Chain of Gold: Better Angels (Anjos Superiores)

Uma herança de sombras.
Um amor aprisionado.
Um Inimigo inconquistável.

Cordelia Carstairs é uma Caçadora de Sombras, uma guerreira treinada desde a infância para lutar contra demônios. Quando seu pai é acusado de um crime terrível, ela e seu irmão viajam para Londres na esperança de impedir a ruína da família. A mãe de Cordelia quer vê-la casada, mas Cordelia está determinada a ser uma heroína em vez de uma noiva. Logo Cordelia encontra os amigos de infância, James e Lucie Herondale, e é arrastada para seu mundo de brilhantes bailes, encontros secretos e salões sobrenaturais, onde vampiros e lobisomens se misturam com sereias e feiticeiros. Tudo isso enquanto ela deve esconder seu amor por James, que está prometido a se casar com outra.

Mas a nova vida de Cordelia é destruída quando uma chocante serie de ataques de demônios devasta Londres. Estas criaturas não são nada como as que os Caçadores de Sombras tenham encontrado antes – estes demônios conseguem andar sob a luz do dia, acertar pobres desavisados com veneno incurável e parecem ser impossíveis de matar. Londres é imediatamente colocada de quarentena. Presa na cidade, Cordelia e seus amigos descobrem que suas próprias conexões com um legado sombrio os presenteou com poderes incríveis – e força uma escolha brutal que vai revelar o verdadeiro e cruel preço de ser um herói.

Introdução de Cassandra Clare:

Queridos Leitores, novos e antigos,

Eu estou animadíssima em dividir este primeiro vislumbre de “Chain of Gold” com vocês. Eu tenho estado ansiosa para apresentar vocês à trilogia THE LAST HOURS há bastante tempo, não apenas pelos personagens serem os filhos de alguns dos meus mais amados personagens – como Will e Tessa – mas também porque eles são personagens fascinantes por si só: James Herondale sofrendo com suas próprias trevas, Cordelia Carstairs determinada a ser uma heroína, Matthew Fairchild lutando com demônios internos e externos, e Lucie Herondale a inteligente escritora investigativa.

O período Eduardiano é comumente descrito como um momento dourado de paz e prosperidade antes das trevas da Primeira Guerra Mundial. De uma forma muito apreciada, James, Cordelia, Lucie e Matthew cresceram em um tempo imaculado por demônios e seres do submundo. Tudo isso muda quando demônios de poder sem precedentes começam a surgir em Londres. Durante a paz, o mal não tira férias. Uma tempestade está a caminho, e James, Cordelia, e Lucie estão em seu centro.

De volta a 2015, durante os 5 meses em que morei em Londres, eu deveria estar de férias – tendo minha primeira pausa em 10 anos! – mas não pude parar de trabalhar secretamente em “Chain of Gold” pois eu estava amando isso demais. Todos os dias eu andava em Kensington Gardens e pensava sobre Cordelia e Lucie e James. É bem próprio que este primeiro capítulo vai lhe levar até Kensington Gardens, onde tanto da criação desta história nasceu.

Com muito amor da Belle Epoque,

Beijos e Abraços,

Cassie.

ANJOS SUPERIORES

– As sombras de nossos próprios desejos prostram-se entre nós e nossos anjos superiores, e assim o brilho destes é eclipsado – Charles Dickens

James Herondale estava no meio de uma luta contra um demônio quando ele foi subitamente empurrado para o inferno.

Não foi a primeira vez que isso aconteceu, e não seria a última. Momentos antes, ele estava ajoelhado na beirada de um telhado inclinado no centro de Londres, uma fina faca de arremesso em cada mão, pensando quão nojento os detritos acumulados na cidade eram. Em soma à sujeira, garrafas vazias de gim e ossos de animais, definitivamente havia um pássaro morto na calha bem abaixo de seu joelho esquerdo.

Quão glamorosa era a vida de um Caçador de Sombras, de fato. Isso soava bem, ele pensou, olhando para o beco vazio abaixo de si: um espaço estreito repleto de lixo, parcamente iluminado pela luz da lua sobre sua cabeça. Uma raça especial de guerreiros, descendentes de um anjo, presenteados com poderes que os permitiam empunhar armas feitas da brilhante Adamas e de suportar as marcas negras das sagradas runas em seus corpos – runas que os faziam mais fortes, mais ágeis, mais mortais do qualquer humano ordinário; runas que o faziam queimar brilhantemente no escuro. Ninguém nunca havia mencionado coisas como acidentalmente ajoelhar em um pássaro morto enquanto esperava por um demônio aparecer.

Um grito ecoou pelo beco. Um som que James conhecia bem: A voz de Matthew Fairchild. Ele se lançou do telhado sem um momento de hesitação. Matthew Fairchild era seu parabatai – seu irmão de sangue e companheiro guerreiro. James jurou protegê-lo, não que importasse, ele teria dado sua vida pela de Matthew, com juramento ou não.

Um movimento rápido no fim do beco, onde ele fez a curva em volta na parte de trás de uma fileira estreita de casas, rugindo. Ele tinha um corpo cinza com nervuras, um bico afiado, curvo, com dentes em forma de gancho e pés abertos como patas de onde garras irregulares saíam. Um demônio Deumas, James pensou sombriamente. Ele definitivamente lembrava de ler sobre demônios Deumas em um dos antigos livros que o Tio Jem o havia dado. Eles eram feitos para serem notados, de algum jeito. Extremamente perverso, talvez, ou incomumente perigosos? Isso seria típico, não seria – todos estes meses sem correr a nenhuma atividade infernal nenhuma, e ele e seus amigos estarem de cara com um dos mais perigosos demônios por aí.

Falando dos quais – Onde estavam seus amigos?

O demônio Deumas rugiu novamente e partiu para cima de James, icor pingando de sua boca em longos fios de gosma verde.

James balançou seu braço para trás, pronto para arremessar sua primeira faca. Os olhos do demônio fixaram nele por um momento. Eles eram reluzentes, verdes e negros, preenchidos com um ódio que os tornava de repente em algo mais.

Algo como reconhecimento. Mas demônios não reconhecem pessoas. Eles são espíritos ferozes movidos por puro ódio e ganância. James congelou em surpresa, o chão abaixo dele pareceu balançar. Ele tropeçou para trás, o mundo ficando cinza e silencioso. Os prédios ao seu redor haviam se tornado sombras irregulares, o céu uma caverna negra rabiscada com relâmpagos brancos.

Ele fechou sua mão ao redor de sua faca – não o cabo, mas na lâmina. A onda de dor foi como um tapa em seu rosto, tirando-o do estupor. O mundo veio correndo novamente a ele com todas suas cores e sons. Ele mal teve tempo para perceber que o demônio Deumas estava já no ar, garras estendidas na sua direção, quando um redemoinho de cordas chicotearam pelo céu, enrolando-se em uma perna do demônio e o jogando de costas.

Thomas!” James pensou, e de fato, seu imensamente alto amigo havia aparecido atrás do demônio Deumas, boleadoras em sua mão. Atrás dele estava Christopher, armado de um arco, e Matthew, segurando uma espada a seu lado.

O demônio Deumas atingiu o chão com outro rugido, no mesmo instante em que James deixou suas facas voarem. Uma fincou na garganta do demônio; a outra afundou em sua testa, bem entre seus olhos. Os olhos do demônio reviraram, em espasmo, e James de repente lembrou o que foi que ele havia lido sobre demônios Deumas.

Matthew –” ele começou, bem quando a criatura explodiu, cobrindo Thomas, Christopher e Matthew em icor e pedaços queimados do que apenas poderia ser descrito como meleca.

Uma sujeira”, James pensou atrasadamente. Demônios Deumas eram notavelmente sujos. A maior parte dos demônios desaparecia quando eles morriam. Não os demônios Deumas.

Eles explodiam.

Como – O –”, Christopher murmurou abobalhado, claramente sem palavras. De todos eles, ele era o mais sujo com gosma. Pingava do nariz pontudo e delicados aros dourados do óculos dele. “Mas como…?

Você quer saber como é possível a gente finalmente ter encontrado o último demônio em Londres e que ele era também o mais nojento?” James perguntou. Ele estava surpreso de como a própria voz soou normal aos ouvidos; ele já estava se livrando do choque da visão do mundo das sombras. Pelo menos as roupas dele estavam intocadas: o demônio parecia ter explodido para o outro lado do beco. “Não cabe a nós perguntar o por quê, Christopher.

James teve a sensação de que os amigos estavam olhando para ele com ressentimento. Thomas revirou os olhos. Ele estava esfregando a si mesmo com um lenço que também estava meio queimado e coberto com icor, então não estava tão bem.

Isso é um ultraje”, disse Matthew. “Você sabe quanto dinheiro eu gastei nesse colete?

Ninguém disse para você vir patrulhar e caçar demônios vestido como um figurante de A Importância de ser Prudente”, disse James, jogando pra ele um lenço limpo. Assim que ele o fez, ele sentiu a própria mão arder. Tinha um corte na palma dele da lâmina da faca. Ele fechou a mão para impedir que seus companheiros pudessem ver isso.

Eu não acho que ele está vestido como um figurante”, falou Thomas que estava ocupado limpando Christopher.

Obrigado”, disse Matthew, se curvando levemente.

Eu acho que ele está vestido como um personagem principal.” Thomas sorriu. Ele tinha uma das expressões mais doces que James já tinha visto, e gentis olhos da cor de avelã. Nada disso significava que ele não gostava de implicar com seus amigos.

Matthew enxugou o cabelo dourado com o lenço de James. “Essa é a primeira vez em um ano que nós fazemos patrulha e realmente encontramos um demônio, então eu imaginei que meu colete sobreviveria a noite. Erro meu.

Pare de esfregar esse pano em mim, Thomas”, disse Christopher, movendo seus braços. “Nós devíamos voltar a taverna e nos limparmos lá.

Houve murmúrios de confirmação entre o grupo. Enquanto eles pegavam seu caminho para a rua central, James considerou o fato de Matthew estar certo. O pai de James, Will, costumava contar bastante sobre as patrulhas que fazia com o seu parabatai, Jem Carstairs – que agora era o tio Jem de James – quando eles lutavam com demônios quase todas as noites.

James e os outros Caçadores de Sombras jovens ainda patrulhavam esperançosamente as ruas de Londres, procurando demônios que poderiam machucar a população mundana, mas nos últimos anos as aparições demoníacas ficaram cada vez mais escassas. Era uma coisa boa – claro que era uma coisa boa – mas ainda assim. Era muito estranho. A atividade demoníaca continuava igual em todo o mundo dos Caçadores de Sombras, então o que fazia Londres especial?

Tinham muitos mundanos caminhando pelas ruas da cidade, mesmo que já fosse tarde da noite. Nenhum deles olhou para o grupo sujo de caçadores de sombras enquanto eles desciam a rua Fleet; as runas de glamour que eles fizeram deixando eles completamente invisíveis aos que não eram agraciados com a Visão.

Era sempre estranho estar cercado de uma humanidade que não te via, James pensou. A rua Fleet era onde tinham os escritórios de jornais e tribunais de justiça de Londres, e todo lugar tinham pubs iluminados, com trabalhadores e baristas e funcionários de direito que trabalhavam até tarde, bebendo até o dia amanhecer. A rua Strand que era próxima mal tinha acabado os shows e teatros, e grupos de jovens bem-vestidos, cantando e fazendo barulho, pegavam os últimos ônibus da noite, rindo.

Os policiais estavam trabalhando também, e aqueles habitantes de Londres que tinham a infelicidade de não ter casas para morar, agachados murmurando em torno das aberturas das adegas que mandavam ondas de ar quente. Conforme eles passavam por um grupo de figuras amontoadas, um olhou para cima, e James teve o vislumbre da pele pálida e olhos brilhantes de um vampiro.

James desviou o olhar. Seres do submundo não eram seu trabalho salvo se estivessem quebrando a lei. E ele estava cansado, apesar de sua runa de energia; sempre o esgotava ser arrastado para outro mundo de luz cinza e sombras escuras despedaçadas. Era algo que estava acontecendo com ele a vida inteira: um remanescente, ele sabia, do sangue de feiticeira da sua mãe.

Feiticeiros eram filhos de humanos e demônios: capazes de usarem magia, mas não suportavam runas ou usar adamas, o metal cristalino do qual estelas e lâminas serafins eram feitas. Eles eram um dos quatro tipos de seres do Submundo, junto com os vampiros, os lobisomens e as fadas. A mãe de James, Tessa Herondale, era uma feiticeira, mas não era apenas humana, era uma caçadora de sombras. A própria Tessa tinha tido o poder de mudar de aparência e se transformar na aparência de qualquer um, vivo ou morto: um poder que nenhum outro feiticeiro tinha. Ela era especial de outro jeito também: feiticeiros não podiam ter filhos. Tessa era uma exceção. Todos eles se perguntavam o que isso significaria para James e para sua irmã, Lucie, os primeiros netos conhecidos de um demônio e um ser humano.

Por muitos anos parecia que não significou nada. Tanto James quanto Lucie podiam usar runas e pareciam ter as mesmas habilidades que qualquer outro caçador de sombras. Eles dois podiam ver fantasmas – como a fantasma falante residente do Instituto, Jessamine – mas isso não era incomum na família Herondale. Parecia que eles dois eram abençoadamente normais, ou pelo menos tão normal quanto um caçador de sombras poderia ser. Até mesmo a Clave – o corpo governamental de todos Caçadores de Sombras – pareceu esquecê-los.

Então, quando James tinha 13 anos, ele viajou pela primeira vez para o reino das sombras. Em um momento ele estava parado na grama verde, no outro, na terra carbonizada. Um céu similarmente chamuscado apareceu acima dele. Árvores torcidas emergiram do chão, garras esfarrapadas agarrando o ar. Ele tinha visto esses lugares em gravuras de livros antigos. Ele sabia o que ele estava olhando: um mundo de demônios. Uma dimensão infernal.

Momentos depois ele estava de volta na terra, mas sua vida nunca mais foi a mesma. Por anos o medo de que ele poderia, a qualquer momento, voltar para as sombras. Era como se uma corda invisível o conectasse a um mundo de demônios, e a qualquer momento aquela corda o puxaria, o tirando de seu ambiente familiar para um lugar de fogo e cinzas.

Pelos últimos anos, com a ajuda de seu tio Jem, ele pensou que tinha controlado isso. Mesmo que tivesse sido apenas alguns segundos, essa noite tinha mexido com ele, e ele ficou aliviado quando viu a Taverna do Diabo aparecer na frente deles.

A taverna ficava no número 2 da rua Fleet, ao lado de um banco que parecia muito respeitável. Ao contrário do banco, tinha glamour em torno dela para que nenhum mundano pudesse ver ou ouvir os barulhos da devassidão que vinham da janela e das portas abertas. Era construído num estilo enxaimel dos Tudor, a velha madeira amassada e lascada era impedida de cair por feitiços. Atrás do bar, o dono lobisomem Ernie servia cervejas – a população era uma mistura de fadas e vampiros e lobos e feiticeiros.

As boas-vindas para Caçadores de Sombras em um lugar como esse seriam frias, mas os clientes da Taverna do Diabo estavam acostumados aos garotos. Eles receberam James, Christopher, Matthew, e Thomas com gritos de boas-vindas e deboche. James ficou no pub para pegar bebidas com Polly, a garçonete, enquanto os outros subiram as escadas para seus quartos, derramando icor nos degraus enquanto subiam.

Polly havia protegido os garotos quando James alugou os quartos no sótão três anos atrás, querendo um local privado onde ele e seus amigos pudessem ir sem seus pais ficarem rondando. Ela havia sido a primeira a chamá-los de Ladrões Alegres, por causa de Robin Hood e seus homens. James suspeitava que ele seria Robin de Locksley e Matthew seria Will Scarlet. Thomas definitivamente seria Little John.

Polly soltou um riso abafado. “Quase não reconheci o bastante de vocês quando vocês chegaram aqui cobertos do que quer que você chame isso.

Icor”, disse James, aceitando uma garrafa de vinho branco. “É sangue de demônio.

Polly franziu o nariz, colocando vários panos de prato de aparência desgastadas sobre o ombro dele. Ela o entregou um extra, que ele pressionou contra o corte em sua mão. Havia parado de sangrar mas ainda latejava. “Caramba.

Faz séculos desde que sequer vimos um demônio em Londres.” disse James. “Talvez não tenhamos reagido tão rápido quanto deveríamos.

Eu creio que eles estejam muito assustados para aparecerem.” disse Polly de maneira companheira, virando-se para encher o copo de gim de uma kelpie residente.

Assustados?” James ecoou, pausando. “Assustados com o quê?

Polly encarou. “Oh, nada, nada.” ela disse, e saiu correndo para o outro lado do bar. Franzindo as sobrancelhas, James subiu para o quarto. Os modos dos seres do Submundo as vezes eram misteriosos.

Dois lances de escadas que rangiam levavam a uma porta de madeira na qual um verso havia sido cravado muitos anos antes.

Não importa como um homem morre, mas sim como ele vive. S.J.

James abriu a porta com o ombro e encontrou Matthew e Thomas já esparramados ao redor de uma mesa no meio de uma sala de madeira. Diversas janelas, seus vidros soltos e marcados com o tempo, davam na Rua Fleet, meio acesa por lâmpadas das ruas e o Palácio Real da Justiça no caminho, mal aparecendo contra a noite nublada.

O quarto era um lugar bom e familiar, com paredes gastas, mobílias velhas e um fogo queimando na grelha. Acima da lareira havia um busto de Apollo, seu nariz arrancado há muito tempo. As paredes eram alinhadas com livros de ocultismo escrito por mágicos mundanos: a biblioteca do Instituto não permitia esse tipo de coisas, mas James os colecionava. Ele era fascinado com a ideia daqueles que não haviam nascido no mundo da mágica e da sombras e ainda assim ansiavam tanto por isso que haviam aprendido a arrombar os portões para isso.

Ambos Thomas e Matthew estavam livres do icor, vestindo roupas amassadas mas limpas, seus cabelos – o de Thomas marrom areiado e o de Matthew dourado escuro – ainda úmidos. “James!” Matthew ficou feliz ao ver o amigo. Seus olhos estavam suspeitosamente brilhantes; já havia uma garrafa pela metade de whisky na mesa. “É uma garrafa de álcool barato que eu vejo diante de mim?

James colocou o vinho na mesa justo quando Christopher emergiu do pequeno quarto no fim do espaço do sótão. O quarto estava lá desde antes de eles ocuparem o espaço, e ainda havia uma cama nele, mas nenhum dos Ladrões Alegres os utilizava para nada além de se lavar, guardar armas e mudas de roupas.

James.” Christopher disse, parecendo satisfeito. “Eu achei que você havia ido para casa.

Porque diabos eu iria para casa?” James perguntou, sentando-se ao lado de Matthew e jogou os panos de prato de Polly na mesa.

Não faço ideia.” disse Christopher alegremente, puxando uma cadeira. “Mas você poderia ter ido. Pessoas fazem coisas estranhas o tempo todo. Nós tivemos uma cozinheira que foi fazer compras e foi encontrada duas semanas depois em Regent’s Park. Ela havia se tornado zeladora de um zoológico.

Thomas ergueu as sobrancelhas. James e o resto do grupo nunca tinham certeza se deviam acreditar nas histórias de Christopher ou não. Não que ele fosse um mentiroso, mas quando se tratava de qualquer coisa que não se tratasse de provetas e tubos de ensaio, ele tendia a prestar um pouco menos de atenção.

Christopher era o filho da tia de James, Cecily, e tio Gabriel. Ele tinha a estrutura óssea bonita dos pais, cabelo escuro e olhos que só poderiam ser descritos como lilases. “Desperdício de garoto!”, Cecily dizia com frequência e um olhar martirizado. Christopher deveria ser popular com as garotas, mas os óculos grossos que ele usava para ler obscureciam a maior parte de seu rosto, e ele tinha pólvora perpetuamente embaixo de suas unhas. A maior parte dos Caçadores de Sombras considerava as armas mundanas com suspeição ou desinteresse – a aplicação de runas em metal ou balas impedia a pólvora de explodir, e as armas sem runas eram inúteis contra demônios. Christopher, entretanto, estava obcecado com a ideia que poderia adaptar armas incendiarias para o uso dos Nephilins. James tinha de admitir que a ideia de montar um canhão no telhado do Instituto tinha um certo apelo.

Sua mão.” Matthew disse de repente, inclinando-se para frente e fixando seus olhos verdes em James. “O que aconteceu?

James esqueceu que ainda estava segurando o pano de prato. Ele o deixou cair sobre a mesa. “Apenas um corte.”. Era um longo corte diagonal na palma de sua mão. Enquanto Matthew pegou a mão de James, o bracelete de prata que James sempre usava em seu punho direito bateu contra a garrafa. “Você deveria ter me dito!” Matthew disse, colocando a mão em seu colete para pegar sua estela. “Eu teria curado você no beco.

Eu esqueci.” James disse.

Thomas, que estava passando o dedo pela boca de seu copo sem beber nada, disse. “Aconteceu algo?

Thomas era irritantemente perceptivo. “Foi muito rápido.” James disse com relutância.

Muitas coisas que são ‘muito rápidas’ também são muito ruins.” disse Matthew colocando a ponta de sua estela na pele de James. “Guilhotinas descem muito rápido, por exemplo. Quando os experimentos de Christopher explodem, eles frequentemente explodem rápido.

Claramente, eu nunca fui explodido nem guilhotinado.” disse James. “Eu – fui a dimensão das sombras.

A cabeça de Matthew ergueu-se bruscamente, mesmo que sua mão permanecesse firme enquanto a iratze, uma runa de cura, tomasse forma na pele de James. James podia sentir a dor em sua mão começando a sumir. “Eu achei que esse negócio havia parado.” ele disse. “Achei que Jem havia ajudado você.

Ele me ajudou. Fazia dois anos desde a última vez.” James sacudiu a cabeça. “Eu suponho que tenha sido demais esperar que tivesse passado para sempre.

Isso geralmente não ocorre quando você está chateado?” disse Thomas. “Foi o ataque dos demônios?

Não.” disse James rapidamente. “Não, eu não consigo imaginar – não.” James havia quase se sentido ansioso para a batalha. Havia sido um verão frustrante, o primeiro em mais de uma década que ele não tinha passado com sua família em Idris.

Idris ficava na Europa central. Protegida por todos os lados, era um país intocado, escondido dos olhos mundanos e das invenções mundanas: um lugar sem ferrovias, indústrias ou fumaça de carvão. James sabia o motivo pelo qual sua família não poderia ir esse ano, mas ele tinha suas próprias razões para desejar que ele estivesse lá em vez de Londres. Patrulhar tinha sido uma das suas poucas distrações.

Demônios não incomodam nosso garoto.” Disse Matthew, terminando a runa da cura. Tão próximo de seu parabatai, James podia sentir o cheiro familiar do sabão de Matthew misturado ao álcool. “Deve ter sido outra coisa.

Você deveria conversar com seu tio, então, Jamie.” Disse Thomas.

James moveu sua cabeça. Ele não queria incomodar Tio Jem com o que parecia agora um momento passageiro. “Não foi nada. Eu fui surpreendido pelo demônio, eu agarrei na lâmina por acidente. Eu tenho certeza que foi isso que causou.

Você se tornou em uma sombra?” Perguntou Matthew, guardando sua estela. Às vezes, quando James era puxado para o Reino das Sombras, seus amigos descreveram que eles podiam vê-lo se desfocar nas bordas. Em algumas ocasiões, ele se tornou completamente em uma sombra escura – Na forma de James, mas transparente e não-corpóreo.

Algumas poucas vezes – muito poucas – ele foi capaz de se transformar em uma sombra de para passar algo sólido. Mas ele não havia querido falar sobre essas vezes.

Christopher pegou seu bloco de notas. “Falando do demônio –”

Sobre o qual não estávamos.” Matthew apontou.

– De que tipo era, novamente?” Christopher perguntou, mordendo a ponta de sua caneta. Ele normalmente escrevia detalhes das expedições deles de luta contra demônios. Ele afirmava que o ajudava em sua pesquisa. “O que explodiu, digo.

Ao contrário daquele que não explodiu?” perguntou James.

Thomas, que uma memória ótima para detalhes, disse: “Era um Deumas, Christopher. O estranho é que eles não são normalmente encontrados em cidades.

Eu salvei um pouco do icor.” Disse Christopher, tirando de algum lugar de si mesmo um tubo de teste com uma rolha repleto de uma substância esverdeada. “Eu aconselho a todos vocês a não beber nada disso.

Eu posso te afirmar que não temos planos de fazer algo assim, seu tolo.” Disse Thomas.

Matthew estremeceu. “Chega de falar sobre icor. Vamos brindar novamente à Thomas estar em casa!

Thomas protestou. James levantou seu copo e brindou com Matthew. Christopher ia brincar seu tubo de testes contra o copo de James quando Matthew, praguejando, confiscou e deu uma taça no lugar.

Thomas, apesar de suas objeções, pareceu satisfeito. A maior parte dos caçadores de sombras ia em um tipo de grande viagem quando completavam dezoito, deixando seu Instituto de origem por um no exterior; Thomas tinha acabado de retornar depois de 9 meses em Madri há poucas semanas. O ponto da visita era aprender novos costumes e ampliar os horizontes: Thomas certamente havia ampliado, embora principalmente no sentido físico.

Apesar de ser o mais velho do grupo deles, Tom sempre foi franzino em estrutura. Quando James, Matthew e Cristopher chegaram nas docas para encontrar o navio dele vindo da Espanha, eles vasculharam a multidão, quase falhando em reconhecer o amigo deles como o jovem homem musculoso descendo pela prancha. Thomas era o mais alto dos seus amigos agora, bronzeado como se ele tivesse crescido em uma fazenda em vez de Londres. Ele poderia manejar uma espada com uma mão, e na Espanha ele adotou uma nova arma, as boleadeiras, feita de cordas robustas e pesos que ele girava acima de sua cabeça. Matthew agora dizia que era como ser camarada com um gigante amigável.

Quando vocês tiverem terminado, eu tenho algumas novidades.” Thomas disse, empurrando sua cadeira para trás. “Vocês sabem a velha casa em Chiswich que uma vez pertenceu a meu avô? Que costumava se chamar a Casa Lightwood? Foi dada a minha tia Tatiana pela Clave alguns anos atrás mas ela nunca usou – preferiu ficar em Idris, na casa de campo com minha prima, er…

Gertrude.” Disse Christopher, tentando ajudar.

Grace.” Disse James. “O nome dela é Grace.

Ela era prima de Christopher também, apesar de James saber que eles nunca a tinham conhecido.

Sim, Grace.” Concordou Thomas. “Tia Tatiana sempre manteve ambas em uma isolação esplendida em Idris – sem visitas e tudo isso – mas aparentemente ela decidiu se mudar de volta pra Londres, então meus pais estão todos temerosos sobre.

O coração de James deu uma lenta, forte batida. “Grace,” ele começou, e viu Matthew olhar de lado para ele. “Grace – está se mudando pra Londres?

Parece que Tatiana quer apresentá-la a nossa sociedade.” Thomas parecia confuso. “Eu acredito que você a conheceu em Idris? A sua casa lá faz divisa com a casa Blackthorn?

James consentiu mecanicamente. Ele podia sentir o peso do bracelete ao redor de seu pulso direito, apesar dele já estar usando por tantos anos agora que ele normalmente estava inconsciente da presença. “Eu normalmente a vejo todo verão.” Ele disse. “Não esse verão, claro.

Não esse verão. Ele não tinha conseguindo convencer seus pais quando eles falaram que a família Herondale iria passar aquele verão em Londres. Ele não podia mencionar a razão pela qual ele queria retornar a Idris. Afinal de contas, até aonde eles sabiam, ele mal conhecia Grace. A dor, o horror que o tomou ao pensar que ele não poderia vê-la por todo outro ano não era algo que ele poderia explicar.

Era um segredo que ele carregava desde que tinha treze anos. Em sua mente, ele podia ver os grandes portões que cercavam a casa de campo Blackthorn e suas próprias mãos em sua frente – mãos de crianças, sem cicatrizes, cortando mecanicamente as videiras espinhosas. Ele podia ver o grande hall na casa de campo e as cortinas passando pelas janelas, e escutar música. Ele podia ver Grace em seu vestido marfim.

Matthew o estava observando com pensativos olhos verdes que não estava mais festivos. Matthew era o único dos amigos de James que sabia que havia uma conexão entre James e Grace Blackthorn.

Londres positivamente está sendo inundada por novas chegadas.” Ele comentou. “A família Carstairs estará conosco em breve, não estarão?

James consentiu. “Lucie está extremamente ansiosa para ver Cordelia.

Matthew colocou mais vinho em seu copo. “Não se pode culpá-los por estarem cansados daquele ar rústico de Devon – Do que aquela casa deles é chamada? Cirenworth? Eu acredito que eles devem chegar em um dia ou dois –

Thomas derrubou sua bebida. A bebida de James e o tubo de ensaio de Christopher foram juntos. Thomas estava ainda estava aprendendo a ocupar tanto espaço no mundo, e ele algumas vezes se mostrou desastrado.

Toda a família Carstairs está vindo, você disse?” perguntou Thomas.

Não Elias Carstairs.” Disse Matthew. Elias era o pai de Cordelia. “Mas Cordelia, e, claro…” Ele parou de falar, cheio de significado.

Oh, porcaria.” Disse Christopher. “Alastairs Carstairs.” Ele pareceu vagamente indisposto. “Eu não estou me lembrando incorretamente? Ele é difícil de engolir?

“’Difícil de engolir’ parece um jeito gentil de chamá-lo.” disse James. Thomas estava virando sua bebida; James olhou para ele com preocupação. Thomas tinha sido um garoto pequeno e tímido na escola e Alastair um valentão nojento. “Nós podemos evitar Alastair, Tom. Não há razão nenhuma para que precisemos passar nosso tempo com ele, e não consigo imaginar ele fazendo questão de nossa companhia também.

Thomas murmurou, mas não em resposta ao que James havia dito. O conteúdo do tubo de ensaio derramado de Christopher havia se tornado um verde ácido e começou a corroer a mesa. Eles todos saltaram para pegar os panos de prato de Polly. Thomas jogou um jarro de água na mesa, que acabou encharcando Christopher, e Matthew caiu na risada.

Eu disse.” disse Christopher, tirando o cabelo molhado da frente dos seus olhos. “Eu acho que funcionou, Tom. O ácido foi neutralizado.

Thomas estava balançando sua cabeça. “Alguém deveria neutralizar você, seu bobo –

Matthew riu histericamente.

No meio do caos, James não podia evitar se sentir muito distante disso tudo. Por tantos anos, por tantas centenas de cartas secretas entre Londres e Idris, ele e Grace haviam jurado um ao outro que um dia eles estariam juntos; o dia que eles fossem adultos, eles iriam se casar, quer seus pais aceitassem ou não, e iriam viver juntos em Londres. Esse sempre foi o sonho deles.

Então porque ela não havia dito a ele que ela estava vindo?


Oh, veja! O Royal Albert Hall!” Cordelia gritou, pressionando seu nariz no vidro da janela da carruagem. Era um dia radiante, com a luz do sol brilhante iluminando Londres, fazendo as casas brancas de South Kensington brilharem como fileiras de soldados de marfim em um jogo caro de xadrez. “Londres realmente tem uma arquitetura maravilhosa!

Uma observação astuta.” falou pausadamente seu irmão mais velho, Alastair, que estava ostensivamente lendo um livro no canto da carruagem, como se para anunciar que ele não ia se incomodar em olhar pela janela. “Estou seguro que ninguém nunca comentou sobre os prédios de Londres antes.

Cordelia olhou para ele, mas ele não olhou para cima. Ele não podia ver que ela estava tentando levantar o humor de todos? A mãe deles, Sona, estava encostada exausta contra o lado da carruagem, olheiras roxas embaixo de seus olhos, sua usual pele marrom radiante estava amarelada. Cordelia tem estado preocupada com ela por semanas, desde que as notícias sobre o pai haviam chegado em Devon de Idris. “A questão, Alastair, é que agora nós estamos aqui para morar, não visitar. Nós vamos conhecer pessoas, podemos receber visitas, não precisamos ficar no Instituto – mesmo que eu fosse gostar de ficar perto da Lucie –

E do James.” disse Alastair sem tirar os olhos do seu livro.

Cordelia cerrou os dentes.

Crianças.” A mãe de Cordelia olhou para eles com reprovação. Alastair olhou ressentido – ele estava a apenas mês do seu aniversário de dezenove anos e, para ele, pelo menos, não era mais uma criança. “Isso é coisa séria. Como vocês sabem bem, nós não estamos em Londres para nos divertirmos. Nós estamos em Londres em nome da nossa família.

Cordelia trocou um olhar menos hostil com seu irmão. Ela sabia que ele estava preocupado por Sona também, mesmo que ele nunca fosse admitir isso. Ela se perguntou pela milionésima vez o quanto ele sabia sobre a situação com o pai. Ela sabia que era mais do que ela e que ele nunca falaria sobre isso com ela.

Ela sentiu um pequeno baque de ansiedade quando a carruagem deles parou no número 102 da Cornwall Gardens, em uma fileira de grandes casas georgianas brancas com o número pintado de de um preto austero nos pilares da direita. Haviam várias pessoas paradas no topo dos degraus da frente, sob o pórtico. Cordelia imediatamente reconheceu Lucie Herondale, um pouco mais alta agora do que da última vez que Cordelia a viu. Seus cabelos castanho claro estavam presos embaixo do seu chapéu, e seu casaco e saia azuis claro combinavam com seus olhos.

Do lado dela estavam duas pessoas. Uma era a mãe de Lucie, Tessa Herondale, a famosa – entre caçadores de sombras, pelo menos – esposa de Will Herondale, que comandava o Instituto de Londres. Ela parecia só um pouco mais velha que sua filha. Tessa era imortal, uma feiticeira e metamorfa, e ela não envelhecia.

Do lado de Tessa estava James.

Cordelia lembrou de uma vez, quando ela era uma garotinha, chegando para acariciar um cisne na lagoa ao lado de sua casa. O pássaro tinha se lançado contra ela, com rapidez e força, e a derrubou. Por vários minutos ela permaneceu na grama, sufocada e tentando recuperar o ar, com muito medo que nunca pudesse fazer o ar chegar aos seus pulmões novamente.

Ela imaginava que essa não era a coisa mais romântica no mundo para dizer que sentia toda vez que ela via James Herondale, como se tivesse sido atacada por aves aquáticas, mas era a verdade.

Ele era lindo, tão lindo que ela esquecia de respirar quando o via. Ele tinha um cabelo preto bagunçado que parecia que era macio ao toque, e cílios longos e escuros como franjas em seus olhos cor de mel ou âmbar. Agora que ele tinha dezessete anos, ele havia crescido e não era mais desajeitado, era todo elegante e adorável, perfeitamente montado como um pedaço maravilhoso de arquitetura.

Ai!” Seus pés tocaram a calçada e ela quase tropeçou. De alguma maneira ela tinha aberto a porta da carruagem e estava agora parada na calçada – bem, balançando na verdade, como se lutasse para se equilibrar em suas pernas que estavam dormentes depois de horas de desuso.

James estava lá imediatamente, sua mão no braço dela, firmando-a. “Daisy?” Ele disse. “Você está bem?

O apelido que ele a chamava. Ele não havia esquecido.

Só desajeitada.” Ela olhou ao redor pesarosamente. “Eu estava esperando que fosse uma chegada mais graciosa.

Nada que tenha que se preocupar.” Ele sorriu e o coração dela disparou. “As calçadas de South Kensington são perversas. Eu mesmo já fui atacado por elas mais de uma vez.

Dê uma resposta inteligente, ela disse a si mesma. Diga algo engraçado.

Mas ele já havia se virado, acenando sua cabeça para Alastair. James e Alastair não gostavam um do outro na escola, Cordelia sabia, apesar que sua mãe não. Sona pensava que Alastair havia sido bastante popular.

Eu vejo que você está aqui, Alastair.” A voz de James era curiosamente mansa. “E você parece…

Ele olhou o cabelo loiro claro brilhante de Alastair com certo espanto. Cordelia esperou ele continuar, com grande esperança que ele fosse dizer você parece um nabo, mas ele não disse.

Você parece bem.” ele terminou.

Os garotos se olharam em silêncio enquanto Lucie corria para baixo nos degraus e jogava seus braços em torno de Cordelia. “Eu estou muito, muito, muito feliz em te ver!” ela falou sem fôlego. Para Lucie, tudo era sempre muito, muito, muito algo, fosse bonito ou excitante ou pavoroso. “Querida Cordelia, nós vamos nos divertir tanto –

Lucie, Cordelia e a família dela vieram para Londres para que você e Cordelia possam treinar juntas”, disse Tessa com a voz gentil. “Será muito trabalho e responsabilidade.

Cordelia olhou para os próprios pés. Tessa estava sendo gentil em repetir a história de que os Carstairs tiveram que vir para Londres com pressa para que Cordelia e Lucie pudessem ser parabatai, mas essa não era a verdade.

Bom, você deve lembrar de quando você mesma tinha 16, Sra Herondale”, falou Sona. “Garotas jovens adoram bailes e vestidos. Eu certamente amava quando tinha a idade delas, e eu imagino que você também.

Cordelia sabia que isso não era completamente verdade sobre a mãe dela, mas manteve a boca fechada. Tessa ergueu as sobrancelhas. “Eu lembro de ir em um baile de vampiros antes. E um tipo de festa na casa de Benedict Lightwood, antes dele pegar varíola demoníaca e se transformar em um verme, é claro –

Mãe!” Lucie falou, escandalizada.

Bom, ele se transformou em um verme”, disse James. “Era mais como uma grande e perversa serpente. Foi certamente uma das partes mais interessantes da aula de história.

Tessa guardou qualquer outro comentário para a chegada das carruagens de transportes carregando os pertences dos Carstairs. Diversos homens grandes pularam das carruagens e foram puxar lonas que cobriram varias peças de mobília, que tinham sido delicadamente amarradas.

Um dos homens ajudou Risa, a dama de companhia de Sona e cozinheira, a descer primeiro de uma das carruagens. Risa tinha trabalho para a família Jahanshah quando Sona era uma adolescente e tinha estado com ela desde então. Ela era uma mundana que tinha visão e por isso uma companhia valiosa para uma caçadora de sombras. Risa falava somente persa; Cordelia se questionou se os homens na carruagem tentaram conversar com ela. Risa entendia inglês perfeitamente, mas ela gostava de ficar em silêncio.

Por favor, agradeça a Cecily Lightwood por mim, por emprestar sua ajuda doméstica.” A mãe de Cordelia estava falando para Tessa.

Oh, claro! Eles virão na terça e nas quintas para fazer o trabalho pesado, até que você encontre seus próprios criados adequados.” Tessa respondeu.

“O trabalho pesado” era tudo que Risa – que cozinhava, fazia compras e ajudava Sona e Cordelia com suas roupas – não era esperada fazer, como esfregar o chão ou cuidar dos cavalos. A ideia de que os Carstairs estavam planejando contratar seus próprios criados em breve era uma ficção polida, Cordelia sabia. Quando eles deixaram Devon, Sona deixou todos os criados irem, salvo Risa, já como eles estavam tentando guardar todo dinheiro possível enquanto Elias Carstairs estava esperando seu julgamento.

Uma grande sombra em uma das carruagens chamou atenção de Cordelia. “Mamãe!” Cordelia exclamou. “Você trouxe o piano?

A mãe dela consentiu. “Eu gosto de ter um pouco de música.” Ela gesticulou imperiosamente na direção dos trabalhadores. “Cordelia, vai ficar bagunçado e barulhento aqui, talvez você e Lucie fossem dar uma volta na vizinhança? E Alastair, você fica aqui e ajuda a dar ordens nos criados.

Cordelia ficou satisfeita com a probabilidade de um tempo sozinha com Lucie. Alastair, ao contrário, pareceu dividido entre uma acidez de ser deixado para trás com sua mãe e a pomposidade de ser confiado com as responsabilidades do homem da casa.

Tessa Herondale pareceu gostar. “James, vá com as garotas. Talvez o Kensington Gardens? É uma caminhada curta e está um dia adorável.

Kensington Gardens parece seguro.” Disse James solenemente.

Lucie revirou seus olhos e agarrou a mão de Cordelia. “Venha junto, então.” Ela disse, e foi puxando Cordelia para descerem os degraus e irem pra calçada.

James, com suas longas pernas, as alcançou com facilidade. “Não há necessidade de sair correndo, Lucie.” Ele disse. “A mãe não vai te arrastar de volta e obrigar que você arraste o piano pra casa.

Cordelia olhou de lado pra ele. O vento estava bagunçando o cabelo negro dele. Nem mesmo o cabelo de sua mãe era tão escuro: ainda havia tons escondidos de vermelho e dourado. O cabelo de James era como tinta derramada.

Ele sorriu facilmente para ela, como se ele não houvesse apenas acabado de pegá-la encarando ele. Então novamente, ele estava, sem dúvida, acostumado a ser encarado estando com outros caçadores de sombras. Não apenas pelo seu visual, mas por outros motivos também.

Lucie apertou seu braço. “Eu estou tão contente que você está aqui.” ela declarou. “Eu nunca achei que fosse acontecer de verdade.

Por que não?” perguntou James. “Não há razão para que não acontecesse. A Lei exige isso, e mais, o pai adora a Daisy, e ele faz as regras…

Seu pai adora qualquer Carstairs.” disse Cordelia. “Eu não acredito que seja credito meu. Ele deve até gostar do Alastair.

Eu acredito que ele se convenceu que Alastair tem uma profundidade emocional oculta.

Como areia movediça.” disse Cordelia.

James riu.

É o bastante.” disse Lucie, esticando-se para bater no ombro de James com uma mão enluvada. “Daisy é minha amiga, e você a esta monopolizando. Saia, vá pra algum outro lugar.

Eles estavam subindo Queen’s Gate em direção a Avenida Kensington, o barulho do tráfico de carruagens ao redor de todos. Cordelia imaginou James caminhando em direção a multidão onde, claramente, ele encontraria algo mais interessante para fazer ou talvez ser sequestrado por uma bela herdeira que se apaixonaria por ele instantaneamente. Esse tipo de coisa acontecia em Londres.

Eu caminharei atrás de você como se estivesse carregando a cauda do seu vestido em um casamento real.”, disse James. “Mas eu tenho que manter vocês à vista; de outra forma a mãe irá me matar e então eu perderei o baile de amanhã e então Matthew me matará, e eu estarei morto duas vezes.

Cordelia sorriu, mas James já estava saindo, como prometeu. Ele andou lentamente atrás delas, dando as garotas espaço para conversar; Cordelia tentou esconder sua decepção diante da falta da presença dele. Ela vivia em Londres agora, depois de tudo, e ver James agora não era mais algo raro, mas esperava, com esperança, que se tornasse parte do seu dia a dia.

Ela olhou novamente para ele; ele já tinha arrumado um livro e estava lendo enquanto caminhava e assobiava baixinho.

Sobre qual baile ele falou?” ela perguntou, se virando para Lucie. Elas passaram pelo portão forjado preto de ferro de Kensington Park e pela sombra frondosa. O parque estava repleto de babás empurrando bebês em carrinhos e jovens casais caminhando juntos embaixo das árvores. Duas garotinhas estavam fazendo colares de margaridas e um garoto com uma roupa de marinheiro azul estava correndo com um aro, rindo alto. Ele correu para um homem, que o levantou e o jogou no ar enquanto ele ria. Cordelia fechou parcialmente seus olhos por um momento, pensando em seu próprio pai, no jeito que ele a jogava no ar quando ela era muito pequena, a fazendo rir e rir enquanto ele a pegava enquanto ela caia.

O de amanhã à noite.” Lucie disse, passando seu braço pelo de Cordelia. “Nós estamos oferecendo um baile de boas-vindas para vocês em Londres. Todo Enclave estará lá, e haverá dança e a mãe terá a chance de exibir seu novo salão de festas. E eu terei a chance de exibir você.

Cordelia sentiu um arrepio por seu corpo – parte entusiasmo, parte medo. O Enclave era o nome oficial para os caçadores de sombras de Londres: toda cidade tinha um Enclave, que respondia a seu Instituto local assim como as autoridades superiores da Clave e a Consulesa. Ela sabia que era bobagem, mas o pensamento de tantas pessoas fez sua pele pinicar com a ansiedade. A vida que ela tinha com sua família – constantemente viajando com segurança quando eles estavam em Cirenworth em Devon – tinha evitado multidões.

E ainda assim, era o que ela tinha de fazer – o que eles todos tinham vindo pra Londres fazer. Ela pensou em sua mãe.

Não era um baile, ela disse a si mesma. Era a primeira parte de uma guerra.

Ela abaixou sua voz. “Todos aqui sabem – todos aqui sabem sobre meu pai?

Oh, não. Poucas pessoas ouviram qualquer detalhe, e os que ouviram são bem calados sobre.” Lucie a olhou especulativamente. “Se você estiver disposta – se você me contar, eu juro que não contarei a uma alma viva, nem mesmo ao James.

O peito de Cordelia doeu como sempre doía quando ela pensava no pai. Mas ela tinha que contar isso a Lucie, no entanto, e ela precisaria contá-lo aos outros também. Ela não seria capaz de ajudar seu pai se não fosse direta ao exigir aquilo que queria. “Mais ou menos um mês atrás, meu pai foi em Idris”, ela disse. “Foi tudo muito secreto, mas um ninho de demônios Kravya’d foi descoberto bem na fronteira de Idris.”

Sério?” Disse Lucie. “Eles são bem nojentos, não são? Canibais?

Cordelia consentiu. “Eles já tinham praticamente acabado com uma matilha de lobisomens. Foram os lobisomens, na verdade, que levaram as novidades à Alicante. A consulesa juntou uma força expedicionária nephilim e chamou meu pai por causa de sua especialidade com demônios raros. Com outros dois seres do submundo, ele ajudou a planejar a expedição para matar os Kravyas’ds.”

Isso foi bem excitante!”, disse Lucie. “E que incrível trabalhar com seres do Submundo assim.

Deveria ter sido.” Disse Cordelia. Ela olhou para trás, James estava há uma boa distância, ainda lendo. Não era possível para ele ouvi-las. “A expedição deu errado. Os demônios Kravyas’dad tinham ido embora – e os nephilins tinham entrando em uma terra que um clã de vampiros acreditava ser deles. Houve uma luta – uma ruim.

Lucie empalideceu. “Pelo Anjo. Alguém foi morto?”

Vários nephilins foram machucados”, disse Cordelia. “E o clã de vampiros acreditou que nós – que os caçadores de sombras – estavam aliados aos lobisomens para os atacarem. Foi uma confusão terrível, algo que poderia ter desfeito os Acórdãos.

Lucie parecia horrorizada. Cordelia não podia culpá-la. Os Acórdãos eram o arranjo de paz entre os Caçadores de Sombras e Seres do Submundo que ajudava a manter a ordem. Se eles fossem quebrados, poderia haver um resultado cheio de sangue.

A Clave iniciou uma investigação.” Cordelia disse. “Toda séria e própria. Nós pensávamos que meu pai seria uma testemunha, mas em vez disso, ele foi preso. Eles o estão culpando pela expedição ter dado errado. Mas não foi culpa. Ele não tinha como saber –” Ela fechou seus olhos. “Quase o matou, ter decepcionado a Clave assim. Ele terá de viver com a culpa por toda sua vida. Mas nenhum de nós esperava que eles fossem terminar a investigação e o prender.” Suas mãos estavam tremendo, ela as juntou com força. “Ele me mandou um bilhete, mas nada depois disso: eles o proibiram. Ele está sendo mantido em prisão domiciliar em Alicante até que seu julgamento aconteça.

Um julgamento?” Disse Lucie. “Só para ele? Mas haviam outros também no comando dessa expedição, não haviam?

Haviam outros, mas meu pai está sendo o bode expiatório. Tudo foi feito para o culpar. Minha mãe queria ir para Idris para vê-lo, mas ele proibiu.” Cordelia completou. “Ele disse que deveríamos vir a Londres — que, se ele for condenado, a vergonha que cairá em nossa família será imensa e que devemos agir rapidamente para evitá-la.”

“Isso seria muito injusto!” Os olhos de Lucie brilharam. “Todo mundo sabe que ser Caçador de Sombras é um trabalho perigoso. Com certeza será determinado que seu pai fez o melhor que pode, depois que ele for interrogado.”

“Talvez,” Cordelia disse em voz baixa. “Mas eles querem alguém para culpar — e ele está certo de que temos poucos amigos dentre os Caçadores de Sombras. Nós nos mudamos tanto porque Baba estava doente, nunca morando muito em um único lugar — Paris, Teerã, Marrocos…”

“Eu sempre pensei que fosse muito glamouroso.”

“Nós estávamos tentando encontrar um clima que fosse melhor para a saúde dele.” disse Cordelia. “Mas agora minha mãe sente que tem poucos aliados. É por isso que estamos aqui, em Londres. Ela espera que possamos fazer amigos rapidamente, para que, se meu pai for aprisionado, nós tenhamos alguns para permanecer a nosso lado e nos defender.”

Sempre tem o tio Jem. Ele é seu primo.” Lucie deu a sugestão. “E a Clave tem os Irmãos de Silêncio em alta estima.

O tio de Lucie era James Carstairs, conhecido pela maioria dos nephilins como Irmão Zachariah. Os Irmãos do Silêncio eram os médicos e arquivistas dos nephilins: mudos, com muitos anos de vida e poderosos, eles habitavam a Cidade do Silêncio, um mausóleo embaixo da terra com centenas de entradas por todo o mundo.

A coisa mais estranha sobre eles para Cordelia era que – como as suas contrapartes, as Irmãs de Ferro, que faziam armas e estelas de adamas – eles escolhiam ser quem eles eram: Jem tinha sido um Caçador de Sombras comum uma vez, o parabatai do pai de Lucie, Will. Então ele havia se tornado um Irmão do Silêncio, poderosas runas o haviam silenciado e o marcado, e fechado seus olhos para sempre. Os Irmãos do Silêncio não envelheciam fisicamente, mas também não tinham filhos, ou esposas, ou casas. Parecia uma vida horrivelmente solitária. Cordelia tinha certamente visto o Irmão Zachariah – Jem – em ocasiões importantes, mas ela não sentia que o conhecia como James ou Lucie conheciam. O pai dela nunca tinha ficado confortável na presença de um Irmão do Silêncio e tinha feito de tudo para evitar Jem de visitar a família deles.

Se apenas Elias tivesse pensado diferente, Jem talvez pudesse ser um aliado. Como era, Cordelia não tinha ideia de como começar a se aproximar dele.

“Seu pai não vai ser condenado”, disse Lucie, apertando a mão de Cordelia. “Eu vou falar com meus pais—”

“Não, Lucie.” Cordelia balançou a cabeça. “Todo mundo sabe o quanto nossas famílias são próximas. Eles não vão pensar que sua mãe e seu pai são imparciais.” Ela suspirou. “Vou falar com a Consulesa eu mesma. Diretamente. Ela pode não ter se dado conta que eles estão tentando acabar esse escândalo com os seres do Submundo culpando meu pai. É mais fácil apontar um dedo para uma pessoa do que admitir o erro de todos.”

Lucie concordou com a cabeça. “Tia Charlotte é tão gentil, não posso imaginar que ela não vá ajudar.”

Tia Charlotte era Charlotte Fairchild, a primeira mulher a ser eleita Consulesa. Ela era também a mãe do parabatai de James, Matthew, e uma velha amiga de família dos Herondale.

Um Cônsul tinha enorme poder, e quando Cordelia ouviu pela primeira vez sobre a prisão de seu pai, ela tinha pensado imediatamente em Charlotte. Mas a Consulesa não era livre para fazer o que quisesse, Sona tinha explicado. Havia grupos dentro da Clave, facções poderosas pressionando-a sempre para fazer isto ou aquilo, e ela não podia arriscar enfurecê-los. Apenas faria as coisas ficarem piores para Elias e sua família se elas fossem até a Consulesa.

Particularmente, Cordelia pensou que sua mãe estava errada — não era isso que significava ter poder, a habilidade de arriscar enfurecer as pessoas? Qual era a vantagem de ser uma Consulesa se você ainda tivesse que se preocupar em manter as pessoas felizes? A mãe dela era muito cautelosa, muito amedrontada. Sona acreditava que o único jeito possível de sair da situação deles era se Cordelia se casasse com alguém com influência: alguém que poderia salvar o nome da família deles se Elias fosse para a prisão.

Mas Cordelia não mencionaria isso a Lucie. Não mencionaria a ninguém. Ela mal conseguia pensar nisso ela mesma. Ela não era contra a ideia de casar-se, mas teria que ser com a pessoa certa e teria que ser por amor. Não seria parte de uma barganha para reduzir a vergonha do nome de sua família quando seu pai não havia feito nada de errado. Ela resolveria isso com inteligência e coragem — não com a venda de si mesma como noiva.

“Eu sei, é absolutamente horrível agora,” disse Lucie, e Cordelia teve a sensação de que havia perdido diversos momentos da fala de Lucie, “mas eu simplesmente sei que vai acabar logo e seu pai vai estar de volta a salvo. E neste meio-tempo, você estará em Londres e poderá treinar comigo e — oh!” Lucie tirou seu braço do de Cordelia e vasculhou em sua bolsa. “Eu quase me esqueci. Eu tenho outro trecho de A Bela Cordelia para você ler.”

Cordelia sorriu e tentou tirar a situação do pai da cabeça. A Bela Cordelia era um romance que Lucie tinha começado a escrever quando tinha doze anos. A intenção dele era animar Cordelia durante uma estadia extensa na Suíça. Contava as aventuras de uma jovem chamada Cordelia, devastadoramente linda para todos que a contemplavam, e do belo homem que a adorava, Lorde Hawke. Infelizmente, eles tinham sido separados quando a linda Cordelia tinha sido raptada por piratas, e desde então ela vinha tentando encontrar seu caminho de volta para ele, apesar de sua jornada ser complicada por muitas aventuras, assim como por outros tantos homens atraentes — que sempre se apaixonavam por ela e desejavam casamento — que a verdadeira Cordelia havia perdido a conta.

Todo mês, fielmente, por quatro anos, Lucie havia enviado para Cordelia um novo capítulo e Cordelia havia se deixado envolver pelas aventuras românticas de sua contraparte e se perdia em fantasia por um tempo.

“Maravilha,” ela disse, pegando as folhas de papel. “Eu mal posso esperar para ver se Cordelia escapa do malvado Rei Bandido!”

“Bem, ao que parece, o Rei Bandido não é inteiramente malvado. Veja, ele é o filho mais novo de um duque que sempre foi — desculpe,” Lucie terminou humildemente ao olhar de Cordelia. “Eu esqueci como você odeia que te contem a história antes de você a ler.”

“Odeio mesmo.” Cordelia bateu no braço da amiga com o manuscrito enrolado. “Mas obrigada, querida, eu o devo ler assim que tiver uma chance”. Ela olhou por sobre o ombro. “É — quero dizer, eu queria conversar sozinha com você também, mas nós não estamos sendo terrivelmente rudes ao pedir ao seu irmão para andar atrás de nós?”

“Nem um pouco,” Lucie assegurou-lhe. “Olhe para ele. Ele está bem distraído, lendo.”

E ele estava. Apesar de James parecer estar completamente entretido pelo que quer que ele estivesse lendo, ele entretanto contornava os transeuntes que se aproximavam, a rocha ocasional ou o galho caído, e até mesmo um menininho segurando um aro, com uma graça admirável. Cordelia imaginou que, se ela tentasse tal truque, teria batido em uma árvore.

Você é tão sortuda”, Cordelia disse melancolicamente, ainda olhando por cima dos seus ombros para James.

Por que cargas d’água?” Lucie olhou para ela com os olhos arregalados. Enquanto os olhos de James eram âmbar, os de Lucie eram de um azul pálido, um pouco mais claro do que os de seu pai.

Cordelia olhou ao redor. “Oh, porque –” Porque você passa tempo com James todos os dias? Ela duvidava que Lucie pensasse que isso era um tipo de presente especial; o que não era, quando ele era da família dela. “Ele é um irmão mais velho tão bom. Se eu pedisse a Alastair para andar 10 passos atrás de mim no parque, ele teria garantido de ficar bem do meu lado o tempo inteiro, só para ser chato.

Pfft!” Lucie exclamou. “Claro que eu adoro Jamie, mas ele anda sendo terrível ultimamente, desde que ele se apaixonou.

Ela poderia ter jogado uma bomba na cabeça de Cordelia. Tudo pareceu desacelerar ao redor dela. “Ele o que?

Se apaixonou.” Lucie repetiu, com o olhar de alguém que estava aproveitando contar um pouco de fofoca. “Oh, ele não diz com quem, claro, mas é por que é Jamie e ele nunca nos conta nada. Mas o pai o diagnosticou e diz que é definitivamente amor.

Você está presumindo coisas.” A cabeça de Cordelia estava girando de desanimo. James apaixonado? Por quem?

Bem, é um pouco, não é? Ele fica pálido e temperamental e fica olhando pelas janelas como John Keats.

Keats ficava olhando pelas janelas?” Cordelia se sentiu tonta. Às vezes, acompanhar Lucie era difícil.

Lucie continuou lentamente, subestimada pela pergunta se o principal poeta Inglês ficava olhando ou não pelas janelas. “Ele não diz nada a ninguém a não ser ao Matthew, mas Matthew é um túmulo no qual James se apoia. Eu escutei um pouco da conversa deles essa manhã por acidente, embora –

Acidente?” Cordelia levantou uma sobrancelha.

Eu talvez estivesse escondida embaixo de uma mesa”, disse Lucie com dignidade. “Mas foi só porque eu tinha perdido um brinco e estava procurando por ele.

Cordelia segurou um sorriso. “Continue.

Ele está definitivamente apaixonado e Matthew pensa que ele está sendo bobo. É uma garota que não vive em Londres mas ela está pra chegar aqui para uma longa temporada. Matthew não a aprova, mas eu não entendi exatamente por que –“ Lucie parou repentinamente e segurou o pulso de Cordelia. “Oh!

Ouch! Lucie –

Uma adorável moça que está para chegar em Londres! Oh, eu sou uma pateta! Claro que está bem claro o que ele quis dizer!

Está?” Cordelia disse. Elas estavam perto de Long Water, ela podia ser o sol refletindo na superfície.

Ele quis dizer você.” Lucie inalou. “Oh, que amor! Imagine se vocês se casarem! Nós poderíamos ser irmãs de verdade!

Lucie!” Cordelia abaixou seu tom de voz para um sussurro. “Nós não temos prova que ele falou sobre mim.

Bem, ele estaria louco de não estar apaixonado por você.” Disse Lucie. “Você é terrivelmente bonita, e como Matthew disse, você acabou de chegar em Londres para uma temporada longa. Quem mais poderia ser? O Enclave simplesmente não é grande assim. Não, tem que ser você.

Eu não sei –

Lucie revirou os olhos. “É por que você não se importa com ele? Bem, não é esperado que você se importe ainda. Eu digo, você o conhece a sua vida inteira, então eu acredito que ele não seja impressionante, mas eu prometo a você que todas as garotas do Enclave o acham simplesmente lindo. Então eu tenho certeza que você poderia se acostumar com o rosto dele. Ele não ronca ou faz piadas grosseiras, ele realmente não é ruim de forma alguma.” completou Lucie sensatamente. “Apenas considere! Dance uma dança com ele amanhã. Você tem um vestido de baile, não tem? Você deve ter um vestido adorável para ele ficar encantado por você.

Eu tenho um vestido.” Cordelia se apressou em assegurar para ela, apesar de saber que estava longe de ser adorável.

Uma vez que você o deixar encantado por você”, Lucie continuou, “Ele irá lhe pedir em casamento. Então nós devemos decidir se você irá aceitar e, se você aceitar, se vocês terão um noivado longo. Será melhor se você tiver, assim nós podermos completar nosso treinamento parabatai.

Lucie, você está me deixando tonta!” Cordelia disse e lançou um olhar preocupado por cima de seu ombro. James havia escutado algo do que elas disseram? Não, não parecia: ele ainda estava divagando enquanto lia.

Uma esperança traiçoeira cresceu em seu coração e por momento ela se permitiu imaginar estar noiva de James e sendo bem-vinda na família de Lucie. Lucie, sua irmã aos olhos da lei agora, carregando um grande buquê de flores em seu casamento. Os amigos deles – eles certamente deveria ter amigos – exclamando: “Oh, vocês fazem um casal perfeito

Ela franziu o cenho repentinamente. “Por que Matthew não me aprova?” Ela perguntou, e então limpou a garganta. “Digo, se eu sou a garota que eles estavam falando sobre, o que eu tenho certeza de que não sou.

Lucie moveu sua mão no ar. “Ele não acha que a garota em questão se importa com James. Mas, conforme nós já apuramos, você pode se apaixonar por ele facilmente se você colocar um pouco de esforço nisso. Matthew é muito protetor com Jamie mas ele não é nada para se temer. Ele pode não gostar de muitas pessoas, mas ele é muito gentil com as quais gosta.

Cordelia pensou em Matthew, o parabatai de James. Matthew não pode ser arrancado do lado de James desde que eles estiveram brevemente na escola em Idris e veio ficar com os Herondale em Devon por um dia. Matthew parecia ser feito de cabelos loiros e sorrisos, mas ela suspeitava que havia um leão por baixo do gatinho, se machucar James estivesse envolvido.

Mas ela nunca machucaria James. Ela o amava. Ela o tinha amado sua vida inteira.

E amanhã ela teria a chance de dizer a ele. Ela não teve dúvidas de que daria confiança a ela para se aproximar da Consulesa e apresentar o caso do seu pai por clemência, talvez com James do seu lado.

Cordelia levantou seu queixo. Sim, depois do baile amanhã, sua vida seria muito diferente.


[Traduzido por Equipe IdrisBR. Dê os créditos. Não reproduza sem autorização.]

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