Resenha: Depois do fim – Katy Upperman
“Depois do fim”
Katy Upperman
Tradução: Lígia Azevedo
Arte de Capa: Fernanda Mello
Seguinte – 2025 – 352 páginas
Lia e Beck foram feitos um para o outro. Pelo menos foi isso o que uma vidente contou para a mãe de Lia, antes mesmo de a garota nascer. Com a certeza de um amor escrito nas estrelas, eles mal podiam esperar por todos os anos que passariam juntos. Mas o que não sabiam é que a previsão só garantia o “felizes”, mas não o “para sempre”: aos dezoito anos, Beck morre de maneira inesperada, e a vida de Lia perde totalmente o sentido.
No entanto, o luto pela perda de seu grande amor também apresenta novos caminhos para ela e, mesmo em meio à dor, Lia percebe que a vida ainda pode reservar boas surpresas. Ao dar uma chance para seu coração, ela descobre que é capaz de decidir o próprio destino, mesmo depois do fim.
Vou começar esta resenha sendo brutalmente honesta porque acho que, talvez, a sinopse do livro afaste algumas pessoas que pensem que o livro trará muito sofrimento. Não é o foco da trama. Claro que há sim, toda perda e luta de Lia por Beck, mas a jornada dela neste livro é de realmente se redescobrir e começar a entender o que fará com o resto de sua vida sem aquele que pensava que era a sua alma gêmea, então se você está procurando um livro profundo sobre luto, não é “Depois do fim” que você deverá ler. E isso, de focar no renascimento de Lia, uma jovem de 17 anos, é justamente o ponto forte e fraco do livro.
A morte não tem remédio, pois é permanente, perpétua.
Foram as palavras que o pastor usou no funeral. Ele estava falando do amor da comunidade por Beck, mas enquanto eu olhava para o caixão do meu namorado — cercada por flores, ao lado dos meus pais quase chorando, Bernie e Connor chorando de fato na primeira fileira, cada um com uma das gêmeas no colo, duas crianças pequenas desesperadas para ter o irmão de volta —, era difícil pensar em amor.
A perda é permanente, perpétua.
A história mostra Amelia “Lia” Graham e sua família, composta por seu pai e sua mãe, se mudando para a cidade de River Hallow, no estado do Tennessee, da morte de Beckett “Beck” Byrne durante o sono, com uma parada cardíaca fulminante durante o sono. Jovem, atleta e com toda a vida pela frente, a morte de Beck parecia sem sentido e completamente devastadora para o pai, Connor, a mãe Bernie, e as duas irmãs gêmeas pequenas do jovem, Norah e Mae, mas também afetava diretamente a família de Lia, já como as mães eram melhores amigas desde a faculdade.
É interessante porque a trama abre justamente com um prólogo com a mãe de Lia indo até uma vidente em um parque de diversões que teve a sorte (ou não) de prever muito da vida da jovem: de quando o pai dela iria morrer até quando ela conheceria o cara de sua vida, que viria a se tornar pai da sua filha, Cam. Durante essa “profecia”, a vidente viu que a filha de Hannah teria uma pessoa destinada a ela: o filho de sua melhor amiga. Anos se passam e Hannah e Bernie se casam com oficiais do exercito, e entre mudanças mil, os filhos se aproximam e se apaixonam, exatamente como a vidente previu. Mas aqui começa uma coisa que me incomodou bastante durante a leitura: será que a vidente acertou realmente ou condicionou as mães, já tão amigas e realmente torcendo para os filhos ficarem juntos, a forçarem um pouco isso a acontecer? Lia acredita que não, que ela e Beck realmente se amavam, e termina que nós, leitores, somente podemos questionar e ficar com a duvida no ar.
— Ah, Lia. Espero que você trilhe o caminho que escolher. Você pode fazer qualquer coisa. Pode ser qualquer coisa.
Balanço a cabeça.
— O plano é ser professora. E estudar na cvu.
A postura do meu pai fica firme quando o temperamento de guerra assume o controle.
— Planos mudam — diz ele, áspero.
— Nossa, pai, acha mesmo que eu não sei disso?
É como se minhas costelas comprimissem meus pulmões e meu coração. Olho para minhas pernas, fico retorcendo o guardanapo de pano e me perguntando como fazer com que ele… com que eles entendam que abrir mão do meu destino seria o mesmo que trair Beck.
— A vida é aleatória, cruel e totalmente injusta. No passado, a parte mais importante do meu plano foi roubada. É tão errado assim me agarrar ao que resta?
— Não — diz meu pai. — Mas seja sensata. Não tem nada esperando por você na cvu. Nada além de tristeza e um sentimento equivocado de obrigação.
A narrativa não acontece em linha cronológica, com Lia agora morando em uma nova cidade, em um novo colégio, tendo deixado tudo para trás, para tentar juntar seus cacos e recomeçar. Com capitulos indo e vindo no tempo, mostrando como os dois começaram a namorar até o fatídico dia de sua morte, ao grupo de amigos que Lia está construindo em sua nova cidade, somos também apresentados a Isaiah, um jovem com um passado bastante tocante que também está tentando encontrar seu lugar em um mundo que parece lhe ser muito hostil e duro.
Lia está tão determinada a seguir os planos que tinha com Beck que não pensa em se inscrever para qualquer outra universidade, somente considerando ir para a universidade, a Commonwealth of Virginia University, que era a faculdade dos sonhos dele e que tinham combinado de cursarem ao mesmo tempo, e se tornar professora. Parecendo desesperada e a deriva, Lia também se ressente da mãe porque ela sempre contou sobre a tal profecia da vidente, mas nunca lhe garantiu o “para sempre”, o que agora fazia toda diferença do mundo. Enquanto vai tentando a se aproximar novamente dos pais e de Bernie, a mãe de Beck, a quem tinha como uma segunda mãe, Lia vai também abrindo seu coração para as novas amigas Paloma, Meagan e Sophia e também, quem sabe, uma nova perspectiva na vida – e um ano amo, completamente diferente do que já teve antes.
— Você devia falar mais sobre ele — diz Meagan.
— Eu sei. Mas… ainda é difícil.
Ela prende uma mecha de cabelo recém-pintado de rosa atrás da orelha.
— Por um tempão depois que minha mãe morreu, tive dificuldade também. Agora, quando falo sobre ela, é como se carregasse uma tocha. E mantivesse seu espírito vivo.
— Meagan me disse a mesma coisa no ano passado — Paloma comenta —, quando meu abuelo morreu. E me fez desabafar. Aí as coisas foram melhorando.
Meagan sorri e sopra um beijinho.
— Sou a Rainha do Luto.
“Depois do fim” é um livro que termina sendo leve porque não aborda os assuntos que trata da forma mais dolorosa e pesada possível, e quando consegui entender isso, aproveitei bem mais a narrativa, já como estava esperando um livro bastante intenso e repleto de dor, que mostra que há sim, muita cor depois que o mundo se torna cinza por um tempo, e o luto vai cedendo a medida que você continua vivendo. Parece cruel dizer isso, mas é verdade: você aprende a continuar vivendo depois de perder quem você ama e este livro é mais um que mostra isso.
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