Resenha: Uma maldição cravada em osso (Saga dos sem destino #2) – Danielle L. Jensen
“Uma maldição cravada em osso”(Saga dos sem destino #2)
Danielle L. Jensen
Tradução: Flávia Souto Maior
Seguinte – 2025 – 408 páginas
Os poderes de Freya são muito maiores do que todos imaginavam, e o rastro de morte em seu caminho parece inevitável. Desesperada para evitar esse destino sombrio, ela arrisca uma aliança com o maior inimigo de Skaland, visando obter respostas da vidente que previu seu futuro ― a mesma que enviou Bjorn para matá-la.
Enquanto a jovem ainda ferve de raiva pela traição de Bjorn, o juramento de sangue a obriga a mantê-lo sempre por perto enquanto busca uma maneira de evitar a guerra iminente. À medida que o conflito se aproxima, deuses e mortais devem escolher suas armas. A batalha mais feroz, porém, será travada por Freya dentro de si mesma. Com a magia de duas deusas queimando em suas veias, ela terá que decidir entre se tornar o escudo de seu povo ― ou levá-lo ao inferno.
Essa resenha é sobre “Uma maldição cravada em osso”, o segundo e último volume da duologia “Saga dos Sem destino”, então se você quer saber mais sobre essa romantasia que usa a mitologia nórdica como plano de fundo, indico que você leia a minha resenha sem spoilers de “Um destino tatuado em sangue”, o primeiro livro, clicando AQUI, porque está resenha conterá spoilers do volume prévio, mas não deste. Seja como for, já te dou a dica, de cara: leia. Só leia essa romantasia. Sério. Leia.
Se você gosta de romantasia (aquele subgênero da fantasia no qual o romance guia a trama) e não conhece ainda a autora Danielle L. Jensen, você precisa rever seus conceitos. Não vou dizer que sou a maior fã de romantasia e gosto de romances construídos com calma e tempo, mas a Danielle tem entregado alguns dos melhores romances dentro da fantasia que tenho lido nos últimos tempos. Com um controle muito grande do romance e do esperamos de um homem escrito por uma autora, ela me lembra porque prefiro fantasias escritas por mulheres. Algumas coisas são realmente feitas sob medidas para você se apaixonar pelos protagonistas masculinos dela (há vários livros dela resenhados aqui no site e você pode ler as resenhas sem spoilers clicando AQUI) e até me fez fez questionar brevemente à certa altura da leituraporque essa série seria somente uma duologia porque material para mais ela tinha, mas a sua escolha parece ser também acertada para não se prolongar demais. Dito tudo isso, vamos falar sobre Freya e a fúria do dragão que ela começa esta trama.
— Que decepção vai ser — gritei mais alto que o trovão e as águas enfurecidas — se todas as suas tramas e seus esquemas não derem em nada porque nos afogamos no mar!
Todos a bordo olharam feio para mim, mas a expressão de Tora transmitia pouca ameaça, dado que um jato de vômito irrompeu de seus lábios durante o processo. Eu ri e me recostei no casco, onde estava sentada debaixo de uma pele de foca impregnada da minha magia para evitar que a água penetrasse.
— Ou talvez nem seja uma morte tão gloriosa como ser levado por Njord, mas uma morte por virar o estômago do avesso no convés. Já ouvi histórias grandiosas sobre a ferocidade dos nordelandeses, mas isso é de dar pena.
Quero deixar claro que Freya tem todos os motivos do mundo para estar com tanta raiva de Bjorn quando a trama deste volume começa, já como ela acredita que foi traída (e foi) pelo homem que estava apaixonada e que, por acaso, vem a ser o filho do seu marido. Confesso que ao ler a sinopse do primeiro livro, foi uma coisa que me fez ficar meio “hm” porque não sou nada fã do plot de traição (ainda mais envolvendo parentes) mas fui fisgada pela trama nórdica, e aqui aproveito para deixar todos tranquilos, caso tenham a mesma preocupação que eu: Freya e seu marido Snorri realmente são somente casados no papel e nada acontece entre eles. Problema superado, o que me rendeu grandes criticas também à “Um destino tatuado em sangue” foi o romance entre Freya e Bjorn porque senti que foi focado em fisico – ela linda, ele gostoso. Nada contra personagens lindos e gostosos, mas senti que faltou construção, e aqui não posso dizer que foi sanado, mas achei bem melhor construído, e se levarmos em conta que é somente uma duologia, tudo fica explicado.
Então comecei este volume esperando algumas correções na trama, mas me peguei em uma trama que começa bastante acelerada no sentido de me perder: muita ação, barcos, pessoas vomitando e Freya com ódio. O problema é que o ódio de Freya não estava passando e, novamente, estamos em uma duologia, ou seja, ela não tinha tantas páginas para ficar com raiva assim. O primeiro terço do livro foi justamente Harald, o pai não biologico de Bjorn, que ele ama e acredita estar traindo Freya por ele e um bom motivo, e Bjorn se convencendo de que Freya poderia falar com Saga, a mãe que Bjorn acreditava estar morta e não estava e efetivamente indo até a mulher. Só que a partir dai, o livro realmente engata de um jeito que me pegou de jeito e sequer esperei.
Porque eu era Freya Nascida do Fogo. Filha de Hlin. Filha de Hel.
E teceria meu próprio destino.
Freya é o grande ponto alto do livro e qualquer leitor consegue admitir isso. Agora ela já sabe que é filha de não só uma, mas duas deusas, e agora está realmente disposta a usar o poder de Hel para fazer o que tem de ser feito e confesso que todas as cenas que Freya deixa seu poder a controlar, a raiva saindo por cada poro, são as melhores partes dos livros. Toda ação e lutas já são mais do que esperadas, mas a forma como Freya começa a pedir pela concessão dos poderes é inesperada, culminando em uma cena que faz o leitor entender que a trama ainda guarda algumas surpresa porque não poderia terminar tão cedo – e tão fácil – assim.
E dito e feito porque realmente há reviravoltas. A primeira, confesso que adivinhei, mas as outras não – e deixo claro que a terceira realmente é uma explicação ótima para o que parece ser um furo no roteiro. Essa explicação foi tão perfeitinha e redondinha que fica claro que foi algo planejado pela autora desde o começo, e por isso cedo tantos elogios a Danielle. Algo que pareceu simples, com pequenas pistas nos dois volumes, mas que terminou casando com tanta perfeição que acho que ela criou a história ao redor desta reviravolta. No resumo: Snorri e Harald continuam tentando se matar para unificar o trono e Freya ainda continua com a sombra da profecia de Saga sob si, com aquela coisa toda de “quem a controlar, controlará o destino de todos”. Bjorn parece começar a se questionar cada vez se isso precisa ser assim e confesso que não queria que o papel dele roubasse o protagonismo de Freya, coisa que fiquei aliviada ao fim da narrativa.
— Você não é meu inimigo, pai. Mas as coisas mudam.
— Ah, sim. As coisas. — Harald fez uma careta. — Coisas tipo a dama do escudo se revelando uma mulher de beleza incomparável? É muito mais fácil matar pessoas feias, não é? Se Freya tivesse cara de bunda de cavalo, não tenho dúvidas de que você teria feito a vontade de sua mãe sem hesitar, mas olha só no que deu. Snorri vivo. Freya viva. A ameaça contra Nordeland tão real quanto antes porque nossos destinos são imutáveis. Tudo por causa de um rostinho bonito.
— A aparência dela não teve nada a ver com isso. — Era mentira, porque eu me lembrava da primeira vez em que coloquei os olhos em Freya. Como a luz do sol havia iluminado a raiva em seu rosto enquanto ela resgatava um peixe atrás do outro depois do ataque de fúria de Vragi, tudo na postura dela gritando desobediência. Bonita, sim, mas a ferocidade era o que havia me levado a atravessar o fiorde para falar com ela. Usando um vestido simples, sem nenhuma arma além das palavras, Freya tinha sido mais brutal do que qualquer guerreiro que eu já havia encontrado no campo de batalha. — Matá-la me pareceu errado — murmurei, incapaz de explicar meus motivos de uma forma que não resultasse em zombaria. — Por que ela deveria morrer pelos crimes de Snorri?
Já mencionei que em determinadas partes da narrativa me questionei se não teria sido melhor 3 livros e não só um, porque há uma parte que Freya faz o imaginável e que teria sido um gancho incrível como o final de segundo livro, a incerteza do que viria pela frente, mas entendo que o mercado editorial mudou e hoje em dia dois livros são mais comercializados do que grandes séries, só fico me perguntando se teria me apegado mais ao casal principal se houvesse tempo para a construção de um romance lento, ainda mais com tantos obstáculos que os dois enfrentam em apenas 2 livros.
Uma coisa que acho que duologias nos roubam são personagens coadjuvantes complexos. Sem tempo, as autores não se focam em fazer personagens que tem muito para contar e explicar sobre suas personalidades, dando explicações que terminam sendo rápidas e que poderiam servir bastante. Uma reclamação pessoal minha, mas entendo que duologias são realmente para serem mais rápidas e aqui, mesmo Geir tendo um momento de roubar a cena com toda a trama e escolha de Freya, ele termina sendo somente uma ajuda pontual para uma trama que acontece coisas demais, do jeito que muitos leitores querem atualmente, e sim, a maior parte dos holofotes se voltam para Freya e Bjorn.
— Ela é perigosa. — Os olhos de Harald passaram dos guerreiros que se aproximavam para Freya, que estava à beira d’água sob o olhar atento de Tora. — Tem não apenas o poder de matar, mas de mandar almas para sua mãe divina em Helheim. Guerreiros que riem da cara da morte vão fugir de Freya, pois ela tem o poder de lhes negar Valhalla. Mas sabe que não é isso que mais me aterroriza nela. — Ele ficou em silêncio por um longo momento antes de acrescentar: — É a raiva que ela sente.
Como se ouvisse nossas palavras, Freya girou o corpo, e mesmo do outro lado da faixa de areia e entre as árvores, não havia como confundir o brilho vermelho de seu olhar. Os cabelos loiros, de coloração clara, caíam soltos até a cintura, emaranhados e opacos devido à água do mar e ao vento. Não fosse pelo fato de ela ter pernas em vez de um rabo de peixe, eu a compararia com uma havfrue, que diziam atrair marinheiros descuidados para a morte. Embora, na verdade, mesmo desarmada como estava, Freya fosse muito mais perigosa.
Falando sobre o casal, Bjorn cresceu como personagem agora que temos mais acesso a seus pensamentos profundos e o seu desespero para salvar Freya, mas, ainda assim, não o colo entre meus personagens protagonistas masculinos favoritos, mesmo ele sendo descrito a exaustão como sendo tão gostoso e bom de luta, afinal, o vemos pelos olhos de Freya. A trama aqui trouxe profundidade para o pobre coitado, já como as reviravoltas estão diretamente ligadas a ele que termina reagindo a uma trapaça que caiu – e aqui, façam as contas sobre “trapaça” e mitologia nórdica. Nada mais direi sobre quem pode ser filho de quem.
O quarto final do livro foi o que me fez termina a nota em quatro e meio estrelas. Em grande parte da trama, acreditei que daria três estrelas e meia e quando a primeira reviravolta veio, aumentou para quarto, mas toda batalha final, tudo que Freya faz, todos os sacrifícios e, principalmente, o epilogo (que é perfeito!) me ganhou o coração de vez. Não vou dizer que foi uma duologia que ganhou um lugar especial no meu coração, mas me fez pensar bem mais em outros temas que ainda não foram explorados em fantasias, então se você quer algo realmente novo, que lhe dê prazer de ler e, principalmente, com grandes cenas de lutas e uma mocinha que luta sem parar, pode se entregar a essa duologia sem medo.
“Uma maldição cravada em osso” ainda está em pré-venda e será lançado amanhã, dia 16 de setembro. Aproveite para garantir seu exemplar clicando no nome da livraria:
