Ícone do site Idris Brasil

Resenha: Matadoras de uma certa idade – Deanna Raybourn


“Matadoras de uma certa idade”
Deanna Raybourn
Tradução: Marcello Lino
Valentina – 2025 – 252 páginas

Mulheres mais velhas geralmente se sentem invisíveis, mas muitas vezes essa é a arma secreta. Durante toda a vida, elas foram as assassinas mais mortais de uma organização internacional clandestina. Contudo, agora que chegaram aos 60, as quatro amigas não podem simplesmente se aposentar ― é matar ou morrer neste thriller repleto de ação.

Billie, Mary Alice, Helen e Natalie trabalharam para o Museu, uma rede de matadores de elite, por quarenta anos. Agora seus talentos são considerados antiquados, e ninguém aprecia o que elas têm a oferecer em uma era que depende mais da tecnologia do que das habilidades pessoais. Quando o quarteto é premiado com uma viagem de férias all inclusive para comemorar a aposentadoria, vira alvo de um dos seus colegas da organização. Somente o Conselho ― os membros do mais alto escalão do Museu ― pode ordenar a eliminação de agentes operacionais, e elas descobrem que foram… juradas de morte!

Para saírem vivas, terão de enfrentar a própria organização, contando com toda a experiência adquirida e confiando umas nas outras para solucionar o impasse, sabedoras de que trabalhar em conjunto é o grande trunfo para a sobrevivência. Só assim ensinarão ao Conselho o que realmente significa ser uma mulher ― e matadora ― de uma certa idade.

Como senti falta de livros como “Matadoras de uma certa idade”, aquele tipo de livro que se preocupa em entregar diversão porque não, nem toda leitura de nossas vidas precisa ser significativa ou nos enlouquecer – algumas leituras precisam e devem ser leves e saber entregar diversão ao mesmo tempo que mesclam com uma pitada de drama e, neste caso, com uma dose de aventura. Não estou brincando quando digo que esse livro entrou em minha lista de melhores do ano e consegui entender muito bem todo barulho que ele fez lá fora quando foi lançado em 2023 porque essa entrega muito, muito mais do que já promete. Então sim, se você quer se divertir, pode continuar lendo essa resenha que vou falar um pouco da trama sem qualquer spoiler, mas aviso para você se preparar para rir, embarcar em aventuras mirabolantes que começaram à 4 décadas e terminar querendo mais – e ganhando, porque o livro fez tanto sucesso que apesar de ter uma história fechada, ganhou uma continuação chamada “Kills Well with Others” (“Se mata bem com os outros”, em tradução livre de uma expressão que definitivamente perde a piada).

Como a sinopse já entrega de cara, temos 4 protagonistas: Billie, Mary Alice, Helen e Natalie, quatro senhorinhas de 60 anos que estão se aposentando de uma organização chamada por elas como Museu. A trama deixa claro que alguns nomes estão trocados para a proteção dos culpados (sim, a própria autora fala isso no começo da trama!) e apresenta o começo de tudo: em novembro de 1979, 4 jovens mulheres estão em uma missão como comissárias de bordo com a missão de matar os tripulantes e, claro, levar com elas todos aqueles documentos que carregavam com eles.

Caras Mary Alice, Helen, Natalie e Billie
É um prazer recebê-las a bordo do Amphitrite! Sabemos que esta é uma ocasião especial para vocês quatro. Feliz aposentadoria! Quarenta anos no mesmo emprego é um tremendo feito e ficamos felizes por vocês estarem celebrando esse evento conosco. Ao virar essa página e começar o novo capítulo de suas vidas, por favor, nos digam se há algo que podemos fazer para tornar seu cruzeiro uma experiência ainda mais agradável
Cordialmente,
Heather Fanning
Coordenadora Executiva de Atendimento ao Cliente
#aposentadoria #cruzeirosdeluxo #amphitrite

O que nossas protagonistas não contavam é que haveria uma cachorrinha com os homens – e é em coisas assim que “Matadoras de uma certa idade” acerta o tom em todos os niveis porque a trama não se leva á sério. Depois de terem alguns contratempos na missão, as mulheres pulam de paraquedas em uma cena digna de “Toxic” (o clássico music video da Britney Spears!) e, claro, a cadelinha vai elas porque assassinas de gente ruim sim, mas de animais indefesos jamais!

Então estamos 40 anos depois, com as mulheres recebendo um cruzeiro para o Caribe para comemorarem suas merecidas aposentadorias. Tudo correria muito bem se não visse outro agente novato que não fez contato com elas no navio, o que significava que muito provavelmente ele estava ali em uma missão e a missão era justamente elas. Sem entenderem o que está acontecendo e nem porque estavam sendo caçadas, as 4 conseguem fugir e se unirem para entender que iam precisar matar os chefes do Conselho Diretor para continuarem suas vidas, afinal, elas tinham certa idade, mas isso não significava que elas não tinham muito mais para viver.

Natalie vestiu a blusa e, abotoando-a por cima do biquíni, disse: — Isso não significa que ele está aqui por causa de uma de nós.
— Caramba, Natalie, você ainda não aprendeu a encarar a realidade — falei. Ela se encolheu como se eu a tivesse esbofeteado, e quase pedi desculpa. Mas não acredito em dizer que sinto muito quando não sinto.
— Este barco tem outros sessenta e nove passageiros e o mesmo número de tripulantes — informou Natalie com frieza. — Qualquer um deles pode ser o alvo de Brad.
— Natalie tem razão — interveio Helen. — Não devemos tirar conclusões precipitadas até termos mais informações.
Mary Alice arrematou alguns pontos — se é assim que se diz quando alguém faz tricô. Ao terminar a fileira, espetou as agulhas em um novelo e largou tudo. — Muito bem. Então vamos descobrir mais coisas. Uma de nós terá de fazer contato discretamente e dar uma chance para ele se explicar.
 Eu me encarrego disso. Mas, se uma de nós for o alvo, abordá-lo será como convidá-lo a dar um tiro. Terei que revistar sua cabine e ver se consigo descobrir o que ele está fazendo aqui. Se ele aparecer, darei uma chance para que se explique — concluí, pegando a minha mimosa.

Apesar de termos estas 4 protagonistas fortes, o ponto de vista fica a cargo somente de Billie, uma jovem perdida dotada de alta inteligencia e que estava na faculdade quando foi recrutada por uma organização que foi fundada depois que algumas agências norte americanas e inglesas foram fechadas após decisões que alguns participantes acharam erradas. O Museu, como a sinopse deixa claro se chamar, criava o projeto Esfinge e elas faziam parte da primeira turma composta somente por mulheres e lideradas por Constance Halliday, uma figura que não temos muita informação sobre.

Também temos alguns capítulos mostrando o passado e seguindo Billie, apresentando mais de como treinamento e a forma como as mulheres se tornaram amigas de longa data, desde aquela primeira missão, e nunca, em nenhum capitulo, a trama perde seu charme e a forma como vai apresentando as personagens e a amizade delas é do tipo que faz o coração do leitor ficar quentinho porque sim, elas estão sendo sendo perseguidas no presente, mas a trama também se concentra em explicar como elas se tornaram aquela unidade tão boa em seu trabalho de matadoras de pessoas e também como chegaram ao ponto de confiarem suas vidas umas nas outras de tal forma.

— E fazer o quê? — perguntou Natalie. — Estou dura. Graças ao Conselho, minha aposentadoria explodiu em algum lugar no meio do Caribe.
— A minha também — disse Helen. — Depois da doença, Kenneth não deixou muito.
Mary Alice e Akiko ficaram caladas, mas o olhar que trocaram sugeria que não estavam em uma situação muito melhor.
— Podemos arrumar empregos — sinalizei.
— Fazendo o quê? — perguntou Natalie. — Passamos quarenta anos matando pessoas, Billie. É tudo o que sabemos fazer, e não dá pra encontrar clientes nesse ramo no LinkedIn.
— Acho que o Craigslist seria um lugar melhor para achar clientes — interveio Helen.

Se preciso apontar qualquer problema na trama é só a falta de profundidade nos anos que se passaram entre o começo e o “presente” da trama, fato que deve ser sanado no segundo livro. Sabemos que Helen foi casada com um agente da cia, Kenneth, e que ele morreu há menos de 1 ano; sabemos que Natalie foi casada 3 vezes; sabemos sobre Akiko, esposa de Mary Alice, mas queremos saber mais; e, claro, queremos saber mais sobre Christopher Taverner e Billie.

A força da trama não está em apresentar momentos de comédias jogados e piadas etaristas e sim na força que as personagens demonstram ter enquanto superam dores nas juntas (em momentos hilários) e até mesmo quando se confortam diante da morte de pessoas conhecidas e o luto que cada uma enfrenta ao entenderem que eram somente pesões descartáveis para a empresa ao qual entregaram 40 anos de suas vidas em um trabalho que deixa cicatrizes. Se você quer se divertir, vem ler uma histporia deliciosa sobre como as mulheres podem envelhecer, mas sem nunca perder a classe, mesmo quando matam velhos conhecidos e desmantelam uma trama dentro da corporação secreta na qual trabalharam a vida inteira, tudo embalado em uma amizade que todas nós queriamos em nossas vidas.

Para comprar “Matadoras de uma certa idade”, basta clicar no nome da loja:

Amazon.
Magalu.

Sair da versão mobile