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Crítica: Me Chame Pelo Seu Nome

Data de lançamento: 18 de janeiro de 2018 (Brasil)

Direção: Luca Guadagnino

Elenco: Armie Harmer, Timothee Chalamet; Amira Casar; Esther Garrel; Michael Stuhlbarg

Sinopse: O sensível e único filho da família americana com ascendência italiana e francesa Perlman, Elio (Timothée Chalamet), está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela e lânguida paisagem italiana. Mas tudo muda quando chega Oliver (Armie Hammer), um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai.

Único Roteiro Adaptado a ser indicado na categoria de Melhor Filme ao Oscar 2018, ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ é um desafio a qualquer um que queira fazer uma crítica a altura de tudo que ele representa. Então, incapaz de dizer o que o filme É, resolvi começar esse texto deixando claro tudo que ele NÃO É.

O filme baseado na obra homônima de André Aciman não é um “filme de temática gay”, por exemplo. Estamos vendo uma ode à descobertas e encontros verdadeiros. Ellio e Oliver são apenas ‘cascas’ de duas almas que se encontram e mudam os rumos uma da outra. O desejo, os sentimentos e as ações resultantes destes são tratadas como curiosidade, onde a fluidez da sexualidade de Ellio é mais um sintoma que uma definição de seu processo de auto-conhecimento. Podia ser um homem e uma mulher, duas mulheres, mas acontece, simples assim, de serem dois homens.

Também não é um “filme independente europeu” pelo mesmo motivo: o encontro poderia acontecer em qualquer lugar mas por acaso o interior da Itália estava lá, quente e bucólico, o cenário ideal para uma jornada de descobertas e aventuras. E por favor não o  trate como mais um filme ‘sobre os loucos Anos 1980”! Não faria nenhuma diferença se se passasse na Roma Antiga ou numa distopia futurista. O tempo apenas se mostra palpável em pequenos momentos, como o que os rapazes receiam em se beijar em público ou no hábito constante dos cigarros, hoje não mais tão bem aceito.

Vivendo numa família muilticultural, Ellio não é preso por nenhum preconceito ou padrão social e o ‘diferente’ pra ele é só mais alguma coisa a ser conhecida. Isso estabelece também o tom do filme: nada é visto como errado, apenas como descoberta (sim, de novo essa palavra!). As experiências dos protagonistas são tratadas com a naturalidade que lhe são pertinentes e de maneira lenta, quase preguiçosa, ideal para as férias de verão e para a absorção daquilo que se vive na tela.

O envolvimento entre os protagonistas não se dá até quase a metade do segundo ato, e o romance, tangível e real é orgânico, intenso e atrapalhado como toda primeira vez o é. Orgânico ao deixar que os personagens se conheçam, se acostumem um ao outro; intenso ao explorar o tesão, o desejo, a dor da separação iminente e a tristeza que tudo que estão vivendo vai acabar e não existirá outra vez e atrapalhado porque, bem, quando deixarmos de nos atrapalharmos com o amor, o sexo e a vida, tudo perde a graça.

Mesmo contrapondo os estereótipos dos dos protagonistas: Ellio, magro, franzino, inexperiente e ávido e Oliver, maduro, de presença forte e intensa, personificação dos mesmos tipos ideais que estuda, ambos apresentam as mesmas vulnerabilidades inatas a qualquer ser humano: o medo e o prazer de seus próprios sentimentos. Aliás, em mais uma sacada delicada e exata do roteiro, é sempre o mais novo que toma o primeiro passo, demonstrando a necessidade de um e o receio do outro.

Utilizando filosofias de Platão e Heráclito, músicas de Bach e estátuas greco-romanas para ilustrar não só o helenismo presente no ambiente em que os personagens vivem que está em constante mudança como também a construção e desconstrução dos mesmos a partir das interações que estabelecem, o filme deixa algo de muito humano em sua narrativa: a busca, em qualquer idade, tempo, crença ou gênero, do sentido das coisas e da felicidade.

E, deixando o melhor pro final, demonstrando mais um vez o brilhantismo da narrativa, temos o monólogo do pai, de uma sensibilidade e inteligência comoventes e uma cena de créditos finais das mais emocionantes. Um  plano de câmera na mão e atuação impecável em que nos lembramos de todo o filme e de nossas próprias experiências agridoces. Maduro, sensível e filosófico, este é um filme necessário como Arte e como Filosofia.

 

 

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