Cassie irá publicar um pequeno pedaço de conteúdo extra de “The Last Hours” por mês até um mês antes do lançamento do livro. Esse é do mês de Julho de 2019.
Uma das memórias mais antigas de Christopher Lightwood era da mãe dele, Cecily Lightwood, levada às pressas para a enfermaria depois de uma luta com demônios Raum. Christopher e sua irmã mais velha, Anna, estavam no Instituto de Londres naquela época, sendo cuidados pela sua tia Tessa e seu tio Will enquanto os pais deles estavam patrulhando. Tessa afastou Christopher rapidamente, mas não antes dele ver o olhar preocupado no rosto de Will quando foi chamar os Irmãos do Silêncio.
Depois, Christopher sentou ao lado da cama da mãe enquanto ela se recuperava do veneno do demônio Raum. Ela alternava entre consciente e inconsciente, acordando e sorrindo quando o via e então voltando a dormir. Tio Will movia muito os braços, falando sobre como a irmã dele era corajosa demais para seu próprio bem. O pai de Christopher, Gabriel Lightwood, lembrou a Will que coragem contra todas probabilidades é o que fazia eles Shadowhunters, não era? Isso fez Will bufar. Mas Christopher podia ver que o pai dele estava realmente assustado, e muito aliviado que Cecily estava se recuperando. Christopher se encostou no pai dele.
“Caçar demônios é assustador?”, ele perguntou.
Gabriel suspirou e puxou Christopher mais para perto. “Pode ser assustador, mas um mundo governado por demônios é muito mais.”
Isso fez sentido, mas Christopher continuou sua linha de questionamento. “Lutar contra eles com espadas e adagas, isso é assustador. Mas e se tivesse outra forma de lutar com eles?”
O pai dele pareceu confuso. “Como armas de longo alcance? Arco e flecha?”
Christopher não conseguia explicar as ideias que estavam passando na cabeça dele. Ele não tinha a linguagem pra elas ainda. Ao invés disso, ele apenas sorriu. “Não exatamente”, ele disse. “Mas não se preocupe. Eu vou descobrir.”
Quando Christopher tinha oito anos, seu pai e seu tio Gideon se trancaram no estúdio e falaram em vozes altas sobre a tia de Christopher, Tatiana, e o filho de Tatiana, Jesse. Christopher entendeu que Jesse era um primo que ele nunca conheceu e que Jesse estava doente.
Pouco tempo depois eles receberam notícias de que Jesse tinha morrido. O pai de Christopher tentou visitar a tia Tatiana, mas ela não quis ver ele. Quando Gabriel voltou para casa, Cecily colocou os braços em torno dele e ele chorou. Christopher ficou chocado, menos pelas lágrimas do pai dele e mais pelo fato de que tinham um primo que nunca puderam conhecer e agora nunca poderiam. Pensamentos continuavam passando pela cabeça de Christopher. Está tudo errado. Se nós tivéssemos conhecido ele, nós poderíamos ter ajudado ele. Salvado ele. Mas quando ele disse isso em voz alta para a mãe dele, Cecily apenas sorriu tristemente. “Você é um garoto corajoso e ousado”, ela disse. “O mundo precisa de mais mentes como a sua, Christopher. Mas você não pode pegar a responsabilidade de salvar todas as vidas. Isso é um peso muito grande pra uma pessoa carregar. Os Irmãos do Silêncio estavam com Jesse quando ele morreu, e eles são os mais inteligentes entre nós. Certamente eles teriam salvo ele se pudesse ser salvo.”
Christopher pensou, Mas os Irmãos do Silêncio apenas tem alguns tipos de inteligência. E se um tipo diferente pudesse ter salvo Jesse? Mas ele não falou nada.
Então, quando Christopher tinha dez anos, Anna foi mordida por um demônio e a ferida ficou infeccionada. Toda a família estava agitada com preocupação com a irmã de Christopher dia e noite. A febre era um problema que durou, um problema que ficou na mente dele exigindo uma solução. Muitas vezes em sua vida, Christopher se encontrou pensando a mesma coisa que pensou quando Jesse morreu. Isso está errado. Algo devia ser feito sobre isso.
Christopher tinha muitos primos. Matthew não era um primo, mas seus pais eram amigos e eram tão bons quanto a família: sempre eram compreensivos. Christopher chamava o pai de Matthew de tio Henry desde que podia falar, e sempre ficara impressionado com a intrigante cadeira em que Henry trabalhava. Então, um dia, Christopher entrou no laboratório de Henry, o que ele achou ainda mais intrigante do que a cadeira. Henry havia deixado suas anotações para um experimento e Christopher prontamente tentou realizar o experimento.
Você nunca esquece sua primeira explosão.
“Oh, bem feito, mais ainda bem pensado.” disse o tio Henry, mas a tia Charlotte queria “uma palavra” com ele. Na verdade, foram muitas palavras. Christopher não entendia porque as pessoas eram tão imprecisas.
Depois das muitas palavras, o tio Henry disse que Christopher era jovem demais para causar explosões, e o laboratório era um lugar perigoso, e Christopher não tinha permissão para tocar em nada sem permissão. Nem Matthew, mas Matthew não queria tocar. Matthew estava interessado em falar sobre mistificar as coisas, como o tio Henry deveria “comer mais” e pôr fim a um experimento brilhante por uma razão tola como “tudo está em chamas”.
Christopher foi impulsionado pela verdadeira curiosidade científica. Pensava no problema e deu permissão para si mesmo tocar o que quisesse no laboratório. Às vezes, o tio Henry trancava as coisas longe de Christopher, então Christopher foi forçado a invadir os armários.
Era tudo muito incomodo, mas o progresso científico era uma avalanche que não deveria ser contida. Christopher leu os artigos de Marie Curie sobre o rádio, o elemento que poderia destruir os tumores. Ele leu o ensaio de John Snow sobre como a cólera poderia se espalhar através de uma bomba de água pública. Ele tentou escrever sua própria obra sobre a invenção do Portal feita por Henry Fairchild. Essas eram as pessoas que olhavam o mundo de maneira inventiva, buscando a causa raiz dos problemas que atormentavam a humanidade.
“Quem você acha que é o Caçador de Sombras que mais salvou vidas, garoto?” O Inquisidor perguntou a ele, quando o Inquisidor estava visitando a Consulesa em sua casa em Londres, e Christopher saiu do laboratório para fazer um lanche. “Eu suponho que você acredite que foi seu pai.”
“Não.” disse Christopher, após um momento pensando. “Eu diria meu tio Henry.”
O inquisidor apareceu atordoado.
“Eu fiz uma análise.” disse Christopher pacientemente. “Se o tio Henry não tivesse inventado o Portal, existe uma forte possibilidade de que nossos números seriam menores em um terço. Acredito que você mesmo teria morrido nove anos atrás, durante o ataque Dantalion ao Instituto de York. Como os portais existirão muito depois que o tio Henry estiver morto, eu espero que ele acabe salvando mais vidas do que qualquer outro Caçador de Sombras, incluindo Jonathan Shadowhunter. A menos que eu possa inventar algo que seja tão útil. O que naturalmente eu almejo fazer.”
Christopher voltou ao laboratório pensando em demônios. Como eles andavam entre os mundos, como esfaquear eles era uma solução temporária na melhor das hipóteses, já que eles poderiam sempre se formar novamente em seus próprios mundos e voltar a causar mais estragos. Como ninguém parecia estar olhando para a raiz desses problemas. Bem, quase ninguém.
“Isso pelo menos te incomoda?” Christopher perguntou a Henry, hesitante, algumas horas depois. “O jeito que as pessoas são? O que eles valorizam e o que eles… não?”
Henry riu. “Importa se me incomoda? Isso não muda o fato de que há trabalho a ser feito.”
Foi uma resposta sensata e prática, mas pela primeira vez Christopher se viu querendo mais. Henry o compreendeu, do jeito que Henry sempre parecia compreender.
“Eu sei o que eu valorizo.” Henry disse com firmeza. “Eu não acho que estamos tão separados dos caminhos dos Nefilins quanto você pensa. Somos todos guerreiros, cobrados pelo Anjo para manter o mundo seguro em nossos diferentes caminhos. Nós não vamos ganhar se qualquer um de nós lutar sozinho. O que você mais deseja?”
“Há tanta coisa errada com o mundo.” disse Christopher. “Eu quero que faça sentido. Eu quero consertar. Eu quero encontrar as soluções que são negligenciadas pelos outros.” Ele olhou para os arranjos de diatomáceas, o latão brilhante de seus microscópios, as armas que eles estavam tentando modificar e os dispositivos que eles estavam tentando inventar. Matthew falava muito sobre a verdade e a beleza como algo importante. Este era o lugar onde Christopher sempre encontrou o algo importante dele.
“Isso foi o que eu mais me senti chamado a fazer.” disse Henry. “Eu sempre pensei que era certo usar minha mente, a melhor arma que eu tenho, pela causa em que eu acredito. É uma alegria ver você procurar pela arma que eu uso.”
“Então, eu deveria me juntar a você em todos os seus experimentos.” Christopher disse triunfante.
“Sim.” disse Henry. Então ele hesitou, e por um momento Christopher pensou que poderia dar uma palestra sobre ser cuidadoso e evitar explosões. Mas Henry não deu. Em vez disso, ele apenas disse: “Sim, devemos.”
A partir de então, Christopher considerou a ciência não apenas aquilo que ele amava, mas também seu dever como Caçador de Sombras. Talvez ninguém mais achasse, mas ele sabia que ele era dedicado como uma Irmã de Ferro, um Irmão do Silêncio, um guerreiro indo em frente para enfrentar um campo de demônios.
Quando ele estava cansado, ou as pessoas não eram razoáveis, ou seu irmão mais novo chorava do lado de fora de sua porta, Christopher se lembrava do sorriso no rosto do Caçador de Sombras que ele mais respeitava, e Henry dizendo: “Venha, Christopher. Pegue sua melhor arma e lute com sua melhor luta.”
[Traduzido por Equipe IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]