30.10

A BIBLIOTECA ELEMENTAR
Alberto Mussa

Páginas: 192
Editora Record

SKOOB

Romance de um dos mais aclamados autores da literatura brasileira. A conclusão do Compêndio mítico do Rio de Janeiro.

Na calada da noite, na hoje chamada Rua da Carioca, um homem de casaca, pistola na mão, ameaça outro com capa à espanhola e botas de cano longo. Atracam-se. A arma dispara. O de casaca cai ferido mortalmente. Há uma testemunha, cigana, que também tem lá suas culpas.

Entre os crimes que perpassam este romance policial situado no Rio de Janeiro do século 18, apenas um é de fato relevante; apenas um resume e simboliza o livro. E, contraditoriamente, é o único crime que não acontece.

Alberto Mussa opera com perícia a narrativa, conversando com o leitor e palpitando sobre os dilemas dos personagens sem abandonar o posto de narrador, ancorado em pesquisa do vocabulário da época, do contexto, das ruas do Rio, do tráfico de escravos, do contrabando de ouro e da ação inquisitorial, sempre com uma técnica primorosa.

Tá aí um livro diferente. Não sei se é daqueles que julga o livro pela capa (eu sou) ou que julga o livro pelo tamanho (sou desses, também); mas esse livro, de capa simples e curtíssimo me surpreendeu MUITO.

Explico-lhes o porque:

Para início, este é o último livro de uma quintologia denominada “Compêndio mítico do Rio de Janeiro”, onde o autor Alberto Mussa aborda cinco temas clássicos da literatura ambientando-os em cinco diferentes séculos da história do Rio De Janeiro. A quintologia pode ser lida sem qualquer ordem específica, e como explicado pelo autor na nota prévia deste livro, aborda grandes indagações humanas, que prevalecem ao passar dos tempos, enraizadas em nossa cultura e que de forma alguma possuem uma unica interpretação.

“Se as mitologias variam, e divergem entre si, condicionadas que são pela cultura e pela história, os problemas míticos, os problemas humanos são essencialmente os mesmos, independentes do tempo e do espaço”

Em A Biblioteca Elementar, Mussa nos apresenta logo de cara, no início do livro mesmo, uma situação inusitada. Na forma de um romance policial do século XVIII a história que é narrada como se o leitor e o autor estivessem conversando, trocando histórias, vemos o momento em que uma mulher testemunha um assassinato. Não apenas isso mas ela também reconhece o assassino, o assassinado o motivo e a situação que os levou a isso. Mas opta por se manter em silêncio, afinal, é também uma criminosa. A partir daí o autor detalhadamente, e com uma escrita digna de Machado de Assis, nos leva a conhecer mais sobre cada uma das personagens que: das mais diversas e inusitadas maneiras participam do enredo do assassinato. Sejam como testemunhas, participantes ou opinadores.

Pensem em um livro de romance policial de época. Onde o assassinato, o crime por assim dizer, não é o foco da história. Mas sim a condição e construção social das pessoas que, em uma região transformam suas ações em consequências umas as outras. E como todas interpretam e agem diante de algo que tira a pacatez setecentista da Rua do Egito, no Rio de Janeiro, que viria a ser no futuro o Largo do Carioca.

Uma rua onde habitam majoritariamente ciganos, o autor nos mostra e esmiúça os diversos tipos que viviam naquela época. Traficantes de escravos, cristãos novos, cristãos velhos empobrecidos, pessoas que vão para as Minas Gerais e voltam; casais, adúlteros, pecadores, entre muitos tipos afundados naquilo em que a sociedade da época os afogava.

“Amor, paixão são sentimentos abstratos, muito mais teóricos do que se costuma admitir. Poucos amam, na verdade, livremente; poucos amam além de si mesmos, ou dos limites constrangedores de suas circunstâncias.”

Mussa, neste livro, têm um humor bem ácido e realista enquanto conta e descreve cada personalidade metida na trama. Mostra também em detalhes como era a vida de um ramo da grande árvore populacional do Brasil, e como este grupo vivia. Quais leis faziam-se valer e como assemelham-se alguns aspectos ainda hoje. No livro, onde culpados são ignorados e inocentes carregam a culpa simplesmente por serem quem são, podemos ver pesadas análises a estrutura social do convívio humano e como, assombrosamente, uma história narrada no em 1700 possui aspectos contemporâneos. Uma hora atemporal, dada a correta interpretação de seus pontos.

Ademais, um livro que me surpreendeu. Não só pela qualidade da escrita – que admito ter fugido do habitual cenário da literatura YA de que tanto gosto e na qual tanto me afundo quando posso – mas também pela qualidade das colocações e elementos. Quanto do comportamento humano é analisado em cada situação, e como isso direciona a ocorrência dos fatos?

Um livro que, dentro de suas pouquíssimas paginas, fez com que eu demorasse a me acostumar, mas que me surpreendesse bastante. Principalmente em suas páginas finais – onde o autor parece decorrer mais em explicações e narrativa convencional. Temos muitas personagens, muitas informações e uma objetividade que deixaria autores mais prolixos com mal estar; seja por vontade de mais detalhes ou de agonia, não sei dizer. Mas com certeza irredutível, apaixonados pelo toque carioca de uma história bem construída.

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