14.06

Cassie respondeu várias perguntas em seu tumblr onde ela falou sobre Anna, sobre Ariadne, falou sobre sexualidade em 1901-1903, além de falar também sobre Matthew e “The Last Hours”. Confira:

jonginflicted: Cassie, eu amei “Every Exquisite Thing”, ah, Deus, eu quase podia me ver em Ariadne, como um tipo de recusa em ser plenamente ela mesma (nós nascemos no mesmo lugar também!) e eu estava querendo saber, Ariadne realmente ama Anna ou é apenas uma passatempo ou um experimento para ela. Ela diz que gosta muito de Anna, mas sua vontade de se casar com Charles parece um pouco estranha pra mim (ou estou vendo coisas) como sempre. Muito obrigada por escrever para nós!

Obrigada!

Ariadne está sob forte pressão social para se casar com um homem. Ela realmente ama Anna – ela se apaixonou da mesma forma que Anna se apaixonou por ela, com esse tipo de deslumbramento romântico à primeira vista que às vezes acontece, especialmente quando é sua primeira vez. Eu *realmente* tentei evitar qualquer sugestão de que isso fosse um “experimento” ou algo assim para Ariadne. Ela é lésbica e sabe que é lésbica. Ela também acredita que é impossível para ela viver uma vida autêntica como uma mulher lésbica em 1901 sem ser cruelmente punida. Não acho que você esteja vendo coisas, pois é difícil entender o que Ariadne está enfrentando em 1901 (e enfrentaria em alguns lugares agora):

De “Strangers: Homosexual Love in the Nineteenth Century” por Graham Robb: homossexuais do século 19 viviam sob uma nuvem… A maioria deles sofria, não do maquinário cruel da justiça, mas do senso de vergonha, o medo de perder amigos, família e a reputação, a incompatibilidade dolorosa da crença religiosa e do desejo sexual, o isolamento social e mental e a tensão do segredo.

Isso é uma coisa horrível de se enfrentar. (Não que agora vivamos em uma utopia LGBT+ e eles viviam em uma distopia LGBT+ na época: é muito mais complicado do que isso.) Os pais de Ariadne, ao contrário dos de Anna, são extremamente conservadores, e essa união com Charles é o que eles querem. Então não interessaria muito a Ariadne se era Charles ou algum outro cara – não vai ser o que ela quer, exceto que ela não quer ficar isolada, ser abandonada, ser rejeitada por seus pais e família, que *são coisas totalmente normais de se temer*.

Todo mundo tem identidades em camadas. Ariadne tem identidades como uma mulher de cor, como lésbica, como uma criança adotiva, como a filha de funcionários de um governo conservador, como uma mulher que quer filhos, e de muitas formas essas identidades estão em conflito de maneiras que as identidades de Anna não estão. Ariadne não é uma covarde ou uma pessoa cruel. Ela está fazendo as melhores escolhas possíveis dentro de um conjunto de limitações que são opressivas e que ela não inventou nem pediu.

ti-bae-rius: Olá, Cassie! Em primeiro lugar: wow, tudo bem, acontece que eu tenho uma grande paixão por Anna Lightwood. Cacete. Em segundo lugar – e um pouco menos irreverente/apaixonada – Anna está feliz com os pronomes femininos? É com o que Anna se identifica ou é mais conforme a época? Basicamente, a expressão de gênero de Anna é limitada por fatores temporais? Uma personagem tão badass que agora está alimentando seriamente minha obsessão com coletes. Amei o novo GOTSM e tudo de bom! X

Eu estou tão feliz que você tenha gostado do novo GOTSM e de que você gosta (tenha uma grande queda por) Anna! Eu diria que Anna está feliz com os pronomes femininos, sim, como ela está feliz com o colar que sua mãe lhe deu de presente, algo que ela pode se sentir confortável como ela não está com vestidos.

Dito isto, o fator tempo certamente é uma parte disso! Hoje Anna consideraria e chamaria a si mesma de gênero não-binária, mas o termo não existia na época, e é claro que muitas pessoas de hoje se referem a si mesmas por pronomes “ele” ou “ela”, assim como muitos outros, de acordo com o que for mais confortável para eles. Anna é um produto de seu tempo: se ela tivesse nascido em um tempo diferente, muitas coisas poderiam ter sido diferentes – mas esse é o caso de cada um dos personagens de TID e TLH, e para todos nós que estamos vivos hoje, que se expressam de maneiras que teriam sido extremamente pouco convencionais no passado e provavelmente serão consideradas atrasadas e opressivas no futuro. 🙂

Em 1902 (um ano após os eventos de EET) as pessoas estavam discutindo academicamente a ideia de um terceiro ou sexo “intermediário”, mas era algo muito novo – não é algo que os Caçadores de Sombras saberiam, ou o mundano comum. Também era referido como “inversão sexual”, que era visto como um termo acadêmico na época. A ideia da sexualidade LGBTQ+ era um tema tabu – a sexualidade era um assunto tabu, com pessoas sendo presas por indecência por publicar panfletos sobre contracepção – e a ideia de identidade LGBTQ+ dificilmente era compreendida.

A própria Anna, e aqueles que a amam e aceitam, achariam muito difícil conceituar ou articular a gênero não-binário. Sentimentos sempre existiram muito antes de haver palavras para eles, e muitas palavras usadas uma vez não são as palavras que usamos agora. Eu quero ser precisa e fiel ao período de tempo, mas também queria ser o mais sensível possível aos leitores da vida real do tempo atual, e não prejudicá-los usando termos que seriam aceitáveis, mas que certamente não são aceitáveis agora. (Um código inteiro para falar sobre a homossexualidade existia na época, variando do gentil “Ele é musical?” ou “Ela gosta de Aquiles?” à palavras que eu nunca usaria nem se elas fossem historicamente precisas ou não.) Anna, como vemos, tem fortes sentimentos não apenas sobre romance com mulheres, mas amizade e aliança com mulheres, e pronomes femininos para ela se sentir como uma outra maneira de expressar essa aliança, mesmo quando ela quer ser verdadeira consigo mesma e expressar sua complexa e bela identidade tão plenamente quanto ela pode.

ariadnebridgestock: Olá, Cassie!! Fiquei incrivelmente tocada por como Cecily e Gabriel foram compreensivos e solidários com Anna, então fiquei imaginando, vamos ver o apoio que Anna recebe do resto de sua família, como de seu irmão Christopher, suas tias e tios e seus primos e amigos da família como os Fairchilds, etc? Obrigada por ter tempo para responder a perguntas!

archerondale: Oi, Cassie! Eu estava pensando – o que a Clave acha sobre Anna vestindo roupas masculinas e preferindo mulheres?

“Every Exquisite Thing” se passa dois anos antes de “The Last Hours”, então em 1903 Anna já esta vivendo abertamente seu estilo de vida fabuloso na sua própria casa na Rua Percy, e sua família e amigos apoiam totalmente seu estilo de vida. Nós vamos ver a família dela apoiar ela, mesmo que não apareçam todas as suas reações para ela começar a se vestir do jeito que ela quer já como isso está no passado. Todo mundo responde com amor, em seus próprios jeitos característicos, então nós vemos Matthew, um amoroso e fashion amigo, dando a ela suas roupas; Christopher, seu doce e cientista irmão, oferecendo para mostrar pra ela um ato de ciência (Christopher explodiria a Torre de Londres para fazer Anna se sentir melhor qualquer dia da semana). Todo mundo oferece apoio de seu próprio jeito. Lucie pede para ouvir sobre a vida amorosa escandalosa de Anna para escrever sobre em seus livros. James lê sobre pessoas como Julie d’Aubigny, que se vestia como um homem, lutou duelos, e libertou sua amada de um convento.

De toda forma, a Clave como um todo, assim como o Enclave de Londres, está vagamente apavorado pelo que Anna está fazendo, mas Anna é ajudada pela ideia de o que Anna está fazendo mal pode ser verdade – tem um mito de que a Rainha Victoria se recusou a acreditar em mulheres apaixonadas por outras mulheres, o que reflete nas atitudes naquele tempo (o que, de novo, não é o mesmo que as atitudes dos Shadowhunters, mas as atitudes dos Shadowhunters são influenciadas pelo mundo) que o amor entre mulheres não acontecia, ou se acontecia, não contava (diferente de sexo entre homens, lesbianismo não era ilegal em 1903).

Isso dito, em 1902 (depois de “Every Exquisite Thing”, antes de “The Last Hours”) a sociedade ficou interessada em “sexologia” – examinar os diferentes tipos de atração sexual e atividades que existiam, e o termo lésbica começou a ser usado mais. Atividade lésbica não era criminalizada do mesmo jeito que atividade gay (mesmo que a negação da sexualidade da mulher seja um problema): O destino de Oscar Wilde não aconteceria com uma mulher, mesmo que a gente veja com Ariadne que tinha ainda a pressão para se conformar. Durante o mesmo período, Vita Sackville-West (que mais tarde seria a amante de Virginia Woolf) e Violet Keppel, a filha da amante do Rei Edward, se envolveram em um romance escolar, mas a mãe de Violet implorou segredo e as duas se separaram para casar com homens. Vocês podem ler as cartas de amor delas aqui:

“Oh, Mitya, venha embora, vamos voar. Mitya queria – vamos embora e esquecer o mundo e toda a sua miséria – vamos esquecer as coisas como trens, e bondes, e servos, e ruas, e lojas, e dinheiro, e cuidados e responsabilidades. Oh Deus! Como eu odeio tudo isso – você e eu, Mitya, nascemos 2000 anos atrasadas, ou 2000 anos cedo demais.”

🙁

Anna insistindo em viver abertamente, se vestindo do jeito que ela queria e publicamente amando quem ela quer, criou algo que era uma sensação na sociedade do Enclave. Sona se preocupa com Cordelia se juntando a infame Anna; Sra. Bridgestock fica assustada com a ideia de Anna, agora vivendo tão escandalosamente, se aproximar de Ariadne. Muitas mães estão afastando suas filhas e muitos bons Shadowhunters estão fugindo de Anna. A sociedade de Londres diz que Anna deveria ser controlada, ou que eles tinham que parar ela de lutar porque deu a ela ideias: todos os tipos de microagressões são jogadas em Anna, mas Anna prefere firmemente ignorar elas (não que isso não incomode ela ou se somem com o tempo – é apenas o jeito particular dela de enfrentar). Algumas vezes ela vai para Paris, se eles a incomodam. Mas o fato de que ela aprendeu a evitar e não pensar sobre as coisas desagradáveis pode ser um problema pra ela, depois, já como eventualmente as coisas desagradáveis que ela não pode evitar, voltam e ela tem que enfrentar.

Ainda, ajuda muito o amor e apoio constante da família influenciadora dela e dos amigos, não só emocionalmente, mas socialmente: importa que Charlotte é a Consul, que o seu tio Gideon é importante na Clave, que seu amado tio Will é Chefe do Instituto de Londres e ama e cuida dela. Com eles do lado dela, a Clave tem sido capaz de principalmente ignorar Anna – talvez ela esteja passando por uma fase selvagem! Até o filho da Consul, Matthew, está sendo selvagem, o que as crianças vão se tornar! Eles dizem coisas nojentas às vezes, e Anna não é convidada para a maior parte das festas, e Anna DEFINITIVAMENTE não pode ter poder politico dentro da Clave ou casar um garoto Shadowhunter respeitável (ainda bem que Anna não está no mercado para procurar um marido), mas Anna é extremamente popular com os jovens e bem apoiada pelos mais velhos. O que é tudo para dizer: como tem sido para pessoas como Anna em muitas gerações e muitos lugares, alguém pode criar uma sociedade dentro de uma sociedade onde você se sente confortável. Ela tem sorte de ter sua própria família em casa e as casas dos seus amigos são lugares onde ela pode ficar confortável (o mesmo não é verdade para Ariadne, por exemplo), mas fora desses lugares seguros, tem lugares onde ela pode (e vai) ser encarada, comentada e sujeita a preconceitos.

* Uma das coisas mais fascinantes sobre a história LGBT+ é o jeito que sempre teve espaços subculturais onde não-héteros e não-cis eram capazes de criar redes de vizinhanças, bares, clubes, salões e espaços onde eles se sentiam seguros e eram capazes de se abrir. Eu não fico mencionando Paris aleatoriamente: vizinhanças em Paris eram um paraíso para lésbicas e gays durante a Belle Epoque – um desses lugares subculturais que eu estava falando sobre, onde Anna e os outros não-binários e pessoas LGBT+ podiam ficar confortáveis. “Sociedade do fim do século” em Paris incluíam bares, restaurante e cafés frequentados e tendo lésbicas como proprietárias, como “Le Hanneton” e “le Rat Mort”, salões privados como o que era da americana expatriada Nathalie Barney, frequentado por artistas e escritoras lésbicas e bissexuais da era, incluindo Romaine Brooks, Renee Vivien, Colette, Djuna Barnes, Gertrude Sten, e Radclyffe Hall. Uma das amantes de Barnes, a cortesã Liane de Pougy, publicou um livro best-seller baseado no romance delas, chamado “l’Idylle Saphique” (1901). Descrições de salões, cafés e restaurantes para lésbicas eram incluídos nos guias de turismo e jornalismo da época, assim como mencionavam casas de prostituição que eram apenas para lésbicas. Toulouse Lautrec criou pinturas das muitas lésbicas que ele conheceu, algumas que frequentavam ou trabalhavam no famoso Moulin Rouge. – Wikipédia

Parece um lugar maravilhoso e nós definitivamente vamos visitar 🙂

loudharmonyrunaway: Oi, Cassie! Seu trabalho significa muito para mim e me ajudou em momentos difíceis. Eles significam o mundo pra mim. Eu tenho algumas perguntas sobre “The Last Hours”: Jessamine vai aparecer bastante? Eu me lembro dela sendo mencionada em “The Whitechapel Fiend”, mas ela não foi mencionada em “Cast Long Shadows” ou “Every Exquisite Thing”. Todo o escândalo de Ariadne causa tensão entre Anna e Charles? Obrigada! 🙂

Obrigada, você é muito doce por me falar isso! Jessamine não aparece muito em “The Last Hours” – eu quero que a morte seja experimentada como uma perda, e o fantasma de Jessamine não é a mesma coisa que Jessamine como uma pessoa – mas ela aparece. Ela fica andando pelo Instituto, não na casa de Matthew ou de Anna, então nós não a veríamos pelo ponto de vista deles. Nós a vemos pelo ponto de vista de James ou Lucie ocasionalmente. Ela é muito protetora com eles. E ela deixou sua fortuna para Tessa, como cunhada dela. Jessamine está feliz que Tessa ficou com isso, e pode ser útil…


No inicio de “The Last Hours” não tem um escândalo com Ariadne! Ariadne e Charles estão noivos e planejando o casamento deles. O caso de Anna e Ariadne seria exposto… bem, Charles sabe, assim como todo mundo, da sexualidade de Anna. Ele não aprova o jeito selvagem de Anna, mas ele está acostumado com isso. A pessoa com quem Charles teria uma tensão, se um escândalo cair em cima do noivado ou do nome dele, é Ariadne, não Anna.

redstonedemigod: Oi, Cassie! Eu amei “Every Exquisite Thing”, foi muito triste ver o primeiro amor de Anna não dar certo. Minha pergunta é, já como Anna e Matthew são tão próximos, ele conta a ela o que ele fez? Seria mais fácil para ele contar a ela do que para James? Como sempre, mal posso esperar para a próxima adição ao mundo das sombras!

Não, Matthew não conta para Anna sobre o que ele fez (o segredo obscuro dele de “Cast Long Shadows”). Matthew se diverte com Anna, mas ele é próximo de Christopher e Thomas, e mais próximo ainda de James: se ele fosse contar para qualquer um deles, seria James. Parte do problema de Matthew é que ele está indo para lugares obscuros e não quer que James o siga. Rogo não deixá-lo, ou voltar após segui-lo, diz o juramento parabatai, e Matthew não está sendo sincero com James ou sua própria alma com essa ocultação. Mas esse é Matthew: ele tenta tomar conta das pessoas, e não deixa eles tomarem conta dele.


Anna e Matthew não compartilham apenas o gosto boêmio, eles também têm mecanismos de enfrentamento muito parecidos: eles permitem um ao outro não levar as coisas tão seriamente. Eles são muito parecidos, dessa maneira, para trabalhar como confidentes: em ordem de se abrir, um deles precisa de alguém que está determinado a ser sincero. Anna e Matthew agora têm uma ferida (mesmo que o de Anna, é claro, não seja culpa dela) e os dois querem esquecer suas feridas, apagar a dor com risadas e festas. Anna não está cobrindo culpa, e seu jeito de lidar com isso é consideravelmente mais saudável, mas eles dois estão tentando evitar as dores.

Fonte [x], [x], [x]

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