03.01

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Quase 3 anos depois do lançamento de “Princesa Mecânica”, o livro ainda gera polêmica. Cassie respondeu no último dia de 2015, com um grande texto, sobre a cena de amor entre Will e Tessa e como Jem se sentiria sobre os acontecimentos. Evocando um grande texto escrito por ela e Holly Black (o qual está marcado no texto, basta clicar e ler a tradução feita por nossa equipe também há mais de 2 anos), Cassie falou pela última vez sobre a cena e sobre esse triangulo que definitivamente ficou marcado.

Confiram o texto completamente traduzido:

Muito obrigada para todos os personagens de TMI/TID, eles têm um significado enorme na minha vida, acima de tudo Will e Jem, a história deles é magica e fora do mundo. Então, eu não sei se você já respondeu essa pergunta, se você já respondeu, eu sinto muito, mas recentemente eu vi algumas pessoas falando sobre se sentirem enojadas com cena de sexo de Will/Tessa em “Princesa Mecânica” porque eles estavam “traindo Jem e sendo muito insensíveis”. Ler essas coisas realmente me deixou muito irritada, porque eu não conseguia parar de pensar que essas pessoas realmente não entenderam o verdadeiro relacionamento entre Will/Tessa/Jem. Então eu decidi vir te perguntar qual a sua opinião e como Jem sentia realmente sobre isso. Obrigado, beijos. – herronstairs

Bem, eu realmente espero que eles não estejam dizendo “insensível”. Insensível significa inconsciente, como “Will bebeu gim demais e caiu inconsciente no chão”. Eu tenho um pressentimento que não é o que eles querem dizer. 😉

Aviso para o que segue abaixo com discussão de estupro e estupro conjugal.

Eu respondi isso muitas e muitas vezes, e eu decidi que esta será a última vez. Porque é claro que isso é uma conversa que vem acontecendo desde que “Princesa Mecânica” foi publicado. “Princesa Mecânica” é um livro não convencional com um triângulo amoroso não convencional e um relacionamento não convencional em seu centro e uma resolução muito não convencional para o triângulo amoroso. Isso sempre vai incomodar algumas pessoas. Toda a configuração de “Princesa Mecânica” requer que você pense sobre relacionamentos e amor em uma maneira que romances geralmente não requerem – como ser capaz de existir sem ciúme, para um começo. Como sendo uma situação em que ninguém ganha, porque ninguém está competindo. As pessoas têm dificuldade em deixar de lado as estruturas que conhecem: é um desafio, e ser desafiado é desconfortável. E quando você está desconfortável, você tenta descobrir por que, e você diz que “isso” ou “aquilo” incomoda quando não é realmente isso. Eu não posso contar a quantidade de cartas que eu recebi de pessoas que disseram que inicialmente se incomodaram quando Tessa dormiu com Will, ou quando Tessa e Jem “acabaram juntos” no epílogo, mas depois descobriram que era o ponto do livro e passaram a valorizar essas coisas. Então, eu provavelmente diria que essas pessoas estão processando, e deixe quem processem. Nem tudo precisa ser uma disputa.

Quanto à forma como Jem se sente: ele pede Tessa para não lhe dizer os detalhes, mas ele claramente sabe e entende. Isso é o jeito que Jem é, e eu acho que por isso que muitos de seus fãs estão muito bem com Will e Tessa mesmo que eles prefiram Jem com Tessa: porque Jem é altruísta, e uma boa pessoa – uma pessoa tão boa na verdade, que Tessa nunca poderia lhe contar dos sentimentos de Will por ela: porque ele teria tentado se esquivar graciosamente fora do caminho, deixando, assim, Tessa em uma posição onde Will não estaria com ela por causa de Jem e Jem não estaria com ela por causa de Will, e todo mundo seria infeliz. Era o dilema dela no final de “Príncipe Mecânico”, todos sobre os outros para poupar os sentimentos do outro e se certificar de que a outra pessoa estava feliz.

Tendo em conta que parece estranho se opor a algo em nome de Jem que o próprio Jem não se oporia ou se sentiria magoado. As pessoas parecem achar que é uma ofensa que Will e Tessa dormiram juntos pensando que Jem estava morto, mas – e aqui você pode encontrar um longo texto em equipe que Holly Black e eu escrevemos sobre o entrelaçamento de amor e dor e sexo – em parte eles fizeram o que fizeram porque Jem estava morto, porque ambos estavam desesperados e nada importava e eles estavam com o coração partido e alcançando a outra pessoa no mundo que iria entender como eles estavam com o coração partido.

Jem teria entendido isso, e não os julgou.

Também parece haver essa idéia do que Jem se oporia a se fazer sexo, não estar apaixonado. Estranhamente me fez lembrar de “Simplesmente amor”, quando a personagem de Emma Thompson percebe que seu marido está tendo um caso: “Imagine que seu marido comprou um colar de ouro, e quando o Natal chega, ele deu pra outra pessoa… Você esperar para descobrir se é apenas um colar, ou se é sexo e um colar, ou se, pior de tudo, é um colar e amor?”

A personagem de Thompson é sábia: ela percebe que o que é devastador é a pessoa que você está apaixonada está apaixonada por outra pessoa, não é sexo que fizeram. Jem já sabe que Will e Tessa estão apaixonados. E enquanto ele pode sentir uma pontada de ciúme disso, não seria nada em comparação com o horror absoluto que ele teria sentido se Tessa e Will tivessem decidido que, mesmo estando apaixonados, uma farsa de contenção física numa situação em que ambos precisavam de conforto, e Tessa precisava ter uma única positiva e com cuidado experiência sexual antes de uma vida de estupro, iria “honrar a memória de Jem”. Quero dizer, horror absoluto é realmente a única maneira que eu poderia descrever seus sentimentos sobre isso.

Tessa conhece Jem extremamente bem: ela sabe muito bem que Jem nunca, nunca iria guardar rancor dela ou de Will desse conforto neste momento de dor e medo. E, de fato, eles têm razão: quando eles e Jem se veem mais tarde e Jem entendo completamente e não guarda nada contra qualquer um deles nem por um momento.

Jem compreendeu, e não os julgou.

Eu acho que há uma tendência estranha – trazida pelas tendências irritantes das classes para ensinar simplificadamente comparar/contraste tipo de leituras – Ignorar o contexto de algo que acontece ali. Eu vi esta cena caracterizada como “De Jem está morto, vamos foder”, como se eles estavissem esperando todo esse tempo para Jem estar morto, habilmente antecipando que quando eles descobriram, eles estariam trancados em algum lugar com uma cama. Mas isso prefere não levar em conta o fato de que eles dormem juntos em circunstâncias muito específicas – eles estão ambos aflitos, ambos esperam Will morrer no dia seguinte, nenhum dos dois pensa que vai ver alguém que amam de novo, e Tessa está esperando de ser estuprada em breve – e que eles nunca dormem juntos de novo no livro. Se eles estavam apenas esperando a oportunidade, por que eles nunca têm relações sexuais novamente do tempo na caverna até a hora que se casam? Se eles tivessem aceitado a chance oferecida pela morte de Jem para fazerem sexo sem culpa, eles teriam, então, feito novamente, assim que voltassem para o Instituto. Mas eles nunca fazem.

E Jem não os julgou.

Porque Jem era bom em colocar-se no lugar de outras pessoas; ele era bom em querer o melhor para as pessoas que amava. Ele amava Tessa. Tessa tinha acabado de descobrir o cara que ela ama está morto. Ela nunca chegou a dizer adeus a ele, como ela diz. Ela nunca o segurou ou o beijou ou disse a ele que o amava antes de morrer. O outro cara que ela ama está do seu lado, e ele vai morrer pela manhã. Ela mesma deseja morrer no dia seguinte, mas sabe muito bem o que vai acontecer se não morrer; Mortmain vai estuprá-la. Tessa sabe disso.

Esta é a escolha de Tessa: deixar consolar Will lhe consolar e ser consolado, ou “resguarda-se” a fim de que a única experiência com “sexo” que ela conheça seja ser estuprada constantemente por um homem que ela odeia. Pelo resto de sua vida. Assim Tessa consentir em fazer sexo com Will é também ela confirmar o controle sobre seu próprio corpo. Ela preferiria sua primeira experiência sexual ser com alguém que ela ama. Jem, a pessoa mais compreensiva do mundo e alguém que teve coisas terríveis infligido em seu corpo contra a sua vontade, teria certamente querido que Tessa fizesse o que quisesse com seu próprio corpo.

Um milhão de vezes, Jem nunca teria a julgado por isso.

Will e Tessa estavam em uma situação desesperadora. Eles não fizeram o que fizeram por egoísmo, mas por tristeza e amor, um amor tão grande como Tessa sentia por Jem ou Jem sentia por Will. Eles se mantiveram vivos para lutar por mais um dia, o que importou. E Jem – eu acho que parte da razão pela qual as pessoas gostam Jem é que ele é altruísta, que ele acentua o que é forte sobre a bondade e generosidade e se doar. Por isso, parece estranho para mim brigar por ele, por assim dizer, de uma forma que só iria o horrorizar e o deixar doente, por uma coisa que ele teria apoiado. Não parece de jeito nenhum com o Jem.

No final – e esta é a última vez que eu vou dizer isso, porque eu acho que essa conversa vai existir enquanto existirem os livros, mas depois de três anos eu acho que já disse tudo o que há para se dizer – para Will e Tessa, fazer amor era uma maneira de tomar de volta o controle de Mortmain, de preservar a felicidade que ele tentou destruir, de acender uma vela em uma terrível escuridão. Will e Tessa não machucaram ninguém, e fizeram acreditando que, se Jem pudesse ver seus corações ele iria entender… o que estava inteiramente correto. Sexo pode ser sagrado, uma maneira de fazer uma relação sacrossanta. Eu não acho que Deus os teria julgado pelo que eles fizeram. Jem não os julgou pelo que fizeram. Você realmente quer ser alguém que julga?

E então, shadowhunters, satisfeitos com a última explicação de Cassie? Comentem!

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