Resenha: Em sintonia – Jéssica Anitelli
Sinopse: Felipe não vê a hora de reencontrar os amigos depois de longos meses trancado em casa por conta da pandemia de covid-19. O problema é que o ano letivo dele tem tudo pra ser um desastre.
Pra começar, seus pais trabalham no colégio e vão estar por perto quase o tempo todo. Além disso, a relação entre as turmas, que já não era das melhores, está ainda mais tensa ― e o 3º A, liderado por Kevin, está determinado a pregar diversas peças na sala de Felipe para fazer os rivais passarem vergonha. Em meio a tudo isso, seu grupo de amigos precisa lidar com a pressão do vestibular e com os mais diversos dramas. E a cereja de bolo: a nova aluna, Anita, não vai nem um pouco com a cara de Felipe… Mas também, que diferença isso faz?
Quando as provas começam, Felipe não vê alternativa a não ser recorrer à monitoria de química, e é lá que se aproxima de Anita. Aos poucos, a conexão entre os dois vai crescendo, e não demora para o garoto se dar conta de que está se apaixonando pela primeira vez na vida. Só que Anita tem assuntos mal resolvidos no passado, e talvez este novo sentimento não seja o bastante para eles ficarem juntos…
“Em sintonia” se passa no ultimo ano escolar de Felipe – ano esse que ele queria que fosse absolutamente perfeito, mas desde um dia antes de as aulas começarem, ele já suspeita que não será porque sua mãe será sua professora e, se isso não bastasse, seu pai será o coordenador do colégio, então além de estudar em dobro, ele terá que se comportar em dobro – o que não parece ser possível quando ele tem um arqui-inimigo no colégio, Kevin, que está mais do que disposto a fazer da vida dele e de seu grupo de amigos um verdadeiro inferno.
Não bastasse Kevin, ainda entra no colégio uma garota nova, Anita, que parece simplesmente odiar Felipe pelo fato de ele existir – e que faz uma amizade improvável com Kevin, para pavor de Felipe, porque agora eram duas pessoas que não o suportavam juntos, e com isso ele sabia que esse ano não só não seria calmo, como seria ainda pior do que qualquer ano anterior. Claro que a gente não pode deixar de mencionar aqui o quanto Felipe é dramático, como um garoto normal do ensino médio, mas vou falar mais sobre ele depois.
“Por que eu não tinha o direito de errar como qualquer adolescente branco? Até quando toda a minha vida, até meus erros, seria ditada pelo racismo?”
Depois de um começo conturbado com Anita, Felipe passa a conviver mais com ela quando precisa de aulas de reforço de química, ele percebe que Anita não só não odeia ele, como também é uma pessoa completamente diferente do que ele pensava.
Não demora muito para toda aquela implicância que ele tinha com a garota se transformar em algo mais e ele notar que está se apaixonando por ela, mas simplesmente não sabe como dar um passo adiante e talvez mudar o relacionamento amigável deles para algo mais.
“Entendo que ele seja uma vítima do machismo, mas todo mundo é. Ele escolheu o pior caminho.”
Como eu disse ali em cima: Felipe é muito dramático. Muito mesmo. Não é nada levemente dramático, é puro drama da cabeça aos pés. Eu imagino que seja pela idade dele, que é um adolescente entrando em sua vida adulta, talvez. Mas também não é um drama ruim ou um menino mimado: o drama dele é tanto que chega a ser cômico muitas vezes. A melhor coisa que o livro proporciona é mostrar pra gente o quanto ele evolui do menino do início do livro para o que chega no final.
A Anita é uma personagem cheia de camadas, na minha opinião. A gente nunca sabe muito bem o que ela tá pensando ou o que pode engatilhar nela uma resposta ruim, assim como o próprio Felipe não sabe, já como o livro todo se passa no ponto de vista dele. Eu confesso que me identifiquei um tanto com Anita na forma como ela lida com as coisas quando está magoada com algo.
“Algo me dizia que eu deveria estar feliz por ter saído por cima. Esse era o objetivo. Mas não era assim que eu me sentia.”
Além dos dois, o livro nos oferece diversos personagens secundários: João, Rodrigo, Cadu e Lorena. E todos eles têm suas próprias histórias dentro da história de Felipe: alguns lidam com os pais, alguns lidam com uma paixão por um amigo, alguns lidam com questões de sexualidade e todos eles tem algum momento no livro que tem o foco completamente puxado pra ele – tudo do ponto de vista do Felipe, claro.
Mas além dos amigos do nosso protagonista, tem Kevin, aquele que tem uma relação de puro ódio com Felipe e com todos os amigos do Felipe, menos com Anita, que parece ser a única pessoa com quem ele se abre realmente. E é Anita quem faz toda diferença na vida dele, que não vou entrar em detalhes porque seria spoiler demais.
“Muitas fotos e risadas depois, ela assoprou a chama.
– Pediu para o ex-presidente ser preso? – João a cutucou.
– Lógico que não. Pedi isso pra toda a família dele.
A mesa toda riu.”
Toda a história se passa nos meses do último ano escolar e na preparação para vestibulares, para as faculdades que eles decidem ir no futuro. E eu confesso que provavelmente foi aí que o livro não me pegou muito: eu não me identifico mais com isso, mas também é por minha causa que já não tenho mais a idade do público-alvo do livro.
O relacionamento de Felipe e Anita é muito lindamente construído e essa provavelmente foi uma das coisas que eu mais gostei no livro. É bom ler um romance jovem e leve, com alguns dramas no meio, mas que prevalece no final.
Eu indico bastante esse livro para quem gosta de histórias assim – e quem se identifica com elas, Jessica fez um ótimo trabalho ao nos transportar diretamente para a escola novamente.
Para comprar “Em sintonia” basta clicar no nome da livraria: