06.06

Um Amor Perdido 

Alison Richman 

Bertrand Brasil – 336 págs – 2018

Separados pela guerra, ligados pela memória: uma história envolvente e instigante no rastro da Segunda Guerra Mundial

Na Praga do pré-guerra, Lenka, uma jovem estudante de arte, apaixona-se por Josef, um médico recém-formado. Eles vivem cheios de ideais e de sonhos para o futuro, mas também são judeus e muito ligados à família. Casam-se, mas, pouco tempo depois, como tantas outras famílias, são separados pela guerra. As escolhas impostas pelo destino os afastam, mas deixam marcas permanentes: o caos e as informações truncadas dos tempos de guerra os levam a crer que o outro morreu.

Na América, Josef torna-se um obstetra bem-sucedido e constrói uma família, apesar de nunca esquecer a mulher que acredita ter morrido. No gueto de Terezín, Lenka sobrevive graças aos seus dotes artísticos e à memória de um marido que julgava nunca voltar a ver. Apesar de todas as provações e dos infortúnios, mantém a chama daquele primeiro amor acesa, guardada em seu coração. Da glamorosa vida em Praga antes da ocupação aos horrores da Europa nazista, Um amor perdido explora o poder do primeiro amor, a resiliência do espírito humano e a eterna capacidade de recordar.

O Holocausto Judeu na Segunda Guerra Mundial é o maior trauma coletivo da História da Humanidade. Basta citar os horrores cometidos pelos nazistas e seus aliados durante seu governo e automaticamente nossos melhores sentimentos de empatia e comoção se fazem presentes. É impossível não se emocionar ao ler,ver ou assistir qualquer obra sobre esse período vergonhoso para a sociedade humana.

Este é um livro sobre o terror. Este é um livro sobre uma judia durante o Holocausto. Um livro sobre um judeu que fugiu do Holocausto mas não de suas consequências. Um livro que se prende demais na comoção coletiva e de menos na habilidade de escrita de sua autora.

‘Um Amor Perdido’ acompanha Lenka e Josef, dois jovens judeus que se apaixonam na Praga da Segunda Guerra Mundial e vêem suas escolhas os levarem a destinos opostos. Ela permanece na Europa sob o domínio nazista com a família e ele migra para os EUA. Décadas depois, se reencontram no casamento de seus netos. Antes que vocês gritem SPOILER!, não se preocupem, essa é a premissa do livro. Não estou estragando nada aqui.

Partindo desse gatilho para as memórias despertadas pelo encontro, Alyson Richman cria duas narrativas paralelas, partindo de pontos temporais opostos: enquanto Lenka “volta” ao início de tudo, antes da Guerra e o ponto de vista de Josef retrata o pós-guerra e suas consequências para a comunidade judaica dentro e fora da Europa.

Mesclando a trajetória dos personagens com fatos reais sobre a dominação nazista na Europa, a autora monta um mosaico dos principais acontecimentos do pré-Guerra e Guerra e insere nomes e datas factíveis a perspectiva dos personagens – em especial Lenka – colocando a emoção dos mesmos em relação ao esses acontecimentos. A questão é que em diversos trechos a emoção não convence e se sente muito mais lendo um texto didático que um romance histórico.

Por mais que os dias em Teresín e a Resistência dos Artistas seja retratada de forma muito fiel – e um dos grandes bônus do livro é justamente desenterrar essa versão menos passiva dos judeus. Nem tudo foi simplesmente aceito. Houve luta e houve quem revidasse. Colocar a arma contra a caneta e poder acompanhar o poder da segunda, é mesmo fascinante (aposto que muitos irão procurar mais sobre essas pessoas após a leitura) mas ainda assim, o emocional não alcança em nenhum momento a grandiosidade das ações.

De fato, os pontos de vista de Josef convencem muito mais nesse sentido que o de Lenka, mesmo que ela seja o grande motor da narrativa e uma constância tanto nos pensamentos quanto na culpa sentida por Josef.  O “relato” dele consegue carregar muito mais coração que os de Lenka, tornando sua trajetória – não menos trágica mas bem menos impactante – mais fácil de relacionar e envolver o leitor.

Essa insistência no lado emocional da história se dá numa crença pessoal de que livros devem nos fazer sentir. Mais que o aspecto intelectual da escrita, um livro de ficção – mesmo os de cunho histórico como no caso – ainda carregam uma responsabilidade de elevar os leitores a estados que lhe são desconhecidos, a sentimentos que talvez já experimentaram e não sabem, que vivem todos os dias ou que jamais viverão mas guardarão, através da experiência do personagem uma empatia transformadora. De outra forma, seria um estudo de caso científico.

Alyson Richman emociona? Sim. Mas pontualmente. E, tenha sido uma escolha da autora ou dos editores, os fatos se sobrepõem a emoção. Um excelente trabalho de pesquisa e um claro esforço da autora em ser fiel a esses acontecimentos não pode ser ignorado e deve ser altamente elogiado. Mas talvez um pouquinho menos de racionalidade tenha feito falta.

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