Resenha: O mapa dos encontros – Isabella Mezzadri

“O mapa dos encontros”
Isabella Mezzadri
Arte de Capa: Bárbara Tamilin
Paralela – 2025 – 440 páginas
Romance de estreia da astróloga Isabella Mezzadri, O mapa dos encontros é a história inspiradora e divertida de uma mulher que parte em uma viagem para se encontrar e acaba encontrando também o amor ― tudo com um empurrãozinho dos astros.
Olhando de fora, tudo parece perfeito na vida de Alissa. Afinal, com a parte pessoal e a profissional fluindo bem, o que mais ela poderia desejar? No entanto, prestes a completar trinta anos e enfrentando o temido retorno de Saturno, ela não consegue ignorar a sensação de estar vivendo uma vida que não lhe pertence.
Uma sequência intensa de eventos inesperados acaba sendo o estopim para que ela tome uma atitude. No impulso, Alissa compra uma passagem promocional para Londres, o primeiro destino do que será uma viagem de autoconhecimento. E, com apenas vinte dias para descobrir seu verdadeiro caminho, essa jornada definitivamente não pode envolver nenhum romance. Ela só não contava com um charmoso espanhol que insiste em cruzar seu percurso ― e com o fato de que a astrologia talvez seja a chave para se reencontrar em tão pouco tempo.
Alissa embarcará em uma jornada transformadora em que não apenas conhecerá mais do mundo, mas também de sua própria essência. E é possível que cada lugar, mapa, encontro e desencontro faça parte de uma dança cósmica perfeita para que ela enfim possa se reconstruir.
CONTEÚDO ADULTO
Vou começar divagando um pouco sobre o cenário da leitura antes de falar da trama em si deste livro, mas já quero avisar aquela velha máxima que já falei em dezenas de resenhas: livros não são unanimidades e alguns funcionam para algumas pessoas, e outros, não. E foi o que aconteceu comigo porque tudo que pensei enquanto ia terminando esta leitura é que um grande mal que está assolando a literatura atualmente é a falta de foco. E eu entendo que isso é causado pela velocidade dos tempos atuais: vídeos maiores foram substituídos por vídeos de curta duração, o acesso a informações estão a um clique de distância na palma de nossas mãos e até mesmo pesquisa para trabalhos escolares, que antes tínhamos de sentar e folhear livros se tornaram bem mais bem mais fáceis com pesquisas de internet. Isso é bom, claro que é, mas também está trazendo um movimento de aceleramento para livros, séries e filmes que atropelam o desenvolvimento.
Em contrapartida, algumas pessoas tentam também cobrir todos os tropes literários em uma única trama, tentando agradar todos e tudo ao mesmo tempo – e deixo claro que isso não é um movimento nacional, já vi isso em diversos fora daqui também (na verdade, parece ter vindo de fora para cá, mas não posso afirmar) e que terminam transformando o que poderia ser uma simples comédia romântica em um livro que quer mais denso com algo que não precisava. Nem todo livro vai mudar sua vida e você pode ler só para se divertir e era o que eu esperava com “O Mapa dos encontros”, uma comédia romântica fofinha sobre como os signos tem um papel em nossas vidas, até mesmo no levar até nossa alma gêmea. Mas o que recebi foi uma tentativa de misturar comédia romântica com um romance mais profundo que terminou patinando fortemente entre explicações sobre mapa astrais, signos e a influência dos planetas em nossa vida, terminando em uma sensação vaga de superficialidade.
Apenas dou risada, então começo a me ajeitar no assento para dormir também.
— Ah, e outra coisa — ela diz, e me viro na sua direção de novo. — Não fica chateada por ter esquecido seu Kindle. — Ela sorri, dando um último aperto reconfortante na minha mão. — Você está indo pra criar a sua própria história.
Não vou me demorar ao falar em breve linhas sobre a trama de Alissa: indo e vindo no tempo no começo da história e depois seguindo em linha cronologica correta, somos apresentado a nossa protagonista parada na imigração inglesa sendo salva – mas espera que voltamos no tempo e então vemos a nossa paulistana erradicada no Rio de Janeiro trabalhando como copywriter em uma empresa que suga a alma dela em um trabalho Pjotizado e com um noivo que parece incrivelmente legal, Alissa sente que algo está fora do lugar e tem uma crise de ansiedade que se transforma em uma crise de pânico e sai correndo do seu emprego depois de sua melhor amiga Sarah a incentivar. Andando pela rua, quase é assaltada e é praticamente salva por um espanhol lindo ao qual ela imediatamente à um viking.
Claro que tem algo muito errado com a vida de Alissa e ela descobre que seu noivo não era tão legal assim. A solução dela? Tirar 20 dias de “férias” do emprego e se manda pra Inglaterra, aproveitando passagens baratas. Claro que o destino está em movimento e logo ela dá de cara de novo com o tal Viking espanhol que ela achou lindo na imigração inglesa, e ele a ajuda. Mas nossa mocinha também encontra uma mulher no avião que entende bastante de signos, astrologia e mapas atrais – e assim vai sendo, todas as pessoas que Alissa encontra estão ligados em astrologia de alguma forma, ela inclusa. Rejeitando a astrologia fortemente, temos todo um passo para ela ter essa “magoa” dos astros, mas preciso ressaltar que essa parte do livro é realmente boa porque parece uma romcom vinda diretamente dos anos 2000 com uma trilha sonora feita pela autora que é bastante sólida. A forma como Alissa vai encontrando com seu espanhol é divertida, o humor nas cenas não são demais e promete algo leve, mas que vai mudar a medida que o tempo da protagonista na Inglaterra for se passando.
Quando os tremores começam a diminuir um pouco, ela diz, com a voz bem baixa:
— Fala de qualquer outro assunto, por favor. Me pergunta qualquer coisa.
— Eu… ok, calma. — Começo a vasculhar minha mente, ainda um pouco sonolenta, e me lembro do pedido dela um pouco antes de dormir. — Astrologia? É… planetas? — proponho, sem muita certeza.
— Perfeito! — Ela aperta minha mão com força. — Eu falo um pouco rápido quando estou nervosa, então presta atenção pra não perder nada. Nosso Sol é a nossa essência, mostra o que viemos desenvolver nesta vida, os sentidos em que viemos brilhar. — Mais um tremor do avião, ela respira fundo, então continua. — A Lua mostra nossas necessidades emocionais. Mercúrio, como aprendemos e nos comunicamos. Vênus, o que amamos e nos traz alegria, e o que buscamos no amor, assim como nossos valores e talentos. Marte, como agimos, começamos as coisas, nossos impulsos. Júpiter, em que sentido temos sorte e podemos expandir. Saturno, onde temos medos e bloqueios, mas, ao mesmo tempo, onde podemos nos especializar, ter disciplina, amadurecer. Urano é o nosso lado inovador, revolucionário, humanitário, tecnológico. Netuno fala de arte, ilusões, inspiração, espiritualidade. E Plutão, sobre cura, profundidade, morte e renascimento, transformação, poder. Devo estar esquecendo alguma coisa — ela afirma, com a voz tremendo, em contraponto ao avião, que está mais estável agora. — Fez algum sentido?
— Total sentido — digo, com sinceridade. — Foi um ótimo resumo. Não sou expert nem nada, mas diria que você está indo muito bem nos estudos astrológicos.
O romance com o tal viking, que na verdade se chama Nicolás “Nico” Rodríguez começa a se tornar real mesmo que Alissa não deseja se envolver com ninguém, mas aqui o livro começa a perder todo e qualquer traço de comédia romântica e começa a se tornar um romance mais denso, com tantas camadas que termina sendo confuso, como, por exemplo, a personagem Petra Kaminsky, a qual entra na história em um encontro aleatório em uma livraria astrológica chamada Astrology Shop. Petra é tipo a rainha dos astrólogos e não fica mais do que 2 meses em cada país, fazendo workshops pontuais, e seus fãs milagrosamente respeitam muito a privacidade dela. Petra não pode simplesmente querer viajar pelo mundo inteiro e ser alguém descolada, desapegada e leve – aqui ela precisa ter um passado que a fez querer fugir de algo e ser mais densa do que precisaria.
O mesmo acontece com o próprio Nico, que também tem seus traumas com seu pai – e que a Alissa também tem, já como seu pai é um homem que exige muito da filha e que fica profundamente decepcionado com ela terminar o noivado e ir viajar para juntar seus cacos (não posso nem dizer que isso foi irreal porque sabemos que há diversos tipos de pessoas no mundo e algo assim provavelmente deve acontecer com mais frequência do que gostaríamos), mas o fato é que o livro vai perdendo a leveza enquanto vai se enfiando em traumas e situações de conversas profundas – e calma porque preciso deixar claro que não me importaria se o clima do livro fosse este desde o começo. Sempre tento adequar minhas expectativas ao que vou ler (não posso esperar sustos em um livro de romance, assim como não posso esperar romance em um livro de terror) e meu problema com essa narrativa foi justamente a falta de escolha do que a trama seria: uma comédia romântica leve como quando Alissa sempre passa vergonha na frente de Nico no começo ou um livro tratando sobre superação de uma mulher que está completando 30 anos e, no fundo, não está satisfeita com sua vida? O clima do começo do livro é outro no final, e isso me incomodou bastante.
— Corazón, você definitivamente precisa treinar suas reações. — Ele guarda o celular no bolso. — Não pode fazer essa cara de assustada toda vez que alguém flertar com você. E precisa falar alguma coisa pra flertar de volta também.
— Ai, meu Deus. — Passo a mão na testa. — Não sei se consigo… acho que estou enferrujada demais.
— Não está, não. — Ele cruza os braços, e agora está bem na minha frente, então não tenho muita escapatória, com o mar e o fim da pista logo atrás de mim. — Tudo é treino. Vai, pensa em alguma e só solta pra mim.
Cruzo os braços também, refletindo por alguns instantes. Olho para o lado, para baixo, e então de volta para ele.
— Nico, eu acho que simplesmente não sou tão boa com as palavras.
— Alissa — ele fala pausadamente —, você trabalha com palavras.
— Eu sei, mas com palavras muito bem pensadas e então escritas, e para os clientes — explico. — Só que pra falar sobre mim, ou flertar… sei lá, acho que talvez eu seja melhor com olhares? — Balanço a cabeça. — Não sei, faz muitos anos que não preciso passar por isso. Que coisa difícil ser solteira.
— É mais fácil do que você imagina. — O canto da sua boca se curva para cima. — Mas vamos testar os olhares, então. Vou me afastar alguns metros, e você manda um olhar sedutor.
— Tá — concordo, apreensiva. — Vamos lá.
Sei que já mencionei antes, mas é até irritante que todas as pessoas que Alissa conhece são conhecedoras profundas de astrologia, como Kira, a mulher que está se mudando para Portugal e entra na vida de nossa protagonista ainda no avião indo para a Inglaterra. As conversas sobre astrologia estão presentes na trama e até que a autora consegue um jeito “leve” de explicar para o leitor que não é inclinado ao assunto, mas termina se repetindo demais (e demais e demais) e toda explicação de Alissa sobre o motivo pelo qual está rejeitando a astrologia em sua vida atualmente é ilógico em todos sentidos, ainda mais se você coloca na balança que é alguém que acredita que posição do sol e dos planetas quando se nasce afeta em sua personalidade – e outra nota aqui: não me entendam errado, eu gosto bastante de signos e me divirto bastante quando vejo que tenho bastante traços do meu signo e quando alguma coisa prevista acontece, então posso dizer que gosto e me divirto com signos. E um outro problema da trama também é a quantidade de tropes usados: fake dating, uma cama (ou barraca) só e por ai vai. Tudo aqui é dekais de um jeito que parece que está simplesmente só descarregando tentativas de fazer os leitos amarem o livro, sem um foco central.
Acho que no final, o que eu posso apontar como o grande trunfo deste livro são as playlists que já apontei e até mesmo uma música original que a autora escreveu para a trama e também não a conhecia e nem seu trabalho, que parece ser grande no campo astrológico, e deixo claro sempre que não gosto de julgar os trabalhos de outras pessoas e essa é somente minhaopinião como leitora. Não digo que há um problema na escrita em si, mas há um problema sério no tom do livro, e, claro, falo isso como leitora, não tenho qualificação para falar em modo editorial. Talvez o romance de Alissa e a forma como ela reencontrou o significado para sua vida e seu caminho que escolhe, ressoe em muitas pessoas. Como também já abri esta resenha falando, digo que o livro não funcionou para mim, mas pode funcionar para você.
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