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Resenha: O Acordo das Rosas – Sasha Peyton Smith


“O Acordo das Rosas”
Sasha Peyton Smith
Tradução: Lígia Azevedo
Seguinte – 2025 – 376 páginas

Todos na Inglaterra têm direito a um acordo com Mor, a rainha feérica que governa há séculos. Tradicionalmente, as garotas buscam qualidades únicas que as destaquem na busca por um marido durante a temporada social: o sorriso perfeito em troca da perda do paladar, ou um talento raro para o piano em troca de um dedo do pé.

No ano de estreia de Ivy Benton, há uma reviravolta: uma competição para conquistar o príncipe Bram. Ser a escolhida salvaria a família de Ivy da ruína e libertaria sua irmã do acordo que a destruiu.

No entanto, ela não imaginava poder contar com um poderoso aliado. Emmett, irmão adotivo (e humano) do príncipe Bram, se torna um guia valioso para Ivy durante as provas. Mas essa ajuda pode custar caro… No jogo da rainha, cada movimento tem consequências ― especialmente quando o coração traiçoeiro de Ivy começa a bater mais forte pelos príncipes. E, em meio à competição que pode mudar seu destino, ela está prestes a descobrir o quão profunda é a escuridão sob o brilho da corte.

Fiquei tão, mas tão empolgada quando estava nas páginas finais deste livro que só pensava em como podia existir um livro com basicamente todos os tropes que amo: irmãs que se amam, tentam se proteger e ainda assim, me magoam profundamente; tramas palacianas; féericos enganando humanos; humanos pensando que podem ser mais inteligentes do que seres vivos há seculos; traições; amigas separadas contra suas vontades; garota que se apaixona profundamente e o cara finge que não só pra ter cena de sofrimento – enfim, poderia continuar por mais um tempo, mas a verdade é que eu coloco “O Acordo das Rosas” facilmente no meu top 3 de livros do ano.

Primeiro livro de uma duologia de romantasia que será finalizada ano que vem, “O Acordo das Rosas” traz uma Inglaterra alternativa na qual, durante a Guerra das Rosas, no campo de batalhas, Henrique e todos foram surpreendidos com a visão de uma mulher lindíssima caminhando até ele. Depois de ouvir algo sussurrado baixo, a guerra terminou, Henrique se tornou Rei – e morreu no dia seguinte, diferindo do que sabemos que aconteceu realmente. Ao morrer, Moryen, a mulher que apareceu, se tornou a rainha. Só que ela não era uma mulher comum: ela era uma féerica, vinda do mundo dos Outros. E assim a Inglaterra se tornou uma monarquia com uma fada linda e cruel sentada em seu trono. Aproximadamente duzentos anos de paz e propriedade vieram na sequência, mas a eternidade é muito tempo para se viver e, para lidar com o tédio, alguns jogos são necessários. E é ai que temos o começo de nossa trama, mas antes há um prologo que mostra a chegada de Moryen.

Da mesma forma que os deuses interferiam nos assuntos dos homens na Guerra de Troia, os Outros também se entretinham brincando com os conflitos mortais.
Por isso eram chamados assim. Os Outros.
Tanto os Lancaster como os York acreditavam ser os legítimos su- cessores dos Plantageneta. No entanto, um país não pode ter dois reis, e como nenhum dos lados estava disposto a aceitar a reivindicação de trono do outro, bandeiras foram hasteadas e espadas foram afiadas.
A guerra foi brutal, como todas as guerras são, despropositadas e cruéis, Em menos de um ano o solo da Inglaterra ficou encharcado de sangue Mesmo assim, a guerra não acabou, Como o rufar de tambores que levava fazendeiros ao abate, ela prosseguiu.

Todos os anos, no debute das jovens, a Rainha as recebe e concede um desejo a elas em troca de algo – um acordo, claro. Se você quisesse modelar seu nariz ou a habilidade de cantar e acalmar as pessoas, tudo que você tinha de fazer era ser de uma família proeminente, ser convidada para o Desfile do Pacto e atendê-lo. Lá, você faria seu acordo com a Rainha Mor, como passou a ser chamada, na qual daria em troca um dedo, a sua habilidade de sonhar ou de sentir o gosto de qualquer doce, em troca do seu pedido. Cada vez pedindo mais coisas inusitadas em troca, a Rainha Mor parece estar tentando encontrar algo para se entreter, e é assim que parece decidir que seu filho, o príncipe Bram, irá escolher uma noiva depois de uma disputa na qual todas as jovens convidadas para o Desfile do Pacto poderiam se candidatar.

E é ai que se encontra Ivy Elizabeth Benton. O livro abre justamente com ela andando sozinha por uma Londres em fevereiro de 1848, desesperada, procurando por sua irmã 2 anos mais velha, Lydia, que simplesmente sumiu. A família, que já não ia tão bem financeiramente, se tornou uam pária social, levando a jovem a acreditar no que sentia: a irmã não estava morta. Estava em algum lugar, mas não morta. Depois de um pequeno acidente, Ivy é levada para casa pelo Príncipe Emmett Alexander de Vere , o jovem humano filho do Príncipe consorte Edgar, já como a Rainha Mor sempre escolhia príncipes consortes, casava com eles, e quando eles morriam, ela escolhia outro – lembram-se, ela é uma féerica, não envelhece, sempre congelada em uma beleza perfeita. Em uma demonstração de apreço ao marido, a Rainha havia reconhecido como principe real. Depois de uma pequena discussão entre as personagens, que já mostram que são os protagonistas, Ivy chega em casa exausta. Para sua surpresa, quem também volta é Lydia. Sem conseguir lembrar do que havia acontecido com ela, a irmã Benton mais velha conta que fugiu com um namorado, se casou e ele morreu, a fazendo voltar para casa desolada. Ninguém da família acredita, mas a felicidade de ter a irmã de volta logo é tomada pela frustração da mudança da personalidade de Lydia, que antes era a filha perfeita e agora parece outra pessoa.

Fui eu que notei as solas ensanguentadas de seus pés, como se Lydia tivesse perdido os sapatos já fazia tempo.
E foi a mim que ela dirigiu as primeiras palavras depois do retorno.
Lydia perdia e recobrava a consciência com os lábios sempre pálidos, porém se manteve desperta por um momento precioso em que seus olhos encontraram os meus e me pareceu que ela estava de volta ao corpo.
Não valeu a pena – ela disse com a voz áspera.
O quê? – sussurrei.
A vela ao lado da cama bruxuleou.
O acordo. – Seus olhos arregalados pareciam implorar para que eu a escutasse. – Não valeu a pena.

E aqui começa realmente a trama, com a chegada a hora de Ivy debutar. Mas ela tem um plano: seu acordo será para desfazer o acordo que a irmã fez com a Rainha. Ivy tem certeza absoluta que o sumiço da irmã tem algo relacionado com o acordo feito com a Rainha Mor, e seu plano é simplesmente pedir para a Rainha desfazer este acordo que ela sequer sabe o que foi, mas claro que ela é surpreendida com a nova decisão da Rainha de criar este “concurso” para deixar o filho escolher sua noiva no final. As jovens que não quisesse participar do concurso podiam continuar sua temporada normalmente, fazendo o acordo com a Rainha e tentando conseguir um bom marido. Ivy sabe que tem muitas chances porque a família não iria ser convidada para nada naquela temporada (párias, lembram?) e estavam pretes a perder a casa na qual viviam, então a decisão de participar vem fácil e ela é a primeira a assinar o contrato com seu sangue.

Logo de cada, a Rainha faz uma “pequena” prova com uma dança com fita, sendo que a ganhadora ganhará uma coroa e somente as 6 primeiras das 24 que assinaram o acordo serão realmente consideradas para se tornarem noivas do Principe Bram. Ivy sente que precisa salvar a família porque sempre foi a sonhadora, enquanto Lydia, até seu sumiço, era a filha perfeita. Sem saber como realmente lidar com o sofrimento da mãe, a falta de palavras do pai e a mudança da personalidade de Lydia, tudo que Ivy quer é resolver a vida da família, nem que tenha de se sacrificar em um casamento feito por dinheiro e abra mão de sua própria felicidade. Mas o ponto aqui é que nem sempre as melhores das intenções realmente nos levam a tomar as melhores decisões. E tudo que falei e expliquei aqui não chegamos nem até a página 60 do livro – acredite, há tantas tramas nesse livro que me peguei questionando como que tudo isso aconteceu em um único volume.

Escrevo as palavras que Pretendo dizer à rainha uma última vez, para gravá-las na memória, depois jogo o papel na lareira.
Caio em um sono agitado e sou acordada pelo chilrear dos pássaros. Eu me viro na cama e olho para o céu azul da manhã de primavera londrina. Uma estranha sensação nas articulações dos tornozelos me diz que minha vida vai mudar hoje.
As palavras de Lydia ecoam na minha mente. Não valeu a pena. O acordo.
Não sou minha irmã.
Vou garantir que meu acordo valha a pena.
Quando se faz um acordo com um feérico, é preciso estar preparada para pagar o preço. O lado positivo é que não tenho nada a perder.

A partir daqui, acho que qualquer coisa que tente explicar em frases exatas será spoiler, então tentarei falar sobre a trama no geral, sem mais nada especifico, e o que tenho pra falar é que este livro é realmente uma montanha-russa de sentimentos e tramas. Quando terminamos uma etapa da trama, eis que chega outra mostrando que há muitas pessoas que detestam a Rainha Mor, que é uma tipica Rainha Féerica, brincando com seus súditos e com todas as garotas que a procuram para fazerem seus acordos – o que ela não contava é que talvez o perigo para ela fosse vir de onde ela menos esperava.

Toda mitologia dos féericos aqui é muito, muito interessante, mas também muito misteriosa: havia a lenda de que havia uma porta que ligava os mundo, mas ela estava fechada e que nenhum outro féerico poderia vir de lá para cá, mas, de alguma forma, há alguns anos, Bram passou pela porta, chegando na corte e se juntando a mãe. O relacionamento de Bram e Emmett também é fraternal e completamente realista para dois irmãos, e a medida que os dois vão tomando péssimas escolhas durante a narrativa, quem lê começa a criar teorias. E sim, acertei sobre a grande reviravolta do livro e acho que muitos que lerão também irão, mas aqui, quando aconteceu, não deu aquela sensação de “Já sabia, né?” e foi um belo de um “EU ACERTEI, CARAMBA” – e vamos ser sinceros, existem poucas mais deliciosas do que essa sensação quando se está lendo um bom livro e isto acontece. As tramas palacianas, as intrigas, os segredos, tudo isso acontece sem parar aqui e não há um único capitulo que seja enrolação porque há coisa demais acontecendo, o tempo todo, e a escrita é realmente boa a ponto de sabermos identificar quando o pov muda: em sua grande maioria vemos a trama pelos olhos de Ivy, mas temos outros pontos de vista de determinadas personagens importantes para a trama, como Lydia, Marion, Faith, Greer, Emmy, Olive e, claro, Emmett. São capítulos pontuais para que possamos nos afeiçoar mais ainda as personagens, de curto tamanho, mas precisamente colocados onde estão.

A Inglaterra ficou em choque quando ele chegou à corte do Outro Mundo quatro anos atras. aos catorze. Ninguém sabia que a rainha tinha um filho. Um dia, ele apareceu com uma bela casaca de veludo verde e um sorriso tão largo que encantou a todos em menos de uma semana.
Embora nosso conhecimento do Outro Mundo seja escasso, sabemos que o tempo corre diferente para os imortais que o habitam. Quatrocentos anos aqui não passaram de dez anos para Bram.
Sua presença na corte nos últimos anos pareceu derreter um pouco o gelo da mãe. Ela às vezes se permite um sorriso, e os acordos se tornaram um pouco menos sangrentos.

E o grande trunfo de “O Acordo das Rosas” está nos personagens. A trama em si, toda rasteira que féericos dão em humanos e toda trama dos humanos contra os féericos não é nada novo, mas como todas personagens são bem construídas e nos fazem realmente nos importar com o que está acontecendo que nos leva a ficar colados nas páginas, tentando terminar o mais rápido possível para saber como tudo irá terminar. O relacionamento de Ivy e Lydia é um dos principais da trama, a forma como elas eram tão próximas e depois começaram a se tornarem diferentes, Ivy a sonhadora e Lydia a filha que não fazia nada de errado, e a desconstrução de todo relacionamento junto com a saudade que Ivy sente da irmã é um ponto realmente bom. Há também outro relacionamento muito bom entre Ivy e Greer: elas eram melhores amigas até a família Benton cair em desgraça. Há outros romances, com Olive sendo apaixonada por alguém que não podíamos esperar e há sim, uma grande reviravolta, como já falei acima. Sinceramente, mal posso esperar pelo segundo livro, ainda sem nome, que será lançado ano que vem, e que ele responda algumas perguntas que ficaram em abertas sem que parecessem tão importantes assim, mas aposto que serão, sem contar do final e da forma como terminou.

Este não é o primeiro livro de Sasha Peyton Smith, que já escreveu a duologia “The Witch Haven”, inédita aqui no Brasil e a autora faz playlists para os personagens e até um para o segundo livro que ela está escrevendo, tudo com link lá no perfil dela no IG. O fato é que gostei tanto deste livro que estou tentando encontrar tempo para a ler a duologia inédita dela aqui no Brasil, e é aqui em nosso país que “O Acordo das Rosas” está sendo publicado pela Editora Seguinte em uma primeira edição especial: a contra capa há uma parte que consegue envolver o livro, o deixando com parte da pintura de rosas ao redor dele, então corre pra garantir o seu que ainda há exemplares dessa edição. Adorei a ideia, e a Editora, que já coloca marcadores em todos seus livros justamente ali na contracapa (só precisamos cortá-los) deveria fazer isso mais vezes porque ficou maravilhoso. Enfim, se você gosta de fadas, cortes, tramas e romantasia, pode se jogar neste livro que ele não vai te decepcionar, mas se preocupe com o acordo de cair neste mundo porque ele pode te prender até você terminar a última página de uma única vez.

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