07.12

O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA
Angie Thomas

Páginas: 378
Editora Galera Record

SKOOB

Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial.

Não faça movimentos bruscos.

Deixe sempre as mãos à mostra.

Só fale quando te perguntarem algo.

Seja obediente.

Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto.

Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos – no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início.

Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa.

Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode ignorar.

O Ódio que Você Semeia foi uma das melhores leituras da minha vida, sem dúvida alguma. Talvez soe até mesmo um pouco exagerado, mas esse livro teve a coragem de retratar e falar sobre assuntos que muitos têm medo, ou viram o rosto para o outro lado, que inclusive é um de seus temas principais. Ao ler esse livro você está presenciando a decisão de uma simples adolescente americana negra de não se calar. De não virar o seu rosto para o outro lado.

Esse livro simplesmente se mostrou capaz de mostrar uma realidade que para muitos nem mesmo existe. Mostra o quanto alguns de nós somos privilegiados, enquanto outros precisam passar por situações que ninguém merece passar, apenas por existirem. Apenas por terem uma cor de pele diferente.

Starr Carter é uma protagonista incrível, a forma como a sua “jornada do herói” tomou conta me fez me apaixonar por ela cada capítulo que passava. De certa forma eu até mesmo me identifiquei com ela, por mais que nunca tenha passado por algo igual, a autora conseguiu passar esse sentimento de empatia e compreensão no livro, algo que já deveria ser normal apenas ao ler sobre esse assunto, mas nesse caso foi em um nível diferente. Um nível que realmente lhe faz entender.

E a jornada de Starr começa no momento em que ela vê seu amigo de infância ser morto em frente aos seus  olhos, por um policial, sem nenhum real motivo além de sua cor de pele. É óbvio que isso já havia acontecido milhares de vezes onde a garotada morava, mas ver de primeira mão fez tudo mudar. Fez a Starr mudar. É o momento em que ela decide usar sua voz, e não simplesmente ficar em silêncio diante daquela situação injusta e desumana.

Outra coisa importante, é que a garota também passa por um tipo de divisão interior. Starr mora no “subúrbios”, junto de todos os outros moradores negros da região. Entretanto, ela vai para escola privada, junto dos jovens brancos. E isso é um grande percursor em sua vida, considerando que além de ter amigos brancos, também possui um namorado. E existe todo um ‘preconceito’ por isso, muitos jovens de seu bairro lhe chamam de nomes, ou melhor de ‘branca’ por se relacionar com essas pessoas. Entretanto é tratado de uma forma boa, e que informa claramente para o leitor que ‘racismo reverso’ simplesmente não existe.

Eu realmente amei ver toda a situação da Starr, o seus ‘dois mundos’ como Hannah Montana diria (risos, eu me acho muito engraçado), o seu romance com o Chris também é muito fofo, e sua amizade com Hailey e Maya foi escrita de uma forma muito real, principalmente considerando a situação da Starr.

Mas sem dúvida o melhor relacionamento do livro é o de Starr com sua família. Eu amo a família Carter com todo meu coraçãozinho leitor. Eles são simplesmente incríveis, o amor fica claro, o que é difícil de se passar em obras literárias sem parecer um pouco forçado. Tem uma cena em específico com o pai da Starr (e do Seven), o infame Maverick, que simplesmente me encheu de alegria, e outros sentimentos bons.

Não tem como realmente descrever tudo que esse livro me ensinou e me fez sentir. E também posso apenas imaginar como deve ser para pessoas da comunidade negra ter uma representação que eu acredito ser tão fiel do seu viver, uma representação que mostra como é clara a injustiça no mundo, e que o racismo não acabou, muito pelo contrário, infelizmente continua vivendo ao nosso redor até hoje.

Um fato curioso sobre o título do livro é o seu real significado. O livro em inglês se chama The Hate U Give, no qual suas iniciais formam THUG (tradução literal: bandido), que veio de uma letra feita pelo rapper americano 2pac (Tupac Shakur), onde sua frase inteira é “The Hate U Give Little Infants Fucks Everyone” (tradução literal: O Ódio que você dar a pequenas crianças f*de com todo mundo), ou o famoso THUG LIFE (tradução literal: vida de bandido). Essa frase é uma crítica contra o racismo, que afeta crianças negras e a levam a seguir uma vida criminosa.

A adaptação cinematográfica do filme estreou em Outubro nos Estados Unidos, e ontem, dia 06 de Dezembro, aqui no Brasil. Eu ainda não tive chance de assistir, então não posso opinar muito sobre sua fidelidade, ou qualidade em um geral, o que posso falar é que estou realmente com expectativas altas, principalmente devido aos ótimos trailers que saíram e todas as críticas boas que o filme anda tendo.

O Ódio que Você Semeia é um livro que eu recomendaria para qualquer pessoa. Qualquer pessoa mesmo. Não tem como não amar.

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