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Cassandra Clare fala sobre Tessa e Will em seu Tumblr

Cassandra Clare respondeu uma pergunta que muitos leitores se fazem após terminar a leitura de As Peças Infernais: será que Tessa se transformou em Will depois que ele morreu? Ela sente vontade? Seria capaz disso? Sim ou não? Confira a tradução abaixo:

Eu lí As Peças Infernais 16 vezes e é o meu favorito, então muito obrigado! Valeu toda a dor. Emoticon smile Mas eu tenho uma pergunta. Porque a Tessa não usou seus poderes para se transformar no Will após a morte dele para que assim ela pudesse se lembrar da cor dos seus lindos olhos ou sua risada? Porque eu ainda não superei o epílogo e ele me faz chorar toda vez que eu o leio – livinbookssworld

Se Tessa quisesse ver o lindo rosto do Will após a sua morte, ela o teria empalhado e o colocado em um canto de sua sala de estar. Mas ela não o faria – nenhum de nós o faria, não é mesmo? Nós pensaríamos que isso seria horrível e mórbido e péssimo para a saúde. E, da mesma forma, eu imagino que Tessa pensaria que se transformar numa face de um homem que ela amou seria mórbido e horrível.

Eu recebo MUITO essa pergunta, e isso me deixa confusa, porque para mim não há diferença em perguntar porque Tessa não empalhou o corpo morto do Will. Sim, é triste que Tessa comece a sentir que um dia irá esquecer o preciso azul dos olhos do Will… o som exato de sua risada.

Mas isso é uma parte incrivelmente natural e normal do processo de luto. Esse esquecimento é um presente dado a nós por Deus ou biologia ou qualquer poder maior no qual você acredite, porque sem ter as barreiras da perda amenizadas pelo tempo, nós nunca nos curaríamos. Sem isso, nosso luto seria horrível e novo todo dia sem nunca se tornar algo que possamos aceitar ou viver com – que é o presente que o tempo e o esquecimento te trazem.

Para mim, a ideia de Tessa usar seu poder para se transformar em um falso Will depois que ele morreu é coisa de filme de terror. É Norman Bates se vestindo como sua mãe e mantendo seu corpo morto em seu escritório. É o desarranjo nada saudável provocado pelo luto. Não há nada romântico nisso exceto de uma maneira muito estranha como em A Rose for Emily (conto de Faulkner: depois que uma mulher muito velha morre, a cidade descobre que ela estava dormindo ao lado do corpo decomposto do marido morto por decadas.)

Há uma razão pela qual “não há uma para um coração partido”: a mágica funciona de todas as maneiras, largamente como uma metáfora, em ficção, mas no mundo dos Caçadores de Sombras ela não está lá para fazer as pessoas não terem mais que experenciar o que é ser um ser humano. Parte do que ser um ser humano significa é que você vai perder pessoas que ama. Isso também significa que um dia você vai morrer. Significa que você vai entrar de luto e se curar. Se você entrar de luto e não se curar você fica exausto como Tatiana Blackthorn (ou Miss Havisham, em quem ela é baseada) – destorcida além de qualquer ajuda em um monstro de luto e ódio.

Eu posso entender porque o epílogo de CP atinge as pessoas com frequência. Há uma cena nos Artifícios das Trevas em que Arthur Blackthorn diz para Julian que no tempo do Império Romano, quando um general vencia uma vitória, e andava pelas ruas tendo flores atiradas nele pela população, havia um servente que ficava atrás dele no coche e repetia:: Respice post te. Hominem te esse memento. Memento mori.

Isso queria dizer:
Olhe atrás de você. Lembre-se que você é humano. Lembre-se que você vai morrer.
Parte do que o epílogo de Princesa Mecânica faz é acabar com a ideia de que história termina no felizes para sempre: Will está morto, e apesar de ele ter vivido uma grande vida, o pensamento de ele estar morto é triste porque significa que todos nós podemos morrer. Todos nós iremos morrer. Tessa encontra o amor novamente, mas algum dia Jem irá morrer. As pessoas que amamos morrem: um dia nós vamos morrer: é sobre isso que toda arte fala basicamente.

E é isso que significa ser humano. Tessa não se transforma em Will porque quando você ama alguém, você ama ELES, a fagulha de vida que eles são, e nada em se parecer como Will (e acho que se olhar no espelho?) traria isso de volta. Se transformar em Will seria um horrível lembrete de tudo que ela perdeu que não era importante (a cor precisa de seus olhos) e exatamente como ela nunca vai ter nada que era importante de volta (o conteúdo da mente e do coração dele.)

Respice post te. Hominem te esse memento. Memento mori.

FONTE

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