Cassie irá publicar um pequeno pedaço de conteúdo extra de “The Last Hours” por mês até um mês antes do lançamento do livro. Esse é do mês de Outubro de 2019.

“Há muitos tipos de fantasmas,” Jessamine disse, “mas eles tendem a se encaixar em três categorias. Você conhece mais fantasmas como eu, que são bons e lindos e têm personalidades maravilhosas.”

Lucie quase bufou, mas por sorte Jessamine não pareceu notar. Elas estavam no pátio do Instituto, onde Lucie estava brincando, e evitando sua família. Woolsey Scott estava vindo para tomar chá, e eles estavam ocupados arrumando e escondendo a prataria – como todos os lobisomens, ele era alérgico. Lucie não se importava com Woolsey Scott, exceto que como a maioria dos adultos que visitavam o Instituto, ele era tremendamente chato, e também, quando ele olhava para ela, parecia que ele a julgava por seu desleixo e seus dedos manchados de tinta. Ela havia escapado para brincar no jardim, e quando ninguém apareceu para busca-la, ela decidiu que estava segura.

Talvez eles houvessem presumido que a chuva que estava para vir iria levá-la de volta para dentro. O céu estava coberto com nuvens, e enquanto a chuva parecia se conter, no ar havia aquele cheiro particular que dizia que ela seria inevitável.

Ela havia inventado um jogo para combinar com uma estória que ela havia composto recentemente. Era sobre uma jovem garota comportada que era forçada a se tornar uma rainha pirata para salvar seus pais que haviam sido sequestrados, e havia descoberto que levava jeito para isso. Ela correu pelo jardim, entrelaçando-se entre arbustos, fazendo de conta que era uma rainha pirata cujo os marinheiros haviam armado um motim. A chave era parecer profundamente angustiada, extremamente trágica, e estão girar rapidamente, espetando com o graveto que ela estava usando como espada.

Ela havia parado para decidir se a rainha pirata deveria usar uma máscara de prata ou preta quando Jessamine, a fantasma residente do Instituto, desceu flutuando de uma janela como uma página rasgada de um livro na brisa…

Lucie conhecia Jessamine sua vida toda, e sabia que Jessamine havia sido amiga de seus pais enquanto esteve viva, apesar de nenhum deles jamais haver lhe contado a história toda. Lucie mais pensava em Jessamine como parte da mobília, uma presença que parecia contente em vagar pelos cômodos do Instituto e ocasionalmente criticar a nova decoração moderna do lugar e a escolha das roupas do pai de Lucie.

“Olá, Jessamine,” Lucie disse agora. Ela estava desapontada: estava aproveitando seu jogo. Ela esperava se lembrar de todos os detalhes da rainha pirata e do motim para que pudesse escrever sobre eles quando entrasse novamente.

“Lucie,” Jessamine disse, “Eu acho que é a hora de falar com você sobre fantasmas.”

“Agora?” Lucie disse desanimada.

Jessamine olhou para o céu. “É a temperatura certa para fantasmas,” ela disse. “Agora escute. Alguns fantasmas permanecem entre os vivos por causa de negócios inacabados que os prendem aqui. Alguns permanecem para proteger aqueles que amam. E alguns permanecem por causa do ódio, malícia e amargura.” Ela despenteou o cabelo de Lucie; a sensação era como ser tocada por uma brisa. “Você deve aprender a ignorar esse tipo de fantasma. Ficar longe deles. Eles se alimentam de seu medo. Sem seu medo eles não podem fazer nada contra você.”

“Eu vou me lembrar,” Lucie murmurou.

Jessamine baixou a cabeça para Lucie. “Eu espero que você lembre,” ela disse, e sumiu tão rapidamente como havia aparecido.

Lucie presumiu que Jessamine havia se tornado um fantasma para proteger aqueles que ela amava, mas independente disso, ela era muito estranha. Um pouco duvidosa, ela retornou ao seu jogo. A distância houve um som que poderia ser um trovão ou apenas o barulho de Londres.

O jogo dela tirou-a do pátio do Instituto até a rua por um momento. A rua estava quase vazia, mas em um momento Lucie se virou para confrontar o capitão havia fingido lealdade a ela enquanto na verdade trabalhava para um companheiro do motim, e quase espetou uma pessoa de verdade. Ela arfou e deu um passo para trás. “Eu sinto muito!” ela chorou. “Eu não sabia que você estava aí.”

A mulher diante dela usava um vestido Vitoriano verde escuro que lhe passava um ar de professora escolar ultrapassada. Em sua mão enluvada havia uma maleta preta maltratada. Seu rosto era fino e pálido e pontudo, e seu cabelo estava disperso.

Lucie esperou desconfortavelmente, incerta do que dizer. Ela deveria ter ficado nas terras do Instituto, onde o Glamour se certificaria de que não houvesse nenhum encontro inesperado com mundanos humanos. A mulher analisou-a e Lucie pensou se talvez ela fosse mesmo uma mundana. Mas ela não tinha runas e ela não era uma Caçadora de Sombras. Ela poderia ser um Ser do Submundo? Ela não mostrava sinais de ser uma fada, ou uma feiticeira ou uma lobisomem, e apesar de ser pálida, ela estava na luz do dia, então não poderia ser uma vampira.

“Eu devo lhe fazer uma pergunta, pequenina.” A voz da mulher era rouca, como se ela não falasse há muito tempo. “Seus pais estão procurando por uma governanta? Eu sou uma excelente governanta.”

Ela esticou um papel – suas credenciais, talvez, mas a atenção de Lucie estava tomada pela mão da mulher.

Não estava mais enluvada. Agora estava esquelética, o osso branco como neve. Sangue vermelho escuro pingava da ponta de seus dedos, ensopando o papel.

Lucie deu um passo para trás, o ar preso em sua garganta. “Você é um fantasma,” ela disse, quase sem querer. Mas um fantasma nunca havia a abordado na rua dessa maneira, certamente não com mãos esqueléticas. Ela olhou para o rosto do fantasma. Estava sombrio, quase distorcido, e a assustou. “Você não pode me enganar,” Lucie disse, tentando soar corajosa. “Eu a vejo pelo o que você é.”

“Que garota esperta,” A voz do fantasma assumiu um tom desagradável. “Eu não gosto de garotas espertas. Eu costumava cuidar de seis delas. Elas me aplicavam golpes e me insultavam. Uma noite eu subi para seus quartos e as esfaqueei, uma de cada vez, bem através de seus pequenos corações espertinhos.”

O sangue de Lucie gelou. O fantasma esticou a mão, como se fosse tocar no coração de Lucie, e ela se virou e correu em direção a casa. Ela lembrava do que Jessamine havia dito, mas como ela poderia não sentir medo? Ela podia sentir a presença do fantasma atrás dela, um formigamento em sua nuca. Lucie recém havia chegado ao portão quando tropeçou em uma pedra solta e caiu, raspando o joelho no caminho.

O fantasma deslizou adiante, esticando-se como se fosse ajuda-la. “Você poderia ser minha nova pupila…”

Lucie foi para trás. “Pare! Se afaste!”

Para sua surpresa, o fantasma se afastou, parecendo chocada. Talvez as garotinhas geralmente não gritassem com ela. Lucie estava prestes a gritar por ajuda, mas a ajuda já havia chegado.

Jessamine apareceu do céu e ficou entre Lucie e a mulher. Mas essa era Jessamine como Lucie nunca havia visto: um anjo vingador, pairando ameaçadoramente entre Lucie e a mulher fantasma. Lucie arfou em choque enquanto Jessamine erguia as mãos, como se estivesse prestes a lançar um feitiço terrível.

“Não,” a mulher fantasma murmurou, sua boca abrindo terrivelmente, mostrando uma caverna escura. “Eu não sabia que ela estava protegida. Eu não sabia…”

“Você irá sumir daqui,” Jessamine mandou, e até sua voz soava diferente, profunda e selvagem, como as ondas quebrando. “Você vai deixar esse lugar, espírito imundo!”

O fantasma se encolheu por um momento, então sumiu no nada.
Lucia estava parada no caminho para o jardim, encarando Jessamine, que havia encolhido para seu tamanho normal. “Não fique boquiaberta, Lucie, vai lhe dar rugas. Vamos, levante-se.” Ela havia retornado a seu estado normal, bela, e respeitável e distante.

“Obrigada,” Lucie disse fracamente.

“Olhe por onda anda,” Jessamine disse com severidade. “E preste atenção ao que eu te disse. Há mais de um tipo de fantasma.” E então ela ergueu-se no ar e sumiu.

A lição permaneceu com Lucie por muito tempo. Ela nunca culpou Jessamine por não saber que havia um quarto tipo de fantasma. E mesmo se Jessamine soubesse, ela não poderia ter preparado Lucie para o fato de que conhecê-lo iria mudar sua vida para sempre.

[Traduzido por Equipe IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]

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