Conto de fadas de Londres (Conto bônus)

Em “Corrente de Ferro”, Will e Tessa são pais, mas nos lembramos de quando eles eram jovens, não lembramos? Como um presente especial de quase-uma-semana-para-o-lançamento, eis a noite de núpcias de Will e Tessa, com arte de Cassandra Jean. Essas duas crianças malucas!

Conto bônus que veio na edição nacional do livro.

CONTO DE FADAS DE LONDRES

LONDRES, 3 DE MARÇO DE 1880

Will Herondale se sentou na janela de seu novo quarto e olhou para uma Londres congelada sob um céu frio de inverno. A neve cobria o topo das casas, se estendendo em direção à faixa pálida do Tâmisa, dando à vista a sensação de um conto de fadas.

Embora, no momento, Will não estivesse se sentindo muito amigável com os contos de fadas.

Ele deveria estar feliz, ele sabia disso – afinal, era o dia de seu casamento. E ele tinha estado feliz, desde o momento em que acordou, mesmo tendo Henry, Gabriel e Gideon entrando em seu quarto e incomodando-o com conselhos e piadas enquanto ele se vestia, até o final do cerimônia. Foi então que aconteceu. Era por isso que ele estava sentado em um assento da janela olhando para a Londres tocada pelo inverno, em vez de lá embaixo perto do fogo beijando sua esposa. Sua recém esposa.

Tessa.

Tudo tinha começado perfeitamente bem. Não era um casamento estritamente de Caçadores de Sombras, porque Tessa não era estritamente uma Caçadora de Sombras. Mas Will decidiu usar as roupas de casamento de qualquer maneira, porque ele seria o chefe do Instituto de Londres, e seus filhos seriam Caçadores de Sombras, e Tessa administraria o Instituto ao seu lado e faria parte de toda sua vida de Caçador de Sombras e eles devem começar como pretendiam continuar, em sua opinião.

Henry, empunhando uma estela de sua cadeira de rodas, ajudou Will com as runas do amor e sorte que decoravam suas mãos e braços antes de Will colocar sua camisa e paletó. Gideon e Gabriel brincaram sobre a terrível barganha que Tessa estava levando Will, e como eles ficariam felizes em tomar seu lugar, embora os irmãos Lightwood estivessem ambos noivos, e Henry fosse casado com um filho pequeno que gritava alto, Charles Buford, atualmente tomando muito do tempo e atenção de seus pais.

E Will sorriu e riu, e olhou no espelho para se certificar de que seu cabelo não parecia vergonhoso, e ele pensou em Jem, e seu coração doeu.

Era tradição para os Caçadores de Sombras ter um suggenes, alguém que caminhasse ao lado deles até o altar para a cerimônia de casamento. Normalmente um irmão ou um amigo próximo – e se você tivesse um parabatai, a escolha dos suggenes era feita por você. Mas o parabatai de Will era um Irmão do Silêncio agora, e os Irmãos do Silêncio não podiam ser suggenes. Assim, aquele lugar ao lado de Will permaneceria vazio enquanto ele caminhava pelo corredor da catedral.

Ou, pelo menos, pareceria vazio para todos os outros. Para Will, seria preenchido com a memória de Jem: o sorriso de Jem, a mão de Jem em seu braço, a lealdade inabalável de Jem.

No espelho, ele viu um Will Herondale de dezoito anos de idade em uma roupa de um azul profundo – um aceno para a herança feiticeira de Tessa – com um forro dourado. O traje era cortado como um sobrecasaco, os punhos e a bainha finamente costurados com um padrão de runas douradas. Abotoaduras douradas brilhavam em seus pulsos. Seu cabelo preto selvagem tinha sido domesticado no momento; ele parecia composto e calmo, embora por dentro, sua alma exalasse tristeza e amor. Até o ano passado, ele nunca tinha pensado que o coração poderia conter tanta tristeza e felicidade ao mesmo tempo, e ainda enquanto ele lamentava por Jem e amava Tessa, ele sentia em partes iguais. Ele sabia que ela também, e era um conforto para os dois estarem juntos e compartilharem o que poucos outros já sentiram, pois embora Will acreditasse que uma dor profunda e uma alegria profunda pudessem acontecer ao mesmo tempo, como o amor igual acontecia, ele não podia acreditar que era comum.

Não se esqueça da bengala, Will.” Henry disse, tirando Will de seu devaneio, e ele entregou a Will a bengala com cabeça de dragão que tinha sido de Jem. Will fez uma reverência para Henry, com o coração cheio, então desceu as escadas e no centro da igreja.

A sala havia sido decorada com estandartes contendo runas douradas do amor, casamento e lealdade. O sol estava forte lá fora, iluminando o caminho através dos bancos que levavam ao altar. Era decorado com montes de flores brancas que tinham vindo de Idris. Eles encheram a sala com um perfume que o lembrou da Mansão Herondale no campo de Idris, uma grande pilha de pedras douradas que ele herdara ao completar dezoito anos. Seu coração se alegrou com o pensamento: ele e Tessa haviam visitado a mansão no verão do ano passado, quando as árvores da Floresta Brocelind se cobriram de vegetação e os campos estavam cheios de cores. Isso o fez lembrar da sua casa na infância no País de Gales; ele esperava que ele e Tessa passassem todos os meses de verão lá de agora em diante.

Seu coração se encheu ainda mais de alegria quando ele encostou a bengala de Jem no altar e se virou para encarar a sala: ele temera que o Enclave de Londres, em seu preconceito e fanatismo, evitasse o casamento; os sentimentos sobre o fato de que Tessa era meio-feiticeira variavam de indiferença a frieza total. Mas os bancos estavam ocupados e ele viu rostos radiantes por toda parte: Henry ao lado de Charlotte (que havia deixado o bebê Charles aos cuidados de Bridget) que usava um chapéu que tremulava com um arranjo de flores; os recém-casados Baybrooks, os Townsends e os Wentworths e os Bridgestocks; A irmã de Will, Cecily, sentada ao lado da grande harpa de ouro que havia sido trazida da sala de música; Gideon e Gabriel Lightwood juntos; e até mesmo Tatiana Blackthorn, segurando seu filho, Jesse, completamente embalado em um cobertor e usando um vestido rosa estranhamente familiar.

Uma parte de Will desejou que seus pais pudessem estar lá. Ele tinha ido vê-los várias vezes em segredo desde que Charlotte lhe deu permissão para usar o Portal na cripta para visitar sua família. Mas eles estavam muito longe do mundo dos Caçadores de Sombras agora e não tinham nenhum desejo de retornar pra ele. Ele e Tessa iriam visitá-los alguns dias após o casamento, para receber os parabéns e bênção deles.

Charlotte se levantou. Ela havia tirado o chapéu e estava vestindo o uniforme completo de Consulesa que agora era, as suas vestes estampadas com runas de prata e ouro, o bastão de Consulesa em suas mãos. Ela, como Will, se moveu lentamente entre os bancos e subiu os degraus do altar; ela tomou seu lugar por trás e sorriu para Will. Para ele, ela parecia exatamente como quando ele chegou pela primeira vez ao Instituto de Londres, apavorado e sozinho, e ela o recebeu.

Uma única nota suave soou pela sala. Will se lembrou das aulas de harpa que Cecily teve no País de Gales; sua mãe também sabia tocar. Ele desejou que seus pais estivessem lá. Ele desejou –

E todos os seus desejos sumiram, porque as portas na parte de trás da Igreja se abriram, e Tessa entrou.

Ela escolheu se vestir toda em dourado, desafiando aqueles que poderiam dizer que ela não era uma Caçadora de Sombras completa e não tinha direito a cor. Seu vestido era de seda, com um corte basco com costura rente ao corpo e uma saia cheia revestida com uma camada de tule marfim. Suas luvas eram de seda e delicadas, assim como as sandálias de contas que apareciam na bainha de seu vestido. Seu cabelo estava enfeitado com pequenas flores douradas de seda trançada.

Ele nunca tinha visto ninguém, nem nada, tão adorável.

Ela caminhou com o queixo erguido, orgulhosamente, os olhos em Will. Aqueles olhos cinzentos: a primeira vez que ele os olhou, eles o atingiram por dentro com a afiação do metal com que se pareciam. Suas bochechas estavam vermelhas; ela segurou firmemente o braço de Sophie enquanto Sophie calmamente a conduzia pelo corredor. Will não ficou nem um pouco surpreso quando Tessa escolheu Sophie como sua suggenes. Ele gostava de Sophie também, mas no momento ele não conseguia olhar para nada além de Tessa.

Ela se juntou a ele no altar, Sophie ficando para trás dela. Will podia sentir seu coração batendo forte no peito. Tessa estava olhando para baixo; ele só podia ver o topo de sua cabeça e as flores de seda dourada entre os laços de seu cabelo.

Ele nunca tinha pensado que isso iria acontecer. Não verdadeiramente, nas profundezas de seu coração, onde o mais sombrio dos seus medos estava escondido. Por muito tempo ele havia aceitado que nunca iria parar de amar Tessa, mas que o amor nunca daria em nada. Estaria escondido, talvez para arder sempre com a mesma terrível agonia, talvez para viver como uma videira sufocante destruindo lentamente sua capacidade de sentir alegria. Ela seria sua apenas em sonhos; a memória de tê-la beijado os únicos beijos que ele conheceria.

Herondales amavam apenas uma vez, e ele dera seu coração a Tessa. Mas ela não poderia levar.

Quando tudo mudou, foi um amanhecer de alegria muito lento. Uma luz rompendo as nuvens de perda que carregavam o nome de seu parabatai. Ele acordava gritando por Jem, e às vezes Tessa vinha do seu próprio quarto e se sentava com ele, segurando sua mão até que ele dormisse novamente. Então, às vezes, era ela quem chorava e ele quem a confortava.

E então ele se preocupou que o amor não pudesse florescer em um solo tão amargo. Mas floresceu, e mais rico e profundo do que antes. Quando pediu Tessa em casamento, eles haviam se tornado ouro forjado no fogo. Desde aquele dia, antecipando o casamento deles, tinha sido um delírio de felicidade, um atordoamento de planos e risos.

Mas Tessa não estava olhando para ele, e por um momento ele foi tomado pelas velhas dúvidas: ele disse em uma voz tão baixa que ele duvidou que Charlotte ou Sophie pudessem ouvir: “Tess, cariad?. “Tess, querida?”.

Ela ergueu os olhos. Ela estava sorrindo, seus olhos dançando. Ele se perguntou como ele poderia ter pensado que sua cor era como metal: eles eram como as nuvens que se reuniram sobre Cadair Idris. Ela colocou a mão sobre a boca como se estivesse tentando se impedir de rir alto. “Oh, Will,” ela disse. “Eu estou tão feliz.

Ele estendeu a mão para pegar as mãos dela, e Charlotte pigarreou. Seus olhos estavam cheios de amor e carinho enquanto ela olhava para Tessa e Will.

Vamos começar.” Charlotte disse.

O Instituto ficou em silêncio; Cecily havia parado de dedilhar a harpa. Will ficou olhando para Tessa enquanto sua vida se abria diante dele.

Eu estou aqui em duas funções.” Charlotte disse. “Como Consulesa, é meu dever unir dois Nephilim.” Ela olhou firmemente para a multidão, desafiando qualquer um a discordar de sua afirmação de Tessa ser uma Caçadora de Sombras. “Como amigo desses dois, é uma alegria selar a felicidade deles na união do casamento.

Will pensou por um momento que ouviu alguém rir; ele olhou para as fileiras de bancos, mas viu apenas rostos amigáveis olhando de volta. Mesmo Gabriel Lightwood fazendo uma careta para ele era mais normal do que hostil.

Theresa Gray,” Charlotte disse. “Encontraste aquele que a tua alma ama?

Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade; pelas ruas e pelas praças buscarei aquele a quem a minha alma ama; busquei-o, e não o achei.” Will conhecia as palavras; todos os Caçadores de Sombras conheciam.

Todo o rosto de Tessa parecia brilhar. “Eu o encontrei.” ela disse. “E eu não vou deixá-lo ir.”

William Owen Herondale.” Charlotte se virou para Will. “Estiveste entre as sentinelas e nas cidades do mundo? Encontraste aquela que a tua alma ama?

Will pensou nas muitas noites agitadas que passara vagando pelas ruas de Londres, sem seguir uma direção específica, sem buscar um objetivo específico. Talvez todas aquelas noites em que ele estivesse realmente procurando por Tessa, sem sequer saber que ela era o que ele procurava.

Eu a encontrei,” Will disse. “E eu nunca vou deixá-la ir.

Charlotte sorriu. “Agora é a hora da troca das alianças.

Houve um certo murmúrio de interesse entre os reunidos na sala: Tessa, embora sua mãe fosse uma Caçadora de Sombras, não podia usar as marcas do Anjo. As pessoas sem dúvida se perguntaram como eles escolheriam lidar com as marcas que, junto com os anéis, eram tradicionalmente trocadas em um casamento – uma no braço e a outra no coração – com a noiva e o noivo marcando um ao outro com estelas. Eles ficariam desapontados, Will pensou; ele e Tessa decidiram fazer a marcação das marcas depois a cerimônia – a runa sobre o coração era frequentemente feita em particular.

Sophie deu um passo à frente, segurando uma caixa pequena de veludo na qual haviam sido colocados dois anéis, ambos com o simbolo Herondale. Dentro de cada anel estava gravada uma única imagem de um raio, um aceno à herança Starkweather de Tessa e seis palavras: o último sonho da minha alma.

Will não se importava se a citação não significasse nada para outras pessoas. Significava tudo para ele e Tessa.

Tessa pegou o anel maior primeiro e o colocou no dedo de Will. Ele sempre usara o anel da família, mas agora parecia diferente, com um novo significado. Ela se atrapalhou com sua luva, e quando ele enfim segurou a mão nua dela em sua mão, deslizando o anel Herondale em sua mão esquerda, ela estava pulando na ponta dos pés impacientemente.

O anel foi colocado. Tessa olhou para a mão dela e então para Will, seu rosto solene de alegria.

Theresa Gray Herondale e William Owen Herondale,” disse Charlotte. “Você agora está casado. Comemoremos!

Uma aclamação subiu dos bancos; Cecily começou a dedilhar uma marcha alta e provavelmente inadequada na harpa. Will pegou Tessa em seus braços: ela era um embrulho de seda macia, tule escorregadio e lábios quentes levantados para um beijo rápido. Ele respirou o cheiro dela de lavanda e desejou que eles pudessem ficar longe de tudo isso, sozinhos no quarto que havia sido montado e mobiliado para o uso privado deles. O quarto que eles ocupariam como um casal pelo resto de sua vida.

Mas ainda havia o luxuoso jantar pela frente. Will colocou o braço de Tessa no dele e começou a conduzi-la pelos degraus do altar.

Charlotte se superou na decoração do salão de baile. Banners de seda dourada pendiam das janelas, portas e lareiras. Uma única mesa enorme tinha sido colocada, passando pelo meio da sala. Tinha sido coberta com um pano de damasco, e os pratos, pratos, castiçais e talheres eram todos de ouro.

Os olhos de Tessa se arregalaram. “Charlotte não deveria ter gasto tanto dinheiro.” Ela sussurrou enquanto ela e Will inspecionavam os arranjos de flores – rosas da estufa saiam de todas as superfícies disponíveis em tons de ouro, creme e rosa.

Espero que ela tenha invadido o tesouro da Clave“, disse Will com tranquilidade, se servindo de um bolo da rainha. Tessa riu e apontou para um par de cadeiras que combinavam, objetos enormes de madeira em forma de trono com costas pontudas e incrustações douradas. Depois de uma conversa sussurrada, Will e Tessa se sentaram majestosamente assim que as portas do salão foram abertas para a festa de casamento.

Houve vários “oh” e “ah” enquanto todos chegavam, vestidos com suas melhores roupas. Cecily, em um vestido azul que combinava com seus olhos, veio para abraçar e beijar e parabenizar os dois. Gabriel foi atrás dela, olhando para ela como um bobo apaixonado. Gideon e Sophie, agora noivos, estavam rindo juntos em um canto, e Charlotte e Henry estavam preocupados com o bebê Charles, que estava com cólica e desejava que todos soubessem sobre isso.

Cecily bateu palmas quando dois dos criados que Charlotte contratou especialmente para o casamento se aproximaram da mesa, carregando dois bolos em camadas.

Por que dois?” Tessa sussurrou no ouvido de Will.

Um para os convidados do casamento e outro para a noiva.” ele explicou. “O dos convidados será cortado e todos irão para casa com um pedaço para dar sorte. O seu deve ser todo comido, exceto um pedaço, que guardaremos para o nosso vigésimo quinto aniversário.

Você está brincando comigo, Will Herondale.” Tessa disse. “Ninguém quer comer um pedaço de bolo de vinte e cinco anos.

Com sorte você se sentirá diferente quando formos ambos velhos e horríveis.” disse Will. Ele se lembrou então, apenas por um momento, que Tessa nunca seria velha ou horrível. Só ele envelheceria e morreria. Foi um pensamento estranho e intrusivo: ele desviou o olhar rapidamente e encontrou o olhar de Tatiana Blackthorn, que se sentou na ponta da mesa. Ela estava segurando Jesse contra ela, seus olhos verdes vagando suspeitosamente ao redor da sala. Ele sabia que ela tinha apenas dezenove anos mais ou menos, mas ela parecia anos mais velha.

Ela deu a Will um olhar indecifrável e desviou o olhar.

Will estremeceu e colocou a mão sobre a de Tessa, assim que Henry começou a bater bem-humorado em seu copo com algo que parecia muito com um tubo de ensaio. Provavelmente era um tubo de ensaio; Henry já havia montado um laboratório no porão da casa da Consulesa em Grosvenor Square. “Um brinde,” ele começou, “Para o feliz casal…

Tessa tinha entrelaçado os dedos nos de Will, mas ele ainda sentia frio, como se o olhar de Tatiana tivesse derramado água gelada em suas veias. Cecily tinha voltado para perto de Gabriel, e ele podia ver pelo brilho no olhar dela que ela estava planejando algo.

No final das contas, todos seus amigos estavam. Depois do brinde de Henry, veio o de Charlotte, então Gideon e Sophie, Cecily e Gabriel. Eles elogiaram Tessa e gentilmente zombaram de Will, mas era o tipo de zombaria que nascia do amor, e Will riu tanto quanto todos os outros—bom, todos exceto por Jessamine. Ela estava presente em sua forma fantasmagórica, e Will conseguia a ver se balançando de um lado para o outro com diversão, seu cabelo loiro flutuando em uma brisa invisível.

Enquanto o jantar chegava ao fim, os silêncios entre Will e Tessa cresciam mais e mais. Não eram silêncios desconfortáveis, longe disso. Tinha algo mais, algo entre eles que crepitava como a luz do fogo. Toda vez que Tessa olhava para Will, suas bochechas ficavam rosadas e ela mordia seu lábio. Will se perguntava se seria considerado rude se ele saltasse sobre a mesa e ordenasse que todos saíssem do Instituto porque ele precisava urgentemente ter uma conversa privada com sua esposa.

Ele decidiu que seria. No entanto, ele estava batendo seus sapatos polidos no chão com impaciência quando os convidados começaram a vir até eles para se despedirem.

Quão absolutamente agradavel”, Will falou para Lilian Highsmith. Ver você partir, ele pensou.
Oh, sim, é muito sábio ir antes que as estradas fiquem muito congeladas”, Tessa falou para Martin Wentworth. “Nós entendemos completamente.

Ah, absolutamente”, Will começou, virando. “E muito obrigado por vir—

Ele parou abruptamente. Tatiana Blackthorn parou diretamente na frente dele. Seu rosto estava limpo de qualquer expressão, como uma panela que tinha sido limpa demais. “Tenho algo para te falar”, ela disse.

Ele viu Cecily o observando um pouco ansiosa. Ela segurava o bebê Jesse—Tatiana devia ter aproveitado uma oportunidade momentânea para impor a criança a ela enquanto vinha falar com Will. A inquietação dele se aprofundou. “Sim?”, ele perguntou.

Ela se inclinou para perto dele. Em volta do pescoço dela pendia um medalhão de ouro, gravado com os espinhos padrões da família Blackthorn. Ele percebeu com uma súbita tontura doentia que o vestido dela era o mesmo que usou no dia em que seu pai e marido morreram. As manchas nele certamente eram sangue velho.

Hoje, Will Herondale”, ela disse, falando muito baixo e muito claramente, quase diretamente na orelha dele. “Será o dia mais feliz de sua vida.

Ele não sabia dizer porque, mas um arrepio passou no corpo dele. Ele não a respondeu, ela nem parecia querer—ela apenas se afastou e voltou para Cecily, tirando a criança enrolada dos braços dela com um olhar satisfeito.

Assim que Tatiana saiu do salão de festas, Cecily correu para ele. Tessa, ao seu lado, estava em uma conversa com Charlotte, e Will achava que ela não tinha notado nada, graças ao Anjo.

O que aquela Tatiana horrível estava dizendo para você?” Cecily exigiu saber. “Ela me deixa apavorada, Will, realmente deixa. Imagine só, quando eu casar com Gabriel, terei um parentesco com ela.

Ela me disse que hoje seria o dia mais feliz de minha vida”, Will contou. Ele sentia como se uma pedra fria estivesse em seu estômago.
Oh”, Cecily franziu a testa. “Bom—isso não é ruim, é? É o tipo de coisa que as pessoas dizem em casamentos.
Cecy.” Gabriel apareceu ao lado da irmã de Will. “Está começando a nevar. Olhe.

Todos eles olharam: neve em Março não era comum, e quando acontecia, era geralmente congelante, como chuva. Não os gordos flocos brancos que atualmente caiam do outro lado das janelas, prontos para cobrirem toda a cidade suja em uma nuvem de pura prata.

Os convidados estavam se apressando para ir agora, antes das estradas ficarem intransitáveis. Cecily tinha ido abraçar Tessa e desejar felicidades a ela. Will levantou enquanto Charlotte se aproximava dele, sorrindo.

Diga a Tessa que eu subi para me certificar que a lareira está acesa em nosso quarto”, ele disse de forma mecânica. Ele sentia como se tivesse uma grande distância entre ele e seu corpo. “Ela não deve sentir frio em sua noite de casamento.
Charlotte ficou confusa, mas não tentou parar Will enquanto ele saia rápido da sala.

Hoje será o dia mais feliz de sua vida.

Se Tatiana não tivesse falado aquilo a ele, Will se perguntou, ele ainda estaria sentado ali perto da janela, encarando a neve e o frio? A cidade se tornava branca na frente dos olhos dele, St. Paul um fantasma diante do céu dicromatico.

Era como se as palavras de Tatiana fossem uma chave que tinha aberto algo dentro dele, e todos os medos dele estivessem saindo. Não tinha nenhum familiar de Tessa no casamento, e ele se preocupava que a Clave nunca a aceitasse completamente, que sua parte feiticeira sempre os impediria de considerarem ela uma Caçadora de Sombras adequada. E se eles fossem cruéis com ela e ele não estivesse lá para impedi-los? E se eles fizessem a vida dela miserável e ela se ressentisse dele por a prender no Enclave de Londres? E se eles sentissem falta demais de Jem para deixar seu luto para trás e viver?

E se ele não conseguisse fazer Tessa feliz?

Os pensamentos voavam na mente dele como a neve. Ele tinha acendido a lareira e o quarto estava aquecido—havia uma grande cama de dossel no centro, e alguém, provavelmente Charlotte, tinha colocado vasos de marfim com flores em ambas mesinhas de cabeceira. Elas enchiam o ar com seu perfume. A neve farfalhou contra as janelas enquanto a porta se abria e Tessa colocava sua cabeça para dentro. Ela estava sorrindo, brilhando como uma vela.

E se hoje foi o dia mais feliz da vida dela? E se todos os dias a partir de agora fossem mais tristes e mais vazios?

Will deu um suspiro estremecido e tentou sorrir. “Tess.

Oh, bom, você está decente”, ela falou. “Eu estava meio preocupada que você tivesse se vestido como Sydney Carton apenas para me chocar. Sophie pode entrar? Ela precisa me ajudar com o vestido.

Will apenas assentiu. Tessa fechou os olhos parcialmente; ela o conhecia melhor do que quase todo mundo, Will pensou. Ela veria seus medos e dúvidas.

E se ela pensasse que era por causa dela?

Tessa fez um gesto e ela e Sophie passaram na direção do banheiro e para a sala onde ia se trocar enquanto Will olhava para as próprias mãos. Inferno, ele não tinha dito o menor medo ou ficado com dúvidas enquanto seguia para o casamento. Ele tinha acordado todas as manhãs perguntando se era possível estar tão feliz, tão cheio de expectativas.

Então ele queria contar a Jem sobre isso, e Jem não estava lá. Luto e amor, gêmeos como a escuridão e a luz em sua alma. Mas ele não duvidava do seu amor por Tessa.

Ele podia ouvir os movimentos e a risada baixa no quarto ao lado, então Sophie saiu, piscando para Will e logo estava fora do quarto, fechando a porta firmemente atrás dela. Um momento depois Tessa apareceu. Ela estava usando um roupão de veludo azul que cobria ela do pescoço ao tornozelo. O cabelo dela estava solto, por cima dos ombros dela, uma confusão de ondas castanhas.

Ela atravessou o quarto de pés descalços e sentou no assento de janela junto com ele. “Agora, Will”, ela começou gentilmente. “Me diga o que está te incomodando, porque eu sei que tem algo que está.
Ele ansiava por tomá-la em seus braços. Se ele a beijasse, ele sabia que esqueceria: esqueceria as palavras de Tatiana, os buracos em sua própria alma, todo medo que ele tinha nutrido. Ele nunca se perdia tanto quanto ele se perdia nos braços de Tessa. Ele lembrava a noite que eles passaram juntos em Cadair Idris, a sensação do corpo dela embaixo do dele, a inacreditável maciez da pele dela. Como a dor e o arrependimento se dissolveram naquele momento e ele só teve uma felicidade que nunca pensou que conheceria.

Mas a memória voltou pela manhã, e ele temia que agora aconteceria o mesmo. Ele devia a ela mais do que isso. Ele devia mais do que tentar encontrar o esquecimento em seus beijos.

É uma besteira”, ele falou. “E ainda assim me incomoda. Antes de sair do salão de festas, Tatiana me disse, ‘Hoje será o dia mais feliz de sua vida’.

Tessa ergueu suas sobrancelhas. “Você acha que ela quis dizer que todos os dias depois desse serão infelizes? Eu tenho certeza que foi o que ela quis dizer. Ela odeia você, Will. Ela me odeia também. Se ela pudesse arruinar esse dia para nós, ela faria. Isso não significa que ela tem os poderes da fada do mal no batismo da Bela Adormecida.

Eu sei disso”, ele falou. “Mas eu tenho me preocupado todo tempo que eu não conseguirei te fazer feliz, Tessa. Não como Jem conseguiria.

Ela pareceu surpresa. “Will.

Eu nunca a culpei por amar ele”, ele disse, a olhando de perto. “Tudo em sua vida ele fez com honra e pureza e força—e quem não gostaria de ser amado assim? Considerando que quando eu te amo, eu sei que é desesperador.” Ele quase estremeceu com a palavra. “Você não consegue entender, eu acho, o quanto eu te amo. Talvez eu tenha sido melhor em esconder isso do que eu achava. É uma coisa estilhaçante, Tessa. Isso ameaça me quebrar em pedaços e eu estou apavorado de estar tão… mudado.” Ele olhou para longe dela. Ele podia ver seu próprio reflexo na escuridão da janela, seu rosto pálido coberto com seu cabelo escuro. Ele se perguntou estupidamente se isso iria assusta-la.

Will”, ela disse suavemente. “Will, olhe para mim.

Ele a olhou; mesmo com aquele roupão grosso, ela estava adorável e tão desejável que o deixava tonto. Eles não tinham feito nada além de se beijar, e raramente, desde aquela noite em Cadair Idris. Eles tinham se controlado, esperando por essa noite.

Tessa pressionou um papel dobrado na mão de Will. “Jem esteve aqui essa noite”, ela falou. “Eu não o vi, não mais do que você. Ele deu uma carta para Sophie, e ela entregou pra mim. Eu acho que você deveria ler.

Will pegou a carta calmamente. Quanto tempo fazia desde que ele tinha visto a caligrafia familiar de seu parabatai?

Will,
Eu sei que você deve estar feliz hoje, porque como podia não estar feliz? Ainda assim, o medo de que você não conseguisse aceitar sua felicidade me fez ficar caminhando de um lado para o outro na Cidade do Silêncio. Você nunca acreditou que era merecedor de amor, Will, você que ama com todo seu coração e alma. Eu temo pelo resultado de suas dúvidas, porque Tessa o ama, e vocês tem que ter fé um no outro, como eu tenho fé em vocês.
Eu parei do lado de fora do Instituto hoje para prestar meus respeitos e olhei para a janela e vi Tessa e você sentados juntos. Eu nunca o vi tão feliz. Eu sei que vocês só são mais felizes a cada dia de suas vidas juntos.
Wo men shi sheng si ji jiao.
Jem.

Will deixou escapar um suspiro estremecido e entregou a nota para Tessa. Era como se Jem tivesse atravessado a escura e congelante noite e pegado na mão dele. O lugar em seu coração onde sua runa parabatai estava, parecia que tinha brilhado e queimado. Ele lembrou da última vez que ele e Jem estiveram juntos no Instituto e Will disse que Tessa podia não querer casar com ele. Jem sorriu e disse “Bom, isso depende de você.

Ainda dependia dele. Ele queria estar casado com Tessa mais do que ele quis qualquer coisa e ele não deixaria seus próprios medos destruírem isso.

Tessa tinha colocado a nota de lado e ainda olhava para Will, seus olhos cinzentos bem sérios. “Bom”, ela disse. “Tem isso, então—quem você vai ouvir, Will? Tatiana ou Jem?

Ele fixou os olhos nos dela. “Eu ouvirei meu próprio coração”, ele falou. “Porque ele me levou até você.

Ela abriu um sorriso luminoso, então soltou uma risada quando ele a segurou e a puxou para o colo. “Espere”, ela falou, levantando, o que Will não gostou de modo algum—eles deviam ficar mais próximos, não distantes.

Ela segurou os laços que mantinham seu roupão preso. Will se sentou ereto, suas costas encostando na janela gelada. O material azul caiu dos ombros dela, revelando ela vestida em um roupão semi-transparente de renda branca, presa na frente com uma fileira de fitas de cetim azul amarradas em laços.

Ela claramente não estava vestindo nada mais. As curvas e cavidades do corpo dela eram delineadas pelo material marfim, a cobrindo como teias. Will entendeu porque Sophie piscou para ele.

Tess”, ele disse roucamente, e esticou seus braços: ela voltou para ele, dando risadinhas.

Você gosta?” ela perguntou, acariciando a orelha dele. “Charlotte me levou ao lugar mais escandaloso na Rua Bond…

Eu amei”, ele disse, roubando um beijo suave dela. “Eu amo você—mas eu não quero pensar em Charlotte em uma camisola.” Ele deixou a cabeça encostar no vidro da janela. “Tire minha camisa, Tess.

Ela corou e segurou os botões de madrepérola. Tudo em Cadair Idris tinha sido rápido, um borrão de calor e contato. Isso era lento, os dedos dela deslizando de um botão para o próximo devagar, os lábios dela pressionando gentilmente a pele dele enquanto era descoberta, centímetro por centímetro. No momento que a camisa caiu no chão, ele queria nada mais do que a segurar e a carregar para a cama.

Mas eles ainda não estavam prontos. Will tirou sua estela de seu bolso e entregou para Tessa que pareceu confusa.

As últimas runas de casamento”, ele disse. “Eu quero que você coloque em mim.

Mas…

Ele colocou a mão em cima da dela e trouxe a estela para o braço dele, onde ele traçou a primeira runa de casamento. A estela brilhou contra a pele dele, misturando prazer e dor. O rosto de Tessa estava corado quando eles moveram a estela para o lugar acima do peito dele—ao lado da cicatriz apagada onde sua runa parabatai esteve um dia. “‘Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço’”, ele sussurrou enquanto eles desenhavam a Runa juntos. “‘porque o amor é forte como a morte; a sua chama é chama de fogo, que tem uma chama veemente.’

Tessa foi para trás. Ela encarou a runa, destacando-se forte e escura contra a pele do peito de Will. Ela colocou a mão por cima e ele se perguntou se ela podia sentir o batimento do coração dele. “‘As muitas águas não podem apagar o amor, nem os rios afogá-lo.’ Eu nunca deixarei de te amar, Will—

Sua estela caiu no tapete. Ela ainda estava em seu colo: ele segurou os quadris dela e se inclinou para a beijar. Ele estava completamente perdido no momento que as bocas deles se tocaram. Ele estava perdido em Tessa, no desespero de beijá-la mais forte, segurá-la mais firme, ter ela ainda mais perto. As mãos dele escorregaram e deslizaram sobre a seda e a renda da roupa que ela vestia, o material amontoado sob o toque de suas mãos.

À medida que os beijos se tornavam mais selvagens, Will se encontrou segurando o laço no pescoço do penhoar dela. Ela soltou um pequeno suspiro quando o material caiu, desnudando os ombros e o topo dos seios dela. A pele dela era macia e pálida como creme. Will não conseguiu se impedir e beijou o pescoço dela, a clavícula, passando seus lábios suavemente sobre a inclinação de seus ombros. Ela gemeu baixinho e se contorceu em seu colo, as mãos dela apoiadas em seus ombros, as unhas dela cravando levemente na pele dele.

Se ele não fizesse algo rapidamente, Will notou, eles deitariam no tapete e nunca levantariam. Com um gemido profundo em sua garganta, ele deslizou um braço sob os joelhos de Tessa e outro em torno dos ombros dela: ela riu de surpresa, encantada enquanto ele a carregava para a cama. Eles caíram entre os travesseiros e colcha macios, segurando um no outro, a longa espera por esse momento finalmente acabando.

Will tirou seus sapatos, despachando com o resto dos laços de cetim do penhoar quando Tessa se esticou sobre ele, o cabelo comprido dela formando uma cortina em torno deles. Na caverna, era escuro: agora ela podia ver mais de Tessa e ela era linda.

Ela tocou o rosto dele com dedos exploradores, então a mão dela desceu mais pelo corpo dele, explorando a suavidade e a dureza de seu peito, a nova runa acima de seu coração. “Meu lindo Will”, ela disse, sua voz rouca com desejo.

Ele puxou Tessa contra ele e eles rolaram novamente na cama, pele contra pele; ajoelhando, ele começou a beijar cada centímetro do corpo dela. Como ele sabia que iria, ele esqueceu de todo resto enquanto ela arquejava e tremia com o toque dele. Era apenas esse momento, essa noite, apenas os dois—apenas Will e Tessa Herondale e o início de sua vida juntos.

Muitas horas depois, Will acordou com o toque gentil de Tessa em seu ombro. Ele estava dormindo com o braço em torno dela, o cabelo dela espalhado pelo peito dele. Ele olhou para sua esposa; ela estava sorrindo para ele.

O que foi?” ele sussurrou, afastando uma mecha do cabelo de cima dos olhos dela.

Está ouvindo os sinos?” ela perguntou.

Will assentiu; em uma distância, os sinos da St. Pauls estavam anunciando uma da manhã.

É o dia depois do nosso casamento”, Tessa disse. “Você não está mais feliz hoje do que estava ontem? Porque eu estou. Eu acho que ficarei mais feliz cada dia de nossas vidas.

Will sabia que um sorriso estava se espalhando por seu rosto. “Você é muito desavergonhada, minha esposa. Você me acordou no meio da noite apenas para provar um ponto?

Tessa se moveu contra ele por baixo dos cobertores. Ele sentiu o toque leve dela contra a pele dele. “Talvez não apenas para provar um ponto, meu amor.

Ele riu suavemente e a puxou para seus braços.

[Traduzido por Equipe IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]

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