode me ouvir”, Emma falou, “foi legal ser assombrada por você.”
“Cinco estrelas”, Kit falou solenemente, colocando o anel de volta na mesa. “Seria assombrado de novo.”
E todas as velas se apagaram na sala de uma vez. O que, se foi Rupert, foi um toque legal. Mas acho que foi apenas uma brisa.
Nós todos saímos da sala em silencio. “Está diferente”, Julian falou. Ele estava olhando para o corredor. “Eu já consigo sentir.”
Eu podia sentir também. Tinha uma leveza que não existia antes. Uma espécie de conchego agradável que uma boa casa transmite e que sempre esteve em falta na Mansão Blackthorn por todo o tempo que a conheci. É difícil descrever, mas de uma vez só eu senti como a casa de Julian e Emma, de um jeito que não sentia antes. Eu sempre a conheci como um lugar proibido e então uma ruína asquerosa, mas pela primeira vez eu pensei que esse era um lugar que os Blackthorns poderiam preencher com felicidade.
E eu tenho certeza de que eles vão.
Te vejo em breve, meu amor. Eu beijarei você até que uma criança nos force a nos separar para dar atenção a ele. Então se prepare para um beijo de 30 a 60 segundos, baseado em experiencias anteriores. Mas eu desejo, como sempre, que não acabe nunca.
Amor,
Magnus
Notas da tradução:
*¹: Uma nota de Joshua Lewis
“Essa é uma piada bem centralizada em NY. Quem vive em NY se refere a todo o estado de NY, que não é a cidade de NY, como “norte do estado” e “ir ao norte do estado” é deixar a cidade para visitar esses lugares. A brincadeira em comum é que os Nova Iorquinos consideram uma viagem muito longa, mesmo que seja bem próximo. A parte que os nova iorquinos mais visitam é apenas o norte da cidade, no Vale do Rio Hudson.”*²: Aqui Magnus fez uma piada com o nome do Rio Hudson, porque se separar Hud/son fica literalmente “filho do Hud”.
*³: Isso foi uma piada com o que Kit falou sobre o Professor Plum, de Clue, que usa uma roupa lilás.
[Traduzido por Equipe IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]