Um trecho do capítulo 2 de “The Last King of Faerie”
Esse é um pequeno trecho do segundo capítulo de “The Last King of Faerie” que foi distribuído na turnê em que Cassie está divulgando “O Rei dos Ladrões”. O primeiro capítulo já foi traduzido pela nossa equipe e vocês podem lê-lo AQUI.
No sonho, Kit estava no meio da guerra.
Não era a primeira vez que ele estava em uma batalha. Em Idris, ele lutou nos Campos Eternos. Ele viu homens e mulheres, Caçadores de Sombras e lobisomens, feiticeiros e fadas, morrendo na grama ensopada de sangue. Ele ouviu seus choros.
Mas essa guerra, a guerra do sonho, era diferente. Parecia ser no final do mundo.
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Era uma terra devastada. Sem água, sem terra macia, sem arvores. Apenas um deserto rachado na frente de Kit por milhas e milhas, e a terra estava cheia de corpos. Não tinha nenhum som, nenhum vento; apenas o movimento de um flash de luz na distância.
Kit se moveu em seu estado adormecido. Ele sabia que estava dormindo, e estava agradecido por isso. Ele não achava que sua mente acordada conseguiria aguentar essa cena que parecia um jazigo; a areia estava molhada de sangue, e se não fosse um sonho, ele tinha certeza, o cheiro seria insuportável.
Ele passou por grandes pedras de granito, e entrou em um lugar menor, pressionado entre dois penhascos altos. Ali estava um homem de preto, com um casaco preto e ao seu lado estava uma espada prateada, sua lâmina suja de sangue. Ao redor dele circulava uma magia visível, fios pretos e cinzas que pareciam rodeá-lo e dissolver no ar.
Suas costas estavam viradas para Kit. Mas Kit sabia, com uma certeza que só era possível em sonhos, que era ele. Quem causou tudo isso, toda essa morte, esse massacre. Raiva cresceu dentro dele. Ele não conseguia desfazer tantas mortes, mas ao menos ele poderia matar esse monstro antes que causasse mais destruição.
“Vire-se”, ele falou, sua voz ecoando nas paredes de pedra. “Vire-se e olhe para mim.”
O homem ficou tenso, então virou. Seu casaco preto girou em torno dele como se fosse mais magia; seus cabelos escuros passavam dos ombros, e seu rosto cicatrizado estava pálido.
Um familiar olhar cinzento se fixou em Kit.
“Você veio”, Ty Blackthorn falou.
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Kit se sentou ofegante, agarrado em seus cobertores. Seu coração estava acelerado, e pânico crescia nele, um pavor pesado e sombrio. Ele moveu a mão direita descontroladamente e ela atingiu a mesa de cabeceira, fazendo com que uma dor subisse pelo braço dele. A dor ajudou a clarear sua mente. Kit afastou os cobertores de seu corpo – seu pijama grudado com o suor – e saiu da cama. Seu quarto estava escuro, mas tinha luz o suficiente pela janela para que ele pudesse se mover no espaço familiar. Cama, cômoda, cortinas, posters na parede. Ele estava em seu quarto em Cirenworth, não em uma terra desolada cheia de corpos. Ele não estava em batalha; ele não esteve em batalha por anos. Muitas coisas mudaram desde então.
Mas não tudo, disse uma voz pequena no fundo de sua cabeça. Você ainda sonha com Ty.
Kit disse ao sussurro em sua cabeça para calar a boca e foi pegar uma jaqueta no gancho perto da porta. Ele colocou os pés em um tênis e quase saiu batendo a porta do quarto antes de se lembrar que o barulho acordaria Mina. Ele fechou a porta silenciosamente atrás dele.
Não era a primeira vez que ele tinha um sonho como aquele. Enquanto Kit caminhava pelo corredor que levava às escadas principais, se lembrou de contar a Jem sobre seus sonhos perturbadores; Jem havia respondido que muitos Caçadores de Sombras tinham esses pesadelos, e que teve os seus quando era jovem – sonhos com Londres destruída, de fogo e criaturas mortais de metal. Ele havia lembrado a Klt que a destruição de Londres não havia acontecido, e que tais sonhos não eram profecias.
Mas isso só ajudou na calada da noite, quando as sombras avançavam como um véu escuro e pesado. Kit parou na porta do quarto de Mina e olhou para dentro. Ela estava dormindo sob seu cobertor com estampa de pato, o polegar na boca dela, e por um momento ele apenas olhou para ela, deixando-se sentir o amor protetor que sempre sentia quando estava com Mina, e a sensação de ansiedade diminuiu quando viu que ela estava bem.
Mas a inquietação o levou a se afastar, passando pelo quarto de Jem e Tessa e descendo os degraus. Ele saiu pela porta da frente e se viu do lado de fora, na primavera. Estava frio e úmido – a Inglaterra era muito mais úmida do que Los Angeles, onde ele cresceu – e cheirava a terra e grama. Ele começou a vagar pelo jardim da frente, mantendo um olho atento para o golden retriever fantasmagórico que às vezes o acompanhava em caminhadas.
À distância, no fundo do jardim, antes que se transformasse em uma estrada de terra, ele podia ver o tênue brilho das proteções que cuidavam de Cirenworth. Que o protegiam. Se ele não fosse quem ele era, se ele viesse de uma linhagem diferente, tivesse uma Herança diferente, não haveria perigo ali.
Kit frequentemente desejava ter nascido outra pessoa, com ancestrais diferentes. Por direito, ele sabia, ele havia herdado uma magia poderosa. O que infelizmente não era muito bom quando você não sabia como usá-la, ou mesmo o que ela fazia. Se ele fosse outra pessoa, eles estariam falando agora sobre ele ir para a Academia dos Caçadores de Sombras como Dru, mas isso nunca foi uma opção para ele. Ele se sentia mal o suficiente por colocar sua família adotiva em perigo. Ele não estava prestes a fazer isso com uma escola inteira. Ele havia chegado ao fim do jardim, onde as proteções zumbiam, emitindo seu brilho fraco. Além delas havia uma estrada rural e outro prado, pontilhado de bosques de árvores. Kit já havia caminhado até lá com bastante frequência, mas não à noite. Não sozinho. Por mais que ele quisesse passar pelas proteções, seria tolice fazê-lo.
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Na ponta do mundo, a lua estava baixa, saturando os campos com luz prateada. Enquanto Kit, mãos nos bolsos, olhava para a vista, algo chamou sua atenção.
Ele se aproximou um pouco mais das proteções, o suficiente para fazê-las crepitar em um aviso. Semicerrando os olhos, ele pôde ver que algo havia sido colocado na grama do prado. Pilhas e pilhas de – nozes, parecia. Não era a estação para elas, mas lá estavam elas, organizadas em linhas, voltas e espirais organizadas. Organizadas, Kit percebeu quando deu um passo para trás, em letras.
Letras que soletravam uma mensagem. Uma única palavra, em uma língua morta.
INCIPIT.
Kit ficou muito quieto, o coração dele batendo forte. Ele sabia latim; todo Caçador de Sombras aprendeu, junto com grego antigo. Ele sabia que essa mensagem era para ele. Ele era o único com sangue de fada, e as fadas frequentemente enviavam suas mensagens através de bolotas. Embora isso talvez não fosse uma mensagem, Kit pensou, sua boca muito seca. Era outra coisa.
Um aviso. Lentamente ele sussurrou a tradução, baixinho:
“Está começando.”
[TRADUZIDO POR EQUIPE IDRISBR. NÃO USE SEM AUTORIZAÇÃO E SEM OS DEVIDOS CRÉDITOS.]
Fonte: Tumblr