Cassie irá publicar um pequeno pedaço de conteúdo extra de “The Last Hours” por mês até um mês antes do lançamento do livro. Esse é do mês de Setembro de 2019.
A CIDADE DOS OSSOS, 1900
Na manhã de sua cerimônia parabatai, Matthew Fairchild atravessou o cemitério de Highgate, passou pelas altas tumbas de pedra e a grama alta molhada de orvalho, até chegar à entrada que levava à Cidade do Silêncio. Ele tentou não ficar nervoso.
“Eu estava extremamente apreensivo no dia da minha cerimônia de casamento“, Henry dissera a ele no café da manhã. “Você sabe o quanto eu pensava mal de mim quando era jovem; acreditava que sua mãe não poderia me amar como eu a amava. E você sabe como eu posso ser distraído. Repeti as palavras várias vezes, e tinha tanta certeza de que as erraria que, quando chegasse a hora, soltei todas de uma vez. No fim, deu tudo certo, exceto pelo pequeno assunto das flores chamuscadas. Mas isso é outra história.”
“Obrigado pelo conselho, papai“, disse Matthew, apoiando-se carinhosamente na cadeira de rodas do pai. “Mas devo ressaltar que não vou me casar com James. Embora eu ficaria incrível em uma roupa nupcial”.
Henry sorriu para ele. “Por que seria você a usar o vestido?”
“Você não acha que eu permitiria que o James fizesse isso“, disse Matthew. “Ele não tem senso de estilo.”
Para sua surpresa, a cerimônia estava cheia de convidados. Família e amigos eram esperados, mas Matthew entendeu que a maioria das pessoas estava ali para o espetáculo ou para obter vantagens políticas. O filho da cônsul e o filho do chefe do Instituto, cuja mãe era uma feiticeira.
A multidão era tanta que Matthew mal conseguia ver os crânios nas paredes. O irmão Zachariah estava esperando no centro da câmara onde a cerimônia seria realizada, uma figura de profunda quietude em seu capuz e capa cor de marfim.
James chamou o irmão Zachariah de “tio Jem” e o abraçou. Hoje, o fogo da cerimônia despertou sombras estranhas em seu rosto, e Matthew estava com um pouco de medo. Todo o Enclave de Londres estava reunido ali para ver a cerimônia ser realizada. Matthew tinha fé absoluta em James, mas se algo desse errado, o Conselho talvez nunca os deixasse tentar novamente. Até agora, a ascendência de James não teve nenhum efeito sobre sua capacidade de receber marcas ou de ser um Caçador de Sombras ativo, mas a cerimônia parabatai era uma mágica estranha e mais transcendente, e ninguém sabia ao certo se sairia como o esperado.
Vários membros do Enclave haviam levado Matthew ao canto e o avisaram de maneira familiar para que não tomasse decisões precipitadas, por isso Matthew pediu a sua mãe para marcar uma data para a cerimônia Parabatai o mais rápido possível.
Matthew deu um olhar particularmente sombrio ao Sr. Bridgestock, recém eleito Inquisidor. O terrível Bridgestock, cujo primeiro nome era Maurice e isso lhe caia bem, havia dito que Matthew era um jovem guerreiro muito promissor e que não deveria arruinar seu futuro brilhante. Matthew disse a ele que sabia o que estava fazendo, que sua família apoiava e ele supôs que a Clave também apoiaria a cerimônia.
“Não tenho nada além de respeito por sua família”, dissera Bridgestock, “mas eles frequentemente… ignoram as opiniões dos outros. Às vezes em detrimento das deles.”
Matthew teria gostado de compartilhar com Bridgestock um pouco de seus pensamentos, mas é claro que não podia. Em vez disso, ele sorriu e disse a Bridgestock que apreciava o conselho, mas que estava firme em sua decisão.
Ele tentou abrir caminho através da multidão e encontrar James. Em vez disso, escutou o sussurro de seu próprio nome.
“Simplesmente não acredito que Fairchild esteja sendo tão tolo“, disse um garoto chamado Albert Breakspear a seu companheiro, Bertram Pounceby. “Vi aquele sujeito se transformar em sombras lá na Academia, você sabe. Coisa horrivelmente horrível de se ver.”
Pounceby deu uma risadinha. “Não acredito que a Clave tenha aprovado. A cerimônia parabatai deve ser uma honra para os melhores entre nós. Não para rufiões que foram expulsos da escola.”
“É tudo política“, zombou Breakspear. “Filho do chefe do Instituto de Londres, filho da consulesa – não importa o quanto de constrangimento eles sejam, as cordas serão puxadas e eles conseguirão o que querem.”
“Aposto que nem vai funcionar“, disse Pounceby. “Não há como o Anjo os aceitar como parabatai. Você pode imaginar se Herondale se transformar em uma sombra quando Fairchild tentar colocar a runa parabatai nele?”
“Não tenha tanta certeza de que você está do lado do Anjo“, disse Matthew suavemente. “Eu sei o que vocês fizeram na escola.”
Os dois garotos se viraram. Matthew deu a eles seu sorriso mais encantador.
“Não notou que eu estava atrás de vocês?“, perguntou ele. “Que situação constrangedora para vocês.”
“Pelo contrário“, James concordou, em sua voz calma, e Matthew se assustou. Ele não tinha percebido que James estava por perto, mas lá estava ele: cabelos desarrumados, livro embaixo do braço, rosto um pouco mais pálido do que o habitual. Ele deveria ter ouvido tudo.
Matthew segurou James pelo cotovelo e o arrastou para um canto, para que pudessem ficar sozinhos entre as caveiras. Ele sentiu a tensão percorrendo o corpo de James. Quando ele soltou James, ele viu que a boca estava tensa e temeu que ele estivesse muito chateado.
“Podemos cancelar a cerimônia“, disse James.
“Não quero cancelar a cerimônia!“, disse Matthew. “Você – você quer cancelar a cerimônia?”
James piscou os olhos dourados como uma coruja. “Claro que não. Mas se eu me transformar em uma sombra… sei como isso se refletirá em você.”
“Eu não deveria me importar se você se transformar, mas não vejo razão para que você se torne uma sombra“, disse Matthew com firmeza. “Nunca aconteceu quando outras Marcas foram colocadas em você. Não estarei ameaçando você de forma alguma. A menos que você realmente mude de ideia, é claro, caso em que eu o perseguirei, te espancando com meus punhos.”
James sorriu, seu rosto se iluminando, e Matthew sorriu de volta para ele. “Se você vai me espancar com os punhos, não sei se quero que você vá aonde eu vou.”
“Que pena“, disse Matthew. “Para onde você for, eu devo ir. Apenas tente me parar.”
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Eles estavam em dois anéis de fogo separados, prontos para serem unidos. O irmão Zachariah conduziu a cerimônia diante dos olhos do Enclave e de todos que James e Matthew amavam.
“Rogo não deixá-lo, ou voltar após segui-lo; Pois, para onde fores”, Matthew disse, “Irei.”
Suas vozes se misturavam como as cores das chamas flamejantes, e Matthew se lembrou tentando fazer amizade com James na Academia. Ele implorou ao pai de James que o levasse a Londres, dizendo que ele e James seriam parabatai, a maior e mais audaciosa mentira que Matthew já havia contado. Agora sua mentira se tornara verdade.
“E onde fores, irei; Os teus serão os meus, e teu Deus, o meu Deus.”
James e Matthew haviam escolhido seus pais como testemunhas, e Will se adiantou primeiro. Ele olhou para o filho, e Matthew também, os olhando de cima a baixo com um olhar ardente e terno. Henry moveu a cadeira de rodas para se juntar a eles, cabelos ruivos e cadeira prateada refletindo a luz. Ele sorriu para Matthew e James com uma aprovação absoluta que Matthew estava muito agradecido por ter.
“Onde morreres, morrerei, e lá serei enterrado. O anjo o faça por mim, e ainda mais,” James disse, chamando Raziel em sua voz mais clara: “Se qualquer coisa além da morte nos separar.”
Matthew pensou no anjo. Ele sempre desprezou a parte do honra-morte-e-glória de ser um Caçador de Sombras. Ele supôs que acreditava em Raziel, mas nunca pensou muito no sujeito. Ele acreditava que havia mais na vida do que sangue e fogo. Havia beleza, havia arte, havia cor. Talvez Raziel soubesse que seu coração não estava na luta. Talvez Raziel não aprovasse.
Eles passaram pelas chamas.
Essas chamas queimavam mais alto do que em outras cerimônias? Por apenas um momento, o centro das chamas queimaram preto em vez de azul? Era sua imaginação, decidiu Matthew. Eles terminaram, afinal, e a mão de James ficou firme na de Matthew, permaneceu firme enquanto ele desenhava a runa parabatai no interior do pulso esquerdo de Matthew.
James queria sua marca no ombro, porque, ele havia dito, sabia que Matthew sempre estaria nas costas dele na batalha. Matthew revirou os olhos, mas sentiu uma onda de afeto; A sinceridade de James era uma de suas melhores características, mesmo que isso o colocasse em problemas. Quando Matthew terminou de marcar a runa na omoplata de James, quando estava completa, ele deu um grande suspiro de alívio. Ele sentiu o público reunido suspirar também. Estava feito e tudo tinha ido bem.
As chamas dispararam para o teto e os olhos escuros e ocos dos crânios os observavam no lugar de seus ancestrais, e eles tinham certeza um do outro para sempre. Quando as almas estavam unidas, ninguém poderia separá-las.
Os Breakspears e Pouncebys não importaram nada. Somente as famílias de James e Matthew, seus amigos. Quando eles saíram dos círculos de fogo, Will estava lá para abraçá-los. Lucie avançou para parabenizá-los, seus cachos escapando rebeldes de suas fitas e seus olhos azuis arregalados. Matthew teve que desviar o olhar de quão bonita ela estava; era quase demais para ele. Agora Tessa estava abraçando James, e a mãe de Matthew estava abaixando-se para tocar a mão de seu pai, onde repousava no braço de sua cadeira.
Os teus serão os meus, pensou Matthew, e prometeu a si mesmo amar os Herondales como os seus. Sob o capuz, ele vislumbrou um leve sorriso na boca selada de runas do irmão Zachariah, e Matthew sorriu de volta para ele. De repente, Matthew teve certeza de que também amaria Jem, que amaria tudo o que James amava. Outras pessoas poderiam percorrer o mundo sem certezas e sozinho, mas não Matthew: agora, onde quer que ele andasse, sempre que ele chamasse, haveria uma resposta. Ele nunca iria a lugar nenhum sozinho.
[Traduzido por Equipe IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]