Carta de Julian para Mark

Trigésima oitava postagem oficial
Terceira carta de Julian para Mark

Querido Mark,

Hey, como estão as coisas? Eu queria dar uma atualização sobre o que está acontecendo aqui na Mansão Blackthorn e descobrir como está tudo na Cabana Poliamorosa como Emma chama. Nós achamos que vocês deviam adotar isso, aliás, talvez dar a casa um nome deliberado como Poli Casa ou Casa de Muitos Amores.

Desculpe, só estou implicando. Vocês sabem que nós amamos vocês e amamos que estão juntos. Nós sentimos saudade e aguardamos poder visitar vocês no Palácio do Prazer assim que for possível.

Enquanto isso, tenho uma história para você — uma história em que um feiticeiro estava errado. Muito, muito errado.

Então, como você sabe, nós temos que achar mais um objeto daqueles que Tatiana usou para amaldiçoar a Mansão Blackthorn. Ragnor Fell nos mostrou alguns locais na linha ley no centro de Londres que ele pensou que poderia ter coisas para se olhar. Um deles nos levou (eventualmente) ao candelabro Lightwood. O outro era uma casa localizada em um beco no Soho que Ragnor identificou apenas como a localização da “Hell Ruelle”. Ele disse que quando conheceu, era um clube de membros do Submundo de notoriedade — um “salão” onde membros do Submundo discutiam arte, política, apostavam, bebiam e assistiam outros membros dos Submundo dançarem eroticamente: palavras dele, não minhas. Ele fez soar como se fosse cheio de escândalo antigamente, conhecido por um excesso obsceno, mas também por atrair os membros do Submundo mais proeminentes e intelectuais da cidade. Tipo, algo entre um simpósio acadêmico e um clube burlesco, que era aberto 24 horas e servia álcool. Nós podíamos falar só pelo tom de Ragnor que ele desaprovava, mas como eu nunca vi Ragnor aprovando nada, não era uma surpresa muito grande.

Ele disse que eles não gostavam muito de Shadowhunters, então nós colocamos roupas que pensamos que seriam apropriadas para um clube do Soho — Emma colocou um vestido florido e eu peguei algumas coisas do Baú de roupas Groovy, imaginando que eles teriam uma vibe meio hipster hoje em dia — e nós fomos quando pensamentos que estaria cheio, lá pelas dez na noite de Sexta.

Entãããããão, acontece que a informação de Ragnor estava meio vencida. Hell Ruelle ainda era um clube, e era de membros do Submundo, mas agora é outro tipo de clube. Um tipo cheio de homens velhos em poltronas de couro, lendo jornais. Membros do submundo homens, pelo menos. Alguns lobisomens de cabelo branco, vampiros vestidos como se fosse 1840 (ou eles estavam a caminho de uma convenção de cosplays), algumas fadas que, falando francamente, pareciam frutas secas gigantes que tinham aprendido a ler jornais. Tinham cantos e recantos que, eu acho, eram usados para encontros e reuniões e assim por diante, mas que agora estavam ocupados por ameixas secas iradas reclamando para garçons igualmente mesquinhos que sua sopa não estava quente o suficiente.

Ainda tem um bar, é claro. E jogatinas, mesmo que a maioria pareça ser Bridge. Poker seria energia demais para esse povo, eu acho. De todo jeito, eu não tinha ideia do que seria da gente; Emma e eu pensamos que eles iam reclamar de nossas roupas ou de sermos Shadowhunters, mas ninguém prestou atenção na gente. Nós estávamos até andando por ali com o Sensor e apontando para as coisas, mas nenhuma reação.

O Sensor disparou algumas vezes, mas nenhuma vez perto de nenhum objeto, apenas em pontos aleatórios em torno da casa, ao que Emma disse que deviam ser outros fantasmas não relevantes pra gente. Parecia certamente o tipo de lugar em que teriam alguns fantasmas residentes.

Finalmente o Sensor apitou perto de um objeto. Infelizmente, era uma caixa de papelão — um pouco menor que uma caixa de sapatos, em cima de alguns livros velhos em uma das estantes, e tudo: caixa, livros, prateleiras, estavam cheias de um monte de poeira. A caixa parecia como se tivesse embrulhada para presente — estava com um papel dourado em volta e um laço preso ali — mas quando nós a abrimos, estava completamente vazia.

Nós não sabíamos o que fazer. Pensamos que talvez a própria caixa estivesse amaldiçoada, mas eu sabia que era ridículo. Devia ser o que estava dentro da caixa. Eventualmente nós criamos coragem para perguntar ao bartender se nós poderíamos falar com o dono, e surpreendentemente ele foi até os fundos para chamar a pessoa, sem perguntar nada. Acho que não tem muito agito por aqui e ele estava feliz de ter algo para fazer.

Enfim, Hell Ruelle é cuidada hoje em dia por um feiticeiro chamado Zebulon Spoon, e o que acontece é que ele tem uma cabeça de gato. Tipo, ao invés de uma cabeça humana, a cabeça dele é no formato de uma cabeça de gato, com olhos gigantes e bigodes e pêlos. Ele tem orelhas de gato no topo da cabeça, mas elas ficam caídas como orelhas de cachorro. Ele também estava usando um chapéu marrom com corte para as orelhas dele. (“Magnus se deu bem com sua marca de feiticeiro”, foi o meu maior pensamento).

De todo jeito, ele não miou nem nada, apenas fechou os olhos parcialmente para a gente e perguntou o que queríamos. Ele começou a procurar as licenças da Ruelle e como elas apoiavam os Acordos e eu acho que tem alguma história sobre como o clube recusava aceitar alguns Shadowhunters como membros. Nós asseguramos que não estávamos ali sobre isso, mas estamos fazendo uma pesquisa de histórico familiar que nos levou até essa caixa, mas nós não sabíamos o que tinha dentro dela ou onde o objeto foi parar.

Spoon resmungou pra gente — ele resmungava muito — e disse, “Acontece que eu conheço essa caixa. Pensei que ela tinha sido jogada fora muito tempo atrás. Continha uma fatia peixe*.

Como uma faca?”, Emma perguntou.

Spoon parecia ofendido. “Como uma fatia peixe.” ele disse para a gente em um tom que sugeria que éramos idiotas.

Com sorte, Emma tinha seu telefone com ela, e isso era apenas uma barreira linguística entre Americanos e Ingleses. Aqui, uma “fatia peixe” significava, bem, uma espátula.

Alguém deu uma espátula de presente?” eu perguntei. “Só uma espátula?

O feiticeiro parecia mais ofendido por cada pergunta. “Essa fatia peixe era de prata”, ele falou. “Foi um presente de casamento, muito tempo atrás, de algum Shadowhunter para outro Shadowhunter. Deve ter uns cem anos ou mais. Aqui, eu acho que tem alguns nomes no lado de fora, se ainda tiver como ler.

Ele estava certo. Tinha tinta na lateral e estava quase sumida com o tempo, mas nós conseguimos ler: “Parabéns, W&T, com amor de Henry e Charlotte.

Quem são Henry e Charlotte?”, Emma perguntou.

Nem ideia”, disse Spoon. “Isso foi décadas antes de eu nascer. Eu tenho apenas setenta anos, sabe.

Na flor da idade, então”, eu disse e ele pareceu contente. Qualquer coisa para manter ele falando, eu acho.

Como eu disse, eu não sei como veio parar aqui”, Spoon continuou. “Quando eu cheguei aqui, eu encontrei na Sala de Magia das Trevas

Obviamente nós perguntamos a ele o que essa sala era.

Você sabe”, ele disse, confuso. “A Sala de Magia das Trevas. Muitas coisas esquisitas e esquecidas são deixadas lá, você sabe, e muitas dessas coisas estão cheias de magia ruim. Ninguém da equipe quer lidar com magia das trevas, é claro. Então essas coisas são mantidas na Sala de Magia das Trevas, que costumava ser uma despensa, eu imagino, mas está muito bem protegida. Ocasionalmente alguém volta para procurar por algo que deixaram, então nós mantemos… seguro.

Da forma que ele me olhou, eu entendi. Não era apenas um “Achados e Perdidos”. Eles mantinham artefatos das trevas seguros… para Shadowhunters não encontrarem eles e investigarem.

Com que frequência isso acontece ainda?” Emma perguntou, dizendo o que eu estava pensando. A clientela do clube não parecia o tipo que traria esse tipo de agito.

Bom, a Ruelle costumava ser bem diferente do que é hoje em dia”, Spoon falou. “Nós tivemos muito trabalho ao longo dos anos para nos transformar em um lugar mais respeitável, onde membros do Submundo poderiam encontrar um pouco de paz e quietude. É uma comodidade cada vez mais rara, eu descobri, a paz e quietude. Intrigas e aventuras se pode conseguir em todo resto da cidade esses dias.

Você estava nos falando sobre a Sala de Magia das Trevas”, eu disse educadamente. “E a fatia peixe.

Sim”, Spoon concordou, piscando. “Como eu ia dizendo, quando eu cheguei nós colocamos uma nova política sobre a Sala de Magia das Trevas. Qualquer coisa acima de cem anos estava sendo leiloado. Ou, pelo menos, não ficaria aqui. Imortais podemos ser, mas eu sinto que se um vampiro ou um feiticeiro não precisa de algo por centenas de anos, eles provavelmente não vão precisar depois.” Nós acenamos, Spoon cruzou os braços. “Então eu troquei a fatia peixe com um phouka por um chapéu.

A última frase foi tão abrupta que eu apenas disse “Perdão?

Eu troquei a fatia peixe”, disse Spoon com um tom de voz baixo. “com um phouka. Por um chapéu. Esse chapéu, de fato. Você vê que tem buracos para minhas orelhas passarem.

Emma acenou pensativamente de uma forma que sugeria que ela não tinha ideia do que falar. “Você não podia cortar os buracos em um chapéu normal?”, eu perguntei.

É claro que não”, Spoon explicou. “Arruinaria o chapéu”, ele disse. “Esse aqui foi feito assim. E também, como eu disse, eu estava querendo me livrar da fatia peixe. Francamente, apenas ter ela por perto estava deixando as sereias tristes. Elas ficaram aliviadas quando se foi. Fatiando peixes de fato.

Mas não fatia peixes”, Emma falou. “É apenas uma espátula.

Fatiando peixes de fato”, Spoon falou. “Maltrata elas. Machuca até os ossos, de fato.” e então tivemos que esperar um minuto inteiro enquanto ele ria da própria piada.

E agora nós chegamos ao principal da carta: nós estamos tentando encontrar esse phouka e esperando que Kieran talvez saiba algo. Um phouka que… faz chapéus? Talvez ele goste de sacudir uma espátula por aí? É um tiro no escuro, mas é só o que temos para continuar. Nós não queremos assustar ele, então se o encontrar, você pode falar que queremos comprar alguns chapéus. Quer dizer, não precisamos de buracos para orelha de gatos, mas parece que ele sabe o que fazer sobre os chapéus.

Meu amor para K e C. Espero ouvir de você em breve.

J.

[Traduzido por Equipe IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]

* Nota da tradução: A tradução correta seria “espátula” também, mas acabaria perdendo o sentido da piada com as sereias, por isso traduzimos como se fala em inglês “fish slice” para “fatia peixe” (no sentido de fatiar o peixe, não de ser uma fatia de peixe).

Fonte

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