
Lyn Liao Butler
Tradução: Carlos Szlak
Faro Editorial – 2025 – 256 páginas
UM CRIME BRUTAL DIANTE DE UM ENCONTRO VIRTUAL LITERÁRIO.
Cinco renomadas influenciadoras formam um clube do livro online que provoca ciúmes no mundo literário. Todos os meses, elas se reúnem em uma videochamada para degustar coquetéis, trocar impressões, falar sobre lançamentos, e principalmente, debater o livro escolhido do mês.
Até que, em uma dessas reuniões, a chamada virtual congela para todas ao mesmo tempo, mas o áudio permanece ativo. As mulheres entram em pânico, sem entender o que está acontecendo. Então, um grito dilacerante ecoa — e fica claro que uma delas está sendo brutalmente atacada. O momento parece uma eternidade até a conexão cair por completo. E então começam as mensagens e ligações frenéticas enquanto tentam desvendar quem foi a vítima e qual o motivo.
Conforme a investigação progride, tanto os segredos que cada uma luta para manter soterrados, quanto os ressentimentos escondidos e os problemas pessoais vêm à tona, revelando que nem tudo o que é postado nas redes é tão perfeito quanto aparenta.
Agora, há quatro sobreviventes e todas desconfiam umas das outras, apontando o dedo para desviar a atenção de suas próprias falhas. Mas, se quiserem descobrir quem matou a amiga, precisam se unir e superar as mágoas do passado.
Caso contrário, logo aparecerá uma próxima vítima.
O maior trunfo de “O Clube do livro mortal” é a sátira ao mundo glorioso dos influenciadores literários ao redor do mundo, e falo isso como alguém que não faz parte desse mundo e conseguir ver as críticas embutidas nas ações de nossas protagonistas, que são também, grandes pontos da trama. É um suspense, mas está repleto de pitadas de ironias, momentos de pura inveja contra a coleguinha e a busca por mais, sempre mais, que parece permear este mundinho que o capitalismo corrompeu com maestria. Temos 5 protagonistas e 5 pontos de vistas, e não vou falar quem morre por motivos óbvios de spoilers, mas quero falar separadamente sobre cada uma de nossas protagonistas porque cada uma me conquistou por todos os motivos errados do mundo. Sem ordem de preferência, vou começar por Jessie, já como ela é detentora da primeira voz apresentada – depois da assassina, cuja identidade é desconhecida até o final da trama.
Porque ninguém, absolutamente ninguém, sabia da carreira secreta de Jessie. Nem as suas amigas mais próximas, nem mesmo os seus irmãos. Os pais, taiwaneses tradicionais, simplesmente cairiam duros se descobrissem como ela realmente ganhava a vida. Por mais glamoroso que fosse conviver com os maiores atletas do mundo, jornalistas esportivos como Jessie não ganhavam muito. E Jessie prometera a si mesma, desde criança, quando morava num pequeno e apertado apartamento de dois cômodos em um prédio infestado de baratas com os seus pais imigrantes e dois irmãos em Flushing, no Queens, que nunca mais seria pobre. Naquela época, eles dependiam das sobras que o pai trazia do restaurante chinês em que trabalhava para alimentar a família. Jessie tinha que usar roupas doadas por uma igreja das proximidades e ainda se lembrava da vergonha que sentiu quando outra garota reconheceu o vestido que ela estava usando.
Jessie Tang é descendente de pais tradicionais taiwaneses já sabia há muito o que queria: uma vida melhor do que havia tido enquanto crescia. Jornalista esportiva, também dava um jeito de levar um estilo de vida muito acima do que poderia bancar, por isso escondia parte de sua vida de suas amigas do Bookers, basicamente o maior e mais exclusivo clube do livro virtual que qualquer bookstagramer poderia fazer parte, com um gosto especial por histórias de terror e crimes reais. Jessie não era a mais famosa do grupo, mas definitivamente era a mais determinada e ninguém, absolutamente ninguém, iria ameaçar seu estilo de vida, então quando Leigh, outra participante do Bookers, descobre seu segredo, ela sabe que precisa resolver aquilo, por bem ou por mal. Quando a reunião do clube sofre uma pane e uma das 5 é atacada, não sabemos se Jessie está viva ou foi a morta – e, em alguns capítulos, vamos descobrindo quem sobreviveu e quem não com a alternância dos capítulos, mas não se enganem porque Jessie é, sem sombras de dúvidas, a personagem mais determinada deste livro, e se ela foi morta, foi por algum motivo, mas se caso tenha sobrevivido, ela poderá liderar as sobreviventes para descobrir quem atacou uma das famosas naquele clube.
Um pequeno bichon frisé branco veio correndo até Sidney, ofegando feliz para ela. Ela se abaixou para pegá-lo nos braços.
— Casper! — ela disse, fazendo carinho no focinho dele, que retribuiu com uma lambida. Casper se comportava tão bem que o dono do restaurante havia permitido a sua presença.
Sidney o tinha resgatado alguns anos antes de uma casa onde ele ficava amarrado do lado de fora, estava desidratado e coberto de feridas. Ela cortou a corrente que prendia o pobre cachorro a uma árvore e o pegou, mesmo quando o dono, um homem de sessenta e poucos anos, com a cabeça raspada e um cigarro pendurado na boca, saiu para confrontá-la. Ela não sentiu medo daquele homem cruel. Encontraram mais seis cães e quatro gatos na casa dele, todos famintos e vivendo na imundície.
Sidney Aquino era uma pessoa perfeita. Casada com o amor de sua vida, Nicholas, pai de suas crianças perfeitas, com uma melhor amiga a quem ajudava em qualquer circunstancia chamada Mandy, riquissima, Sidney doava seu dinheiro de caches de campanhas enquanto sua ascensão no meio literário crescia exponencialmente. Sempre gentil e prestativa, Sidney era perfeita em tudo que se propunha, até mesmo fazendo diversos eventos de lançamentos de autoras que estavam começando agora, principalmente no seu foco, que são os thrillers psicológicos, tudo bancado por ela e pelo dinheiro de sua família, que parecia não ter fim. Quando uma das Bookers conta a ela um segredo sombrio, Sidney não tem a menor intenção de se envolver em nada complicado, nem mesmo quando outra pede um grande favor, afinal, nada parecia ser capaz de abalar sua vida perfeita, enquanto seu marido era conhecido de Marco, homem com quem Jessie estava saindo – e Marco era irmão de Damien, que era noivo de Leigh. Convidando Helena e Mandy para ficarem na grande mansão de sua família na ilha de Kauai, no Hawai, vai participar do encontro virtual de lá, sem imaginar o que irá acontecer.
Rude. Leigh fungou. Eles não sabiam que ela era Leigh Strom? Com apenas vinte e sete anos, era a mais jovem (e, em sua opinião, a mais bonita) das Bookers (que nome mais idiota; dava a impressão de que eram as Boogers), com olhos de um azul glacial e cabelos tão loiros que quase pareciam brancos. Ela merecia o casamento de princesa de conto de fadas dos seus sonhos. Mas, naquele momento, todo o seu dia especial estava por um fio.
Como explicar Leigh Sara Strom? A nossa Regina George da vez é a mais nova do grupo, a mais bonita e rica também, mas, assim como teve toda essa sorte neste combo, ela também perdeu a mãe muito cedo e teve um pai ausente, capaz de a transformar em uma garotinha insegura e infantilizada. Noiva de Damien, Leigh tem certeza absoluta que o mundo gira ao redor dela porque ela é o sol e não tem o menos escrúpulo de chantagear Jessie quando descobre um segredo dela e também não tem problema de jogar na cara de qualquer outra participante do grupo qualquer coisa que saiba sobre elas, até que Sidney descobre o segredo que ela tenta guardar em um cofre no fundo da sua mente. Com todos motivos para matar e morrer para não perder seu noivo e a vida aparentemente perfeita, como a participante apaixonada por histórias românticas do Bookers, Leigh parece estar descobrindo que a sua própria história pode não ter o final feliz que deseja, e, por isso, simplesmente se enfia em uma avião e vai para Kauai confrontar Sidney, onde pode perder a cabeça e fazer coisas estúpidas contra as outras participantes do grupo e terá de conviver para sempre com as consequências de suas escolhas.
Porque Kate era uma pessoa terrível. Algumas pessoas morreram por causa dela. Sempre se expressara de forma direta, sem rodeios, jamais adoçando as palavras, mas nunca fora cruel. Se não gostava de alguma coisa, não tinha medo de dizer o que pensava. Se gostava de algo, não poupava elogios. E depois do que lhe aconteceu cinco anos antes, não dava mais a mínima para o que os outros pensavam. Sabia que às vezes podia ser mesquinha, mas achava que tinha direito a isso. Tinha só uma vida para viver, e ia vivê-la do que jeito que quisesse.
Kate Spencer é a personagem mais complexa de nossa trama, sem sombras de dúvidas. Casada, com quarenta e cinco anos, ex-atriz que sumiu depois que um stalker a atacou, teve seu nome atrelado ao suicídio de uma autora que estava começando. Quando a trama começa, Kate está em casa, sem querer sair, deixando sua esposa, Larissa, profundamente preocupada. Perdida em um espiral de medo e paranoia, tudo parece ter fundamento quando começa a receber e-mails ameaçadores, a cobrando por ter sido tão infeliz em suas escolhas, a fazendo perder seu reinado de maior influencer do Bookers, a apaixonada por ficção literária e que definitivamente não quer perder seu posto de mais poderosa. E aqui preciso dizer que era a história que mais queria ver se desenvolver, mas, no final, me decepcionou bastante toda conclusão porque entendemos o que Kate sente, mas não dá à ela o direito de ser tão feroz assim – ou dá, porque sabemos que as pessoas são capazes de julgar os outros com a maior dureza possível, com réguas absurdas, principalmente na internet.
Helena estendeu a mão, como se quisesse acariciar o rosto de Malik. Ele sempre estivera ao seu lado, apoiando os seus sonhos e torcendo por ela quando os seus restaurantes começaram a prosperar. Malik tinha um emprego estável em uma empresa de marketing, mas quando Helena se tornou um grande sucesso e começou a ganhar mais dinheiro do que ele, ficou feliz em se aposentar e criar os filhos. Helena não teria conseguido sem ele. Ao ver os filhos brincando de forma tão amigável com o marido, Helena jurou mais uma vez fazer tudo certo. Não podia decepcioná-los.
Helena é a mais velha do grupo. Com 52 anos, dona de 3 restaurantes inspirados na cultura Gullah, uma cultura afro-americana das regiões costeiras do sudeste dos Estados Unidos, com dois filhos e casada há anos com Malik, se vê em uma situação financeira preocupante quando faz um investimento por ouvir uma conversa de Nicholas, o marido de Sidney – e então começa a acreditar que precisa conversar com a amiga do Bookers sobre isso. Bastante próxima de Leigh, a quem vê quase como uma filha por entender a falta que uma mãe faz na vida de quem a perde e também com um pai ausente, tenta encontrar desculpas para o comportamento da mais nova do grupo. Com personalidade equilibrada e fiel a livros que acredita que estão tendo pouco reconhecimento e merecem mais, Helena parece a figura mais centrada do grupo. A convite de Sidney, está em Kauai quando a reunião acontecerá, mas, talvez, esteja realmente desesperada.
Está feito. O seu trabalho está concluído. Tudo está indo de acordo com o plano. Até melhor do que o plano original. Ela tirou o boné e a capa de chuva longa que usava para disfarçar o seu físico, deixando-os cair no chão. Dirige-se até o balcão onde tem um minibar e pega uma garrafinha de bourbon. Sem usar um copo, remove a tampa e toma um gole generoso. Enquanto o líquido queima a sua garganta, ela aperta os lábios, sabendo que tudo isso logo terá acabado.
Acho que todos vocês já entenderam que todas as personagens principais tem motivos para matarem umas às outras e também para morrerem. A trama se desenrola em linha cronológica, começando com um mês antes do grande dia do assassinato e terminando em um epilogo que, para mim, não funcionou muito bem porque basicamente tudo ficou bastante amarradinho com finais que mereciam mais impacto. A trama do assassinato é deliciosa, com ponto de vista da assassina (a quote acima é um desses pedaços) mas que também entregou um pequeno detalhe que me fez descobrir quem era a assassina – mas não todos os motivos. O que também fica claro pra mim é que “O clube do livro mortal” é um livro escrito para a nova geração de leitores que desejam tudo para ontem, com diversas partes resumidas e rápidas demais, com mais um plot twist nas últimas páginas, mas com uma ideia maravilhosa por trás, e é isso que me fez gostar tanto do livro. Talvez, só talvez, possamos entender que o mundo dos influenciadores (em todas categorias) não é real: todos nós temos problemas que não mostramos na internet, lembrando fortemente que há vida fora da internet e é a vida que realmente importa.
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